A mulher no centro do cuidado

Olhar voltado para a jornada feminina nos serviços de saúde ganha tração e tem potencial para aprimorar o atendimento de todos os brasileiros

Por Theo Ruprecht

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Dados não faltam para caracterizar o atual protagonismo feminino na saúde. Durante a adolescência, o número de meninas atendidas por ginecologistas é 18 vezes maior do que o de meninos por urologistas, de acordo com o Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde. O departamento de trabalho do governo americano, por sua vez, aponta que 80% das decisões de consumo na indústria de saúde são tomadas por elas. O mesmo órgão indica que quatro em cada cinco decisões de saúde dos filhos vêm das mulheres.

“Apesar disso, a saúde feminina foi considerada como um mero nicho de mercado e um subconjunto do cuidado com a saúde”, destacam os autores de um relatório de 2022 da McKinsey & Company, uma empresa de consultoria dos Estados Unidos. Há motivos para isso – o mais claro é o machismo estrutural. Mesmo a dita medicina moderna do Século XX encarava o corpo masculino como o padrão. Nesse sentido, o termo “saúde da mulher” se resumia a questões exclusivas do sexo feminino, como os cuidados com o aparelho reprodutor ou os ligados à maternidade. Em praticamente todas as outras áreas, a mulher era tratada de forma muito similar a um homem. 

Só que isso traz consequências perigosas. Na cardiologia, os sintomas clássicos do infarto, estabelecidos a partir de estudos focados eminentemente em homens, foram definidos como dor no peito e no braço esquerdo. Entretanto, embora também manifestem comumente esses sinais após um ataque cardíaco, as mulheres apresentam, em frequência maior do que a ala masculina, enjoo e falta de ar, entre outros desconfortos. O problema: como esses sintomas (batizados inclusive de “atípicos”) não eram tão divulgados no passado, as mulheres corriam um risco 50% maior de receberem um diagnóstico errado após um infarto, e também uma probabilidade maior de morrer. Segundo um relatório da Associação Americana do Coração de 2021, a sobrevida média após um ataque cardíaco é de 5,5 anos entre as mulheres, enquanto sobe para 8,2 anos nos homens.   

E esse é só um exemplo. Mulheres sofrem ao necessitar de dispositivos médicos que são pensados para homens, como próteses de quadril; apresentam maior risco de sofrer efeitos adversos de medicamentos por serem minoria em pesquisas clínicas; recebem menos tratamento para dores por terem seus sintomas qualificados como uma repercussão emocional ou psicossomática… “Durante a minha residência, quando chegava um homem com dor no peito, logo ele era atendido com suspeita de infarto. Se fosse uma mulher, achavam que era agonia ou estresse”, diz Daniella Bahia, diretora médica do Grupo Fleury. “Mas temos avançado bastante, inclusive com campanhas de conscientização voltadas para esse público”, completa. 

Carreiras de saúde antes mais ligadas aos homens hoje recebem muito mais mulheres – o levantamento Demografia Médica no Brasil 2023, da Associação Médica Brasileira (AMB), estima que, em 2024, elas serão maioria pela primeira vez entre essa categoria profissional. Essa maior presença, aliada ao avanço do feminismo, trouxe o debate à tona e demandou um olhar sistêmico e estruturante sobre a saúde das mulheres.

Aquele mesmo relatório da McKinsey & Company destaca que essa perspectiva é inclusive positiva para os negócios e para os ecossistemas de saúde como um todo. “A mulher adere mais ao autocuidado e promove a saúde na família. Investir nesse público e ouvir suas demandas é uma forma de cuidar da população e aprimorar os serviços”, afirma Patricia Maeda, diretora executiva do Grupo Fleury.

Em 2009, 40,5% dos médicos brasileiros eram mulheres. Em 2022, o número chegou a 48,6%.

Cuidado integrado

A mulher valoriza mais a prevenção do que o homem, o que significa que consome certos produtos de saúde, como exames de rotina e consultas com nutricionistas, com maior regularidade. Em paralelo, convive com jornadas duplas ou triplas de trabalho (o emprego, o cuidado com a casa e a atenção aos filhos). Isso significa que, se por um lado ela acessa regularmente diferentes portas de entrada dos serviços de saúde, por outro valoriza experiências ágeis, que solucionem suas questões sem muitas idas e vindas – sempre com qualidade. 

Portanto, segundo Maeda, a mulher se beneficia especialmente de ecossistemas de saúde bem constituídos, que pensem em sua jornada como um todo. “Pelo mesmo motivo, ela sente a fragmentação dos sistemas com maior intensidade do que o homem”, contrapõe a profissional (saiba mais sobre a fragmentação e os ecossistemas de saúde clicando aqui).

No Grupo Fleury, em que cerca de 70% dos usuários são mulheres, diversas unidades possuem espaços voltados para elas, que garantem comodidade e a realização sequencial de diferentes avaliações. “Imagine como é fazer um combo de exames sem um planejamento. A mulher acaba tirando e pondo a roupa várias vezes e gastando muito tempo”, diz Bahia. “Com esses espaços, nós garantimos fluidez e também uma consultoria para os profissionais em relação aos resultados encontrados”, completa.

Aliás, o Fleury conta com duas unidades exclusivas para o gênero feminino, com time especializado, em especial para situações complexas. “Ali também dá para realizar exames rotineiros, mas o grande diferencial é um atendimento de alta qualidade para situações como suspeita de câncer de mama”, reitera Maeda. 

Entre as vantagens, está a de oferecer uma consultoria qualificada e efetiva. “É o que chamamos de one stop solution [do inglês, solução em uma parada]”, afirma Bahia. “Se detectar uma lesão possivelmente cancerígena, a equipe entra imediatamente em contato com o médico responsável pela paciente enquanto ela está no local. E já realiza as avaliações subsequentes necessárias, sem que a mulher volte para casa”, complementa.

Além de garantir comodidade em um momento delicado, iniciativas como essa favorecem o diagnóstico precoce e minimizam o tempo entre a detecção e o início do tratamento. De acordo com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), as chances de cura chegam a atingir 95% com um diagnóstico precoce. 

Infelizmente, muitas brasileiras só percebem a doença quando ela avançou consideravelmente. E, com a pandemia, a situação piorou. A partir de dados do DATASUS, um estudo da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), calcula que 1.705.475 mamografias deixaram de ser realizadas em 2020 no setor público. “No Fleury, verificamos que quase 30% das mulheres não retornavam para repetir esse exame conforme as recomendações de sociedades médicas brasileiras”, constata Bahia. Diante disso, a instituição agora entra em contato ativamente para lembrar as clientes dessa avaliação.  

Propostas como as já citadas vão justamente no sentido de integrar diferentes serviços em um mesmo ecossistema para assegurar um atendimento mais próximo e completo – o que facilita a vida corrida das mulheres (e, claro, até a dos homens). Hoje em dia, há uma tendência de empresas do setor de saúde adquirirem ou criarem serviços que ajudem a completar a jornada de saúde dos usuários. Parcerias também são fechadas nesse mesmo sentido. Com isso, a mulher que acessa um serviço de saúde qualquer (seja para se exercitar, comer melhor, fazer exames ou buscar atendimento especializado) consegue avançar no seu cuidado de forma mais dinâmica, sem precisar buscar por conta própria as soluções para seu problema. 

Um dos resultados dessa nova dinâmica é o crescimento do uso de serviços antes mais empregados pelos homens. De 2019 a 2022, por exemplo, o Fleury notou um aumento de 3% ao ano na utilização de cuidados ortopédicos pelas mulheres. Já de 2012 a 2022, houve um crescimento total de 60,4% na realização dos exames de ecocardiograma e eletrocardiograma (ambos relacionados à saúde cardiovascular) entre elas.

1.705.475 mamografias deixaram de
ser realizadas em 2020 no SUS.

A mulher como farol da saúde

Como já mencionado, o gênero feminino se relaciona mais com serviços de saúde, em especial os mais focados na prevenção, e tende a promover o bem-estar em casa. Em outras palavras, a mulher conhece mais o sistema e mobiliza crianças, jovens e homens rumo aos cuidados com a saúde.

Não à toa, Maeda destaca que, para promover serviços a diferentes populações – que vão de vacinação para os filhos a check-up para os adultos da casa, passando por serviços de fertilidade –, o Grupo Fleury frequentemente desenvolve ações para impactar as mulheres. “Elas são as propagadoras do autocuidado. Quando conversamos com as usuárias, conseguimos trazer outros públicos para nosso ecossistema”, ressalta. Hoje em dia, portanto, o mercado de saúde está atento para as demandas femininas até para catapultar os negócios.

Catapultar os negócios e aprimorar os próprios serviços, aliás. Um exemplo: a marca a+, que pertence ao Grupo Fleury, desenvolveu um serviço de autoagendamento de certos exames, tanto no aplicativo como no site. A partir da receita, a pessoa escreve o nome do procedimento e o sistema é capaz de identificá-lo e já marcá-lo, sem necessidade de telefonemas. “O público que elegemos para testar esse serviço foi o feminino, no final de 2021. Com base nos retornos que recebemos delas, ampliamos a iniciativa para outros públicos”, revela Maeda.

Atualmente, aliás, há uma tendência de a coleta de certos exames ser realizada na própria casa ou até no trabalho do usuário. De 2019 a 2022, o Fleury observou um aumento de 31,1% ao ano no uso desse serviço por mulheres – mais uma evidência de que elas se beneficiam especialmente de iniciativas que conferem conforto e economizam tempo.

Daniella Bahia complementa: “Temos trabalhado bastante o contexto digital com essa atenção para as mulheres. Muitas aplicações do Fleury, por exemplo, estão unificando os exames de diferentes membros da família, e sabemos que elas devem ser as principais usuárias”.

Esse olhar contrasta com uma perspectiva antiquada da sociedade de direcionar os cuidados com saúde e até as pesquisas científicas a partir do viés masculino. Em 1977, o FDA – órgão que regula os medicamentos nos Estados Unidos – recomendou a exclusão de mulheres “capazes de engravidar” dos estudos clínicos de fase 1 e 2. O argumento era o de evitar episódios como o da medicação talidomida, que anos antes havia sido receitada indiscriminadamente para gestantes como forma de aliviar náuseas, mas que acabou provocando uma onda de malformações ao nascimento.

Apesar da justificativa válida, essa exclusão (que foi seguida por agências no mundo inteiro) contribuiu para uma menor participação do gênero feminino em estudos com medicamentos. A medida foi revisada em 1993, porém colaborou para que doses de certos fármacos tivessem de ser revistas, justamente porque poderiam causar efeitos colaterais mais intensos no público feminino.

Mais recentemente, um estudo publicado no periódico Jama Network Open analisou a participação feminina em ensaios clínicos de 2000 a 2020. A partir daí, notou que as mulheres eram subrepresentadas em pesquisas ligadas a cardiologia, oncologia, neurologia, imunologia e hematologia – e isso considerando as prevalências das diferentes doenças contempladas na população. Iniciativas que incentivam a entrada de voluntárias em estudos onde elas estão em falta são fundamentais para assegurar o desenvolvimento de tecnologias e medicamentos que beneficiem a todos.

Os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas no Brasil. As mulheres predominam em 19, segundo a Demografia Médica no Brasil de 2023.

Particularidades femininas

Apesar de não ser considerada apenas um nicho, a saúde feminina de fato inclui questões como os cuidados ginecológicos. Além de ajudar a preservar a saúde global, a tradicional consulta anual com o ginecologista é importante para detectar infecções e lesões que podem antever um câncer de colo de útero e mesmo para lidar com quadros exclusivos (ou praticamente exclusivos) das mulheres. 

Aquele relatório da McKinsey & Company destaca que, também nesse contexto, há espaço para melhora. Na endometriose, por exemplo, o diagnóstico demora de quatro a 11 anos, em média. Já na menopausa, o documento destaca que apenas um quarto das mulheres recebe tratamento, apesar de a maioria reportar desconfortos que interferem no cotidiano.

“Há um potencial grande de endereçar essas questões com estratégias inovadoras”, escrevem os autores do relatório. Isso envolve desde novas tecnologias médicas até a incorporação de procedimentos que facilitem o diagnóstico e o tratamento, como a inteligência artificial. 

Deve-se ainda abrir espaço para o atendimento inclusivo, com destaque para as mulheres trans. Até por carregarem algumas características biológicas masculinas, elas precisam ser atendidas por equipes treinadas e despidas de preconceitos. O respeito ao nome social é só um começo, mas ainda desrespeitado em certos centros. 

Em paralelo, é imprescindível acompanhar o comportamento feminino. Por exemplo: em 2013, 12,9% das mulheres consumiam bebidas alcoólicas uma vez por semana, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Já em 2019, essa taxa chegou a 17%. Atentar-se para essas tendências contribui para um melhor atendimento.

Gostou do que acabou de ler?

Com o fim da emergência em saúde, telessaúde aguardava regulamentação definitiva.

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Seção do Futuro da Saúde dedicada a explorar as temáticas mais diversas do universo da saúde em profundidade, trazendo o contexto histórico, a análise do presente e as projeções para o Futuro.

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Um espaço para se informar e refletir sobre inovação, saúde mental e prevenção de doenças. Futuro da Saúde produz conteúdo digital em diversas plataformas sobre os rumos da saúde no Brasil e no mundo, de forma compreensível e com credibilidade.

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Dados não faltam para caracterizar o atual protagonismo feminino na saúde. Durante a adolescência, o número de meninas atendidas por ginecologistas é 18 vezes maior do que o de meninos por urologistas, de acordo com o Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde. O departamento de trabalho do governo americano, por sua vez, aponta que 80% das decisões de consumo na indústria de saúde são tomadas por elas. O mesmo órgão indica que quatro em cada cinco decisões de saúde dos filhos vêm das mulheres.

“Apesar disso, a saúde feminina foi considerada como um mero nicho de mercado e um subconjunto do cuidado com a saúde”, destacam os autores de um relatório de 2022 da McKinsey & Company, uma empresa de consultoria dos Estados Unidos. Há motivos para isso – o mais claro é o machismo estrutural. Mesmo a dita medicina moderna do Século XX encarava o corpo masculino como o padrão. Nesse sentido, o termo “saúde da mulher” se resumia a questões exclusivas do sexo feminino, como os cuidados com o aparelho reprodutor ou os ligados à maternidade. Em praticamente todas as outras áreas, a mulher era tratada de forma muito similar a um homem. 

Só que isso traz consequências perigosas. Na cardiologia, os sintomas clássicos do infarto, estabelecidos a partir de estudos focados eminentemente em homens, foram definidos como dor no peito e no braço esquerdo. Entretanto, embora também manifestem comumente esses sinais após um ataque cardíaco, as mulheres apresentam, em frequência maior do que a ala masculina, enjoo e falta de ar, entre outros desconfortos. O problema: como esses sintomas (batizados inclusive de “atípicos”) não eram tão divulgados no passado, as mulheres corriam um risco 50% maior de receberem um diagnóstico errado após um infarto, e também uma probabilidade maior de morrer. Segundo um relatório da Associação Americana do Coração de 2021, a sobrevida média após um ataque cardíaco é de 5,5 anos entre as mulheres, enquanto sobe para 8,2 anos nos homens.   

E esse é só um exemplo. Mulheres sofrem ao necessitar de dispositivos médicos que são pensados para homens, como próteses de quadril; apresentam maior risco de sofrer efeitos adversos de medicamentos por serem minoria em pesquisas clínicas; recebem menos tratamento para dores por terem seus sintomas qualificados como uma repercussão emocional ou psicossomática… “Durante a minha residência, quando chegava um homem com dor no peito, logo ele era atendido com suspeita de infarto. Se fosse uma mulher, achavam que era agonia ou estresse”, diz Daniella Bahia, diretora médica do Grupo Fleury. “Mas temos avançado bastante, inclusive com campanhas de conscientização voltadas para esse público”, completa. 

Carreiras de saúde antes mais ligadas aos homens hoje recebem muito mais mulheres – o levantamento Demografia Médica no Brasil 2023, da Associação Médica Brasileira (AMB), estima que, em 2024, elas serão maioria pela primeira vez entre essa categoria profissional. Essa maior presença, aliada ao avanço do feminismo, trouxe o debate à tona e demandou um olhar sistêmico e estruturante sobre a saúde das mulheres.

Aquele mesmo relatório da McKinsey & Company destaca que essa perspectiva é inclusive positiva para os negócios e para os ecossistemas de saúde como um todo. “A mulher adere mais ao autocuidado e promove a saúde na família. Investir nesse público e ouvir suas demandas é uma forma de cuidar da população e aprimorar os serviços”, afirma Patricia Maeda, diretora executiva do Grupo Fleury.

Em 2009, 40,5% dos médicos brasileiros eram mulheres. Em 2022, o número chegou a 48,6%.

Cuidado integrado

A mulher valoriza mais a prevenção do que o homem, o que significa que consome certos produtos de saúde, como exames de rotina e consultas com nutricionistas, com maior regularidade. Em paralelo, convive com jornadas duplas ou triplas de trabalho (o emprego, o cuidado com a casa e a atenção aos filhos). Isso significa que, se por um lado ela acessa regularmente diferentes portas de entrada dos serviços de saúde, por outro valoriza experiências ágeis, que solucionem suas questões sem muitas idas e vindas – sempre com qualidade. 

Portanto, segundo Maeda, a mulher se beneficia especialmente de ecossistemas de saúde bem constituídos, que pensem em sua jornada como um todo. “Pelo mesmo motivo, ela sente a fragmentação dos sistemas com maior intensidade do que o homem”, contrapõe a profissional (saiba mais sobre a fragmentação e os ecossistemas de saúde clicando aqui).

No Grupo Fleury, em que cerca de 70% dos usuários são mulheres, diversas unidades possuem espaços voltados para elas, que garantem comodidade e a realização sequencial de diferentes avaliações. “Imagine como é fazer um combo de exames sem um planejamento. A mulher acaba tirando e pondo a roupa várias vezes e gastando muito tempo”, diz Bahia. “Com esses espaços, nós garantimos fluidez e também uma consultoria para os profissionais em relação aos resultados encontrados”, completa.

Aliás, o Fleury conta com duas unidades exclusivas para o gênero feminino, com time especializado, em especial para situações complexas. “Ali também dá para realizar exames rotineiros, mas o grande diferencial é um atendimento de alta qualidade para situações como suspeita de câncer de mama”, reitera Maeda. 

Entre as vantagens, está a de oferecer uma consultoria qualificada e efetiva. “É o que chamamos de one stop solution [do inglês, solução em uma parada]”, afirma Bahia. “Se detectar uma lesão possivelmente cancerígena, a equipe entra imediatamente em contato com o médico responsável pela paciente enquanto ela está no local. E já realiza as avaliações subsequentes necessárias, sem que a mulher volte para casa”, complementa.

Além de garantir comodidade em um momento delicado, iniciativas como essa favorecem o diagnóstico precoce e minimizam o tempo entre a detecção e o início do tratamento. De acordo com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), as chances de cura chegam a atingir 95% com um diagnóstico precoce. 

Infelizmente, muitas brasileiras só percebem a doença quando ela avançou consideravelmente. E, com a pandemia, a situação piorou. A partir de dados do DATASUS, um estudo da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), calcula que 1.705.475 mamografias deixaram de ser realizadas em 2020 no setor público. “No Fleury, verificamos que quase 30% das mulheres não retornavam para repetir esse exame conforme as recomendações de sociedades médicas brasileiras”, constata Bahia. Diante disso, a instituição agora entra em contato ativamente para lembrar as clientes dessa avaliação.  

Propostas como as já citadas vão justamente no sentido de integrar diferentes serviços em um mesmo ecossistema para assegurar um atendimento mais próximo e completo – o que facilita a vida corrida das mulheres (e, claro, até a dos homens). Hoje em dia, há uma tendência de empresas do setor de saúde adquirirem ou criarem serviços que ajudem a completar a jornada de saúde dos usuários. Parcerias também são fechadas nesse mesmo sentido. Com isso, a mulher que acessa um serviço de saúde qualquer (seja para se exercitar, comer melhor, fazer exames ou buscar atendimento especializado) consegue avançar no seu cuidado de forma mais dinâmica, sem precisar buscar por conta própria as soluções para seu problema. 

Um dos resultados dessa nova dinâmica é o crescimento do uso de serviços antes mais empregados pelos homens. De 2019 a 2022, por exemplo, o Fleury notou um aumento de 3% ao ano na utilização de cuidados ortopédicos pelas mulheres. Já de 2012 a 2022, houve um crescimento total de 60,4% na realização dos exames de ecocardiograma e eletrocardiograma (ambos relacionados à saúde cardiovascular) entre elas.

1.705.475 mamografias deixaram de
ser realizadas em 2020 no SUS.

A mulher como farol da saúde

Como já mencionado, o gênero feminino se relaciona mais com serviços de saúde, em especial os mais focados na prevenção, e tende a promover o bem-estar em casa. Em outras palavras, a mulher conhece mais o sistema e mobiliza crianças, jovens e homens rumo aos cuidados com a saúde.

Não à toa, Maeda destaca que, para promover serviços a diferentes populações – que vão de vacinação para os filhos a check-up para os adultos da casa, passando por serviços de fertilidade –, o Grupo Fleury frequentemente desenvolve ações para impactar as mulheres. “Elas são as propagadoras do autocuidado. Quando conversamos com as usuárias, conseguimos trazer outros públicos para nosso ecossistema”, ressalta. Hoje em dia, portanto, o mercado de saúde está atento para as demandas femininas até para catapultar os negócios.

Catapultar os negócios e aprimorar os próprios serviços, aliás. Um exemplo: a marca a+, que pertence ao Grupo Fleury, desenvolveu um serviço de autoagendamento de certos exames, tanto no aplicativo como no site. A partir da receita, a pessoa escreve o nome do procedimento e o sistema é capaz de identificá-lo e já marcá-lo, sem necessidade de telefonemas. “O público que elegemos para testar esse serviço foi o feminino, no final de 2021. Com base nos retornos que recebemos delas, ampliamos a iniciativa para outros públicos”, revela Maeda.

Atualmente, aliás, há uma tendência de a coleta de certos exames ser realizada na própria casa ou até no trabalho do usuário. De 2019 a 2022, o Fleury observou um aumento de 31,1% ao ano no uso desse serviço por mulheres – mais uma evidência de que elas se beneficiam especialmente de iniciativas que conferem conforto e economizam tempo.

Daniella Bahia complementa: “Temos trabalhado bastante o contexto digital com essa atenção para as mulheres. Muitas aplicações do Fleury, por exemplo, estão unificando os exames de diferentes membros da família, e sabemos que elas devem ser as principais usuárias”.

Esse olhar contrasta com uma perspectiva antiquada da sociedade de direcionar os cuidados com saúde e até as pesquisas científicas a partir do viés masculino. Em 1977, o FDA – órgão que regula os medicamentos nos Estados Unidos – recomendou a exclusão de mulheres “capazes de engravidar” dos estudos clínicos de fase 1 e 2. O argumento era o de evitar episódios como o da medicação talidomida, que anos antes havia sido receitada indiscriminadamente para gestantes como forma de aliviar náuseas, mas que acabou provocando uma onda de malformações ao nascimento.

Apesar da justificativa válida, essa exclusão (que foi seguida por agências no mundo inteiro) contribuiu para uma menor participação do gênero feminino em estudos com medicamentos. A medida foi revisada em 1993, porém colaborou para que doses de certos fármacos tivessem de ser revistas, justamente porque poderiam causar efeitos colaterais mais intensos no público feminino.

Mais recentemente, um estudo publicado no periódico Jama Network Open analisou a participação feminina em ensaios clínicos de 2000 a 2020. A partir daí, notou que as mulheres eram subrepresentadas em pesquisas ligadas a cardiologia, oncologia, neurologia, imunologia e hematologia – e isso considerando as prevalências das diferentes doenças contempladas na população. Iniciativas que incentivam a entrada de voluntárias em estudos onde elas estão em falta são fundamentais para assegurar o desenvolvimento de tecnologias e medicamentos que beneficiem a todos.

Os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas no Brasil. As mulheres predominam em 19, segundo a Demografia Médica no Brasil de 2023.

Particularidades femininas

Apesar de não ser considerada apenas um nicho, a saúde feminina de fato inclui questões como os cuidados ginecológicos. Além de ajudar a preservar a saúde global, a tradicional consulta anual com o ginecologista é importante para detectar infecções e lesões que podem antever um câncer de colo de útero e mesmo para lidar com quadros exclusivos (ou praticamente exclusivos) das mulheres. 

Aquele relatório da McKinsey & Company destaca que, também nesse contexto, há espaço para melhora. Na endometriose, por exemplo, o diagnóstico demora de quatro a 11 anos, em média. Já na menopausa, o documento destaca que apenas um quarto das mulheres recebe tratamento, apesar de a maioria reportar desconfortos que interferem no cotidiano.

“Há um potencial grande de endereçar essas questões com estratégias inovadoras”, escrevem os autores do relatório. Isso envolve desde novas tecnologias médicas até a incorporação de procedimentos que facilitem o diagnóstico e o tratamento, como a inteligência artificial. 

Deve-se ainda abrir espaço para o atendimento inclusivo, com destaque para as mulheres trans. Até por carregarem algumas características biológicas masculinas, elas precisam ser atendidas por equipes treinadas e despidas de preconceitos. O respeito ao nome social é só um começo, mas ainda desrespeitado em certos centros. 

Em paralelo, é imprescindível acompanhar o comportamento feminino. Por exemplo: em 2013, 12,9% das mulheres consumiam bebidas alcoólicas uma vez por semana, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Já em 2019, essa taxa chegou a 17%. Atentar-se para essas tendências contribui para um melhor atendimento.

Gostou do que acabou de ler?

Com o fim da emergência em saúde, telessaúde aguardava regulamentação definitiva.

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