RSNA 2024: radiologia vive contraste da chegada de IA e novas tecnologias com desafios de falta de profissionais e acesso

RSNA 2024: radiologia vive contraste da chegada de IA e novas tecnologias com desafios de falta de profissionais e acesso

RSNA, maior congresso de radiologia do mundo, debateu as principais tendências e desafios do segmento

By Published On: 18/12/2024
RSNA 2024 - congresso de radiologia

Curtis P. Langlotz, presidente da RSNA, durante discurso de abertura do encontro anual da sociedade. Foto: divulgação RSNA.

A área de radiologia vive um momento de contrastes. Com o avanço da medicina e as tendências de envelhecimento da população, os exames de imagem são e serão cada vez mais demandados. Além disso, a tecnologia – como a inteligência artificial – avança para aumentar a qualidade das imagens, aumentar a precisão dos exames e facilitar a vida dos radiologistas.

Mas justamente esse avanço tem afastado jovens profissionais de especialização nessa área, resultado de uma equação que envolve o tempo de formação com a perspectiva de que as máquinas farão todo o trabalho em algum momento. Pode até ser que esse cenário se torne realidade, mas até lá, há uma lacuna a ser atendida.

Essa foi um pouco da tônica do Encontro Anual da Sociedade Norte-Americana de Radiologia (RSNA, na sigla em inglês), que ocorreu no começo de dezembro em Chicago, nos EUA. O evento recebeu cerca de 40 mil pessoas ao longo de 5 dias, que se dividiram entre os espaços dos pavilhões que traziam estandes com novas tecnologias e plenárias para apresentação de debates e estudos.

Não à toa, o tema deste ano foi Construindo Conexões Inteligentes. “Entre máquinas, entre humanos e entre máquinas e humanos”, afirmou Curtis Langlotz, presidente da RSNA durante discurso de abertura. “O segredo do sucesso da radiologia sempre foi incorporar novas tecnologias, desde a descoberta do raio-X, até o ultrassom, tomografia computadorizada, ressonância magnética, teranóstico até chegar nesses novos sistemas inteligentes. Essa conexão da radiologia com a tecnologia coloca essa área como protagonista nesse momento em que os sistemas de saúde adotam novas ferramentas.”

Qualidade de imagem e inteligência artificial embarcada

Essa evolução tecnológica ficou nítida pelos 700 estandes divididos em dois grandes pavilhões – onde não era raro encontrar rodas de especialistas brasileiros. Os quatro maiores eram os da Siemens Healthineers, GE Healthcare, Philips e United-Imaging – esta última, de origem chinesa, tem avançado nos principais mercados e, inclusive, iniciou operações no Brasil em 2024.

Para todos os lados, era possível ver a sigla “AI” exposta em diversos equipamentos. Muitos deles já saem com a tecnologia embarcada de fábrica para operar. Por exemplo, um equipamento de ultrassom de abdômen com IA já é capaz de identificar os órgãos e registrar as medidas durante o exame de forma automática – tornando-o mais rápido.

Outro exemplo, no estande da Siemens, era a nova família de tomografia computadorizada baseada em contagem de fótons. Chamada de Naeotom Alpha, a tecnologia, lançada em 2021, promete entregar imagens com resoluções até duas vezes mais nítidas do que os equipamentos convencionais e com cerca de 40% menos dose de radiação.

“O mundo precisa de exames de imagem com a tendência de envelhecimento e necessidade de avanços na saúde nos países em desenvolvimento”, afirmou André Hartung, presidente da área de diagnóstico por imagem da Siemens Healthineers. “70% das decisões médicas são baseadas em imagens. E quanto melhor a informação da imagem, melhor para o profissional de saúde.”

A companhia está apostando alto no equipamento, a ponto de afirmar que, na visão da empresa, em um futuro não distante toda tomografia será com essa tecnologia. “Há quem diga que em 2040 isso já será realidade”, relatou Philipp Fisher, head de tomografia computadorizada da empresa. “Não vamos fixar um ano exato, mas estamos avançando o mais rápido possível. Vamos continuar investindo no equipamento convencional, mas a tendência é que a nova tecnologia seja predominante.”

Usando como exemplo a área de doenças cardiovasculares, a ideia é que a resolução de alta qualidade permita enxergar situações que levem a decisões nas duas vias: tanto de agir quando for algo que demande uma decisão rápida, quanto a de evitar um procedimento invasivo quando não for necessário. Além disso, o sistema de IA embarcado também facilita de forma automática o posicionamento correto do paciente para o exame e o fluxo de trabalho dos profissionais que estão atuando.

Não há equipamentos do tipo no Brasil ainda, mas Miranda Rasenberd, vice-presidente de vendas e marketing, afirmou que a empresa está com negociações avançadas com uma grande instituição do país, que deve se tornar a primeira da América Latina a implantar a nova tecnologia.

Estudo brasileiro no encontro da RSNA

Na área de apresentações, houve espaço para um estudo brasileiro. Em 2024, o Grupo Fleury utilizou três ferramentas de inteligência artificial de mercado para analisar um banco de dados com mais de 1,5 mil mamografias anônimas, sendo 565 de casos confirmados de câncer de mama por biópsia e 946 de casos sem a doença. A conclusão do estudo foi de que as IAs combinadas conseguiram taxas de acurácia acima de 90%.

Bruno Aragão, coordenador médico de inovação do Grupo Fleury, relatou que os comentários sobre o estudo foram positivos e em linha com a tendência de que pesquisas de avaliação de performance da IA em cenários locais têm sido algo valorizado.

“Ferramentas de IA embora já ‘prontas’ para uso devem idealmente ter sua performance testada em dados locais antes de qualquer implementação em larga escala. O estudo foi importante para confirmar que todas as ferramentas têm sim boa performance, mas cada uma tem sua particularidade, com perfis de acurácia ligeiramente diferentes em cada tipo de caso. Isso reforça que a análise humana é indispensável”, completou.

Segundo ele, após a avaliação dos resultados, o próximo passo é avançar para implementar esse tipo de ferramenta a partir de 2025 “como um assistente para as análises dos médicos radiologistas.”

E o acesso a essas inovações da radiologia?

A tecnologia avança e as tendências são promissoras, mas no Brasil e em diversos outros países em desenvolvimento, há problemas mais básicos. Por suas dimensões continentais e desigualdades sociais, o acesso a exames de imagem ainda é um desafio. Populações ribeirinhas da Região Amazônica, por exemplo, precisam se deslocar quilômetros para conseguir. E sem o exame, o diagnóstico muitas vezes chega tarde, elevando os custos de tratamento e evitando um desfecho mais grave.

“Esse não é um desafio só do Brasil, quase metade da população global não tem acesso à saúde e à saúde de qualidade”, reitera Adriana Costa, diretora-geral da Siemens Healthineers no Brasil. “Temos movimentos e territórios que são muito díspares em termos de acesso.”

A empresa tem levantado dados de bases como o Datasus para verificar os vazios assistenciais e identificar em quais regiões a implementação de um equipamento como uma ressonância poderia trazer mais impacto. Após a análise, a companhia tem feito reuniões com instituições públicas e privadas para mostrar os potenciais.

Mas para de fato trazer esses avanços, na visão de Costa, o diálogo precisa mudar e as parcerias podem ter papel de destaque. “Sempre falamos nos fóruns que a saúde no Brasil está doente e precisamos encontrar saídas. Isso não vai ser uma responsabilidade só da indústria, da saúde suplementar ou do só sistema público. A colaboração entre todos os agentes será importante para endereçar soluções que realmente atendam as grandes dores que existem.”

*O jornalista viajou para a RSNA a convite da Siemens Healthineers.

Vinícius Romero

Formado em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e com MBA em Gestão de Negócios, possui quase 20 anos de experiência dos dois lados da mesa: como jornalista e profissional de comunicação. É editor e diretor de novos formatos do Futuro da Saúde. Email: vinicius@futurodasaude.com.br.

About the Author: Vinícius Romero

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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