A rigor, os conceitos por trás do ESG (E de environment, ou meio ambiente; S de social e G de governança) que vêm protagonizando o discurso de executivos – inclusive os da área da saúde – não são inovadores. A ideia de sustentabilidade, discutida pelo mercado desde pelo menos a década de 1980, sobrepõe-se à de ESG em ampla medida. E a própria sigla foi usada pela primeira vez já em 2004, quando o então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, provocou líderes de instituições financeiras a medirem seus resultados e a nortearem seus passos para além do lucro.
Mas o espírito do mercado parece ter mudado principalmente quando Larry Fink, diretor da Black Rock, a maior gestora de ativos financeiros do mundo, instigou CEOs das empresas onde investe a promoverem um “capitalismo responsável e transparente” e a refletirem que “o dinheiro que gerimos não é nosso. Temos uma grande responsabilidade de […] fomentar a geração de valor no longo prazo”. Isso em sua tradicional carta aos CEOs, de 2020.
Cada vez mais os consumidores e os investidores cobram que práticas associadas a aspectos ambientais, sociais e de governança permeiem a estrutura das companhias como um todo. Um levantamento recente da consultoria Luvi One indica um crescimento de 29% no número de companhias listadas na bolsa de valores brasileira com metas ambientais, por exemplo.
A valorização do ESG, ao contrário do que se imagina, pode potencializar os resultados financeiros das instituições, principalmente os de médio e longo prazo. E tem uma afinidade especial com a área da saúde, reconhecidamente ligada ao “S”, mas também dependente do “G” para beneficiar o maior número de pessoas possíveis com os mesmos recursos e do “E” para minimizar seu impacto no ambiente e alavancar a saúde populacional.
Ao mesmo tempo, o futuro do ESG corre o risco de ser sabotado por quem apenas deseja surfar essa onda em busca da construção da uma reputação de fachada, enquanto segue tomando ações que atestam o menosprezo ao bem-estar dos funcionários e da sociedade.
“Hoje, o ESG exige mais exemplos reais e menos discursos vazios”, sentencia Márcio Mendes, presidente do Conselho Administrativo do Grupo Fleury. “Não podemos nos esquecer, como empresa, do nosso papel no ecossistema onde atuamos. Isso deve ser incorporado aos resultados”.