Exclusivo: Pfizer e A.C.Camargo firmam acordo de compartilhamento de risco

Exclusivo: Pfizer e A.C.Camargo firmam acordo de compartilhamento de risco

Acordo de compartilhamento de risco entre Pfizer e A.C.Camargo prevê ressarcimento de medicamento caso não surta o efeito esperado.

By Published On: 21/06/2023
Pfizer e A.C.Camargo firmam acordo de compartilhamento de risco

Bruno Soriano, do A.C.Camargo, e Marcio Reis, da Pfizer. Fotos: divulgação e Cláudio Belli.

Com a demanda por ampliação de acesso e redução de custos, empresas e instituições da saúde têm buscado novas soluções para diversos desafios. Com isso, diferentes áreas do ecossistema se aproximam para firmar parcerias que melhorem todo o setor. É nesse sentido que Pfizer e A.C.Camargo Cancer Center fecharam um acordo de compartilhamento de risco (risk sharing). Esse é o primeiro do tipo feito pela farmacêutica com um hospital.

O tratamento escolhido foi o anticoagulante Eliquis (apixabana), utilizado em pacientes com câncer que tiveram tromboembolismo venoso (TEV), condição que pode ocorrer em 20% dos casos por conta da utilização de quimioterapia. O medicamento evita que ocorra uma recidiva e sangramentos expressivos que necessitem de internação, o que pode acontecer entre 3% e 5% dos casos.

Cerca de 20 novos casos de trombose ocorrem por mês no hospital. No entanto, em alguns deles o medicamento pode não surtir o efeito desejado. Por isso, a farmacêutica e o hospital chegaram a um acordo para dividir os riscos. Caso o medicamento não seja efetivo, a Pfizer irá ressarcir o Eliquis ao A.C.Camargo, reduzindo assim os gastos da unidade com tratamentos que não responderam adequadamente.

“Todo risco acaba ficando com o pagador. Se ele toma a decisão de incorporar uma terapia, se não funcionar é ele que fica com o risco, e isso de alguma forma acaba aumentando as barreiras de incorporação à inovação. Por isso, a gente acredita muito em trazer coisas diferentes, de que a indústria também possa assumir o risco se a gente acredita no nosso produto”, explica Marcio Reis, diretor sênior de Patient & Health Impact (Access, HEOR and Pricing) da Pfizer.

A ideia é se aproximar cada vez mais da medicina baseada em valor, em que o valor pago por um tratamento traga os resultados esperados. Parte do acordo prevê o acompanhamento dos pacientes por 6 meses, a fim de garantir a adesão ao tratamento e monitorar a evolução do quadro de saúde. Esse trabalho será feito pela Kidopi, startup parceira que integra o projeto, através da ferramenta CleverCare.

“A ferramenta utiliza uma forma de inteligência artificial, o natural language processing (NLP), que você consegue interagir através de chatbot com os pacientes. A ideia da plataforma é detectar casos que estejam com sangramentos mais preocupantes, mesmo que pequenos sangramentos sejam normais”, aponta Bruno Soriano, médico cirurgião vascular e endovascular do A.C.Camargo.

Possibilidades e novos negócios

O A.C.Camargo tem sido visto como um dos principais parceiros para criar acordos desse tipo. Por ser um hospital estruturado, com grande desenvolvimento tecnológico, e atender pacientes do sistema público e privado, tem sido buscado por farmacêuticas para construir parcerias desse tipo. Antes da Pfizer, a Roche já havia feito uma parceria para o compartilhamento de risco do Tecentriq (atezolizumabe), medicamento de imunoterapia para o tratamento de câncer de pulmão de pequenas células.

Apesar de a parceria com a Pfizer ser de um tratamento de baixo custo, Marcio Reis acredita que esse pode ser apenas o passo inicial. Apesar de ser a primeira parceria da farmacêutica com um hospital, a empresa possui 16 outros acordos de compartilhamento de risco com operadoras de planos de saúde, para outros tipos de medicamentos utilizados no tratamento de artrite reumatoide, câncer de mama, dentre outras.

“É um aprendizado. A gente está implementando agora e vamos tentar aprender o mais rápido possível com isso. Seguramente quando é uma novidade a gente sabe que vai ter coisas que vamos ter que consertar durante o caminho, mas a ideia é expandir para outros clientes o modelo. Enxergo que praticamente todos os produtos da Pfizer podem entrar nesses acordos”, afirma o diretor.

Na visão do médico Bruno Soriano, do A.C.Camargo, o ganho desse novo acordo não é apenas econômico, mas sim no tratamento dos pacientes, principalmente pela utilização da plataforma da Kidopi. Ele explica que o monitoramento irá trazer mais segurança aos pacientes e aos profissionais de saúde que acompanham o caso, que poderão se comunicar através da ferramenta.

“A indústria é muito importante porque no final é economicamente muito forte. Quando desenhamos esse projeto, deixamos bem claro que já tínhamos nossa forma de tratar os pacientes aqui e a gente ia utilizar a ferramenta não só para monitorar as medicações da Pfizer, mas também as outras medicações anticoagulantes que os pacientes recebiam”, explica o cirurgião.

Segundo Marcio Reis, a Pfizer se mostra aberta ao diálogo com outros parceiros para expandir o modelo, pensando na economia e eficiência do sistema. O próprio setor público poderia ser um caminho, mas em função da complexidade e da falta de legislação que apoie o modelo, possíveis acordos trariam uma insegurança jurídica. Neste caso, apesar de o A.C.Camargo realizar atendimentos pelo SUS, é uma instituição privada.

Dados e LGPD no acordo entre Pfizer e A.C.Camargo

Ambos os parceiros poderão utilizar os dados dos pacientes para coletar indicadores sobre o tratamento, seguindo as normas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Os pacientes precisam conceder autorização e a plataforma deve transitar as informações de forma que dados sensíveis sejam ocultados para utilização pela farmacêutica.

A Kidopi realiza topo o processo utilizando blockchain, tornado os registros mais confiáveis e imutáveis. A criptografia também traz mais seguranças, reduzindo os riscos de vazamento de informações. Esses dados podem colaborar com o desenvolvimento de novas drogas e aplicações, buscando uma maior eficiência em pesquisas.

“A gente não quer ter acesso aos dados dos pacientes individualmente, queremos ter os dados agregados. Mas os relatórios têm que ser feitos de uma forma que o hospital saiba que pacientes são esses. Então, existe esse intermediário da Kidopi, que vai fazer essa interface, gerir os dados. Usar o blockchain traz segurança para os dois lados, porque esse dado não vai ser alterado”, explica Reis, da Pfizer.

Soriano também observa que a possibilidade de incluir tecnologias no acompanhamento pode trazer ganhar para a saúde de forma geral, principalmente em tratamentos complexos: “Temos que tentar utilizar esses tipos de ferramentas de alguma forma, como plataformas com inteligência artificial disponíveis no mercado, para tentar melhorar a segurança do paciente e aprimorar o atendimento. Elas têm que ser testadas em vários pontos para ver onde podem se encaixar bem”.

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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