Saúde no metaverso: uma revolução em curso
Saúde no metaverso: uma revolução em curso
Tendência no mercado para os próximos anos, o metaverso já mostra as suas diversas possibilidades dentro da saúde.
Apesar de ser um conceito antigo, o metaverso ganhou popularidade recentemente com o o reposicionamento da marca do Facebook. Meta, como passou a se chamar a rede social, agora aposta no desenvolvimento de plataformas que não só crie um universo virtual, mas que seja um “novo mundo” para os usuários, mesclando as realidades.
Na área da saúde, esse recurso já vem sendo utilizado em procedimentos pré-cirúrgicos, diagnóstico por imagem e no ensino, mas analistas indicam que os próximos anos serão promissores para o surgimento de novas possibilidades e crescimento do mercado.
Entre as utilizações no Brasil, por exemplo, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz usa uma ferramenta que transforma tomografias e ressonâncias magnéticas em hologramas, e com a utilização de óculos 3D é possível analisar órgãos e tumores. Assim, os médicos podem tomar as melhores decisões antes das cirurgias, já que é possível observar amplamente a região.
“O Metaverso está sendo incentivado e impulsionado pelo 5G, que facilita a velocidade das transmissões e dos aplicativos. Nesse período de pandemia [de Covid-19], o isolamento social fez com que as pessoas tivessem uma imersão no meio digital, fez com que crescesse o interesse com as aplicações de teleconsultas e telemedicina. E por último, o crescimento das indústrias de gamificação. Nos últimos 10 anos, houve um salto de 500 mil usuários para 500 milhões. E junto, crescem as tecnologias envolvidas”, disse Guilherme S. Hummel, coordenador científico da Hospitalar Hub e head mentor do eHealth Mentor Institute, que presta consultoria de tecnologia e inovações para investidores e empresas de saúde
Utilizando ferramentas de Realidade Virtual, Realidade Mista e Realidade Estendida, como óculos-headsets, juntos a softwares de alta tecnologia, é possível transformar a visão bidimensional que temos ao utilizar smartphones e computadores, para uma experiência 3D, criando assim esse metaverso. “No fundo, descobriram o que fazer com a realidade virtual. Tinha virado apenas um acessório de entretenimento, só games utilizavam. Aproveitaram toda a experiência acumulada para aplicar em outros setores, como a saúde”, avalia o especialista.
Hummel acredita que no futuro, tudo que hoje ocorre na medicina da forma como conhecemos, será possível no metaverso. “Essas aplicações já estão ocorrendo no Brasil e no mundo, mas esse ano o mercado vai crescer de forma acelerada”, conclui.
Metaverso no ensino de saúde
A educação é uma das principais áreas beneficiadas com as possibilidades do metaverso. Ainda mais em saúde, que é preciso entender a anatomia e acompanhar cirurgias, as ferramentas de realidade virtual, mista e estendida, trazem grandes avanços.
Criada em 2016, a MedRoom já utilizava esse conceito para contribuir com as aulas de medicina. Através de simulações e ambientes de treinamento, criaram esse universo para que os alunos possam aprender imersos.
“Vimos a oportunidade de negócio após notarmos que existe um gap enorme entre a teoria e a prática no ensino das universidades e assim criamos um laboratório virtual, onde os estudantes podem analisar profundamente a anatomia e a fisiologia do corpo humano, visualizando cada órgão ou estrutura para entender as correlações entre eles”, afirma Vinícius Gusmão, CEO e cofundador da MedRoom.
Entre as principais instituições que utilizam o laboratório virtual estão o Hospital Albert Einstein, Instituto do Coração (InCor HCFMUSP), a Faculdade de Minas (FAMINAS) e a Universidade Ceuma. O Grupo Ânima, que adquiriu a MedRoom no final de 2020, também utiliza a ferramenta em suas instituições.
Em 2020, a MedRoom foi essencial para uma cirurgia de alta complexidade, realizada no InCor, envolvendo cerca de 50 profissionais. O caso era a separação de gêmeas siamesas, ligadas pelo tronco, que compartilhavam o fígado e a válvula do coração. Os médicos utilizaram o laboratório virtual para verificar qual era o melhor caminho para realizar a separação. O procedimento foi um sucesso.
“Fica evidente também a oportunidade de uso da tecnologia para outras áreas além da educação, oferecendo ferramentas importantes para o lifelong learning dos profissionais da saúde”, aponta o CEO.
A popularização do conceito de metaverso deve trazer novidade e crescimento para a empresa e para o mercado. Na avaliação de Gusmão, além de poder expandir os serviços para áreas como veterinária e engenharia, é possível que a empresa se aprofunde nas simulações em saúde, tornando cada vez mais realistas os pacientes virtuais.
“Se pensarmos no metaverso com relação a interoperabilidade de diferentes sistemas, com certeza o metaverso é uma tendência. Vamos poder conectar diversas experiências e ferramentas diferentes que antes não se conversavam dentro de um contexto que pode ser muito benéfico para experiência dos alunos”, analisa Vinícius.
Avaliação do mercado
Mercado e empresas de tecnologia já estão empenhadas para encontrar soluções que não só utilizem os recursos disponíveis, mas que tragam benefícios a médicos e pacientes. A aplicação no metaverso promete ser a próxima grande aposta.
Na visão de Rafael Kenji, CEO da Feluma Ventures, que investe em soluções para a saúde, “já existe uma grande corrida de empresas e segmentos de mercado para ver quem vai chegar primeiro no novo universo que promete ser a revolução da internet”. No momento, a Feluma está avaliando investir em duas startups que desenvolvem produtos em metaverso, de forma semelhante à MedRoom, com simuladores de casos clínicos.
Além das possibilidades já utilizadas na saúde e na educação, novas aplicações estão em estudo ou em desenvolvimento, como as voltadas para a telemedicina. Se há 30 anos parecia impossível acreditar que faríamos consultas por vídeo-chamadas, a ideia de atendimentos remotos com novos recursos está cada vez mais próxima.
“Com o metaverso, o paciente pode interagir com o profissional de saúde com a mesma eficácia da telemedicina, mas com a possibilidade de gamificação e até mesmo de outras formas de interação, com a evolução dos equipamentos capazes de transmitir sensações de toque, como a luva háptica anunciada pela empresa Meta”, afirma o CEO.
Ainda, Kenji avalia que é possível desenvolver projetos de educação em saúde para a população e ferramentas para psicólogos e psiquiatras, principalmente no enfrentamento das fobias.
Outra novidade que merece atenção em 2022 é o surgimento das NFTs (Tokens não fungíveis). Ainda que as possibilidades de uso sejam limitadas, é importante acompanhar o avanço do tema na saúde. Uma das primeiras empresas nesse sentido é a europeia Aimedis, que criou recentemente um marketplace de dados, onde o usuário pode vender seu histórico de saúde para serviços, codificados por blockchains, a mesma tecnologia utilizada nas criptomoedas.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.