Grupos minorizados confiam menos no sistema de saúde, indica pesquisa

Grupos minorizados confiam menos no sistema de saúde, indica pesquisa

Uma pesquisa global realizada nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, […]

By Published On: 14/02/2023

Uma pesquisa global realizada nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, França e Brasil apontou que grupos minorizados possuem uma menor confiança no sistema de saúde. O levantamento, promovido pela farmacêutica Sanofi, entrevistou cerca de 11.500 pessoas e, dentre os principais achados, mostrou que 82% dos participantes relacionados à minorias étnicas e pessoas com deficiência relataram ter passado por alguma experiência que os fizeram confiar menos no sistema — para os participantes que não fazem parte desses grupos o resultado foi de 52%.

Em entrevista para Futuro da Saúde, Neila Lopes, head de diversidade e cultura na Sanofi, indica que nos cinco mercados foi constatada essa lacuna de confiança por parte da população, só que no Brasil os índices foram um pouco maiores: “Se nós compararmos, estamos falando de nações que estão em um outro estágio de desenvolvimento. Um ponto que temos em comum para todos os grupos no Brasil é a questão socioeconômica que impacta nesses dados como um dos fatores relacionados a falta de confiança, segundo os entrevistados, mas isso não se sobrepõe ao fato da pessoa pertencer a grupos minorizados. Então, sim, existe o gap de confiança em todos os 5 países, mas no Brasil ele é um pouco mais intenso”.

Dentre os resultados no Brasil, 79% indicaram que tiveram experiências que prejudicaram sua confiança no sistema de saúde em geral. Além disso, os grupos mais propensos a relatarem essa falta de confiança foram as pessoas com deficiência (87%) e as pessoas LGBTQIAP+ (86%). Ainda, 38% indicaram classe social/nível de renda como um fator moderado/importante que levaram a uma perda de confiança no profissional da saúde ou no sistema de saúde. Neila Lopes aponta que é notável a influência do pano de fundo socioeconômico, mas que, “mais do que isso, nós vemos que o fato da pessoa pertencer àqueles grupos minorizados é fundamental e decisivo para que a pessoa tenha essa quebra de confiança”.

A pesquisa também indica que para cada grupo minorizado existem diferentes motivos que levam a essa falta de confiança. No caso das mulheres, por exemplo, Lopes explica que “os motivos dessa quebra vão mais no sentido de que a experiência foi ruim e de que elas não se sentiram ouvidas, enquanto que no recorte de pessoas negras, elas falaram mais que se sentiram indesejadas ou discriminadas”.

Ao colocar esses dados sob uma ótica mais abrangente e analisar os motivos que levam a essa quebra, Neila Lopes pondera que “quando olhamos para o sistema de saúde, ele faz parte da sociedade, então está exposto às mesmas questões que os demais setores. A exemplo disso, nós não temos necessariamente uma representatividade nos serviços de saúde […] então eu acho que estamos vendo com os dados dessa pesquisa como a questão da falta de acesso e de representatividade nos setores da economia se manifesta e agora especificamente no ecossistema de saúde”.

Quanto ao impacto disso, ela avalia que isso se manifesta em diferentes nuances para cada grupo: “Se nós olharmos para a saúde da mulher, por exemplo, nós temos números que apontam que mulheres negras parturientes morrem em muito maior proporção do que mulheres brancas parturientes e isso vem de como a medicina foi construída, da questão da violência obstétrica e outros pontos […] como outro exemplo, se pensarmos em uma pessoa surda sinalizada que precisa passar por uma consulta, ela pode deixar de fazer essa consulta preventiva temendo que ao chegar no serviço de saúde não vai existir uma tradução em libras ou uma tecnologia que permita com que essa consulta seja aproveitada em sua plenitude”.

Dessa forma, Neila Lopes expõe que essas questões vão influenciando em escala, acarretando até mesmo em dados epidemiológicos para algumas patologias e condições que são impactadas por essa falta de representatividade e consequente quebra de confiança: “Se nós olharmos, por exemplo, o caso recente da pandemia, já temos uma abundância de dados que mostram como as pessoas negras no Brasil e as pessoas periféricas, que são em sua maioria negras, tiveram um impacto muito maior”.

Como aumentar a confiança de grupos minorizados

Na própria pesquisa os entrevistados sugeriram caminhos que os fariam ter uma relação melhor com os profissionais de saúde. Eles indicaram que isso ocorreria se os prestadores de cuidados de saúde se mostrassem mais confiáveis, se eles oferecessem cuidados médicos de melhor qualidade e se tratassem as pessoas de forma mais justa e igual, entre outros aspectos.

Neila Lopes avalia que “quando falamos de uma mudança estrutural sistêmica, nós realmente precisamos ter um comprometimento em grande escala” e enxerga um engajamento das empresas do setor farmacêutico com essa pauta, que se tornou um fator competitivo. “Quando vemos a evolução do conceito de ESG, olhamos para o social e vemos os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, por exemplo, vários deles estão ligados à igualdade salarial, inclusão das mulheres, igualdade étnica e racial. Então, temos um contexto que não é só de Brasil, mas sim de mundo, que coloca esse tema na mesa”.

Por fim, a Head de Diversidade e Cultura da Sanofi apresentou uma iniciativa da empresa denominada “Um Milhão de Diálogos”, que possui a participação do Brasil, Reino Unidos, Estados Unidos, Japão e França. A iniciativa busca apoiar estudantes que queiram ingressar no setor de saúde, promover diálogos com colaboradores para geração de insights sobre essa pauta dos grupos minorizados e, por último, compilar esses aprendizados e atuar de forma a influenciar nas esfera de tomada de decisão sobre esse tema de diversidade, equidade e inclusão.

Paola Costa

Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero e graduada em Relações Internacionais pela UNIFESP. Compõe o time de redação do Futuro da Saúde desde setembro de 2022. Email: paola@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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