Hospitais da Rede Ebserh começam a utilizar sistema de IA na área de farmácia clínica
Hospitais da Rede Ebserh começam a utilizar sistema de IA na área de farmácia clínica
Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) deu início à fase de testes da ferramenta NoHarm.ai, que está prevista para ser implementada em todos os hospitais da Rede Ebserh
Melhorar a eficiência e a segurança dos processos, bem como a gestão de históricos médicos, resultados de exames, registros de prescrição e outros dados clínicos. Essa é a expectativa de impacto com o uso da inteligência artificial (IA) para acompanhamento farmacoterapêutico. E já é uma realidade no país. Com o intuito de obter mais qualidade, a Rede Ebserh, que atualmente administra 41 hospitais universitários federais, iniciou em março a utilização do “NoHarm.ai”, um sistema de IA que ajuda na atuação da farmácia clínica. O Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Ebserh, é o pioneiro na implantação da ferramenta e está fazendo o teste piloto desde março.
Giliate Coelho, diretor de Tecnologia da Informação (DTI) da Ebserh, afirma que a previsão é implantar a solução em todos os hospitais universitários federais da rede até dezembro de 2024: “A implantação da solução será realizada em fases, por meio de grupos de cinco hospitais, reunidos de acordo com a maturidade da farmácia clínica e da capacidade do parque tecnológico de cada unidade hospitalar.”
Para Lumena Castro, diretora de Atenção à Saúde (DAS) da Ebserh, a ação representa o início de uma frente para ampliação do uso da plataforma NoHarm na rede em busca de alternativas de soluções tecnológicas para auxiliar, de modo prático e inteligente, o desenvolvimento das atividades realizadas pelos serviços clínicos farmacêuticos. Segundo ela, “o objetivo é proporcionar maior agilidade, qualificação e segurança na execução das tarefas, além da otimização do quadro de colaboradores para a execução de outras rotinas pertinentes à função”.
O processo teve início em julho de 2023, com a assinatura do acordo em fevereiro de 2024, representando a primeira iniciativa coordenada por esta Administração Central para a construção e implantação de uma solução tecnológica. Essa solução conta com o uso de IA integrada ao Aplicativo de Gestão de Hospitais Universitários (AGHU) e será disponibilizada gratuitamente aos hospitais da rede.
Integração de sistemas
O chefe do Setor de Tecnologia da Informação e Saúde Digital do HE-UFPel, Marcelo Diogo Colossi, explica que, em 2019, o sistema foi sugerido às equipes assistenciais e de Tecnologia da Informação (TI) do HE. Após a apresentação, iniciaram-se os trâmites para assinatura do termo de cooperação. Em decorrência da pandemia, houve atrasos, mas em julho de 2023 o acordo foi assinado e deram-se início as configurações do sistema: “Esperamos que a ferramenta da NoHarm.ai seja a primeira de muitas que virão para apoiar e qualificar o ensino e a assistência aos pacientes atendidos e que a expertise adquirida na implantação no HE possa ser replicada no restante dos hospitais, tornando a implantação mais ágil”.
Antes de começarem a utilizar o NoHarm.ai, o HE trabalhava com o AGHU, que é o sistema de gestão hospitalar de toda Rede Ebserh. Por isso, foi necessário fazer a integração dos sistemas. Nathalie Aquino, analista chefe da unidade de desenvolvimento, trabalhou na integração do sistema da NoHarm.ai com o AGHU. A NoHarm.ai, ferramenta oficial atualmente, faz o cruzamento das informações de todo sistema AGHU, desde a parte de prescrição médica, nutricional, evoluções, além de realizar um cruzamento junto com a parte de dados. Segundo ela, a integração foi tranquila e como irão passar as informações para o restante dos hospitais da rede, “os demais terão tempo a menos para fazer esse ajuste e busca dos dados”.
Funcionamento do NoHarm.ai na Rede Ebserh
“Sem dúvida, o principal benefício é a agilidade nas respostas, assim como a capacidade de processamento superior à humana que um sistema como esse oferece. Ele é capaz de instantaneamente analisar uma vasta quantidade de informações, o que seria impraticável para um ser humano”, avalia Kátia Bacelo, chefe do Setor de Farmácia do HE-UFPel.
Segundo Bacelo, na prática, os profissionais da farmácia recebem a prescrição médica. Em seguida, o farmacêutico analisa a prescrição mais focada nas doses e interações, para depois conversar com o médico. Essa análise é pensada para a segurança do paciente e considerando as possibilidades de erro. “Nós tentamos minimizar os erros, mas zero é impossível”, acredita.
Agora, utilizando uma ferramenta de IA, ao fazer a análise da prescrição, o NoHarm.ai consegue puxar, a partir do sistema anterior que utilizam, o AGHU, tudo que foi inserido no prontuário pela equipe médica multiprofissional, que envolve nutrição, enfermagem, farmácia, além de vários aspectos, como exames laboratoriais. Ou seja, todas as informações que estão no sistema ele consegue pegar para analisar a prescrição. Além disso, apresenta os exames do paciente, mostra alterações e já sinaliza para a equipe, de maneira muito rápida. Com essa agilidade, “conseguimos ter um olhar prioritário para aquele paciente que precisa desse acompanhamento naquele momento”, afirma Kátia.
Patrícia Tust, farmacêutica clínica do HE-UFPel, destaca que o início da utilização do NoHarm.ai está sendo feito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto. Ela explica que, mesmo dentro da UTI, pode ter um paciente mais grave e outro não tão grave. Através do sistema – em tela e em tempo real – é possível saber qual paciente é mais grave para a profissional começar a fazer a análise dessa prescrição. Isso leva em consideração se tem sedativos, idade, entre outros aspectos:
“Ele traz um algoritmo com todas essas variáveis e, baseado nisso, a ferramenta vai ranquear os pacientes dessas unidades, apontando quais são os mais graves para que possamos atender eles primeiro ou fazer uma intervenção”.
Embora com pouco tempo de utilização, as profissionais compartilham que já percebem vantagens em sua rotina, mas ressaltam que ainda é preciso um cuidado humano para fazer essa curadoria: “Às vezes, o sistema destaca informações que não são relevantes, pois conhecemos o paciente e sua condição médica. Portanto, é necessário aplicar um olhar crítico nessas situações”, avalia Kátia.
Mas, ao mesmo tempo, a farmacêutica destaca que a ferramenta agiliza muitos processos e que ‘sobra mais tempo’ para realizar outras atividades. Em relação à integração, afirmaram que houve dificuldade em alguns campos que ainda não puderam ser integrados.
“Temos todas as informações, mas elas ficam muito segmentadas em módulos, em locais separados, e o NoHarm.ai faz essa junção de todas essas informações mais relevantes numa única tela para a nossa tomada de decisão”, relata Patrícia. Segundo os profissionais da linha de frente, os ajustes finos realizados nesse piloto são pontuais e fáceis de resolver e que, ao entrar em contato com o NoHarm.ai, a equipe busca realizar essas alterações.
Conheça o NoHarm.ai
O NoHarm.ai (termo inglês que significa “nenhum dano”) é uma startup idealizada a partir do doutorado do cientista de dados Henrique Dias, de Porto Alegre (RS). O sistema se integra aos dados hospitalares para identificar potenciais erros de prescrição e pacientes críticos, promovendo um aumento na segurança, qualidade do atendimento e eficiência operacional hospitalar.
Para os hospitais que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS), assim como são todos os ligados à Ebserh, o uso do software é gratuito. Ana Helena Santos, diretora na NoHarm.ai, explica que essa foi uma decisão pessoal dela e do irmão, Henrique Dias.
“Temos um propósito que não fecha com o investidor. Queremos entregar de graça para o SUS e isso não fecha com investimento. É preciso pensar na quantidade de hospitais do SUS e pesar isso na hora de fechar as contas: manutenção, chamados para suporte. Temos que ter muito propósito e não ter ninguém nos cobrando para dar lucro. Nunca tivemos a necessidade de ganhar dinheiro”, explica.
A escolha em oferecer de forma gratuita o sistema ao SUS é porque ambos estudaram em escolas e faculdades públicas. Ana é farmacêutica e trabalhou durante muitos anos no Grupo Hospitalar Conceição, com mais de 800 leitos, e o objetivo era avaliar as prescrições para garantir a segurança dos pacientes: “Eu percebia que dada a quantidade massiva de prescrições, não era possível garantir a qualidade em todas elas. Era humanamente impossível. Queríamos proteger mais os pacientes, mas o tempo disponível não permitia uma avaliação minuciosa de cada prescrição.”
Logo, esse trabalho começou na pesquisa, após o doutorado do seu irmão. O produto que desenvolveram entendeu os problemas e os traduziu em um algoritmo. A publicação inédita foi publicada e eles viram o quanto era fundamental para a área farmacêutica.
“Desenvolvemos um modelo que analisava o padrão das prescrições e alertava sobre aquelas que estavam fora do padrão. Isso nos permitiu focar nossa atenção nas áreas que realmente precisavam de revisão, economizando tempo e aumentando a eficiência”, diz.
Perceberam que eram capazes de desenvolver soluções de forma muito mais rápida do que os investidores estavam dispostos a acompanhar. Por isso, optaram por seguir sem fins lucrativos e disponibilizar a tecnologia gratuitamente para o SUS, pois havia tempo para isso.
Em mais de três anos de operação, a NoHarm já impactou 700 mil vidas em mais de 80 hospitais pelo Brasil. Entre os números da ferramenta, são mais de 100 Unidades de Saúde, mais de 90 milhões de prescrições avaliadas e mais de 30 milhões em economia.
De acordo com a Rede Ebserh, os próximos hospitais onde a ferramenta será implementada são os seguintes:
- Abril de 2024: Hucam-Ufes, HUL-UFS, HC-UFPE e HU-UFPI;
- Maio de 2024: HC-UFMG, HU-UFSC, HU-UFG, Huab-UFRN e MCO-UFBA;
- Junho de 2024: HU-Furg, HULW-UFPB, Hupes-UFBA, HUB-UnB e HU-Univasf;
- Julho de 2024: Huol-UFRN, HUJM-UFMT, CH-UFC, HU-UFSCar e HU-UFMA;
- Agosto de 2024: HU-UFJF, HU-UFGD, Mejc-UFRN, HC-UFTM e HUPAA-Ufal;
- Setembro de 2024: HU-UFS, HC-UFU, CHC-UFPR, HUJB-UFCG e Huac-UFCG;
- Outubro de 2024: CHU-UFPA, HUGV-Ufam, HUGG-Unirio, HDT-UFT e HUSM-UFSM;
- Novembro de 2024: Huap-UFF, Humap-UFMS e HU-Unifap
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.
Excelente iniciativa !!!! Parabéns