Ferramentas de suporte à decisão apoiam profissionais de saúde e instituições rumo à excelência clínica

Ferramentas de suporte à decisão apoiam profissionais de saúde e instituições rumo à excelência clínica

Tecnologias dessa natureza aumentam a segurança dos pacientes e otimizam recursos. Integração entre times da assistência e da TI é essencial para usufruir dos benefícios

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By Published On: 03/12/2024
Suporte à decisão clínica - Elsevier

Painel de debate durante Connect Day. Da esq. para a dir.: Luiz Haertel, Carlos Sacomani, William Prando, Ailton Brandão e Fábio Lario.

As descobertas científicas ganharam tração nas últimas décadas e estimativas já apontam que o conhecimento médico dobra a cada 73 dias. Com tamanho volume de informações, traduzir e implementar essas novas evidências científicas na prática clínica é um desafio que entra cada vez mais na visão estratégica das instituições de saúde. Neste contexto, está claro que a tecnologia terá papel preponderante, com sistemas de apoio à decisão clínica como verdadeiros aliados dessa jornada e com reflexos diretos não só nos desfechos dos pacientes, mas na sustentabilidade do setor, que busca soluções para os desafios de envelhecimento da população e aumento das demandas por serviços de saúde.

Se antes a tecnologia ficava reservada ao registro de informações, hoje, aliada à capacidade de integrar grandes quantidades de dados e algoritmos sofisticados, ela possibilita o próximo passo em direção à excelência clínica. O tema foi destaque em um painel promovido pela Elsevier durante o Connect Day, evento sobre tecnologia em saúde organizado pela Philips, que aconteceu em 29 e 30 de outubro, em São Paulo, SP. O debate contou com a participação de lideranças do A.C.Camargo e do Hospital Sírio-Libanês, que dividiram suas visões sobre a adoção de sistemas de suporte à decisão clínica integrados ao prontuário eletrônico.

“A velocidade da informação dobra em um ritmo muito acelerado. Pela demanda de atendimento, o tempo que esse profissional de saúde tem para se atualizar é restrito. Então, ter uma ferramenta de referência à beira do leito significa um ganho de múltiplas oportunidades”, pontua Fábio Lario, gerente médico de informática clínica do Hospital Sírio-Libanês. “Com isso, é possível reduzir a variabilidade, que é algo muito importante, já que hoje vivemos um momento de restrição de recursos. Um conteúdo curado reduz o leque e facilita a decisão para todos, da assistência à governança.”

Ele foi um dos participantes do painel, que contou ainda com as presenças, pelo A.C.Camargo, de  Carlos Sacomani, coordenador médico de inovação e tecnologia, e Willian Prando, diretor de TI (CIO), e, pelo Hospital Sírio-Libanês, de Ailton Brandao, diretor de TI (CIO). A mediação foi feita por Luiz Haertel, líder médico (CMO) na Philips, que logo na abertura do debate pontuou que os sistemas de suporte à decisão representam uma evolução para os prontuários eletrônicos:

“O prontuário eletrônico fez duas coisas muito importantes. Primeiro, a coleta e a estruturação da informação. Segundo, a automatização e simplificação dos processos. Agora, com o atual volume de produção dados, o prontuário, quando integrado à ferramentas de suporte à decisão, permite que o médico consuma informações e insights valiosos em tempo real.”

Diversos estudos mostram que os sistemas de suporte à decisão clínica, quando baseados em evidências científicas robustas, podem reduzir erros na administração de medicamentos, aumentar a aderência a diretrizes e protocolos clínicos e ajudar nos cuidados com o foco na prevenção. Consequentemente, podem oferecer segurança para os profissionais da assistência, otimizar o fluxo de cuidado, reduzir a variabilidade da aplicação dos protocolos necessários e contribuir para a redução do desperdício de recursos.

Confiança nas plataformas

As ferramentas para esse caminho já existem, mas uma das grandes preocupações com a adoção desse recurso é a qualidade das fontes de informações das quais elas se alimentam. “Toda vez que uma ferramenta de suporte à decisão clínica é criada, temos que entender que o conteúdo disponibilizado por ela vai definir um determinado tratamento, uma conduta, e esse conteúdo precisa ser muito bem organizado”, detalha Sacomani, do A.C.Camargo.

Esta foi uma demanda que a Elsevier, empresa global de informações analíticas que oferece soluções digitais baseadas em evidências, buscou endereçar quando firmou parceria com a Philips para integrar duas soluções ao Tasy. Uma delas é o Order Sets, que permite criar, revisar e gerenciar protocolos em um ambiente colaborativo. Outra é o Care Planning, que permite desenhar linhas de cuidados baseadas em evidências para melhorar a coordenação das equipes assistenciais. São sistemas que utilizam as referências dos conteúdos publicados na Elsevier dos quais as recomendações são retiradas.

“Quando incorporamos soluções dessa natureza, temos algumas preocupações. Uma delas é ter um conteúdo que o médico consiga acessar durante sua rotina e entender de onde veio essa resposta. Então, não basta só a ferramenta me dar uma resposta, ela precisa me dizer a diretriz e as referências científicas que ela utilizou para dar aquela resposta. Isso permite que o médico se sinta mais tranquilo e confiante na hora de decidir se vai seguir a orientação gerada ou não”, detalha Sacomani.

A insegurança em não saber se as soluções são baseadas nas evidências científicas mais recentes e a percepção de baixa precisão do aconselhamento provido pelo sistema são alguns dos motivos que podem prejudicar a adesão ao uso destas aplicações. Por isso, o foco em um conteúdo cientificamente validado fortalece a confiança nas tecnologias e aumenta a adoção em larga escala.

Integração entre TI e assistência é o futuro

A construção de sistemas robustos e ampliação da confiança passa pela integração entre os times de tecnologia da informação e da assistência. Isso porque, para construir um futuro digitalizado que de fato seja eficiente para os profissionais de saúde e ao mesmo tempo tecnicamente viável, a atuação conjunta permitirá  desenvolver e aprimorar soluções cada vez mais adaptadas ao fluxo de trabalho de cada instituição e focadas nas necessidades dos pacientes e dos profissionais de saúde.

“A TI tradicional que fica no quarto subsolo do hospital, tirando o pedido a cuidando da sustentação dos serviços, está fadada ao fracasso”, sentencia Willian Prando, CIO do A.C.Camargo. “Estamos trabalhando e tentando posicioná-la como uma área mais estratégica e, para isso, é fundamental trazer o profissional de saúde para perto. Eles são os responsáveis por traduzir as demandas assistenciais para essa construção de soluções em conjunto.”

Ele destaca ainda que não basta dialogar apenas com o médico ou com o enfermeiro, mas com todos os profissionais ligados à assistência, o que empodera os times da ponta e acaba com o top down. Daí a importância de trabalhar com times multidisciplinares. Com base nas metodologias ágeis, essas equipes atuam para resolver problemas específicos, criar soluções e testar ideias na prática.

“As equipes multidisciplinares contam com a participação de técnicos de TI, de pessoas de design, analistas de negócio, times assistenciais. Porque quando vamos resolver um desafio, às vezes quem tem a informação que mais pode contribuir para isso é um maqueiro ou um técnico de beira de leito. Para criar a solução, quanto mais multidisciplinar, mais autonomia e mais engajamento o time tiver, melhores são os resultados”, diz Prando.

A expectativa é que os sistemas de apoio à decisão clínica possam crescer organicamente e que as pessoas realmente os adotem no dia a dia da prática clínica, aponta Lario, gerente médico de informática clínica do Hospital Sírio-Libanês. Os próximos passos nesse sentido envolvem a construção de uma cultura de adesão às soluções, baseada na compreensão da importância da prática da medicina baseada em evidências e dos ganhos com a tecnologia.

“Para isso, é preciso diálogo. Temos a vantagem de o profissional de saúde ser uma pessoa que, por perfil, tem um propósito no que faz e gosta de estudar pela vida toda. Temos que fazer esse profissional compreender que essas tecnologias vão auxiliá-lo na entrega de um cuidado melhor, mais eficiente e seguro, e fazer com que ele veja esse resultado”, conclui Lario, do Hospital Sírio-Libanês.

Chegada da IA deve ser próximo passo

No Hospital Sírio Libanês, o ClinicalKey, outra solução desenvolvida pela Elsevier que agrega conteúdo científico e referenciado, é utilizado desde 2007, como relatou Lario, e desde 2021 a ferramenta passou a ser utilizada também na jornada acadêmica dos estudantes dos cursos de saúde da Faculdade Sírio-Libanês. “Desde a implementação, temos observado uma evolução em relação a esses sistemas de apoio à decisão, e cada vez mais vemos o prontuário eletrônico como um instrumento fundamental para o profissional de saúde, que precisa saber como utilizá-lo com facilidade.”

A chegada da IA deve justamente ser o próximo passo da evolução das ferramentas de suporte à decisão clínica. De acordo com o relatório da Elsevier, Insights 2024: Atitudes em relação à IA, 94% dos pesquisadores e 96% dos médicos acham que a IA ajudará a acelerar a descoberta de conhecimento. O relatório reúne as opiniões de quase 3.000 pesquisadores e profissionais de saúde em todo o mundo. Os entrevistados deixaram claro que, para que os benefícios das ferramentas de IA sejam percebidos, as próprias ferramentas devem ser baseadas em conteúdo confiável e de alta qualidade.

Algumas novidades nessa direção começaram a chegar ao mercado nos últimos anos, com grandes modelos de linguagem (LLMs) desenhados especificamente para propósitos médicos. Foi neste contexto, por exemplo, que a Elsevier em parceria com a OpenEvidence desenvolveu o ClinicalKey AI, uma fonte de busca conversacional, alimentada por IA generativa, apoiada por informações baseadas em evidências que auxiliam os médicos na tomada de decisão no ponto de atendimento.

Para Ailton Brandao, explorar o potencial da IA e saber como aplicá-la em soluções do dia a dia das organizações de saúde é o próximo passo em direção ao futuro, mas que começa agora. “A digitalização do mundo nos últimos anos estabelece novos níveis de exigência e expectativa. Então, eu já tenho os dados, a organização e as jornadas bem estabelecidas. Onde mais eu posso utilizar esses dados disponíveis? A IA trouxe toda essa potencialidade, essa capacidade de antever, predizer, sugerir e ajudar o médico na tomada de decisão”, destaca.

Aposta na construção de pontes intersetoriais

Para a saúde avançar, a colaboração entre diferentes players é o caminho. Com o ecossistema de saúde adquirindo características cada vez mais complexas, é inviável pensar que as soluções serão construídas exclusivamente por um setor. Por isso, construir pontes intersetoriais e reunir diferentes olhares para um mesmo problema tem se mostrado cada vez uma estratégia assertiva, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de novas tecnologias.

Foi justamente nesse contexto que nasceu a parceria global entre Elsevier e Philips. A ideia é que, por meio do sistema de gestão de saúde e prontuário eletrônico Tasy EMR, da Philips, os profissionais da ponta do atendimento, tanto médicos quanto times multidisciplinares, vejam direto em seu sistema de uso diário as informações necessárias para apoiar a melhor tomada de decisão para o paciente. Sempre baseado em evidências científicas e de acordo com os protocolos e linhas de cuidado estabelecidos pela instituição.

“A tecnologia por si só não salva vidas. A informação por si só não salva vidas. Pessoas, utilizando tecnologia e informação adequada salvam vidas. Então, a nossa missão é sempre tentar trazer informação que faça sentido no momento certo da tomada de decisão. Essa é a responsabilidade que todos nós temos”, concluiu Haertel.

Isabelle Manzini

Graduada em jornalismo pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Atuou como jornalista na Band, RedeTV!, Portal Drauzio Varella e faz parte do time do Futuro da Saúde desde julho de 2023.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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