Saúde Populacional: a resposta para a sustentabilidade da saúde suplementar no Brasil
Saúde Populacional: a resposta para a sustentabilidade da saúde suplementar no Brasil
Em novo artigo, Daniel Greca fala da importância de discutir estratégias de cuidado populacional sustentáveis no setor da saúde suplementar, com base em estudos científicos
Continuar discutindo saúde sem refletir ou questionar o que as pessoas de fato precisam e as possibilidades que as empresas podem agregar de maneira sustentável é inviável para a saúde suplementar e privada no Brasil, que sofre com a ausência de um sistema de saúde e sua entrega de valor.
Os efeitos adversos causados em todos os elos do setor são notáveis e vão além do Valor de Custo Médio Hospitalar (VCMH): se baseiam na dificuldade em medir valor entregue ao paciente e expõe profundas fragilidades do setor.
Portanto, é essencial ter coragem para assumir o protagonismo e construir, mesmo que ainda em pequenas iniciativas muitas vezes colocadas em práticas dentro de ilhas, estratégias de cuidado populacional sustentáveis e baseadas em evidências científicas.
Para inspirar e reforçar que isso é possível, destaco um estudo de maio de 2024 publicado na Revista Brasileira de Saúde Suplementar (RBSS). O estudo comparou a condição de saúde de um grupo de trabalhadores, tendo focado naqueles com Hipertensão e Diabetes antes e depois da jornada de cuidado estabelecida com base em protocolos clínicos-assistenciais — sendo o momento “antes” sem a presença do programa de Saúde Populacional do Sírio-Libanês e “depois” com a implementação dessas estratégias.
Além disso, os autores também se comprometeram a trazer para o estudo os benefícios clínicos e econômico-financeiros que esse modelo trouxe. No caso da esfera econômico-financeira, destacamos que o estudo comparou e analisou também o custo por pessoa, crônica ou não, por mês equivalente a utilização do serviço da Saúde Populacional do Sírio-Libanês versus daqueles que não utilizaram o programa, preferindo a rede disponível.
Os três principais resultados foram:
• Cenário clínico-assistencial controlado: pacientes hipertensos e diabéticos, inicialmente descompensados, tiveram uma melhora significativa na sua condição de saúde após se engajarem no cuidado proposto e seguirem uma jornada individualizada em 12 meses¹;
• Além da doença: pacientes que não foram classificados com alguma condição crônica também fizeram parte do estudo. Nessa população, percebemos que o vínculo com uma equipe de saúde aumenta a percepção de cuidado, evita a sobreutilização de recursos, diminui os custos com saúde e melhora o direcionamento em sua jornada;
• Economia expressiva para a empresa contratante: redução dos custos com saúde por pessoa que utiliza o serviço da Saúde Populacional do Sírio-Libanês, comparado aos que usam apenas a rede, em 48% por mês; um retorno sobre o investimento (ROI) igual a 11% em 19 meses de programa, com expectativa de 55% em 60 meses; e payback alcançado já no 16º mês de implantação do programa.
Trazer isso em poucas linhas parece que o processo foi simples. Mas, fazer tudo isso acontecer é complexo e exige tempo – algo que nos foi esquecido quando a Atenção Primária à Saúde (APS) foi apresentada, praticamente, como uma solução milagrosa para o setor de saúde, gerando frustração e desistência prematura em continuar investindo em novos modelos de cuidado.
Isso não exime o paciente que de ser protagonista do seu cuidado. Mas traz a responsabilidade para o empregador, no caso de programas ocupacionais, e para as empresas de saúde que compõem o ecossistema brasileiro, que atualmente julgo desconectado. É preciso persistir nessas estratégias de médio e longo prazo de forma conjunta.
Hoje, temos informações suficientes para afirmar que a aplicação dos princípios da APS em um programa de Saúde Populacional tem se mostrado promissora ao oferecer cuidados sustentáveis, pertinentes e orientados pela ciência. É necessário analisar o cerne da questão de microssistemas específico e, ao adotar os princípios da APS, não se limitar a tratar condições crônicas, mas também prevenir suas ocorrências por meio de promoção e educação em saúde.
Somente assim, avaliando o grupo de pessoas como um microssistema de saúde para mapear estratégias que vão além da doença, poderemos voltar a traçar um modelo de gestão inteligente que, com base no estudo, afirmo que é escalável, sustentável e replicável.
*Daniel Greca é membro do Comitê Executivo do Sírio-Libanês, responsável pela unidade de negócio Saúde Populacional e pela diretoria de Inovação.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.