TIC Saúde 2022 aponta avanços na telessaúde, mas segurança de dados ainda deixa a desejar
TIC Saúde 2022 aponta avanços na telessaúde, mas segurança de dados ainda deixa a desejar
O Comitê Gestor da Internet Brasil (CGI.br), responsável por definir
O Comitê Gestor da Internet Brasil (CGI.br), responsável por definir as estratégias ligadas ao uso e desenvolvimento da internet no país, lançou na segunda-feira, 5, os resultados da TIC Saúde 2022. Conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), a pesquisa indicou que há um aumento no uso de tecnologias por parte dos profissionais de saúde em relação ao período anterior à pandemia, mas ainda existem grandes desafios na segurança dos dados e na disparidade entre setor público e privado.
A TIC Saúde é realizada desde 2013 com o intuito de analisar a infraestrutura e disponibilidade de aplicações baseadas em tecnologia da informação e comunicação nos estabelecimentos de saúde no Brasil. Na edição deste ano foram realizadas entrevistas com 2.127 gestores de estabelecimentos de saúde e 1.942 profissionais de saúde de todo o Brasil, entre abril e outubro de 2022.
Dados, Segurança da Informação e LGPD
A pesquisa mostrou avanços quanto ao acesso a dados dos pacientes disponíveis por vias eletrônicas. Do lado dos enfermeiros, houve um crescimento nas anotações de enfermagem de 52% em 2019 para 81% em 2022, além do histórico e anotações clínicas de 62% para 85%, e das imagens de exames radiológicos de 42% para 65%. No caso dos médicos, houve um aumento na disponibilidade de lista de medicamentos prescritos de 74% em 2019 para 85% em 2022, além das anotações dos principais motivos que levaram o paciente ao médico, o que cresceram de 77% para 85%.
Contudo, esse crescimento e disseminação dos dados geram uma preocupação quanto a sua segurança, o que também foi averiguado pela pesquisa, mesmo considerando que houve melhora de um ano para o outro: a TIC Saúde 2022 constatou que o índice de estabelecimentos que possuíam uma política definida para isso foi de 30% em 2021, para 39% em 2022.
Quando essa análise é colocada sob a ótica do setor privado, metade dos estabelecimentos já possui uma política, mas na esfera pública o percentual é de 25%. Lógica parecida aconteceu na capacitação: mais de 60% dos profissionais do setor privado realizaram algum treinamento sobre segurança da informação, enquanto menos de 15% daqueles que trabalham no setor público receberam algum preparo nesse sentido.
Quanto à adoção de ações ligadas a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), a pesquisa apontou que 41% dos estabelecimentos promoveram campanha de conscientização interna, em comparação com um índice de 32% em 2021. Mais uma vez foi verificada uma disparidade entre o setor público e o privado em relação as medidas: essas campanhas de conscientização foram constatadas em 56% dos estabelecimentos privados e em 25% dos públicos.
Outras medidas como a nomeação de um encarregado de dados pessoais e a implementação de um plano de resposta a incidentes com os dados também apresentaram índices maiores na esfera privada.
Apesar disso, em entrevista para o Futuro da Saúde, Chao Lung Wen, chefe da disciplina de telemedicina da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms), comentou que “a segurança de dados está avançando e obrigatoriamente precisará ser implantada no menor de tempo”, prevendo assim um período máximo de 2 anos para que isso ocorra.
Monitoramento remoto e teleconsultoria
A pesquisa indicou um avanço na adoção da telessaúde, que abrange vários serviços de saúde prestados de forma remota através de tecnologias de informação e comunicação. Ao comparar os dados de 2019 com os de 2022, o monitoramento remoto subiu de 16% para 29% entre os enfermeiros e de 9% para 23% entre os médicos. Além disso, a teleconsultoria, contato entre profissionais da área para o esclarecimento de dúvidas, aumentou de 26% para 34% entre os enfermeiros, e de 26% para 45% entre os médicos.
Chao lembra que a telemedicina busca criar linhas de cuidados para os pacientes de forma a reduzir desperdícios, humanizar o atendimento, aumentar a prevenção de doenças e agravos, além de fortalecer o atendimento domiciliar. Para ele, “o maior empecilho para o crescimento da Telemedicina e Telessaúde Responsáveis são carência na formação da graduação, residência médica, residência multiprofissional e dos profissionais”.
Prescrição digital e infraestrutura
Quanto às prescrições médicas, a TIC Saúde 2022 indicou que o formato eletrônico foi adotado por 68% dos médicos, enquanto 21% utiliza tanto via computador quanto manualmente. Contudo, a assinatura da prescrição permanece sendo predominantemente manual, totalizando 71%. Em relação aos enfermeiros, os índices de prescrições digitais são menores: caem para 51%, enquanto 27% realizam de ambas as formas. Ainda, a assinatura manual também prevalece, sendo utilizada por 68% dos que prescrevem digitalmente.
No que diz respeito à infraestrutura, a pesquisa expõe que o uso de computadores e da internet continua se ampliando e, atualmente, 97% dos estabelecimentos públicos contam com computador, em comparação com 94% em 2021, o que também se estende a região Nordeste, que apresentava maiores disparidades. Em relação ao acesso à internet, os índices também subiram de 92% em 2021 para 97% em 2022.
Novas tecnologias na TIC Saúde 2022
Quanto às novas tecnologias, dos 120 mil estabelecimentos analisados, a inteligência artificial foi constatada em 3.500, com maior presença no setor privado (em torno de 3.200), enquanto a robótica se viu presente em 4.700 (sendo que 3.300 também são da esfera privada). A análise de big data é utilizada por um número limitado de estabelecimentos, sendo constatada em 7.600 dos investigados pela pesquisa, sendo que 5.700 são do setor privado. A TIC Saúde 2022 também indicou que a maior fonte de informações vem dos dados próprios dos estabelecimentos advindos das fichas cadastrais, formulários, prontuários e dispositivos inteligentes e sensores.
Por fim, em relação a todas as disparidades nos índices mencionados ao longo dos resultados entre o setor público e o privado, Chao acredita que “não se tem uma disparidade, o que não há é um estratégia no setor público com a criação de métodos eficientes”, complementando ainda que existe um atraso conceitual também na área privada “quando se fala apenas em teleconsulta”, dada a amplitude da telessaúde e das linhas de cuidado da telemedicina.
A realização da TIC Saúde 2022 contou também com apoios de organismos internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); e de organismos nacionais, como o Ministério da Saúde e o Departamento de Informática do SUS (Datasus), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), e a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), além de universidades e outras instituições.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.