Vacinas contra a gripe em clínicas privadas podem não ser suficientes para atender a demanda, alerta associação
Vacinas contra a gripe em clínicas privadas podem não ser suficientes para atender a demanda, alerta associação
A disponibilidade de vacinas contra a gripe em clínicas privadas […]
A disponibilidade de vacinas contra a gripe em clínicas privadas do Brasil pode não ser suficiente para atender a demanda da população em 2022. É o que alerta a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC). Ao todo, 8 milhões de doses foram negociadas com a indústria, número abaixo do ideal estimado pela organização.
Diversos motivos levaram a essa situação. Como de praxe, a contratação foi realizada em novembro, mas o surto de gripe H3N2 em dezembro e janeiro e a retirada das crianças abaixo de 5 anos do grupo prioritário da campanha de vacinação contra a influenza, do Ministério da Saúde, fizeram com que a demanda aumentasse. As clínicas particulares já estão recebendo pedidos de reserva do público, e a orientação é para que as pessoas não deixem para última hora. A expectativa é que na última semana de março as vacinas estejam disponíveis nas clínicas.
“Outra coisa é o cenário de entrega escalonada. Estamos tendo um problema de logística. Talvez a vacina vai chegar em tempos diferentes do que a gente esperava. Pode ser que algumas clínicas vão receber em determinado tempo e outras não, e isso gera uma sensação de falta”, afirma Geraldo Barbosa, presidente da ABCVAC. A distribuição entre as grandes cidades e o interior também é um ponto delicado e que tem gerado insatisfação das clínicas associadas à ABCVAC, principalmente aquelas que não conseguiram garantir as suas doses.
Atualmente, três empresas disponibilizam doses ao sistema privado: Sanofi, GSK e Abbott. No entanto, fornecem um número limitado, o que impede que o mercado possa oferecer mais à população. “Como a cobertura vacinal em 2021 foi ruim, a indústria projetou 2022 com menos doses. Ao invés do mercado crescer, trabalhando com 10 milhões de doses, hoje a gente está trabalhando com o cenário otimista de 8 milhões de doses. A gente só vai saber se vai concretizar, se toda logística der certo e efetivamente essas vacinas chegarem ao Brasil”, explica Barbosa.
PNI
Essa escassez não ocorre com o Programa Nacional de Imunizações, do Governo Federal. A parceria com o Instituto Butantan, que fornece a vacina contra a gripe ao serviço público, garante 80 milhões de doses anualmente. Em 2021, a meta era vacinar 90% do público prioritário, mas apenas 72,1% foi atingido, o que favoreceu os surtos do fim de ano. Barbosa reforça que o papel das clínicas é atingir aquele público que não está contemplado no PNI.
“A outra coisa que fez acender o nosso alerta é que o governo tirou, sem nenhuma prévia, o público de 5 anos. Quando a gente fez a negociação e foi adquirir doses lá em novembro, a gente trabalhou com o cenário do perfil que sempre atendeu. O PNI tinha um esquema de público alvo definido”, explica. A estimativa é que 3 milhões de crianças fiquem expostas ao vírus. Nos bastidores, especula-se que um dos motivos da retirada dessa idade é pelo risco de faltar agulhas e seringas, por conta das campanhas de gripe, Covid-19 e sarampo ocorrerem simultaneamente. Com a desobrigação do uso de máscaras contra e o retorno das aulas presenciais, o risco de que elas se infectem e transmitam é maior.
“A gente não quer criar alarde, mas as pessoas têm que tomar cuidado. A vacina é uma medida preventiva e tem que ser feita com antecedência, então as pessoas devem ficar atentas para não deixar para ‘semana que vem’ para tomar vacina e não ter, e aí a gente acaba tendo aquelas pessoas tratando a gente como vilão da história, sendo que a gente só presta o serviço e não temos como adicionar mais doses nesse momento”, aponta o presidente da ABCVAC. Com o aumento de casos entre o outono e inverno, o ideal é se prevenir o quanto antes.
Economia
Grandes empresas respondem por 90% das compras de vacinas das clínicas, destinando doses para a imunização dos funcionários e seus familiares. Dessa forma, há uma menor taxa de ausência de profissionais por motivo de saúde e uma redução no uso dos planos. No entanto, a crise econômica que assolou o país nos últimos anos tem interferido nessa procura dos empregadores.
“Isso vai fazer com que pessoas que já tomam vacinas de rotina busquem o mercado, e é o que a gente está vendo nas ligações e pedidos de reservas. São pessoas que dizem ‘eu tomava na empresa, mas esse ano eles não vão dar, eu quero manter a minha vacinação’. Quem tem a cultura de fazer a vacinação vai fazer, de uma forma ou de outra”, aponta Barbosa.
Atualmente, de acordo com o presidente da ABCVAC, 60% das doses compradas pelas clínicas privadas são destinadas aos jovens adultos que estão no mercado de trabalho. Entretanto, com a mudança do PNI, a busca por vacinas para as crianças pode representar uma maior taxa em 2022. Ela está disponível para aplicação em bebês a partir dos 6 meses de vida.
Fake News e a volta de doenças erradicadas
O Brasil tem uma das menores taxas de cobertura vacinal dos últimos 20 anos. Com o isolamento social por conta da Covid, o foco na pandemia, o aumento da circulação de fake news e campanhas anti-vacina, o risco de doenças erradicadas voltaram a circular no país se tornou iminente. Ao redor do mundo, Israel e Malawi já identificaram casos de poliomielite, doença que não havia registros há anos.
“A maior resistência que estamos tendo hoje, é as pessoas não estarem buscando informações nos canais correto. As mídias sociais é lógico que aproximaram as pessoas e levaram ao acesso à informação, mas também levaram à desinformação. Se informem nos meios corretos, procure a informação em fontes confiáveis. Vacinas salvam vidas e isso foi comprovado agora”, alerta Barbosa.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.