PL da inteligência artificial será votado ainda esse ano, afirma o senador Eduardo Gomes

PL da inteligência artificial será votado ainda esse ano, afirma o senador Eduardo Gomes

Senador falou sobre o atual status, a expectativa de apresentar o relatório final até fim de abril e a previsão de votação final ainda esse ano

By Published On: 13/03/2024
“É um desafio legislativo muito grande regular algo em curso”, diz Eduardo Gomes, relator do PL da inteligência artificial

Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A inteligência artificial, impulsionada pela modalidade generativa que despontou nos últimos dois anos, chegou como uma verdadeira avalanche para todos os setores. E, em torno dela, a discussão sobre uso adequado e ético expôs a necessidade de regulamentação. É um caminho que outros lugares do mundo já estão percorrendo e no Brasil não é diferente. Há projetos de lei que tramitam no Congresso desde 2019, mas o tema parece estar amadurecendo, com possibilidade de aprovação ainda esse ano do Projeto de Lei n° 2338, de 2023, sobre o uso da IA. Em entrevista exclusiva ao Futuro da Saúde, o senador Eduardo Gomes (PL), relator do PL da inteligência artificial, falou sobre o atual status, a expectativa de apresentar o relatório final da Comissão Especial de Inteligência Artificial do Senado Federal até o fim de abril e a previsão de votação final que deve ocorrer neste ano, provavelmente depois das eleições.

“Se aproxima o momento de começarmos o desenho final da regulação, entendendo que de lá pra cá – desde o começo – houve uma série de observações com relação à questão de riscos. Mas também precisamos dar liberdade para que o Brasil não fique atrasado na condição de fornecedor de IA e não seja apenas consumidor”, sinalizou.

Segundo o senador, o PL será, sim, apresentado até o final de abril no Senado Federal, concluindo, assim, a primeira etapa: “A tramitação é bicameral, vai para Câmara dos Deputados, volta. Mas estamos na expectativa, afinal de contas, é um assunto que muda permanentemente”, falou.

O senador destacou que a matéria é um desafio pela complexidade do tema. Portanto, considera fundamental, nesse momento, o diálogo com informações precisas. Isso porque o PL visa garantir que os sistemas de IA sejam regulamentados para proteger os cidadãos e garantir responsabilidade e transparência no desenvolvimento e utilização desta tecnologia, ao mesmo tempo que impulsione a inovação.

Os avanços e entraves do PL da inteligência artificial

No Brasil, o Projeto de Lei 2.338/2023 foi apresentado em maio do ano passado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que preside a Casa. O PL substitui os Projetos de Lei 5.051/2019, 21/2020 e 872/2021. O texto apresentado no Senado é inspirado no “AI Act”, proposta regulatória da tecnologia em discussão na União Europeia, mas que deve passar pela etapa final com a validação do Parlamento Europeu.

O debate cuidadoso sobre cada item é uma das explicações sobre a demora em regular a IA no Brasil. Como há PLs que tramitam desde 2019, aconteceram avanços e, como ressaltou o senador, “muitas lendas caíram”. O parlamentar entende que vários paradigmas foram superados e informações cruzadas, mas que existe um olhar para o lado positivo da IA, combinado com a proteção de dados, a segurança cibernética, em especial na questão da saúde:

“Acompanhamos uma evolução muito grande e não somente no campo da saúde, mas na questão da IA generativa que suscitou em séries mais ligadas ao campo da autenticidade e da segurança da informação. Mas estamos atuando com otimismo e seriedade.”

Em relação aos entraves do PL, Eduardo Gomes comentou que há uma necessidade maior, sobretudo na saúde, do registro de conteúdo e da responsabilidade sobre as condutas que usam IA como base, para compreender responsabilidades dos sistemas de segurança de validação e de processos que indiquem uso de IA. “Tudo isso precisa ser equilibrado para que se tenha sempre registrado a responsabilidade de cada informação, principalmente o trabalho realizado no campo da saúde, onde a responsabilidade fica muito maior”, afirma.

Durante a entrevista, o senador afirmou que a expectativa é que o PL será votado ainda esse e que não será muito diferente do que outros países: “É preciso atenção para não interferir demais e ficar fora de um contexto real de uso da IA e de garantia para o cidadão.”

Projeto foi elaborado por comissão de juristas

O projeto é resultado do trabalho de uma comissão de 18 juristas especialistas na área de IA, novas tecnologias e proteção de dados que criaram, discutiram e debateram o assunto. Além disso, participaram outros especialistas da área jurídica que observaram, ao longo de 2022, propostas relacionadas e legislação já existente em outros países.

Em nove capítulos, o PL 2.338/2023, por exemplo, apresenta conceitos, fundamentos e princípios para o desenvolvimento e uso de sistemas de inteligência artificial no Brasil, direitos das pessoas afetadas por sistemas de IA e regras para categorização dos eventuais riscos. Ainda em agosto do ano passado, o Senado criou uma Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA) para auxiliar na avaliação da proposta. A CTIA realizou diversas audiências públicas, com representantes das empresas e organizações ligadas ao setor, com a finalidade de discutir e aperfeiçoar o projeto de lei.

Angélica Weise

Jornalista formada pela UNISC e com Mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede pela UFSM. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou nos portais Lunetas, Drauzio Varella e Aupa.

About the Author: Angélica Weise

Jornalista formada pela UNISC e com Mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede pela UFSM. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou nos portais Lunetas, Drauzio Varella e Aupa.

Leave A Comment

Recebar nossa Newsletter

NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

Artigos Relacionados

  • Rebeca Kroll
    Rebeca Kroll

    Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

  • Leonardo Vedolin
    Leonardo Vedolin

    Leonardo Vedolin é vice-presidente da Área Médica da Dasa. Já foi professor e pesquisador por 15 anos, gestor dos Serviços de Radiologia do Hospital Moinhos de Vento e Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Tem mestrado em Radiologia pela UFRJ e doutorado em Ciências Médicas pela UFRGS, além de passagens em centros de referência no mundo, como Mount Sinai Medical Center em Nova Iorque, Mass General Hospital em Boston e Universidade da Califórnia, em San Francisco.

  • Rebeca Kroll
    Rebeca Kroll

    Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

Angélica Weise

Jornalista formada pela UNISC e com Mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede pela UFSM. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou nos portais Lunetas, Drauzio Varella e Aupa.