Quando se trata de soluções de suporte à decisão clínica, o setor de saúde brasileiro está na vanguarda. Contar com inovações baseadas em evidências científicas dentro das instituições de saúde, no fluxo de trabalho de médicos, enfermeiros e outros profissionais multifuncionais já é uma realidade. Prova disso é que, segundo pesquisa realizada pela ANAHP (Associação Nacional de Hospitais Privados) e pela Wolters Kluwer Health, com 74 hospitais privados, 78% destas instituições utilizam algum recurso de suporte à decisão clínica para ajudar médicos e equipe clínica no atendimento ao paciente.

Além disso, 77% dos hospitais já utilizam soluções integradas ao fluxo de trabalho clínico e 85% contam com alguma ferramenta de referência para o processo de medicação, desde a prescrição até a administração. Para eles, as principais utilidades dessas plataformas, segundo ordem de importância, são aumentar a segurança do paciente, prevenir eventos adversos e reduzir a variabilidade clínica indesejada.

Diferente de outros mercados, o modelo brasileiro de adoção dessas soluções já nasceu sendo explorado em seu maior potencial, que é dentro dos hospitais. Em outros países, esse cenário ainda é diferente e a inovação está mais presente nas escolas médicas do que nas instituições de saúde em si.

É claro que, nesses mercados, a presença deste tipo de solução também é forte dentro dos hospitais, mas o ponto é que no Brasil existe uma característica de busca pela excelência diferenciada, o que coloca o país mais próximo das tendências do futuro da saúde do que muitos outros países.

Esse panorama vem crescendo ao longo dos anos a partir de um processo de educação, principalmente pela busca dos próprios hospitais brasileiros em estarem sempre conectados ao que há de mais novo em evidência científica e de manutenção dessa busca pela excelência, o que está diretamente ligado a preocupação com a qualidade do atendimento e com a segurança do paciente. Isso demonstra uma maturidade que ainda não se vê, por exemplo, em outros países da América Latina. Portanto, o Brasil já está um passo à frente, mas ainda tem espaço para desenvolvimento.

Evolução e desafios do suporte à decisão clínica

Em relação ao futuro, a tendência é que essas soluções continuem a crescer, já que têm o poder de transformar o cenário da saúde, proporcionando aos profissionais informações precisas em tempo real. Esse acesso rápido a dados relevantes não apenas melhora a eficiência operacional dos hospitais, mas também eleva os padrões de cuidado ao paciente.

Para se ter uma ideia, ainda de acordo com a pesquisa da ANAHP, 60% dos hospitais privados brasileiros consideram extremamente relevante o uso de conhecimentos clínicos baseados em evidências para proporcionar a segurança do paciente. O estudo revela, ainda, que mais de 64% das instituições utilizam bases de referência de drogas e medicamentos. O que justifica a preocupação em inibir erros de prescrição de medicamentos, tendo em vista que para 36% dos participantes essa é uma das principais aplicações das ferramentas de suporte à decisão clínica.

Nesse cenário, a questão dos medicamentos deve atrair ainda mais atenção do setor, uma vez que já está incorporada ao dia a dia de algumas instituições de excelência, mas ainda deve se expandir, principalmente porque é onde há a maior quantidade de erros e é um dos itens de maior custo dentro de um hospital. A tecnologia tem o potencial de alertar sobre possíveis interações medicamentosas, alergias ou outros riscos, reduzindo significativamente os erros e criando um ambiente hospitalar mais seguro.

Além dos medicamentos, outra evolução no futuro da saúde é a geração de insights com o cruzamento de dados, que poderão metrificar mudanças de decisão e o impacto disso para os resultados do hospital. Assim, as instituições passarão a olhar cada vez mais para as especialidades internas, cruzando-as com o conhecimento gerado fora, no universo acadêmico e de evidência científica.

Para isso, os hospitais precisam estar, primeiramente, estruturados. Ter prontuários eletrônicos que organizam informações de maneira sistematizada é crucial para o avanço da análise de dados, geração de insights e até adoção da Inteligência Artificial no setor de saúde.

A inovação tecnológica é uma poderosa aliada, capaz de redefinir os padrões de excelência na promoção da saúde e no atendimento aos pacientes. Apesar dos avanços notáveis, ainda há desafios a serem enfrentados no caminho da implementação generalizada dessas soluções. A integração eficaz dos sistemas e a garantia da acessibilidade a todas as instituições de saúde são questões fundamentais que ainda precisam avançar. Além disto, mesmo dependente de uma evolução natural do sistema de saúde, levar a tecnologia para os hospitais de médio e pequeno porte, e de regiões do interior, também é um obstáculo.

No entanto, esses desafios representam oportunidades para inovação e colaboração contínua entre empresas de tecnologia, profissionais de saúde e tomadores de decisão. Ao elevar a qualidade do cuidado e garantir a segurança do paciente, essas ferramentas estão moldando um futuro em que a excelência no atendimento é a norma, não a exceção.

*Natália Cabrini é diretora de estratégia de mercado e comercial de Global Growth Markets da Wolters Kluwer.