Futuro da estética passa pela tecnologia, diversidade e interesse mais cedo por procedimentos

Futuro da estética passa pela tecnologia, diversidade e interesse mais cedo por procedimentos

A ampliação do uso de mídias digitais, o “boom do […]

By Published On: 11/11/2022

A ampliação do uso de mídias digitais, o “boom do zoom” – fenômeno da exposição em vídeos e chamadas virtuais –, o metaverso, a preocupação mais cedo com o envelhecimento e o aumento de diversidade são as principais tendências mundiais que vão ditar o futuro da estética. A análise consta no relatório global “O Futuro da Estética”, encomendado pela Allergan e desenvolvido pela Wunderman Thompson Intelligence. As percepções foram validadas ainda por 15 profissionais de estética no mundo com o intuito de apresentar as principais tendências globais desse mercado.

Dentre o rol de especialistas está a dermatologista brasileira Ligia Colucci, que conversou com Futuro da Saúde para explorar as principais tendências apontadas pelo levantamento. Na visão dela, existem dois tipos principais de pacientes com necessidades distintas, sob as quais o mercado e os profissionais buscam se adaptar:

“Existem os pacientes mais jovens que começam a tratar desde agora e há o questionamento se eles vão estar melhores do que as pessoas que têm 40 e 50 (anos) hoje ou se eles vão estar exagerados. […] A outra parte são os pacientes que já têm mais de 40 ou 50 anos, mas que começaram a tratar agora e as tecnologias vêm procurando novas formas para tratar esses pacientes que chegaram tardiamente”.

Confira alguns dos principais destaques do estudo:

Procedimentos começam mais cedo

As pessoas, de maneira geral, têm envelhecido melhor. Hoje há uma consciência maior quanto aos fatores que estimulam o envelhecimento da pele e a prevenção é iniciada mais cedo. Segundo o relatório, 74% dos cirurgiões plásticos relataram um aumento dos tratamentos minimamente invasivos para pacientes com menos de 30 anos. A percepção de sinais de envelhecimento constitui o principal fator que leva as pessoas a considerarem um tratamento não cirúrgico para o rosto ou o corpo.

Este dado já era apontado, de certa forma, em outro relatório da Allergan feito em 2021. Na época, oito em cada 10 profissionais de saúde no mundo reconheciam que tratamentos estéticos não cirúrgicos eram mais aceitáveis do que há cinco anos. O levantamento também apontou que a estética passou a integrar o autocuidado diário, tornando-se tão relevante para as pessoas quanto um check-up da própria saúde, além de poder aumentar a confiança e autoestima.

Neste sentido, o relatório deste traz como outra tendência o fato de que as pessoas estão buscando “biohackear” o corpo com o avanço da ciência, com o intuito de dissecar informações a respeito do DNA para criação de cuidados de pele especializados e prevenção do envelhecimento. Na área de pesquisa, Colucci destaca uma intensificação em campos como telômeros e a epigenética:

“Existe muita pesquisa em relação ao aumento dos telômeros. Telômero é uma parte do nosso cromossomo que, à medida que a gente vai envelhecendo, vai diminuindo. Nos jovens, um marcador de juventude é que esses telômeros estão aumentados. Portanto, se você conseguir aumentá-los em uma pessoa que já apresenta redução deles, você vai rejuvenescê-la. Segundo, temos pesquisas sobre a epigenética, que antes a gente chamava de envelhecimento extrínseco. Trata-se dos nossos hábitos e como eles interferem no nosso envelhecimento, porque alguns deles influenciam diretamente no nosso DNA. Há muita pesquisa em cima disso”.

Preocupação com o corpo todo, não só o rosto

Apesar do crescimento de movimentos pelas redes em relação a positividade e inclusão do corpo em sua diversidade, existe uma preocupação crescente com o alcance de ideais corporais. Segundo o relatório, isso é influenciado pela natureza hipervisual das plataformas de mídia e aplicativos de namoro, estimulando o interesse por tratamentos estéticos corporais.

Para Colucci, “a preocupação com o corpo cresceu porque nossa expectativa de vida está cada vez maior. Por que a gente vai querer que só o rosto acompanhe o que está dentro da nossa cabeça? A gente quer que o corpo também acompanhe”.

Como tendências, a pesquisa indicou que existe um foco em tratamentos não invasivos que oferecem uma solução para questões corporais persistentes, como celulite ou redução de gorduras sem cirurgia ou sem a necessidade de um tempo de recuperação. Além disso, procedimentos que alcançam e resolvem problemas diferentes ao mesmo tempo vão constituir um divisor de águas para a estética corporal.

Uso de filtros em mídias sociais

Os especialistas enxergam o crescimento na busca por procedimentos faciais como reflexo direto da pandemia e do uso de plataformas de videoconferência, o que foi denominado “boom do zoom”. Ligia Colucci acrescentou que “o Brasil foi o país que mais teve uma preocupação com a ideia da lente digital”:

“O que isso quer dizer? Que os pacientes têm cada vez mais precisado usar filtros para participarem de reuniões, tirarem fotos e gravarem vídeos. Esse boom do zoom foi um catalisador para tudo isso. A nossa responsabilidade como médicos é orientar o paciente que o filtro é legal, mas ele não pode ser indispensável. Há pacientes que não fotografam se não tiver filtro e isso pode inclusive levar a um distúrbio que a gente chama de dismorfobia, em que a pessoa se enxerga de maneira diferente e às vezes procura procedimentos para tratar o que ela acha que está vendo, mas não é o que realmente é”.

Futuro da estética no metaverso

O metaverso está em alta, sendo que houve um aumento de 500% sobre as pesquisas mundiais por essa palavra nos doze meses até outubro de 2021. Em relação ao mercado da estética, o relatório trouxe o metaverso como uma tendência importante, com uma atenção quanto a possibilidade de que ele influenciará na expressão individual das pessoas por conta desse novo “eu” virtual criado pelos avatares.

“O metaverso ainda é uma coisa muito nova e muitas pessoas ainda não entendem. Acredito que vai ser uma ferramenta interessante e de orientação para o paciente, pensando em consultas com esses pacientes e talvez até alguns procedimentos. Também é uma ferramenta muito importante de treinamento para os nossos pares dentro desses ambientes. Vai ser interessante também a gente entender o posicionamento desses pacientes dentro do metaverso. Como eles vão querer parecer? Com eles mesmos ou com o ideal que eles imaginam que gostariam de ser?”, indaga Colucci.

Aspectos sociais

O relatório também apresentou uma amplitude de tendências que estão mais ligadas a aspectos sociais que caracterizam mudanças importantes para o mercado da estética e do bem-estar. Por exemplo, a falta de representatividade na indústria estética é um ponto relevante que vem apresentando transformações.

“A maioria dos tratamentos, hoje em dia, seja os injetáveis, lasers, o que for, foi feita para quem tem a pele branca, ou seja, para o caucasiano. […] A nossa população tem uma diversidade muito grande, mas ainda é muito frequente no nosso consultório os pacientes de pele mais clara, muitas vezes porque tanto as indústrias quanto nós, médicos, não temos a preocupação de colocar no nosso perfil social fotos de pacientes que ilustrem essa diversidade. Se a pessoa não a vê representada em algum tratamento, ela com certeza vai achar que aquilo não é para ela, ou vai ter medo de realizar porque ela não está sendo representada ali”, explica Colucci.

Entretanto, a pesquisa indicou que apesar da falta de representação, um relatório de Estatísticas de Cirurgia Plástica da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos 2020 apontou um aumento dos procedimentos estéticos por americanos de diferentes etnias.

Além disso, foi evidenciado como tendência uma maior preocupação dos homens em relação aos cuidados com aparência facial e corporal, de forma que eles representam 14,3% do mercado de procedimentos não invasivos no mundo. Há também um olhar crescente para beleza com inclusão de gênero e para a geração Z que é marcada pela criatividade, o que se reflete na estética por meio do aumento de tratamentos minimamente invasivos, muitos com efeitos sutis e temporários.

Paola Costa

Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero e graduada em Relações Internacionais pela UNIFESP. Compõe o time de redação do Futuro da Saúde desde setembro de 2022. Email: paola@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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