Startup Quality 24, investida por Antonio Buzaid, Fernando Maluf, Luís Salomão e Paulo Zoppi, abre nova rodada de investimentos
Startup Quality 24, investida por Antonio Buzaid, Fernando Maluf, Luís Salomão e Paulo Zoppi, abre nova rodada de investimentos
Startup Quality 24 traz ganho de eficiência a clínicas e hospitais, mostrando ao gestor todos os dados sobre as operações.
O oncologista Antonio Buzaid estava em um restaurante japonês quando se deparou com uma forma diferente de acompanhar a avaliação dos clientes. Ele recebeu um iPad com um aplicativo, onde avaliava, com notas de 1 a 10, se o serviço estava bom, se tinha gostado da comida, o ambiente, se recomenda o estabelecimento e finalizava com um campo para propor melhorias. Isso há cerca de 5 anos. “Quando voltei seis meses depois no mesmo restaurante, não tinha mais o iPad. E o serviço estava péssimo: garçom olhando no celular, precisava quase levantar da cadeira para chamar o garçom, entre outros problemas, mostrando que essa monitoração provavelmente fazia muita diferença. A minha ideia, então, foi fazer no hospital a mesma coisa, em todas as áreas de serviço do hospital, um sistema de monitoração em tempo real”, explica o médico. A partir daí, Buzaid buscou uma startup para colocar suas ideias e encontrou dentro da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde é diretor médico do Centro Oncológico, empreendedores dispostos a levar para a prática: os sócios Fabio Napchan, Gabriel Gebrim e Edson Nakada. Assim, nasceu a Quality 24, healthtech que colabora com instituições para melhorarem o seu Net Promoter Score (NPS), monitorando a área de operações em todo o hospital e trazendo dados para que os gestores façam melhorias que colaborem com a eficiência. Agora, a startup abre uma nova rodada de investimentos, com o objetivo de escalar a operação.
“O hospital é uma indústria de saúde e uma indústria de hotelaria. A parte de saúde é muito bem cumprida, mas essa de hospitalidade às vezes é o que fica para trás dentro dessa parte de operação. Nossos módulos têm bastante foco no acolhimento do paciente e no acompanhamento do gestor sobre o que está acontecendo”, explica Napchan, CEO da Quality 24.
A ideia da startup atraiu outros grandes nomes da medicina brasileira para serem investidores, como o oncologista Fernando Maluf, e a dupla de médicos Luís Salomão e Paulo Zoppi, fundadores do laboratório que carrega seus sobrenomes e hoje pertence à Dasa. A BP fez parte do projeto-piloto para validar o sistema.
A startup já atua com 38 instituições entre hospitais e clínicas, que incluem a Rede Mater Dei, Oncoclínicas, Hcor, Hospital Care, Real Hospital Português, dentre outros. São mais de 4.500 leitos cobertos pela empresa, que já apresentou resultados como um aumento de 35% no NPS das instituições e redução de 70% no tempo de atendimento de demandas internas. Mas a startup quer ir além.
Como funciona a Quality 24?
“Quando o ar-condicionado do quarto do paciente para de funcionar, na maior parte dos hospitais você liga ou aperta o botão da enfermagem. O paciente do quarto ao lado estava sentindo dor, mas a enfermeira não tem como saber qual a demanda de cada paciente. Problema com ar-condicionado não tem que passar pela enfermagem, tem que ir direto para a manutenção. Hoje o software imediatamente reduz o tempo de utilização imprópria da equipe de enfermagem”, explica Buzaid.
Através de 4 módulos (Internação, Giro de Leitos, Portal de Solicitações e Giro de Salas Cirúrgicas), o sistema da Quality 24 consegue fazer com que o gestor tenha uma visão global de tudo que ocorre dentro do hospital – de um paciente que esteja em operação até uma fronha que precisa ser trocada.
O módulo de Internação, por exemplo, é o que faz com que o paciente se comunique com diferentes setores do hospital através do iPad. Simultaneamente, ele avalia de forma rápida cada setor e entrega, seja no atendimento de um profissional de saúde ou na qualidade das refeições oferecidas no hospital. Do ponto de vista do gestor, ele é capaz de observar um mapa de calor – ou heatmap, em inglês -, para identificar as principais áreas que estão com falhas no serviço.
É esse módulo que interfere diretamente no NPS. Buzaid afirma que, enquanto a amostra de pacientes que respondem pesquisas de satisfação tradicional varia de 10 a 13%, hospitais com o sistema da Quality 24 possuem áreas com acima de 90%. A praticidade do iPad é vista como essencial para isso, já que acompanha em tempo real a satisfação com cada serviço.
“Uma das primeiras coisas que a gente fala quando chega a um hospital é que o trabalho é a quatro mãos. Quando se está fazendo um sistema que promete entregar a eficiência operacional para o hospital, o sistema sozinho não vai fazer isso. O sistema vai otimizar, mas até certo ponto também refletir as práticas que o hospital está fazendo. Se o hospital está trabalhando de uma maneira dessincronizada, sem nenhuma gestão ou governança, em um primeiro momento nosso sistema vai refletir muito bem”, afirma Napchan.
Já os módulos de Giro de Leitos e Giro de Salas são essenciais para que o hospital possa ganhar eficiência. Os dados da companhia apontam para uma redução de 65% no tempo de liberação de leitos, assim como uma redução de 12% na permanência de pacientes, otimizando o trabalho e aumentando a receita das instituições.
Tanto esses módulos quanto o módulo de Solicitações contribuem para que o gestor acompanhe o tempo que cada equipe leva para realizar suas tarefas, sejam elas próprias ou terceirizadas. Com isso, é possível avaliar o trabalho e, caso necessário, melhorar o serviço. Tudo isso, integrado aos sistemas de prontuário eletrônico dos hospitais.
O ERP das operações
Agora, a Quality 24 está com uma rodada de investimentos aberta para escalar a operação. A startup não tem um valor definido, mas tem objetivos claros sobre as metas para 2024. “Começamos janeiro com 38 unidades implementadas e devemos acabar 2024 com mais de 100 unidades, com a receita triplicando. A rodada de investimentos é para aumentar o time, trazer mais braço pra gente conseguir fazer crescer ainda mais depois desse crescimento. Também, queremos nos estabelecer com branding para ser o ERP de operações”, afirma o CEO. ERP é a sigla para Entreprise Resource Planning ou planejamento de recursos empresariais, na tradução livre, que representa um sistema ou plataforma para gestão.
O sistema da startup se integra aos sistemas de prontuários eletrônicos dos hospitais, como MV e Tasy/Philips, para que possam utilizar dados não-assistenciais e retroalimentar as informações, como o tempo que demorou uma cirurgia, já que um dos módulos faz esse acompanhamento. A startup considera essencial esse processo e não cobra pela integração.
Em um período onde dados são comparados a petróleo, o trabalho da Quality 24 é ajudar os gestores a refinar. Por isso, todo o trabalho demanda de engajamento do hospital, gestores e profissionais, para que as informações sobre uma área que esteja com alguma deficiência sejam utilizadas para melhorar a qualidade assistencial e operacional.
A expertise dos atuais investidores tem sido crucial para a empresa propor soluções que atingem as principais dores dos hospitais e clínicas, seja como gestores ou como médicos. O próximo passo é o desenvolvimento de um módulo para o pronto-socorro, um dos principais ofensores do NPS das instituições, já que os pacientes chegam com casos mais urgentes. A ideia é que, quando estiverem na maioria dos hospitais do setor, a startup crie seu próprio indicador, o Quality 24 Index, que compare as instituições.
“A minha vida inteira implementei qualidade onde trabalhei. Nos Estados Unidos, no maior hospital de câncer do mundo, o Hospital MD Anderson Cancer Center, fui co-chairman do comitê de qualidade, que é uma posição dada para quem tem um foco e gestão de qualidade muito intensa. Essa é uma das minhas grandes fortalezas pessoais. O mercado sabe disso”, aponta o oncologista, Antonio Buzaid.
Questionado qual o perfil da instituição que tem potencial para ser cliente da Quality 24, Fabio Napchan aponta: “Em qualquer momento que você se pergunta ‘o paciente está sendo bem atendido? O que está acontecendo nesse momento dentro do seu hospital? Qual é a média do tempo de atendimento de um colaborador? Quantas demandas um colaborador no meu hospital atende em média todo dia, semana ou mês? Quem são os meus melhores colaboradores? Podemos reduzir o tempo em que área?’. Qualquer gestor que já se perguntou em algum momento, é um gestor que pode usufruir do nosso sistema”.
Recebar nossa Newsletter

NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.