Saúde: ano novo, velhos desafios
Saúde: ano novo, velhos desafios
A sustentabilidade dos sistemas de saúde segue como uma equação complexa, ainda sem respostas adequadas nem no setor privado nem no público. Alguns apostam na saúde digital como a grande salvação. Será?
O ano mudou, mas o desafio que assombra o setor de saúde como um todo se mantém inalterado: promover a sustentabilidade do sistema. O contexto é de demanda crescente, alimentada pelo envelhecimento da população, pelas doenças crônicas e pelos impactos das mudanças climáticas na saúde, para citar apenas alguns pontos. Já os recursos, como se sabe, são finitos. Como entregar saúde a um custo adequado? A equação de valor em saúde é simples: desfecho dividido por custo. No entanto, quanto do custo ocorre por desperdício? E o problema não é exclusivo do setor privado. Ao contrário, ele se estende também ao público, onde os recursos são ainda mais limitados.
Temos algumas boas razões para apostar em digitalização da saúde, como ampliação do acesso, qualidade e segurança da assistência, otimização de processos, apoio à decisão médica e muitos outros. Um algoritmo capaz de interpretar uma imagem de raio-X e apontar uma fratura pode ser valioso em um pronto-socorro que não tem um ortopedista de plantão. Uma central de monitoramento de pacientes internados com uma IA que alerta sobre algum parâmetro alterado possibilita intervenções rápidas para evitar agravamento do quadro ou um evento adverso. Estudos de big data permitem extrair inteligência dos dados para direcionar políticas públicas. E um simples serviço de telemedicina ‘leva’ o atendimento de especialistas de centros de referência a rincões do país carentes de tudo.
A digitalização da saúde é, sim, parte da solução. Mas não é uma panaceia. O caminho da sustentabilidade dos sistemas passa por derrubar a muralha de custos dos desperdícios, que só podem ser enfrentados com uma prática assistencial pautada por protocolos baseados em evidências científicas. Exames e procedimentos desnecessários pesam negativamente na balança de custos da equação de entrega de valor em saúde e, pior, às vezes pesam negativamente também do lado do desfecho para o paciente. Sustentabilidade e boas práticas assistenciais se alimentam, ainda, de uma boa formação médica. Este, porém, é outro território de carências, já que não temos um mecanismo de controle rigoroso dos médicos que estão saindo de algumas faculdades de nosso país e nem vagas de residência médica para todos.
Em contrapartida, precisamos reconhecer caminhos que têm contribuído para transformar a saúde no Brasil, como as parcerias público-privadas. Este mês, aliás, frente à grande pressão da população britânica por melhoria na assistência e redução das filas de espera, o National Health Service (NHS) da Inglaterra anunciou que vai adotar esse modelo a fim de responder às demandas. Aqui temos inúmeros exemplos de como o setor privado pode ajudar o Sistema Único de Saúde a melhorar a qualidade, a eficiência e a produtividade.
Para ilustrar, posso citar alguns indicadores registrados nos hospitais públicos sob gestão do Einstein, como redução de filas de espera, de taxas de mortalidade, de eventos adversos e de tempo médio de permanência (o que significa mais vagas sem criação de novos leitos). É eficiência e qualidade que faz com que registremos elevados índices de satisfação dos pacientes do SUS ali atendidos. Nós levamos, sim, soluções digitais a essas unidades. Mas também implantamos protocolos e boas práticas assistenciais. Aliás, contratamos programas de acreditação assim que assumimos essas unidades públicas e realizamos nossas próprias auditorias para, cada vez mais, entregar a melhor medicina, entregar valor em saúde.
Para além do Einstein, várias outras instituições privadas têm aportado contribuições importantes para o SUS, embora também tenhamos alguns casos de PPPs que não funcionam adequadamente – organizações que venceram licitações por apresentarem o menor preço no edital, mas cujas entregas deixam a desejar, às vezes, com sérios prejuízos para a população atendida. E aqui a solução passa por intensificar o monitoramento, com auditorias técnicas mais rigorosas pelos agentes públicos.
Uma melhor coordenação dos cuidados, com ênfase na atenção primária para prevenir doenças e manter as crônicas sob controle, a educação da população para o autocuidado para adoção de hábitos saudáveis e o combate às perniciosas fake news em saúde são outras áreas que temos de seguir cultivando, pois beneficiam as pessoas e a sustentabilidade dos sistemas, com menos demandas de atendimentos mais complexos e caros.
Também temos de colocar no radar a COP-30, que acontecerá no Brasil em novembro. É uma oportunidade de ouro para enfatizarmos a relevância da saúde no contexto das discussões sobre mudanças climáticas, pois se trata de uma questão urgente e global.
Se 2025 chegou com os mesmos velhos desafios para a saúde, podemos encará-los com o espírito daquele trecho do conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade:
“Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.
Nós temos novas tecnologias e ferramentas diversas. Se quisermos enfrentar os desafios e fazer um ano verdadeiramente novo para a saúde, temos de ter todos os stakeholders do setor unidos em torno de um mesmo propósito: entregar saúde a um custo adequado, semeando a sustentabilidade, fazendo florescer o acesso, a qualidade e a equidade.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.
Como subsídio, sobre ‘custo adequado’ – devo dizer que,
1.As Métricas Sistêmicas em Navegador Orçamentário por Processos-LCA/IS^AIS.RO disponibilizadas pelo ‘Modelo Operacional para Instituições de Saúde’ com internalização das evidências do ‘Modelo Organizacional das Referências e Contrarreferências como “custo adequado” o PV^Sustentável que, por sua vez, é dado pelo atendimento das Demandas das Linhas de Cuidados Assistenciais\LCA(médica, enfermagem, multip direta e multip indireta) por Instituição de Saúde\IS(pública, filantrópica, privada e mista) compondo Ações Integrais de Saúde\AIS.
2.Lembrando que o RO corresponde a Recursos Otimizados de Custos Médios Mínimos porque refletem Qualidade Máxima de RH^Proficientes com Remunerações Justas em Carreiras Profissionais contempladas por Postos de Trabalho Adequados.
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Como subsídio, sobre ‘stakeholders’ devo dizer que,
1.Os debates com ‘linguagem de alto nível’ são necessários, mas não são suficientes porque para avançar é inescapável contemplar os envolvidos com as Métricas Sistêmicas em Navegador Orçamentário por Processos-LCA/IS^AIS.RO do ‘Projeto Setor de Saúde Sustentável’ com SUS em sinergia com os sistemas Filantrópico, OPS e Particular.
2.Tratam-se das Métricas Sistêmicas(estruturadas, especificadas, quantificadas, equalizadas, articuladas e contextualizadas) que explicitam;
>Custos^Sustentávesi por Processos-LCA/IS^AIS como Indicadores de Eficiência Econômica porque internalizam os de Eficiência e Eficácia Técnico-Operacionais das Instituições de Saúde(públicas, filantrópicas, privadas e mistas) e
>Receitas^Sustentáveis por Fontes-LCA/IS^AIS Indicadoreas de Eficácia Econômica porque são dadas pelos PV derivados dos Seus Custos^Sustentáveis por Processos-LCA/IS^AIS.
\Sustentáveionde se tem
disponibilizadas pelo
3.Lembrando que as LCA/IS^AIS correspondem as Linhas de Cuidados Assistenciais(médica, enfermagem, multip direta e multip indireta) por Instituição de Saúde(pública, filantrópica, privada e mista) compondo Ações Integrais de Saúde.
4.Logo, enquanto não se disponibilizar esse “Projeto Setor de Saúde^Sustentável’ os envolvidos só poderão discursar com ‘linguagem de alto-nível’ como ‘guarda-chuva’ com inúmeras interpretações que inviabilizam alinhamentos para Posturas Decisórias Assertivas.
Como corolário direto, continuar-se-á com o crônico ‘andar de lado’ piorando.