Imagine como seria se fosse possível prever que uma pessoa desenvolveria doenças cardiovasculares dentro de 10 anos. Isso é o que pesquisadores do Reino Unido estão fazendo com um dispositivo que identifica pacientes com alto risco, nomeado de Algoritmo QR4. A ferramenta funciona como uma calculadora: ela soma dados de saúde do indivíduo, como pressão arterial, idade, histórico médico e fatores de risco para identificar se existe probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares dentro dos próximos anos. Os resultados do Algoritmo QR4 foram publicados recentemente em artigo na Nature.

Os autores afirmam que o algoritmo difere de seus concorrentes, pois procura avaliar novos valores de risco e levar em consideração riscos concorrentes em populações grandes e diversas. Foram adicionados como novos fatores de risco o câncer cerebral, câncer de pulmão, síndrome de Down, leucemia, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer de boca e dificuldade de aprendizagem.  

Especificamente para as mulheres, dois novos fatores de risco foram identificados, como acometimento de pré-eclâmpsia e depressão pós-parto. Para a pesquisa, foram utilizados dados de saúde de mais de 16 milhões de pessoas entre 18 a 84 anos em países do Reino Unido.   

Em entrevista para a agência de notícias da Universidade de Oxford, Julia Hippisley-Cox, autora principal e professora de epidemiologia clínica e clínica geral na instituição inglesa, cita que embora fatores de risco cardiovasculares tradicionais, como o tabagismo e o colesterol elevado, sejam bem conhecidos, a investigação divulgada identifica indicadores de risco menos óbvios, mas cruciais.

“Eles indicam que mais grupos de pessoas correm maior risco de doenças cardíacas e circulatórias do que o anteriormente reconhecido. Estas pessoas podem e devem agora beneficiar de tratamentos e outras medidas preventivas para reduzir o seu risco”, disse Hippisley-Cox. 

Prevenção de doenças cardiovasculares com Algoritmo QR4

Ferramentas que calculam risco de acometimento por doenças cardiovasculares não são novas. Existem no mercado alternativas semelhantes como o SCORE2 e QRISK3, este último indicado para uso pelo Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) do Reino Unido. Entretanto, o QR4 recebeu notas estatísticas de intervalo de confiança mais altas na avaliação de risco de mulheres e homens que o QRISK3. Sua pontuação também é mais alta que as obtidas pelos concorrentes SCORE2 e DCVA. 

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo: foram cerca de 17,9 milhões de mortes em 2019, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, essa também é a principal causa de óbitos. Em 2022, 440 mil brasileiros faleceram, devido a um conjunto de 18 doenças cardiovasculares, de acordo com pesquisa publicada pelo Journal of the American College of Cardiology. Entre as doenças mais fatais, estão os diferentes tipos de AVC e problemas no miocárdio.