Santa Joana utiliza inteligência artificial para contribuir com saúde materna e dos bebês
Santa Joana utiliza inteligência artificial para contribuir com saúde materna e dos bebês
Hospital desenvolveu inteligência artificial para reduzir reinternação e mortalidade materna por pré-eclâmpsia
O Hospital e Maternidade Santa Joana é uma das instituições brasileiras que estão avançando no uso de inteligência artificial no suporte à decisão clínica. A tecnologia está sendo utilizada para a redução de reinternação de gestantes com pré-eclâmpsia, mas outras condições estão nos projetos do hospital para receberem apoio de IA.
Ao longo dos últimos quatro anos, o Santa Joana conseguiu compilar 80 mil dados de gestantes, recém nascidos e puérperas para, através de algoritmos, atuar precocemente em condições de saúde. Por ser uma instituição que realiza cuidados e procedimentos em uma área delimitada, as informações adquiridas foram importantes para estabelecer padrões – e treinar a ferramenta.
“O processo de construção foi um amadurecimento do prontuário eletrônico. Todo o data lake do Santa Joana foi estruturado. Como somos uma maternidade que realiza um procedimento repetitivo e padrão, seguindo normativas internacionais estruturamos os comandos de tal forma que tudo que podemos fazer como variável computamos como entrada no banco de dados”, explica Eduardo Cordioli, diretor médico de Obstetrícia do hospital.
Cerca de 40% das pacientes internadas na unidade semi-intensiva do Santa Joana são acometidas por hipertensão arterial ou pré-eclâmpsia, sendo considerada a condição mais comum na gravidez. Por isso, foi escolhida para receber apoio de inteligência artificial no hospital e maternidade.
A pré-eclâmpsia é uma complicação que ocorre em gestantes, em geral a partir da 20ª semana de gravidez. A pressão alta é uma das principais características, assim como o funcionamento atípico dos órgãos. Se não tratada, pode causar convulsões e até levar à óbito.
Atualmente, a taxa de mortalidade materna no Brasil é de 57 a cada 100 mil nascidos vivos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Intervir precocemente em casos de pré-eclâmpsia é importante para reduzir casos graves e contribuir com a saúde da gestante e do bebê.
“A mortalidade materna no Grupo Santa Joana está 4,73 para 100 mil nascidos vivos. A Europa Ocidental trabalha com 8 para 100 mil. Os Estados Unidos estão trabalhando com 30 para 100 mil. Ou seja, os nossos dados são muito bons”, observa Cordioli, que aponta que a utilização de IA e Big Data tem colaborado com os números.
IA do Santa Joana na prática e futuro
“Temos um prontuário eletrônico vivo. Conforme fazemos uma anamnese, colocamos informações que essa paciente, por exemplo, tem uma hipertensão. O prontuário colhe dados de diagnóstico físico, de laboratório e monta uma ficha de raciocínio de hipertensão. Com isso, sugere uma conduta, com base em protocolos”, explica Cordioli.
O diretor médico afirma que a tecnologia surge para colaborar com os médicos e contribuir com a sua capacidade de atuação. Ele explica que a pré-eclâmpsia tem muitas variáveis, e o uso de inteligência artificial ajuda a reduzir erros ou a apontar condições que não haviam sido observadas pelo olho humano.
Já para o hospital, os principais benefícios são a redução da variabilidade clínica, a melhora da sensibilidade e a diminuição do retrabalho. Dessa forma, é possível diminuir o custo, além de trazer os melhores desfechos ao seu paciente. O impacto também deve ser sentido pelas operadoras de saúde, já que reduz a utilização do plano. “Conseguimos demonstrar que quando a paciente estava internado sob nossos cuidados e seguia o protocolo, a chance de reinternação por pré-eclâmpsia era mais de 10 vezes menor do que se ela não tivesse sido acompanhada”, aponta Cordioli.
A plataforma utiliza dados clínicos da paciente, mas também outras informações que podem impactar na saúde e no desfecho, como dados pessoais e sociais, equipes que acompanharam a paciente, médicos internos ou externos, entre outros. Assim, cada pessoa é colocada em categorias e grupos em busca de um padrão.
Além dessa inteligência artificial, o Santa Joana utiliza outras ferramentas de apoio à decisão clínica disponíveis no mercado, como para partos prematuros e score de risco do paciente. Existe, também, a perspectiva da criação de novos modelos para avançar no atendimento à saúde em outras circunstâncias. “Vamos querer usar inteligência artificial para que o paciente, por exemplo, que possui pré-eclâmpsia, seja acompanhado em casa ou mesmo para acompanhar a depressão pós-parto — modelos que ainda estão em pesquisa. Cada vez mais temos a intersecção entre medicina e matemática. O algoritmo está cada vez mais vivo para ajudar a tomar melhores decisões”, conclui o diretor médico.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.