Retrospectiva 2023 na saúde: os principais acontecimentos que marcaram o ano

Retrospectiva 2023 na saúde: os principais acontecimentos que marcaram o ano

Mudanças regulatórias, movimentações no mercado, retomada de programas e outros desafios marcam a retrospectiva 2023 na saúde.

By Published On: 20/12/2023

A saúde teve um ano agitado com a chegada de medicamentos inovadores no mercado, a busca do Ministério da Saúde em retomar programas para a saúde pública, o setor privado ajustando as contas e mudanças regulatórias, como a autorização de farmácias poderem realizar exames de triagem. Algumas discussões iniciadas, como a construção do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, a regulamentação da cannabis pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o avanço da saúde digital no SUS, devem seguir durante o próximo ano e ganhar força. Veja abaixo a lista que Futuro da Saúde preparou com os principais destaques do ano, nessa retrospectiva 2023 da saúde.

Movimentações de mercado

Marcado por menos movimentações que o habitual, com os investimentos em startups menores, planos de saúde focados em ajustar as contas, hospitais e redes verticalizadas realizando as sinergias de aquisições realizadas nos últimos anos, os negócios de compras e vendas de ativos em 2023 não foram o grande destaque do setor. Entretanto, as poucas transações que ocorreram podem estruturar um avanço para empresas, como a compra da Qsaúde pela Alice e a fusão da Conexa com o Zenklub. Já a retomada da venda da Amil chamou a atenção, mas ainda não houve a concretização do negócio. E a aproximação do setor em busca de soluções para a crise parece ter avançado, como novos modelos de remuneração e acordos de compartilhamento de risco. No cenário das doenças raras, o anúncio para a construção de hospital dedicado em São Paulo foi comemorado por pacientes e entidades.

Venda da Amil

Após a tentativa frustrada de se desfazer da carteira de beneficiários de planos individuais em 2021, a UnitedHealth Group retomou a venda da Amil. Dessa vez, a proposta envolve também a rede de prestação de saúde, que possui 31 hospitais e 28 centros médicos. O negócio é avaliado entre 10 e 15 bilhões de reais pelo Bank of America e recebeu quatro propostas de interessados. A venda é assessorada pela BTG Pactual.

Alice compra Qsaúde

A startup de planos de saúde Alice adquiriu a carteira de beneficiários da Qsaúde, saltando de 11 mil para 28 mil usuários. Também houve um aumento expressivo da receita anual da operadora, que subiu de R$ 100 milhões para R$ 250 milhões. A healthtech ainda anunciou uma mudança do seu modelo de negócios, passando a oferecer apenas planos empresariais, mirando uma receita de 500 milhões de reais em 2024.

Conexa + Zenklub

Duas grandes healthtechs de serviços digitais anunciaram uma fusão. A Conexa, que atua com telemedicina, se uniu à Zenklub, startup de saúde mental, com o intuito de se tornar a maior plataforma de saúde digital da América Latina. O negócio foi realizado com troca de ações entre as empresas. Com um caixa de 200 milhões de reais, a meta da nova companhia é atingir o breakeven no começo do ano que vem.

Sandoz separada

Na indústria farmacêutica, um dos principais movimentos de 2023 foi a cisão entre Sandoz e Novartis. A líder mundial na venda de genéricos e biossimilares, que representava 11% do faturamento da Novartis, agora passa a ser uma empresa independente, avaliada em 11,2 bilhões de dólares. O processo de separação durou mais de um ano e foi aprovado poe 99,7% dos investidores da Novartis.

Pfizer + A.C.Camargo

Outro passo importante no mercado brasileiro foi o acordo entre Pfizer e A.C.Camargo Cancer Center para o compartilhamento de risco de um medicamento anticoagulante utilizado em pacientes com câncer que tiveram tromboembolismo venoso (TEV). O acordo prevê ressarcimento de medicamentos que não surtirem o efeito desejado, e é visto como um mais um passo para a construção de novas iniciativas para avançar na questão da sustentabilidade do setor.

Doenças Raras

O cenário das doenças raras no Brasil ganhou dois reforços de peso. Em Porto Alegre, a Casa dos Raros passou a funcionar oficialmente esse ano, oferecendo diagnóstico e tratamento a pacientes e suporte aos familiares. A expectativa é que funcione em sua capacidade máxima até o final de 2024, realizando 100 atendimentos diários. Em São Paulo, foi anunciada a construção do Hospital dos Raros, com 110 leitos e previsão de entrega para o segundo semestre de 2027. Ambas são iniciativas filantrópicas, com apoio dos governos locais, que atuarão em parceria com o SUS e planos de saúde. Veja aqui a matéria especial que o Futuro da Saúde fez sobre o tema.

Cenário da saúde suplementar

Diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, no Conahp 2023

Depois de um ano de crise, a saúde suplementar começa a se recuperar. Com 2023 marcado pelos ajustes de contas, com menos movimentações no mercado de fusões, aquisições e joint ventures, operadoras de planos de saúde voltaram as energias a ajustar parceiros, reduzir custos e combater irregularidades. Ainda, houve a aplicação de reajustes mais altos a contratos empresariais, com o intuito de recompor os prejuízos operacionais. A sinistralidade começa a diminuir lentamente, mas a expectativa é que entre 2024 e 2025 vejamos o setor retornando aos indicadores pré-pandemia. De outro lado, hospitais e prestadores seguem em busca de reajustes mais expressivos junto aos planos de saúde, além de cobrarem pagamentos atrasados e contas glosadas. 

Discreta melhora no cenário

O ano que começou com o pior cenário dos planos de saúde dos últimos tempos apresentou discreta melhora nos resultados e na sinistralidade ao longo de 2023, fechando o 3º trimestre com prejuízo operacional de R$ 6,3 bilhões. Por outro lado, o número de beneficiários seguiu crescendo, chegando a marca de 50,9 milhões de pessoas em planos médico-hospitalares. Planos de saúde exclusivamente odontológicos ficaram com 32,2 milhões de usuários. O segundo semestre foi marcado por uma busca das operadoras em ajustar as contas, adequando parceiros e praças de atuação, além de fechar o cerco contra fraudes. Futuro da Saúde ouviu diversos especialistas ao longo do ano e produziu diversas reportagens, como essa aqui.

Terapias avançadas (novas regras)

Buscando dialogar internamente com o setor e realizar pequenas mudanças estruturais, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) atuou ao longo do ano de forma mais discreta depois de 2022, onde sofreu pressão social de diferentes lados. Um dos principais destaques para as operadoras foram as novas regras para incorporação de terapias avançadas ao rol. Elas deverão passar por  Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), mesmo que já incorporadas ao SUS anteriormente. Até então, uma lei de 2022 definia que a inclusão deveria ser automática, como aconteceu no caso do Zolgensma.

PL dos planos de saúde

O setor foi estremecido pelo relatório final do projeto de lei que visa reformar as regras definidas sobre os planos de saúde. Mudanças como o fim da rescisão unilateral de contratos empresariais e alteração das regras para contratos coletivos de até 99 vidas, passando a ter um reajuste único dentro da operadora e chancelado pela ANS, foram dois dos principais pontos defendidos pelo autor, deputado Duarte Jr (PSB-MA). O PL, porém, não entrou em votação, com o presidente da Câmara Arthur Lira dando indícios que iria debater com a sociedade antes de ir a plenário.

Lei do rol exemplificativo

Aprovada no final de 2022, a chamada lei do rol exemplificativo, que garante cobertura de tratamentos que não constam na lista da ANS, segue sem definição. Isso porque tanto a Agência quanto o Ministério da Saúde não definiram os critérios sobre quais comprovações científicas são válidas e deverão embasar a aplicação da lei, assim como quais as agências de renome que devem ser levadas em consideração. Com isso, operadoras argumentam que não é possível autorizar tratamentos que não estejam no rol, assim como a ANS afirma que não tem competência para fiscalizar esse tema. Por outro lado, a lei vem sendo utilizada como embasamento para juízes obrigarem os planos a autorizarem tratamentos.

Proposta de Sandbox regulatório da ANS

A ANS criou expectativas no setor quando o diretor-presidente Paulo Rebello apontou que a agência deve utilizar um sandbox regulatório para propor mudanças estruturais. A ideia é que regras provisórias sejam criadas e testadas por até 2 anos, para avaliar a possibilidade de torná-las definitivas. O primeiro passo seria criar um produto com coordenação do cuidado, com o intuito de reduzir custos. O instrumento que permite regras provisórias já vem sendo utilizado por outras agências reguladoras, mas até o momento a ANS não tem normas que permitam a utilização. Em entrevista ao Futuro da Saúde, o diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, falou sobre o tema. Veja aqui a matéria completa.

Legislação, SUS e Ministério da Saúde

Novo programa Mais Médicos quer colocar 28 mil profissionais na atenção primária do SUS.

Presidente Lula e ministra Nísia Trindade, junto a outros membros do Governo, durante o lançamento do novo Mais Médicos. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O tom da gestão Lula para a saúde foi de retomada. Para isso, o presidente escolheu Nísia Trindade, a primeira mulher a assumir o posto de ministra no Brasil, que buscou avançar em temas referentes ao SUS e à saúde pública, como vacinação e atenção primária. Ao longo do ano, o cargo foi ameaçado, já que membros do chamado “Centrão” cobravam ter mais participação no Governo em troca de votações de projetos de leis e medidas provisórias, principalmente em pastas expressivas. Por outro lado, o setor privado busca um maior contato com a ministra para criar possibilidades de parcerias.

Secretaria de saúde digital

A criação da Secretaria de Informação e Saúde Digital foi um dos destaques do Ministério da Saúde no primeiro ano da gestão Lula. Comandada por Ana Estela Haddad, a pasta vem trabalhando para estruturar o SUS para avançar na telessaúde, interoperabilidade e utilização de ferramentas tecnológicas na saúde pública. Para isso, vem criando parcerias, como a feita com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) para disponibilizar seu prontuário-eletrônico aos hospitais do SUS. e o anúncio do programa SUS Digital, ainda em construção pelo Governo.

CEIS

O Complexo Econômico-Industrial da Saúde começa a sair do papel, com o intuito de tornar o país menos dependente do mercado internacional de vacinas, medicamentos e outros insumos médicos. O investimento previsto é de R$ 42,1 bilhões até 2026. Em dezembro, o Governo anunciou a publicação de 4 portarias sobre o tema, formalizando a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.

Mutirão de cirurgias

O Governo Federal está investindo 600 milhões de reais para reduzir as filas de cirurgias eletivas do SUS, que se acumularam com a pandemia de Covid-19. Entre março e outubro, 350 mil cirurgias foram realizadas através do Programa Nacional de Redução de Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas (PNRF), cerca de 72% da demanda que será atendida pelo programa. As próximas etapas estão previstas para os próximos anos.

Mais Médicos

O ano foi marcado pelo relançamento do Mais Médicos, com o intuito de reduzir os vazios assistenciais na atenção primária do SUS. Substituído em 2019 pelo Médicos do Brasil, o programa retorna no Governo Lula, que promete priorizar médicos brasileiros. Criticado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por não cobrar a revalidação do diploma para médicos formados no exterior, que podem atuar sem registro profissional da categoria, o Mais Médicos atinge número recorde ao longo do ano, com mais de 18,5 mil profissionais. Em um dos editais de chamamentos que ocorreram em 2023, 46% dos médicos eram formados no Paraguai.

Tabela SUS

O reajuste da Tabela SUS, que define os valores que devem ser repassados a prestadores filantrópicos, santas casas e privados por serviços prestados ao SUS, entrou com força na pauta pública. O Governo de São Paulo anunciou em agosto a criação da Tabela SUS Paulista, com valores acima da versão nacional, podendo chegar a 5 vezes a remuneração para alguns procedimentos. As santas casas apoiaram a decisão. Contudo, ainda não houve publicação oficializando o lançamento. Por outro lado, o Congresso Nacional aprovou o reajuste anual da Tabela SUS, mas o percentual será definido pelo Ministério da Saúde, e segundo o texto, “observada a disponibilidade orçamentária e financeira”. 

Novo PAC

Em agosto a ministra da Saúde Nísia Trindade detalhou os planos de investimento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na área de saúde. Dos R$ 1,7 trilhão anunciados para todo o programa, R$ 30,5 bilhões serão aplicados ao setor entre 2023 e 2026 divididos em cinco pilares: atenção primária (R$ 7,4 bilhões), atenção especializada (R$ 13,8 bilhões), preparação para emergências em saúde (R$ 272 milhões), Complexo Econômico e Industrial da Saúde (R$ 8,9 bilhões) e telessaúde (R$ 150 milhões). Os aportes incluem a construção de hospitais especializados e unidades básicas de saúde, ampliação do SAMU para todo o território nacional, expansão de unidades de telessaúde e atuação de médicos de saúde da família, iniciativas de saúde mental, construção de fábricas para produção de insumos e biológicos, dentre outros.

Cannabis

A discussão sobre a regulamentação e disponibilidade da cannabis medicinal permaneceu ao longo do ano. Ao menos 15 estados brasileiros possuem leis que garantem o acesso pelo SUS, além de ações na justiça para obrigar Governo, estados e municípios a custear tratamentos. Entre janeiro e outubro, São Paulo gastou 25,6 milhões de reais para o cumprimento de ações. Contudo, ainda há limitada evidência científica robusta para poucas patologias. Do outro lado, o mercado aguarda uma revisão da regulamentação da Anvisa em 2024.

Exames de triagem em farmácias

A Anvisa autorizou, em agosto, que farmácias e drogarias podem fazer exames de triagem. A medida foi vista como importante passo para que o setor seja integrado à saúde de forma definitiva, tornando as farmácias um ponto de acesso da população aos serviços. Devido a capilaridade por todo o país, com mais de 90 mil unidades, as farmácias são, em pequenas cidades do interior dos estados, um dos únicos serviços de saúde acessíveis, e o posicionamento das empresas em transformá-las em hubs de saúde vem consolidando seu papel.

PL Pesquisa Clínica

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que regulamenta as pesquisas clínicas no Brasil. O texto, que agora aguarda apreciação do Senado, é visto como importante instrumento para trazer mais segurança jurídica às empresas, acelerar o processo de aprovação e flexibilizar as regras, para atrair mais estudos clínicos ao país. E tem o apoio de entidades que representam os pacientes, que por outro lado cobram a permanência da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Veja aqui o posicionamento de 3 associações. 

Política do Câncer

Comemorada por pacientes e pelas entidades que atuam em defesa de pessoas com câncer, a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) foi aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula. Sendo uma das doenças mais prevalentes na população, com estimativa de 704 mil novos casos anualmente entre 2023 e 2025, a política prevê ações de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos, além de criar o Programa Nacional de Navegação da Pessoa com Diagnóstico de Câncer. A colunista Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida e que participou do processo, escreveu aqui sobre o tema.

Saúde pública

Queda da cobertura vacinal faz acender um alerta nas autoridades e profissionais da saúde.

A saúde segue enfrentando desafios sazonais. O aumento da dengue ao longo de 2023, com o ressurgimento do sorotipo 3, preocupa as autoridades, que apontam que devem haver uma epidemia em alguns estados no próximo ano. A onda de pneumonia provocada por bactéria na China e Europa também é outro tema que merece atenção. Com as mudanças climáticas, há uma preocupação de que haja mais surtos de doenças, além das ondas de calor excessivos que já chegaram ao Brasil. 2024 deve ser um ano desafiador nesse sentido, somado ao risco de uma nova onda de Covid pelo mundo.

Vacinação

Com os baixos índices de vacinação que assolavam o país e aumentava o risco de disseminação e retorno de doenças, o Governo Federal focou também em retomar as campanhas de imunização por todo o país, marcadas pela volta do “Zé Gotinha”, personagem criado para estimular a imunização de crianças. De acordo com dados apresentados pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (19), compilando informações entre janeiro e outubro de 2023, já é possível ver uma melhora no cenário. A vacinação de poliomielite, por exemplo, saltou de 67,1% em 2022 para 74,6%. A tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, passou de 80,7% para 85,6%.

Dengue tipo 3

Mais de 1,6 milhão de casos de dengue foram registrados no Brasil, número 15,8% maior que no ano passado. O Ministério da Saúde prevê que epidemias ocorram ao redor do país em 2024, e o ressurgimento da dengue tipo 3, que estava sem registros há 15 anos, fez acender um alerta. O cenário deve ser impactado pelas mudanças climáticas, tanto na proliferação de mosquitos quanto no agravamento do quadro de pacientes. O Ministério analisa a possibilidade de incorporar a vacina contra a arbovirose para prevenção de novos casos.

Pneumonia misteriosa

Casos de pneumonia provocados pela bactéria Mycoplasma pneumoniae foram registrados na China e Europa, provocando um alerta das autoridades de saúde ao redor do mundo. Apesar de ser uma bactéria comum, que provoca sintomas gripais, afeta principalmente as crianças, e a Organização Mundial da Saúde aponta que a reabertura integral das escolas e à diminuição das medidas de isolamento social após a pandemia de Covid-19 podem ter impactado na disseminação, sendo um fenômeno esperado. Há risco de o Brasil entrar na rota das infecções.

Febre maculosa

Apesar do Brasil registrar poucos casos por ano, a febre maculosa assustou a população após a morte de 4 pessoas que estiveram em um mesmo evento no interior de São Paulo. Transmitida por carrapatos presentes em cavalos e capivaras, a doença contabiliza cerca de 2 mil casos nos últimos 10 anos, mas a alta taxa de mortalidade, podendo chegar a 75% dos casos, fez com que houvesse uma atenção redobrada e uma disseminação de informações por parte das autoridades da saúde.

Calor excessivo

As ondas de calor que assolaram a Europa em 2022 chegaram ao Brasil e fizeram com que a saúde pública ficasse em alerta sobre os seus impactos. Além do risco de desidratação da população em geral, pessoas que convivem com doenças crônicas, cardíacas ou problemas nos rins devem redobrar a atenção, principalmente com a chegada do verão, no próximo dia 22. O impacto das mudanças climáticas na saúde foi um dos temas debatidos durante a COP 28. O presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner, escreveu uma coluna no Futuro da Saúde sobre a importância de discutir sobre saúde quando a pauta é mudanças clínicas. Veja aqui.

Nova onda de Covid?

Duas novas sublinhagens de uma variante da Covid-19 têm provocado um aumento de casos ao redor do mundo e já foram identificadas no Brasil. Chamadas de JN.1 e a JG.3, já foram vistas no Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Somente a JN.1 já representa 3,2% dos casos ao redor do mundo, mas na França é responsável por cerca de 30% das infecções. Autoridades brasileiras se preocupam com a baixa vacinação no país, onde apenas 17% da população recebeu a vacina bivalente contra a Covid. Por aqui, a vacina para crianças passou a ser obrigatória e irá integrar o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Avanços científicos, novos tratamentos e novos medicamentos

Inteligência Artificial Generativa

A ciência tem evoluído cada vez mais e em 2023 não foi diferente. Novos medicamentos chegaram ao mercado, vacinas inovadoras foram aprovadas por agências reguladoras e tecnologias revolucionárias prometem mudar o cenário para algumas doenças, com possibilidade de avançarem por outras áreas. O uso da tecnologia também tem ganhado cada vez mais força, e a aplicação de inteligência artificial no dia a dia da saúde está cada vez mais próximo de se tornar uma realidade.

Vacina da dengue

Em meio a alta de casos de dengue no Brasil, a farmacêutica Takeda lançou a Qdenga, vacina contra a arbovirose que mostrou em estudos clínicos eficácia de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves. A vacina já está sendo vendida em clínicas privadas e farmácias de todo o país e foi aprovada pela Conitec, para ser incluída no calendário vacinal brasileiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) endossa o uso do imunizante, que protege contra os 4 sorotipos da dengue. Em entrevista ao Futuro da Saúde, a diretora executiva de Medical Affairs da Takeda no Brasil, Vivian Kiran Lee, falou mais detalhes sobre o imunizante. Leia a entrevista completa.

IA

O uso da inteligência artificial na saúde foi um dos principais temas do mercado neste ano, principalmente com o avanço da IA Generativa e o ChatGPT. Com aplicação para ganhar eficiência em hospitais, operadoras e clínicas, tanto no ponto de vista de custos como na assistência ao paciente, o uso da inteligência artificial pode colaborar com diagnósticos e indicação de tratamentos, assim como na produção da indústria farmacêutica de novas terapias. A expectativa é que em 2024 haja um maior uso no setor, assim como uma regulamentação no Brasil.

Vacina do VSR

Outro imunizante que ganhou destaque foi a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais causadores de bronquiolite. Com o nome comercial de Arexvy, fabricado pela GlaxoSmithKline (GSK), a vacina tem como público-alvo pessoas com 60 anos ou mais, e já possui registro na Anvisa. Nos Estados Unidos, o FDA aprovou também a ABRYSVO, vacina da Pfizer contra a mesma doença, mas focada na prevenção em bebês, através da vacinação em gestantes entre 32 a 36 semanas de gravidez.

Medicamentos para perda de peso

O grande destaque de 2023, do ponto de vista do avanço científico na saúde, foi a chegada dos medicamentos de semaglutida e tirzepatida focados em perda de peso e com resultados animadores. Auxiliares no combate à obesidade, os tratamentos ganharam o mercado ao longo do ano e contribuíram para elevar o valor de mercado das farmacêuticas. A chegada do Zepbound, da Eli Lilly, para concorrer com o Wegovy, da Novo Nordisk, fez com que outras empresas entrassem na corrida pelos medicamentos para perda de peso. Futuro da Saúde fez uma matéria especial que traça um panorama sobre a obesidade. Leia na íntegra.

CRISPR

O FDA aprovou a primeira terapia para anemia falciforme e beta talassemia que envolve edição genética a ser utilizada em seres humanos. Produzido pela farmacêutica Vertex, o tratamento utiliza CRISPR, sigla para Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Espaçadas, em tradução livre), uma técnica que altera o DNA, desativando áreas ligadas a uma doença específica. Considerado uma revolução, a aprovação abre espaço para novas pesquisas com outras doenças.

Futuro do CAR-T

O FDA fez um alerta sobre o uso de CAR-T. A agência está investigando se o uso da terapia avançada pode causar tipos de câncer sanguíneo, após receber 19 relatos de pacientes em acompanhamento. Até o momento, 6 produtos estão aprovados nos Estados Unidos. O órgão reforça que os benefícios superam os riscos colaterais, mas que seguirá com as investigações para avaliar a necessidade de novas medidas regulamentares sobre essas terapias.

Nobel de Medicina

A bioquímica húngara Katalin Karikó e o médico americano Drew Weissman receberam o Nobel de Medicina de 2023 graças às descobertas relacionadas de como o RNA mensageiro (mRNA) funciona, possibilitando a criação das vacinas contra a Covid-19 que utilizam a tecnologia. Os cientistas da Universidade da Pensilvânia descobriram como alterar os nucleotídeos do RNA, fazendo com que o corpo gerasse uma resposta imunológica. Matéria publicada no Futuro da Saúde fala sobre o potencial da tecnologia em outros campos que vão além da Covid. Confira aqui.

Novo xenotransplante

Médicos da Universidade de Maryland fizeram uma nova tentativa de transplante de coração de porco geneticamente modificado para um homem com doença cardíaca em estado terminal. Esse foi o segundo caso registrado de xenotransplante deste tipo. Apesar de inicialmente os profissionais avaliarem que o órgão não havia sido rejeitado e o paciente estava se recuperando bem, ele veio a óbito após 6 semanas, período semelhante ao do primeiro paciente. 

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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