Paulo Magnus, CEO da MV: “No futuro, nossas casas serão uma extensão do consultório”

Paulo Magnus, CEO da MV: “No futuro, nossas casas serão uma extensão do consultório”

Em entrevista exclusiva para Futuro da Saúde, Paulo Magnus, CEO da MV, explora tendências e os próximos passos para a transformação digital da saúde

By Published On: 26/05/2023

Durante a Hospitalar, que aconteceu entre 23 e 26 de maio, muito se discutiu sobre o papel da tecnologia para melhorar a saúde em vários contextos: mais velocidade, mais qualidade, mais integração. E com isso, menos desperdício e mais eficiência. Hoje, embora diversos produtos estejam disponíveis para garantir melhorias para o sistema de saúde e para o paciente, ainda há um longo caminho até que o país inteiro tenha saúde digital. Em entrevista exclusiva para Futuro da Saúde, Paulo Magnus, CEO da MV, abordou esse e outros pontos.

Para ele, a transformação digital acontecerá aos poucos e por regiões específicas. “Temos pelo menos três estados que estão avançando muito. Os cases estão se multiplicando, não tem outra solução”, disse.

A MV aproveitou a exposição para anunciar, dentre outras coisas, duas iniciativas: o uso de inteligência artificial desenvolvida em GPT-4 e também uma parceria com a Amazon Web Services (AWS) e a Huawei, em busca de soluções para trabalhar a gestão da jornada da saúde. Leia abaixo os principais trechos da conversa:

Você comentou que costuma conhecer experiências de saúde pelo mundo. O que tem visto que chama atenção?

Paulo Magnus – A saúde tem vários movimentos no mundo. Eu tenho como rotina de vida visitar os ecossistemas do mundo esporadicamente, olhando o que melhora, o que piora, o que avança. Vemos lugares que o digital chegou há muito tempo. Israel tem a saúde digital aproximadamente há 30 anos. Qualquer um que olhar aquilo pode levar para casa uma experiência de como fazer alguma coisa. Tudo é integrado, tem quatro grandes operadoras, é um estado semelhante ao Brasil. Mas qual estado do Brasil tem aquela condição? Nem os ricos nem os pobres. Então, é um movimento que a gente precisa construir. Nos Estados Unidos, há algumas grandes operadoras que exercitam muito isso. Eu fui a primeira vez na Kaiser Permanente entre 2003 e 2006. Tem a UHG. Tem uma que eu gosto muito em New Orleans, que se chama Ochsner. E aí veio também a operadora digital que tem chamado atenção: a Oscar Health. Conheço bem o sistema da Inglaterra que deu origem ao SUS aqui, que é o NHS. Itália, Canadá, França.

E o que poderíamos fazer no Brasil?

Paulo Magnus – Temos que integrar tudo isso. Para fazer uma transformação, precisamos construir modelos. Na década de 90 a MV avançou no Brasil. Na época, estudamos todas as dificuldades que tinham os médicos, de grandes volumes de escrita e o tempo que gastavam. Construímos uma prescrição eletrônica que otimizava o tempo do médico. Passa-se o tempo, a gente disponibiliza prontuário eletrônico, uma ferramenta tecnológica que amplia a condição do médico cuidar da saúde, de melhorar a qualidade. Só que o médico teve que gastar mais tempo escrevendo um prontuário. Então, o que a gente deu no final de 90 com prescrição, tirou no final da década de 2000, na minha percepção com muita clareza.

E como vê isso agora com a chegada da inteligência artificial?

Paulo Magnus – Eu tenho sempre olhado, em todas as coisas que a gente fez, como a gente consegue uma tecnologia de prontuário médico cada vez mais eficaz. E nosso prontuário foi considerado como o melhor da América Latina. Como eu faço para devolver para o médico essa agilidade? E aí, na caminhada, estamos entendendo que com a inteligência artificial, que estamos lançando na Hospitalar, vamos conseguir de novo retirar o médico da frente do computador, usando a tecnologia para preencher documentos que podem ser preenchidos. Nunca para gerar uma decisão para ele, mas apoiá-lo no momento que ele precisar entender, para juntar os sintomas e indicadores para dar um diagnóstico. Vamos entregar esse arcabouço para o médico para que ele possa cuidar mais dos seus doentes. E o outro ponto é a automação de todo ecossistema.

Como seria essa automação?

Paulo Magnus – É preciso integrar tudo isso numa única plataforma para o paciente. Para que o sistema possa cuidar muito mais da saúde do que da doença. Você, eu, nós todos aqui vamos ser proprietários do nosso cuidado e vamos ter a tecnologia como um apoio para estarmos próximo dos médicos. No futuro, nosso celular, a televisão de casa…vamos estar dentro de um consultório médico nas nossas casas, nossos quartos, com as tecnologias inteligentes que conectam a casa. Esses dados todos vão subir por uma plataforma. A inteligência artificial vai cruzar esses dados, vamos ter capacidade de identificar momentos em que a nossa saúde começa a ficar fragilizada para podermos, com a tecnologia, evitar que as pessoas fiquem doentes e procurar um atendimento de urgência já com tudo que se passa dentro de uma ferramenta. E o guardador da informação será o paciente, mas que estará disponível para os cuidadores. Então, o médico, cada vez mais, vai procurar as pessoas e não o contrário. Ele vai ter os dados e nós não vamos para o médico perguntar o que fazer, nós vamos discutir qual será o melhor tratamento para nossos cuidados.

Como vai funcionar essa solução de inteligência artificial que estão apresentando?

Paulo Magnus – O principal fundamento é devolver o tempo para o médico. Ela vai receber os insights que já estão no prontuário, que estão sendo lançados, vai cruzar isso e vai poder gerar uma evolução. Se tem uma coisa que a saúde precisa pensar é que tudo que for feito, que for pedido para a inteligência artificial, o médico tem que validar. Então, nós estamos trazendo isso, um prontuário, estamos trazendo também um visualizador de imagens médicas, chama-se Vida, que lançamos na JPR 2023 duas semanas atrás, que vai mostrar para o médico o caminho do diagnóstico de forma muito próxima. Mas a decisão é sempre do médico.

Esse tipo de ferramenta será essencial para esse processo de transformação e digitalização da saúde. Já existem exemplos concretos?

Paulo Magnus – Em Porto Alegre, por exemplo, acho que vai acontecer com mais rapidez. Existem cinco grandes hospitais lá: Mãe de Deus, Moinhos de Vento, a Santa Casa – que tem cinco hospitais, vai inaugurar o sexto agora em julho – a PUC, e o outro é Divino Providência. Mãe de Deus já está totalmente integrado com uma plataforma única, os dados já vão para o repositório do paciente. Já temos 20 mil pessoas que já usam esse aplicativo para guardar seus dados. E nossa plataforma é white label, ela permite que uma instituição de saúde possa criar emergência virtual, telemedicina, consultório médico, tudo integrado e os dados vão para o paciente. Só que essa plataforma, o repositório é único: de onde esses dados vierem, eles vão estar na conta daquele paciente. Então, o Moinhos de Vento já entrou em produção, todos os dados gerados em ecossistema deles está subindo para o paciente. E nós estamos quebrando um paradigma agora no meio do ano: a Santa Casa de Porto Alegre, que no operacional não é nosso cliente, nós criamos um hub de integração com eles, que vai garantir a nossa integração com terceiros e os pacientes da Santa Casa e os dados também vão para o aplicativo, que é o mesmo repositório do Mãe de Deus, do Moinhos. A Unimed é nossa, a PUC é nossa, então também vai acontecer isso em decorrência. Se gente conseguisse navegar na saúde pública de Porto Alegre seria o suprassumo. Tem um município no interior do Rio Grande do Sul que estamos muito próximos de fazer essa integração de todos os pacientes, assim como nós fizemos em Votuporanga, em São Paulo. Tudo está integrado no lugar do paciente.

E o que são essas outras iniciativas com big techs, a AWS e a Huawei?

Paulo Magnus – Nós estamos em 10 países, 9 fora o Brasil. E nós queremos e almejamos voar muito mais. Entendemos que ninguém tem um ecossistema completo como nós temos. Lá fora, chega a ter 200 soluções para automatizar uma instituição, nós temos tudo no mesmo lugar. Na verdade, eles despertaram para isso e entenderam que a gente pode ajudar nisso. Nesse momento, a gente tem de convicção que as duas vão investir uma quantidade de dinheiro bastante grande para poder multiplicar essa oferta no Brasil e nos ajudar a multiplicar essa plataforma.

Na prática isso é injeção de dinheiro, de capital para ampliar a oferta?

Paulo Magnus – Para multiplicar oferta. Em alguns casos temos que ganhar mais robustez, com segurança. Uma das coisas que mais nos preocupa no mercado de saúde é a fragilidade e segurança. Fora os que estão na nuvem, poucos tem segurança.

O quanto falta para a gente dar esse salto de saúde digital no Brasil?

Paulo Magnus – Vai ter que ser pedacinho por pedacinho. Algum estado que possa ele tomar para si. Nós estamos negociando com alguns, há muito tempo que a gente não vendia nada para estados. Temos pelo menos três estados que estamos caminhando muito. Os cases estão se multiplicando, não tem outra solução.

Natalia Cuminale

About the Author: Natalia Cuminale

Leave A Comment

Recebar nossa Newsletter

NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

Artigos Relacionados

Natalia Cuminale