O que é verticalização na saúde suplementar e quais serão seus impactos

O que é verticalização na saúde suplementar e quais serão seus impactos

A saúde privada brasileira está em constante crescimento. E com

By Published On: 19/11/2021
verticalização na saúde

A saúde privada brasileira está em constante crescimento. E com ele cresce também a tendência de verticalização na saúde suplementar. Ou seja, as operadoras de planos de saúde estão cada vez investindo mais em oferecer uma rede própria de serviços. Em tese, o modelo leva a mais eficiência na prestação do serviço, garante um acompanhamento completo da jornada do paciente e reflete em mais economia, apontam os especialistas.

Atualmente, os planos de saúde contam com 48,1 milhões de beneficiários, segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar. Mesmo com a crise, o número aumentou, impulsionado pela pandemia e o aumento da percepção da importância do serviço.

Diretamente relacionadas à verticalização na saúde, estão as fusões e aquisições na área. O número dessas transações no acumulado de 2020 no segmento de hospitais e laboratórios de análises clínicas no Brasil foi de 55, de acordo com a consultoria KPMG

Trata-se do segundo maior número registrado em 20 anos, perdendo apenas para 2019, quando houve 87 operações desse tipo na área. Desde 2001, o setor acumula 400 transações de fusões ou aquisições.

O que é verticalização na saúde e como funciona

verticalização na saúde

A verticalização na saúde ocorre quando um plano de saúde contratado oferece uma rede própria de serviços, com hospitais, laboratórios e ambulatórios, mesmo quando conta também com rede credenciada terceirizada. O cliente, dessa forma, tem acesso a serviços de internações, urgência e emergência, exames, consultas e cirurgias oferecidos pela própria operadora, muitas vezes no mesmo local.

Esse movimento pode ocorrer de duas maneiras. A primeira é quando os hospitais criam planos de saúde para atender a sua própria demanda. A segunda é quando as operadoras de saúde constroem ou compram laboratórios, hospitais ou outros estabelecimentos de saúde para oferecer uma rede própria para prestar o serviço aos usuários. 

A verticalização na saúde suplementar brasileira teve início com hospitais criando seus próprios planos de saúde ainda na década de 1980. Mais tarde, nos anos 2000, o movimento ocorreu de forma inversa. Dessa vez, as operadoras começaram a investir mais para tomar conta dos serviços prestados. Desde então, esse modelo apresenta crescimento. 

Segundo especialistas, há principalmente duas fortes motivações para a verticalização em qualquer área, não apenas na saúde. A primeira está relacionada à eficiência nos serviços prestados. Assim, alguns processos podem ser centralizados, podendo ser otimizados.

A segunda diz respeito a fusões ou aquisições para garantir uma expansão financeira do próprio negócio. Quando uma empresa que domina seu mercado se une a outra que está em outro elo da cadeia, ela pode dificultar (aumentando o preço) o fornecimento de serviço ou produto para concorrentes daquela empresa que agora é sua parceira. Assim, a concorrência poderia ser fortemente prejudicada, aumentando seu próprio lucro.

Vantagens da verticalização na saúde

Do ponto de vista financeiro, a verticalização traz algumas vantagens para as empresas. Veja as principais.

Preços mais competitivos

Com a verticalização na saúde suplementar, os planos de saúde conseguem oferecer preços menores. Isso porque os reajustes nas mensalidades estão diretamente relacionados às despesas das operadoras. Quando se tem o controle de todo o processo, é mais fácil controlar os gastos.

O controle de gastos pode ser feito com programas e campanhas de medicina preventiva. Além disso, uma gestão mais eficiente, com processos integrados entre diversos setores, também costuma gerar mais economia.

Com a verticalização, o foco passa a ser a economia em todos os setores e o maior lucro conjunto possível. Dessa forma, se evitam divergências de interesse que poderiam gerar ineficiência.

Possibilidade de ampla rede própria

verticalização na saúde

Os planos de saúde verticalizados tendem a investir em uma ampla rede própria com centros clínicos, laboratórios e hospitais distribuídos em pontos estratégicos e de fácil acesso nas regiões que atuam. A localização de cada unidade é pensada tendo em mente os beneficiários do plano.

Quanto mais ampla a rede própria, maior o portfólio de serviços que podem ser oferecidos aos pacientes sem que a operadora dependa de estabelecimentos terceirizados. Desse modo, o objetivo é cumprir com as necessidades dos pacientes, atendendo-os de forma integral. 

Controle da qualidade do atendimento

Talvez um dos maiores benefícios da verticalização na saúde suplementar seja a possibilidade de um controle total de qualidade de atendimento e dos serviços prestados. Assim, é possível que os colaboradores de todos os setores recebam o mesmo treinamento. Isso possibilita que haja um padrão e facilita o fornecimento de uma experiência positiva por parte do paciente.

Dessa forma, é possível controlar cada etapa do processo. Pode também investir em atendimento humanizado, garantindo que o paciente não seja desrespeitado em nenhum momento de sua jornada na rede própria do plano de saúde. 

Também a avaliação de como está o atendimento é facilitada. Além disso, qualquer falha detectada em qualquer etapa pode ser mais facilmente corrigida, pois tudo ocorre internamente, sem depender de nenhuma outra empresa.

Maior organização interna

Com todos os serviços sendo oferecidos pela própria operadora, uma maior organização interna é facilitada. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) exige das operadoras uma melhor gestão de custos e uma capacidade de adaptação a mudanças de regulamentações. Isso pode ser mais fácil de cumprir pelos planos de saúde verticalizados. Tudo pode ser mais organizado. 

Praticidade para os usuários

Com a verticalização na saúde suplementar, a integração pode facilitar o acesso dos usuários. A questão de autorizações pode ficar mais ágil, já que a mesma instituição que vai aprovar é a que vai prestar o serviço. 

Além disso, quando os serviços próprios da operadora estão centralizados em um espaço físico próximo, facilita para o beneficiário. Ele vai perder menos tempo de deslocamento e vai poder resolver tudo que precisa em um só lugar, como consultas, procedimentos e exames. Isso evita que ele se sinta desorientado. 

Do mesmo modo, a tendência é que os planos de saúde verticalizados invistam mais em medicina preventiva. Isso também é positivo para os beneficiários, pois evita problemas de saúde futuros.

Impactos da verticalização na saúde

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Ao mesmo tempo em que pode ser muito benéfica para as operadoras, a verticalização também pode desequilibrar o mercado e ser prejudicial para pacientes, hospitais independentes e médicos.

No caso dos pacientes, o reflexo pode se dar na sua liberdade de escolha. Dependendo de qual a operadora ou do plano de saúde contratado, ele poderia ter possibilidades limitadas. 

Em muitos casos, alguns planos permitem apenas atendimento na rede própria da operadora. Assim, o acesso do beneficiário fica limitado apenas ao corpo clínico dos hospitais e serviços ambulatoriais do plano. 

Isso pode prejudicar a qualidade do serviço e do atendimento, assim como a satisfação dos pacientes. 

Em relação aos médicos de planos de saúde verticalizados, há a preocupação de que ocorra pressão para limitar o número de exames solicitados ou interferência nos tratamentos indicados aos pacientes. Esse tipo de ação pode prejudicar a qualidade do serviço ofertado ou atrasar diagnósticos.

Por outro lado, hospitais privados ou filantrópicos também são muito impactados pelo aumento de planos de saúde verticalizados. Isso porque eles muitas vezes dependem de planos de saúde para continuarem funcionando. Então, quando uma operadora constrói um hospital próprio, muitos dos seus beneficiários deixam de utilizar as outras instituições da região. Assim, aqueles estabelecimentos veem o número de pacientes diminuir drasticamente, afetando assim o negócio. 

Para os hospitais lidarem com isso, especialistas apontam que uma maneira seria o fortalecimento da relação com os planos de saúde. Em teoria, quanto mais o paciente usa o hospital, maior é o lucro desse, mas menor é o lucro do plano de saúde. Os dois não poderiam ganhar ao mesmo tempo. Entretanto, quanto mais transparente for o relacionamento entre as duas instituições, menores serão gastos com auditorias e esses tipos de processos.

Também é possível buscar novos modelos de remuneração. O fee for service, que é o mais utilizado no Brasil, pode não ser a melhor opção. Dependendo do modelo escolhido, é possível compartilhar os riscos entre as partes. 

Enfim, muitos hospitais já estão investindo na melhoria da gestão de custos. Quanto mais eficiente ela for, maior a chance de resultado financeiro positivo.

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Equipe de jornalistas da redação do Futuro da Saúde.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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  • Rafael Machado

    Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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  • Antônio Britto

    Formado em jornalismo e direito, chefiou redações em diversos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul e na Rede Globo em Brasília, onde trabalhou como repórter e comentarista político. Foi secretário de imprensa da Presidência da República com Tancredo Neves. Como político, exerceu mandatos como Deputado Federal constituinte, Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, Ministro da Previdência Social e Governador do Estado do Rio Grande do Sul. No setor privado, presidiu a Azaléia Calçados, foi Diretor Institucional da Claro, e Diretor Executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Atualmente é diretor executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

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