Shafi Ahmed, cirurgião e futurista: “Inteligência artificial e longevidade são as palavras de 2024”

Shafi Ahmed, cirurgião e futurista: “Inteligência artificial e longevidade são as palavras de 2024”

Responsável pela primeira cirurgia transmitida ao vivo, Shafi fala sobre tendências e como a inteligência artificial revoluciou a saúde.

By Published On: 26/06/2024
Shafi Ahmed foi responsável por transmitir a primeira cirurgia ao vivo.

Shafi Ahmed trouxe ao Brasil sua visão sobre o futuro da medicina (Fronteiras do Pensamento/Greg Salibian)

As últimas revoluções tecnológicas que chegaram à saúde, como o uso de inteligência artificial, realidade virtual e análise de dados para a tomada de decisões, modificaram radicalmente a forma como especialistas analisam o futuro da medicina. Futuristas apontam as principais tendências para os próximos 2 anos, mas afirmam que é impossível imaginar como será a saúde da próxima década. Este é um dos pensamentos de Shafi Ahmed, cirurgião, futurista e professor do Reino Unido, que concedeu entrevista exclusiva ao Futuro da Saúde.

Ele veio ao Brasil para abrir a temporada de 2024 do “The Future of Medicine”, uma plataforma de debates e palestras apresentada pela iniciativa Fronteiras do Pensamento. Líder clínico do Programa Internacional de Treinamento Cirúrgico do The Royal College of Surgeons of England, Shafi foi responsável por realizar a primeira transmissão de uma cirurgia, 10 anos atrás. O médico tem se aprofundado cada vez mais no uso de realidade aumentada e virtual para o ensino e aperfeiçoamento da medicina.

A entrevista foi realizada em conjunto com Jefferson Fernandes, curador do “The Future of Medicine”, diretor do Programa de Educação da International Society for Telemedicine and eHealth e presidente do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, um dos principais eventos brasileiros de saúde digital. Enquanto Ahmed trouxe sua análise sobre o cenário da tecnologia na saúde e os próximos passos, Fernandes traçou um panorama do cenário nacional para as tendências de tecnologia.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Você foi responsável por fazer a primeira cirurgia transmitida por streaming, ainda em 2014. O que mudou desde então?

Shafi Ahmed – Se você olhar para a primeira performance operacional, a primeira foi em 2014 mesmo, usando a realidade aumentada do Google Glass e pela primeira vez para um público global, com 14,4  mil trainees ou estudantes em todo o mundo. Essa é a primeira vez que usamos conectividade para chegar às pessoas. Era uma conexão 3G, não era 5G. Dois anos depois, em 2016, tivemos a primeira realidade virtual, que transmitimos uma operação ao vivo para todo o mundo e as pessoas que usam headsets do Google puderam estar envolvidas. Essa foi novamente a primeira do mundo. E nesse dia treinamos 55 mil pessoas em 140 países. Essas duas experiências estavam mostrando que era possível usar tecnologia inteligente e soluções de baixo custo para ensinar para um público global. Esse era o tipo de conceito naqueles primeiros dias. O Google Glass tinha acabado de ser lançado, e desde as primeiras pessoas que o usaram, a realidade virtual era ‘o novo’. Então, tivemos que ultrapassar os limites. Avançamos rapidamente. Duas coisas mudaram de lá pra cá. A primeira foi a Covid-19, que mudou a nossa percepção sobre treinamento remoto, consultas remotas e atendimento virtual. Isso mudou tudo. Antes disso não estávamos prontos. Em seguida, a tecnologia ficou cada vez melhor, mais barata, mais acessível e mais poderosa. Temos conectividades de 4G e 5G. Agora falamos de Starlink. Tudo mudou. Há 10 anos a resistência à mudança era mais difícil em profissionais de saúde. Havia discussão sobre a qualidade e o dilema ético. Todas essas coisas foram resolvidas. Mas agora a tecnologia mudou o mundo inteiro e está se tornando comum. É isso que está mudando, o mundo mudou. O que move a mente das pessoas que desenvolvem a tecnologia agora é mais do que um pequeno grupo.

Os recentes avanços da inteligência artificial alcançaram a realidade virtual?

Shafi Ahmed – Eles tinham que alcançar e alcançaram. Uma das minhas empresas, a Medical Realities, está construindo produtos de VR para treinamento e simulação de estudantes de medicina, enfermeiros, paramédicos e médicos. Éramos a quarta frente do começo disso tudo. E o que aconteceu? Nos últimos 18 meses, a tração da IA, ​​essencialmente ChatGPT e grandes modelos de linguagem, foram a virada do jogo. Agora temos a realidade virtual alimentada por IA. Já anunciamos um novo produto que criará com você, treinado para falar e até fazer uma consulta. Praticamente com um avatar de quem foi treinado através do ChatGPT para que tenhamos uma conversa inteira. Mas não é humano. Treinamos a IA para falar como um paciente. Nós podemos prever e planejar a saída para os casos. É muito mais barato e acessível usar essas plataformas agora. Pode ser utilizada em um smartphone, iPad ou um headset VR. A IA é a próxima tecnologia que alimentará tudo, incluindo a realidade virtual.

Você acredita que a entrada das big techs, empresas de fora do setor da saúde, aceleraram o progresso da tecnologia?

Shafi Ahmed – A colaboração é o futuro. Não podemos fazer individualmente, você tem que colaborar com outros parceiros que podem ser empresas de tecnologia conhecidas. Muitos são parceiros agora buscando como trabalhar juntos, trazendo novas ideias para cuidados de saúde e sistemas de saúde. Muitas vezes são pessoas de fora que trazem novas ideias, novas formas de pensar e novas tecnologias que realmente nos ajudam. E todas querem ajudar a saúde, todos têm essa ambição para melhorar a vida das pessoas. Eu diria que devemos encorajar essas pessoas a entrar no nosso setor. Apoiem nossa ambição de construir produtos e tecnologias para melhorar a vida de milhões de pacientes no Brasil e em todo o mundo. Mas isso mudou também com a Covid-19. Antes disso, trazer parceiros tecnológicos foi bastante difícil. Havia uma barreira à adoção e resistência à mudança. De repente, a corrida tornou-se muito mais rápida a uma adoção de inovação. Agora estamos vendo aquela colaboração que considero essencial. Olhe para os carros autônomos construídos com IA, da Tesla. Navegam pelas ruas de São Francisco e você pode conseguir um carro que o levará de um local para outro. Os sistemas de IA estão sendo construídos agora para diagnósticos, podemos aprender com outra indústria sobre responsabilidade, com as coisas que dão errado. Qual é a consideração ética e a estrutura legal que temos que ter? O aprendizado é legado de outras indústrias, de quem está impulsionando a tecnologia, ultrapassando as barreiras e que podemos nos beneficiar.

Trazendo essa discussão para a realidade brasileira, o quanto estamos perto ou longe delas?

Jefferson Fernandes – É uma grande oportunidade para o Brasil ter todas essas convergências, mas ainda precisamos alavancar o nível de maturidade em tecnologia e saúde digital. Poderíamos tirar ganhos do que está acontecendo ao redor do mundo. Tivemos uma mudança muito importante com a pandemia, quando a telemedicina não era permitida no Brasil e tudo precisava mudar porque as pessoas tinham que ficar em casa. Então, aprovaram uma lei, o que significa que médicos poderiam cuidar de pacientes diretamente através de uma plataforma. Há um crescimento da telemedicina e a telessaúde para outros profissionais de saúde no Brasil. Ainda temos que crescer no nível de maturidade destes serviços, usando as plataformas adequadas para isso, por exemplo, pois o que está acontecendo é muito inadequado, especialmente em relação à segurança e privacidade de dados. Isso é algo que temos que melhorar. Também temos serviços provisórios que deveriam aproveitar a vantagem das tecnologias para ajudar a mudar nosso sistema de saúde, em relação a suporte diagnóstico, prevenção de doenças, promoção de saúde ou atuar na Atenção Básica, junto ao acompanhamento de paciente na continuidade do cuidado. Soluções conectadas que podem apoiar o paciente na sua jornada, mas não apenas na doença também pela sua qualidade de vida.

Jefferson Fernandes, curador do The Future of Medicine (Foto: Fronteiras do Pensamento/Greg Salibian)

Houve avanços recentes nesse sentido?

Jefferson Fernandes – Isso está melhorando e crescendo, mas ainda temos um longo caminho. Se você se lembra, começamos a ter essa permissão para teleconsultas em 2020. Alguns países, como a Inglaterra ou a Europa em si, tem isso há algumas décadas. Agora, também temos a inteligência artificial, que pode ser aplicada nos diversos campos. Existem alguns grupos no Brasil que começaram a desenvolver essas ferramentas. Alguns grupos estão desenvolvendo soluções porque não podem simplesmente importar os resultados de outros hospitais ou de outros sistemas de saúde porque temos uma população específica aqui. Temos uma população miscigenada no Brasil. Somos um país de imigrantes de todos os lugares do mundo, e isso tem que ser levado em conta. Você tem o sistema público de saúde, que agora tem uma Secretaria de Saúde Digital, o que é algo muito importante. No sistema de saúde suplementar também temos vários hospitais e operadoras de planos de saúde tentando trabalhar com essas tecnologias, mas ainda temos um longo caminho a percorrer e precisamos trilhar caminhos para saber o que está acontecendo no mundo.

E as parcerias são bem-vindas neste sentido? 

Jefferson Fernandes – Tudo é global, por isso é importante construir parcerias com esses centros e profissionais que estão por todo o mundo e que poderiam nos ajudar a avançar mais rapidamente neste caminho. Precisamos também de profissionais qualificados, isso é algo que ainda temos que aumentar no Brasil. Estamos perdendo algumas mentes brilhantes pois encontraram outras oportunidades em outros países. É algo que precisamos criar um ambiente adequado para que esses profissionais possam desenvolver seu trabalho aqui. É preciso ter um suporte financeiro, não só estrutura. É uma construção que envolveu diferentes atores públicos e privados. Posso citar outros exemplos onde temos que avançar, como a questão dos registros dos pacientes. Temos dezenas e talvez centenas de prontuários eletrônicos diferentes, é uma espécie de silo. O paciente vai para uma clínica ou hospital e tudo o que ele mencionou em outro lugar não está lá. Temos que avançar no acesso universal à informação. Devemos ir mais rápido do que estamos indo e esperamos trazer os benefícios de todas essas tecnologias, mas também tomando cuidado e prestando atenção às suas limitações. Toda tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal. Então, devemos tomar cuidado.

Como essas evoluções tecnológicas têm impactado o ensino da medicina?

Shafi Ahmed – Se dermos uma olhada na história da educação, está sendo muito lenta a mudança. A medicina é, novamente, resistente a mudanças. São cerca de cinco ou seis anos que leva para se tornar um médico em todo o mundo, com o mesmo currículo praticamente em qualquer lugar, diferentes idiomas, ciências básicas e aplicações clínicas. Também existem cinco ou seis jeitos de falar para pessoas que ensinam os mesmos métodos. E isso me perturbou. O que vemos agora na medicina veio dos livros didáticos, foi assim que crescemos, não havia computadores. Agora temos plataformas on-line de e-learning, com simulação contínua e o mundo de IA. Temos essas novas ideias para melhorar a educação. Isso vai acontecer automaticamente. Teremos novas formas de ensinar quem está avaliando pessoas em simulação através de realidade estendida ou IA nas faculdades de medicina. O futuro médico, vamos pensar em como ele será entre 2030 e 2035. Um estudante que termina a faculdade hoje, em 2024, tem o mesmo conjunto de habilidades que nós. Não encorajam ele a pensar fora da caixa, a ser criativo, tornar-se um empreendedor, um especialista digital ou ser inovador. Dizemos que “não queremos isso, apenas queremos que você faça seu trabalho”. Nós treinamos ele, mas o ser humano tem mais faculdades. Por natureza somos curiosos inevitavelmente, e essas coisas não são suportadas neste ambiente. Portanto, precisamos pensar no futuro, eu chamo isso de médico digital ou “collected doctor of the future”.

O que é preciso mudar para irmos nessa direção?

Shafi Ahmed – Primeiro, a escola de medicina precisa mudar. Ensinando, por exemplo, inteligência artificial nas escolas de medicina. Não fazemos. Não podemos explorar o mundo. No entanto, quando você se qualificar, seu paciente pode dizer “doutor, a AI…” e você teria a conversa que não temos hoje, usar dados e registros médicos. Isso envolve ética em torno do uso de dados, por exemplo, e essas são coisas que deveríamos ensinar às pessoas. O trabalho que deveríamos fazer é mudar a indicação para criar diversos grupos de médicos nesse sentido. Deveríamos recompensar a inovação, pensar como criar negócios, como utilizar e como trazer ideias ao sistema de saúde. É disso que se trata. Acredito que o alcance é maior, porque os médicos de hoje, jovens, querem coisas diferentes. Ensinamos frequentemente como falaríamos antes, na medicina histórica que aprendemos com nossos antepassados. Aprendi isso porque me mostraram algo parecido. E nossos ensinamentos ensinaram a próxima geração a mesma coisa. Ela se perpetua ao longo da história. A tradição é um dogma. A forma como a gente interrompe é pensando nos jovens. Quem agora vive em um mundo diferente, da tecnologia, e eles querem aprender o que eles deveriam. Podemos nos adaptar à necessidade deles e é isso que não fazemos.

Como transmitir uma cirurgia nas redes sociais está ligado a isso?

Shafi Ahmed – Em 2017 fiz o primeiro treinamento de cirurgias no Snapchat. Foi um pouco arriscado. Era uma plataforma com cerca de 300 milhões de usuários na base, sendo que 75% têm entre 17 e 25 anos. Quando eu estava fazendo isso eu tinha quase 50 anos, e você pensa “por que isso é relevante?”. Em um mês essa operação foi assistida por 56 bilhões de pessoas em todo o mundo, a maior de todos os tempos. Foi transformador. Estávamos desafiando e interrompendo o que era aceitável. Em uma cirurgia, você tem um staff e estudantes, mas somente parte deles consegue ver o que está acontecendo. Outros acabam ficando no fundo da sala, mexendo no TikTok. Eles passaram oito horas lá, mas não se envolveram, não aprenderam nada. Então, é melhor estar em casa e interagir comigo em um smartphone na rede social. Posso enviar mensagens de texto, agora posso ensinar milhares  de pessoas. Foi disruptivo. Deveríamos aceitar a mediocridade? O dogma da tradição? Deveríamos mudar a maneira como ensinamos. Tornar mais digital e tecnológico. Estamos vendo agora mudanças ocorrendo globalmente em plataformas educacionais para criar esse futuro médico digital. No futuro, quando vivermos mais, será mais saudável ter 2 ou 3 cursos, termos uma segunda carreira porque você vive mais. Não estamos criando esse tipo de longevidade na área profissional das pessoas, as pessoas ficam esgotadas. São problemas fundamentais que precisamos resolver e acho que apenas sendo um pouco mais inteligentes trabalharemos uma solução para manter as pessoas interessadas em cuidados de saúde a longo prazo.

A situação é similar no Brasil?

Jefferson Fernandes – Em países como o Brasil ou países em desenvolvimento, é importante essa transformação do ensino para ensinar os professores. Temos mais de 380 escolas médicas e há dúvidas da qualidade, precisamos de alguma mudança na estratégia. Há um número elevado nas principais cidades. Temos que ensinar os professores como ensinar estudantes de medicina ou residentes. Provavelmente menos de 20 escolas médicas acrescentam algum ensino em termos de saúde digital em seu currículo. Isso é muito pouco e uma das razões é porque você não tem qualificação para que professores possam utilizar esses métodos de cuidado. Temos que mudar isso e abrir nossas mentes.

E sobre cirurgia robótica. O que temos visto de mais inovador nessa área?

Shafi Ahmed – Cirurgias robóticas existem há cerca de 20 anos. O que mudou mais recentemente é que há muito mais empresas por aí construindo robôs menores, mais elegantes ou modulares, menos caros. Estamos vendo muito mais robôs sendo vendidos de diferentes empresas, está se tornando mais democratizado. A robótica permite que você tenha uma melhor visualização. Por exemplo, se você operar a pélvis, a visualização é muito melhor, o acesso é muito melhor e mais preciso, porque foca no que é importante. Então, o que vem a seguir é a exibição visual e, esperançosamente, no futuro veremos a IA apoiando a navegação. Imagine uma operação que eu executo. O resultado da operação depende do meu conhecimento, minhas habilidades, minha intuição e meu julgamento. É visceral, não é digital. É baseado na minha experiência. O que se converte é o cirurgião análogo tornando-se um cirurgião digital. No futuro, será capaz de navegar pela operação apoiado pela IA. A visão computacional poderá ser em tempo real, trará menos erros. E novamente, podemos coletar mais dados da operação cirúrgica real de robôs, como muitos dados do seu desempenho.

Qual o próximo passo da tecnologia na saúde? O que você observa para os próximos 5 anos?

Shafi Ahmed – A primeira coisa sobre o futuro é muito fácil de prever. Nos próximos 12 ou 24 meses podemos prever, mas não podemos prever cinco ou 10 anos. Isso é impossível. Veremos mais implementação das tecnologias na prática clínica, mais pessoas usando algumas tecnologias em sua rotina de trabalho. A segunda coisa que veremos é a IA alimentando tudo. Automação de registros eletrônicos de saúde, ditados pela voz e também usando dados para criar um sistema de saúde personalizado. Será o back-end para fazer todo o trabalho, para onde poderemos ter mais cuidados preventivos. Sistemas de saúde são reativos. Para diversas doenças fala-se em prevenção. Isso é menos caro e usando abordagem personalizada, ou seja, usando seus dados para potencializar sua visão e em ações para criar a melhor assistência médica. Em 2024 há três palavras centrais: inteligência artificial e longevidade. O novo conceito é o de healthspan, que é o delta entre expectativa e qualidade de vida, por quanto tempo você consegue viver de forma saudável. As populações podem ser mais saudáveis usando dados personalizados e cuidados de saúde preventivos. Já faz cinco anos que vemos mais disso acontecendo.

É comum futuristas dizerem que médicos não serão substituídos por IA, mas é importante saber utilizar essas tecnologias. Recentemente, estudos mostram avanços onde a IA supera a acurácia dos médicos. Como você vê essa relação no futuro?

Shafi Ahmed – No começo diziam que a inteligência artificial substituiria os médicos e os cirurgiões. E a resposta é não. Não nos substituirá. No entanto, médicos que não usam IA serão substituídos. Se você olhar o trabalho original sobre IA da Universidade de Stanford, eles compararam uma radiografia de tórax sendo analisada pela IA em comparação com dois radiologistas, e a precisão da IA ​​foi melhor do que dois radiologistas, 93-95% de acurácia. A IA é boa para diagnósticos de imagens, tomografia computadorizada, ressonância magnética, radiografias de tórax, dermatologia, lesões de pele e patologia, com PET-scan. A IA pode fazer trabalho a partir de imagens de forma constante e rápida agora, com o profissional literalmente fazendo a varredura para entregar o resultado em segundos, dando uma olhada regular no mais complicado. Usar sua força de trabalho de uma forma inteligente, permitindo que sejam melhores médicos. IA pode ser a via para medicina personalizada. Será algo essencial. Portanto, temos que mudar a forma como nos comportamos quando praticamos a medicina baseada na tecnologia. Ela está mudando o comportamento, a gestão e a resistência das pessoas para novas ideias. A tecnologia já está aí.

E sobre o acesso da população à tecnologia em saúde. O que avançou nos últimos anos e o que ainda precisa avançar?

Shafi Ahmed – Em primeiro lugar, ao longo dos anos está se tornando mais barata. Com o tempo essa tecnologia será fácil de implementar em outros países pelas pessoas que talvez não consigam encaminhá-la hoje. Essas ideias constituem um conceito ao longo do tempo. Isso valeu o início do desenvolvimento. Mas é claro que o momento deveria ser mais democrático. Se você olhar para a saúde como um todo, os problemas globais são enormes. Estamos com falta de profissionais de saúde, mas em 2030 serão cerca de 15 milhões de profissionais de saúde. O PIB de cada país é alto. Os Estados Unidos investem 19% do PIB em saúde e o Reino Unido 9%. Com o aumento da população e da expectativa de vida, além das doenças atuais, isso torna-se inacessível. O próximo passo é usar a tecnologia inteligente, ideias inteligentes e força de trabalho inteligente, mantendo a saúde e o ambiente de saúde da comunidade, das famílias, cuidados primários, capacitando os pacientes com seus próprios dados. Todas essas tecnologias permitirão usar o mesmo dinheiro de maneira mais inteligente. É isso que o mundo está enfrentando.

E pensando em parcerias internacionais, o quanto elas são importantes para conseguirmos avançar na tecnologia e no acesso?

Jefferson Fernandes – Somos globais agora. O que é útil para o Reino Unido ou para outros países europeus pode ser útil para o Brasil, mas adaptado à nossa cultura, ao aspecto social e aos sistemas de saúde. Então, o conhecimento e as experiências são importantes. Temos que aprender com outros que estão mais avançados em alguns campos, como IA e telemedicina. Sabemos que somos jovens em termos de prática de teleconsulta. É preciso embarcar nessa aventura de aprender como está acontecendo em outros países e ir se adaptando às nossas necessidades e às nossas possibilidades também. E tentar reinventar o que é possível. Temos orçamento menor, recursos lentos. Parcerias são de uma importância tremenda porque você pode aprender quais foram os sucessos, mas também de quais foram os erros ou são as dificuldades. E então, como superar essas dificuldades agora. O sistema de saúde brasileiro, a atenção primária no Brasil, foi formada a partir da experiência do NHS na Inglaterra, e todo o sistema foi construído no mesmo modelo. Aqueles que elaboram políticas ou têm recursos financeiros também devem trabalhar juntos e aprender para que possamos encontrar melhores resultados para o nosso povo, para os nossos pacientes e para o nosso sistema de saúde que precisa de ser mudado. A saúde é um desafio para todos os países saberem ser sustentáveis.

É isso que o senhor tem visto palestrando ao redor do mundo?

Shafi Ahmed – Somos todos cidadãos globais. Trata-se de aprender sobre os sistemas de saúde. Tenho viajado muito, já dei palestras em 47 países diferentes sobre transformação e inovação em cuidados de saúde, em torno do que governos entendem sobre o futuro dos cuidados de saúde. E o que aprendi com isso é que todo mundo tem ideias incríveis. A coisa mais inteligente a fazer é levar essas ideias próximas ao sistema de saúde adaptando-o ao trabalho manual, social e cultural daquele país. Mas não precisamos reinventar a roda. São experiências compartilhadas. Isso está melhorando causalmente, aproveitando as melhores experiências e os erros das pessoas. É preciso compartilhar o conhecimento e como inovamos juntos, para, em última análise, melhorar a humanidade e o que fazem os sistemas de saúde mais acessíveis e mais equitativos.

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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