Realidade virtual aprimora formação médica aumentando frequência e segurança de treinamentos
Realidade virtual aprimora formação médica aumentando frequência e segurança de treinamentos
Einstein implantou óculos de realidade virtual para formação de residentes na área de ortopedia e planeja ampliar para outras especialidades
Além dos avanços de inteligência artificial e machine learning, os últimos anos trouxeram inovações digitais para a medicina. Entre elas está a realidade virtual, tecnologia muito conhecida na indústria dos videogames e que ganha cada vez mais espaço na educação médica por permitir que estudantes de medicina pratiquem procedimentos cirúrgicos com maior frequência e segurança; e, ainda, criando oportunidades para profissionais já estabelecidos aprimorarem suas técnicas.
A capacidade de oferecer treinamentos uniformes, simulando cenários reais, não apenas melhora a preparação dos estudantes e profissionais como otimiza recursos, reduzindo tempo, custos e a necessidade de espaço. Por isso, em diversas partes do mundo, instituições estão investindo nessas inovações: uma pesquisa da consultoria PwC revelou que 51% das companhias respondentes ou já implantaram ou estão no processo de implantar a tecnologia em suas atividades.
“A inovação é fundamental para melhorar a vida dos pacientes e dos cirurgiões”, afirma Angela Freitas, CIO na Johnson & Johnson MedTech Brasil. “É por meio da educação médica que podemos levar resultados melhores aos pacientes.”
A empresa é responsável por fornecer ao Hospital Israelita Albert Einstein uma solução que utiliza óculos de realidade virtual da Meta para treinar ortopedistas, desde residentes até cirurgiões experientes, em procedimentos como cirurgias de quadril, joelho, fêmur e coluna. O objetivo é garantir uma prática mais frequente e segura.
“Essa é uma ferramenta que vai se tornar cada vez mais comum, porque é uma técnica muita avançada”, explica Leandro Ejnisman, ortopedista e traumatologista do Einstein. “Um aluno que já aprendeu a técnica de uma prótese de quadril, por exemplo, pode pegar os óculos e praticar o que aprendeu no horário que quiser, inclusive até na própria casa dele.”
Transformando a educação médica com a realidade virtual
Com a realidade virtual na formação e prática médica, as equipes podem observar e avaliar os alunos em um ambiente simulado, permitindo que eles pratiquem habilidades sem os riscos e custos associados a situações reais. Nos moldes tradicionais, os modelos de plástico e simuladores físicos exigem laboratórios e equipamentos específicos, tornando a prática mais complexa. Já o treinamento em ambiente cirúrgico é limitado pelo número de alunos que podem participar simultaneamente.
Com a utilização dos óculos de realidade virtual, podem praticar técnicas cirúrgicas repetidamente, sem a preocupação de cometer um erro “real” com um paciente na mesa de cirurgia. Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo virtual, o procedimento exige atenção e cuidado do usuário da ferramenta.
Além da simulação realística, Ejnisman afirma que a tecnologia amplia a acessibilidade ao permitir que mais estudantes pratiquem ao mesmo tempo. “O modelo atual de treinamento com os óculos de realidade virtual permite métodos colaborativos em que dois ou mais estudantes podem se ajudar em momentos de dificuldades, além de contar com a orientação de professores.”
Com o objetivo de medir e comparar a eficácia do treinamento cirúrgico utilizando técnicas tradicionais com aquelas que incorporam a realidade virtual, o Einstein deve iniciar em breve um estudo de campo. A pesquisa avaliará qual grupo – apenas modelos de plástico em comparação com o grupo que utiliza realidade virtual – apresenta melhores resultados em retenção, aprendizado e execução das técnicas cirúrgicas.
Nesse sentido, uma outra pesquisa da PwC feito em 12 localidades nos Estados Unidos traz pistas dos resultados. O levantamento revelou que alunos que utilizaram realidade virtual em seus treinamentos de habilidades sociais – as chamadas soft skills, que representam um desafio na educação médica – mostraram um aumento de confiança de até 275% para aplicar o que aprenderam.
“O feedback dos estudantes é extremamente positivo. Muitos chegam desconfiados e céticos, mas quando utilizam os óculos, ficam impressionados”, relata Ejnisman.
Democratização da educação médica
Além da contribuição para otimizar o treinamento médico, a realidade virtual também tem potencial para democratizar o acesso à educação médica de alta qualidade, permitindo que profissionais de regiões distantes do Brasil recebam treinamentos de excelência sem a necessidade de estar fisicamente em grandes centros. “O médico instrutor pode estar em qualquer lugar apoiando os estudantes que estão fazendo treinamento remotamente. Temos essa condição de potencializar o conhecimento, o que vai beneficiar ainda mais pacientes”, afirma Freitas.
Por enquanto, o Einstein tem utilizado a tecnologia no treinamento de cirurgias ortopédicas. Mas Ejnisman diz que que já existem planos para expandir sua aplicação a outras áreas, como a cardiologia e na cirurgia geral, em que pode ser empregada em práticas como colocação de stents e suturas, por exemplo. Ele também acrescenta que a realidade virtual pode ser utilizada por alunos de todos os níveis de formação, desde iniciantes até profissionais experientes, que desejam aprimorar suas habilidades.
“Acredito que, no futuro, poderemos integrar o uso da realidade virtual no aprendizado da medicina como um todo. Essa tecnologia, aliada à facilidade de desenvolver novas técnicas, trará grandes benefícios”, afirma o ortopedista.
Realidade virtual e aumentada na prática médica
Além da realidade virtual, outra tecnologia com grande potencial é a realidade aumentada (RA), que poderá ser integrada para enriquecer ainda mais a formação médica e permitir a visualização de estruturas anatômicas em tempo real durante procedimentos. “Na realidade virtual, você está totalmente imerso em um ambiente não real. Já na realidade aumentada, estamos com os óculos, mas conseguimos olhar o ambiente, o que está em volta, e, ao mesmo tempo, podemos inserir coisas virtuais”, explica.
Segundo ele, há uma oportunidade de evolução muito grande nos procedimentos médicos com o uso dessas tecnologias, uma vez que permitiriam sobrepor exames de imagem diretamente no paciente durante as cirurgias. Essa abordagem facilitaria, por exemplo, a remoção de tumores, permitindo que os cirurgiões visualizem ressonâncias magnéticas ou tomografias em tempo real. Isso aumentaria a precisão e, consequentemente, a eficácia dos procedimentos.
Diante desse cenário, Freitas defende que os centros cirúrgicos se tornem mais inteligentes utilizando a coleta e análise de dados. A implementação do telemonitoramento, por exemplo, permitirá que especialistas, mesmo à distância, contribuam em tempo real durante os procedimentos. “Queremos ajudar a acelerar ainda mais o uso dessas tecnologias. Tanto para cirurgias digitais como para treinamentos, acreditamos que é uma revolução que a saúde precisa ter. O futuro da medicina é conectado”, conclui.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.