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SXSW 2023: as tendências da saúde no principal evento global de inovação

Festival SXSW 2023 destaca movimentos da Amazon na saúde, papel da inteligência artificial, liberação dos dados nos EUA e avanço em wearables

               
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Foto de Adam Kissick / SXSW

O festival SXSW 2023 (South by Southwest), considerado um dos maiores eventos de inovação do mundo, terminou no domingo, 19, e, como de costume, trouxe estudos, dados e tópicos relevantes em torno do futuro de diversas áreas. A percepção geral foi de que inteligência artificial foi o assunto mais abordado, na esteira do barulho que o ChatGPT vem causando desde que foi ao ar — ao contrário do metaverso, principal assunto do ano passado, que ficou mais discreto nesta edição.

Especificamente na saúde, um dos principais destaques foi a apresentação da Amy Webb, CEO do Future Today Institute (FTI) e considerada uma das principais vozes globais sobre tendências. Ela trouxe dados de um relatório feito pela FTI com diversos tópicos e cases que devem impactar o setor, projeto cenários para os anos seguintes e traz reflexões sobre como as empresas devem se preparar para o futuro, inclusive com algumas provocações:

“Executivos e suas equipes devem enfrentar suas crenças sobre os cuidados de saúde e desenvolver novos modelos para o que pode ser no futuro. Seria um erro se concentrar apenas em três ou cinco anos nos planos estratégicos, porque as big techs (Amazon, Meta, Google, Apple) e startups bem capitalizadas olham para um horizonte maior”.

Dentre outros insights, o documento destaca justamente os atuais avanços em sensores e inteligência artificial sobre as possibilidades de diagnóstico remoto, o que otimizaria a jornada. Há um destaque também para a questão dos dados, uma vez que os norte-americanos poderão obter legalmente seus dados médicos, ainda que haja uma dificuldade nos atuais sistemas para esse acesso, o que será trabalhado ao longo desse ano.

Webb também apontou que o sequenciamento de todo o genoma para realizar o rastreamento de possíveis doenças genéticas em bebês pode se tornar parte, em um futuro próximo, dos exames de bem-estar. Na área de diagnóstico e tratamento, foi ressaltado ainda que terapias emergentes estão possibilitando o tratamento de distúrbios genéticos ainda no útero materno e, por outro lado, o desenvolvimento de órgãos geneticamente modificados em animais para a realização de transplantes em pacientes humanos (xenotransplante) poderia gerar uma forma de negócio que traria preocupações éticas.

Do ponto de vista de iniciativas, o documento aponta novos modelos de negócios e que, na visão do FTI, a Amazon é atualmente o ator mais disruptivo na saúde. Existe uma forte expectativa sobre o impacto das estratégias da empresa em todo o ecossistema de saúde dos EUA, desde a atenção primária, até as companhias farmacêuticas, laboratórios diagnósticos e nos wearables.

Veja a seguir alguns dos principais pontos que devem impactar no futuro da saúde, segundo o FTI:

Projeção de cenários

Se o Future Today Institute e sua CEO são considerados futuristas, era esperado que o relatório projetasse alguns cenários que podem se tornar realidade nos anos seguintes e como as organizações devem se preparar para essas tendências e tecnologias emergentes. Para 2029, por exemplo, o documento menciona o aplicativo NoctEarner, que reproduz anúncios durante o sono e funciona como uma forma de publicidade capaz de moldar visões noturnas ao longo dos principais estágios do sono. O aplicativo reproduz sons que estimulam uma transição para o sono e, após uma boa conclusão de cada ciclo, os usuários ganham pontos no aplicativo que podem ser trocados por dinheiro, presentes e eletrônicos.

Já para 2033 há uma projeção em relação à experiência do paciente. O Orlando Regional Medical Center criou uma equipe de estratégia voltada para Experiência do Paciente, com especialistas em usabilidade de tecnologia e cientistas de dados para configurar a experiência de um paciente em tempo real a partir das suas necessidades médicas e do seu perfil individual de bem-estar. Os quartos de hospital são redesenhados, existem sensores nas paredes, janelas e portas que silenciam ruídos, há um sistema de música que cria paisagens sonoras calmantes e que estimulam liberação de dopamina, dentre outros pontos. Todos esses aspectos são pensados dentro dessa estratégia de experiência, o que, além de levar a um maior conforto do paciente, proporciona também melhores resultados.

Para se preparar para esse futuro, o FTI entende que, ao longo dos próximos anos, as empresas que procuram assumir uma posição ativa importante na construção do futuro da saúde e da medicina deveriam se desenvolver nas áreas de tecnologia (hardware e software), coleta de dados, experiência do paciente, parceiros externos e na retenção talentos. O documento também menciona os consumidores estão mais conscientes da saúde por causa da pandemia e que os dispositivos vestíveis serão cada vez mais utilizados. Além disso, há destaque ainda para a implantação de redes 5G e regras mais flexíveis sobre telemedicina e monitoramento remoto do paciente.

Diante de todas essas possibilidades, o relatório faz um convite para que as empresas analisem os impactos: “Qual destas mudanças vai impactar sua empresa primeiro? Quais demorarão mais para serem desenvolvidas, mas podem ter um impacto maior nas operações?”

Tratamentos

Em tratamentos, o relatório destaca um software desenvolvido por cientistas da Ohio State University é capaz de projetar robôs e nanodispositivos de DNA em questão de minutos. Ele recebeu o nome de MagicDNA e pode levar a uma aplicação mais útil, como a detecção de um vírus, a liberação de uma droga ou mesmo com a ação de envolver o patógeno, dentre outras utilidades.

A telerobótica também se mostra promissora com a possibilidade de bots remotos capazes de realizar tarefas médicas complexas. Nesse sentido, a startup Endiatx desenvolveu um robô que consegue dar zoom no trato digestivo humano, sendo uma atualização para endoscópios tradicionais que podem exigir o uso de anestesia e várias visitas para a captura de informações.

Ainda foi ressaltado pelo relatório um avanço no controle da dor. Pesquisadores criaram um dispositivo de resfriamento, um refrigerador bioabsorvível, que é implantado para bloquear temporariamente a condução nervosa. Assim que a dor diminui, os materiais são dissolvidos, o que é um avanço no controle de dor sem a necessidade de opioides.

Diagnósticos

Na parte de diagnósticos, o documento traz um case da Rice University, onde os pesquisadores estão desenvolvendo um material inteligente que pode ser costurado em roupas e possui a capacidade de detectar problemas cardíacos medindo o ritmo do coração. Essa fibra é resistente a danos ocasionados por lavagem, alongamento ou suor. Além disso, o material detecta, armazena e processa dados que, ao ser aparelhado com inteligência artificial, fornece alertas em tempo real sobre possíveis problemas.

Em uma linha semelhante, empresas como a Eight Sleep e a Ooler criaram uma tecnologia de cama inteligente que coleta dados do sono, detectando variabilidade da frequência cardíaca, respiração e inquietação durante o sono. Após a noite de sono, a tecnologia traz recomendações que são direcionadas ao consumidor por meio de um aplicativo.

O levantamento do FTI destaca os estudos sobre os wearables (ou dispositivos vestíveis), uma vez que, desde o início da pandemia, aplicativos de saúde e fitness e os wearables focados em saúde aumentaram, respectivamente, 13% e 16%. Nesse sentido, vários estudos já indicaram que alguns dispositivos, como o Apple Watch, são capazes de monitorar mudanças de variabilidade da frequência cardíaca e podem detectar sinais precoces de infecções, entre outras mudanças. Há um crescimento nos estudos sobre wearables, mas eles entendem que as descobertas possibilitam uma maior vigilância da saúde pública.

Próteses e implantes no SXSW 2023

Dentre os estudos envolvendo próteses, o relatório destacou uma nova forma de pele sintética projetada para cobrir próteses robóticas criada por pesquisadores da Universidade de Tóquio, uma pesquisa no Canadá que está utilizando visão computacional e deep learning para criação de movimentos mais naturais para pessoas que possuem deficiência e utilizam exoesqueletos e, por fim, um estudo da Universidade do Texas que explora como tatuagens eletrônicas de grafeno podem medir ondas cerebrais, atividade cardíaca e atividade muscular.

Além disso, também é mencionado um dispositivo de estimulação cardíaca que é absorvido pelo corpo ao longo de cinco a sete semanas, sendo ele ideal para pacientes pós-cirúrgicos cujos corações precisam de uma estimulação temporária. Desenvolvido por pesquisadores das universidades Northwestern e George Washington, o dispositivo é biodegradável e é colocado na superfície do coração do paciente durante a cirurgia.

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