Quatro tendências de uso de wearables na saúde, por Camila Hernandes, do Einstein
Quatro tendências de uso de wearables na saúde, por Camila Hernandes, do Einstein
Quando se pensa em dispositivos vestíveis – os wearables –
Quando se pensa em dispositivos vestíveis – os wearables – talvez a primeira imagem que surja é de relógios digitais de pulso. Eles ficaram famosos ao serem utilizados por quem pratica esportes, para controle de tempo e batimentos cardíacos, e hoje são encontrados em diversos preços e diferentes marcas. De acordo com projeções da consultoria Abi Research, quase 350 milhões desses acessórios devem ser vendidos em 2022 – um aumento de 13,2% em relação a 2021.
As versões mais recentes desses dispositivos são capazes de detectar se há fibrilação atrial e monitorar oxigênio e frequência respiratória, além de fazer uma análise da qualidade do sono. Justamente por medir diferentes parâmetros do corpo do usuário, não demorou muito para que o setor da saúde percebesse o seu potencial para auxiliar os cuidados médicos.
Em entrevista ao Futuro da Saúde, Camila Hernandes, gerente de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, lembra que os wearables não são tão novos assim: “Os modelos de hoje são mais modernos, é claro, mas qualquer dispositivo que possa ser vestido, como uma peça de roupa, um acessório, em contato com a pele, pode ser considerado um wearable. Estamos falando de termômetro, oxímetro, aparelho medidor de pressão e até desfibriladores. Dispositivos que já existiam há muito tempo e alguns deles muitas pessoas têm em casa”.
Para ela, “são ferramentas úteis e que acabaram ganhando ainda mais relevância na pandemia. Afinal, com a impossibilidade de ir a um pronto-atendimento a qualquer momento, mesmo os pacientes que tiveram Covid puderam acompanhar os sinais importantes em casa e passar essas informações ao médico via teleconsulta”.
Na entrevista, Camila Hernandes destaca quatro grandes tendências sobre o papel e a utilização dos wearables na área da saúde. Confira a seguir:
Tele e automonitoramento
“Falando em tecnologia, hoje existem adesivos não invasivos que podem ser colocados na pele e que capturam sinais vitais importantes, como aqueles feitos para pacientes com diabetes, que medem a glicemia e avisam se algo estiver errado. O telemonitoramento e o automonitoramento são um caminho sem volta. E eles são úteis não apenas no contexto de acompanhamento e monitoramento quando o paciente está doente, mas para ter o histórico de saúde da pessoa a longo prazo. Os smartwatches e as pulseiras digitais, por exemplo, estão muito avançados em relação a dados cardíacos. Eles conseguem captar com bastante precisão os batimentos e episódios de fadiga, detectam arritmias e trazem informações confiáveis. As pessoas fazem exame de controle uma vez no ano, geralmente, mas imagine se o cardiologista puder ter os dados do último ano inteiro do paciente na consulta de rotina. Faz muita diferença no atendimento e nas tomadas de decisão”.
Acesso e dados com wearables
“Os wearables ganham força na medida em que também vêm acompanhados de ferramentas adicionais, como um software, por trás, que armazene e analise os dados que o dispositivo produz, até para que as medições sejam cada vez mais precisas e para que seja possível identificar cada vez mais alterações nos sinais vitais que possam indicar problemas de saúde. Mas tudo isso precisa de muita pesquisa e investimento em tecnologia. Quanto mais pessoas tiverem acesso a esses equipamentos, maior será o amadurecimento dessa tecnologia. Nos Estados Unidos, por exemplo, por conta de uma maior facilidade de acesso, cada vez mais pessoas estão realmente fazendo uso dos wearables e a tendência é de aumento. No Brasil, o caminho é extremamente promissor, mas esse acesso mais amplo ainda precisa acontecer”.
Prevenção e autocuidado
“Nos EUA, as pessoas já estão um pouco mais acostumadas com uma cultura voltada para o wellness, com soluções self service. Talvez por esse motivo, além do acesso já mencionado, os dispositivos vestíveis sejam tão populares por lá. Quem é adepto à prática de esportes também acabou caindo nas graças dos wearables, principalmente dos relógios digitais, que podem até mesmo contar com sensores que identificam quanto suor a pessoa está perdendo no treino, acompanhando seu nível de hidratação. Agora, os mais variados públicos utilizam os dispositivos e têm acesso a informações como qualidade do sono e até avisam quando o usuário está estressado. Tudo isso faz com que a população se interesse mais em entender seu próprio corpo e o que significa se algum indicador apresentar alterações, ainda que pequenas. Assim, os wearables acabam sendo um bom aliado na prevenção de doenças e incentivam o autocuidado. Mas não podemos esquecer que é muito importante que a acurácia da medição desses dispositivos seja validada e aprovada por órgãos interessados. Porque ter um dado de saúde errado é mais prejudicial do que não ter nenhum”.
Predição e diagnóstico de doenças
“No futuro, é possível que os dispositivos consigam predizer doenças e que o diagnóstico de condições clínicas seja feito por meio deles. E não estamos falando apenas dos sinais vitais. Os wearables, juntos a biosensores, poderão identificar moléculas que mostram indícios de condições como câncer e doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson. Ainda não há nada desse tipo sendo comercializado, mas alguns grupos de estudo já estão trabalhando nessas soluções, que serão realmente inovadoras no uso dos wearables na medicina”.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.