Quando Bruno Ferrari iniciou a Oncoclínicas em Belo Horizonte, mal poderia imaginar que, 14 anos depois, abriria uma nova unidade a 11 mil quilômetros, em Riad, capital da Arábia Saudita. Com 147 clínicas espalhadas pelo Brasil, a rede prepara sua expansão internacional, com inauguração prevista para o início de 2025.

A joint venture, criada em parceria com o grupo Al Faisaliah, surgiu após as empresas se conhecerem no  Future Investment Initiative (FII), à convite da XP Investimentos. A expectativa é expandir o número de unidades para 17 clínicas nos próximos cinco anos e ter uma receita de 500 milhões de dólares, com a perspectiva de adentrar outros países do Golfo Pérsico e do Norte da África, a partir de investimentos gerados pelo próprio negócio.

“A Arábia Saudita está vivendo o mesmo momento do cenário da oncologia que encontramos no Brasil há 15 anos. É um país com 36 milhões de habitantes e que tem uma população que começa a envelhecer também, então o câncer começa a ser um problema. Mais do que isso, no projeto Saudi Vision 2030, a saúde passa a ser um dos projetos estratégicos para o Reino da Arábia Saudita”, afirma Bruno Ferrari, CEO da Oncoclínicas, ao Futuro da Saúde.

Com médicos locais formados nos Estados Unidos e na Europa, o grupo pretende levar o seu modelo de centralização do paciente oncológico, da prevenção a cuidados paliativos. Para isso, Ferrari conta que obrigatoriamente era preciso ter um investidor de lá, que conhecesse o mercado e os trâmites burocráticos.

Além de investir na Joint Venture com a Oncoclínicas, o Grupo Al Faisaliah também participa de outras empresas de saúde, sendo a distribuidora exclusiva da Philips Healthcare na Arábia Saudita, através de iniciativa fundada em parceria com a empresa.

“Não estamos entrando com um grupo que é primeira vez que vão olhar o setor. Eles são altamente capacitados. Vamos começar com uma clínica em Riad que já está sendo adaptada. Para nós, é como se estivéssemos abrindo uma outra clínica em qualquer outro lugar do Brasil. A gente vai levar o mesmo modelo para lá”, explica o CEO da Oncoclínicas.

Ferrari defende que quem consegue fazer o processo de integração de uma clínica no Brasil conseguiria fazer em qualquer outro lugar do mundo. Segundo ele, a burocracia brasileira é mais complexa, o que acaba por tornar os trâmites mais demorados. A agilidade e o interesse da Arábia Saudita no negócio tem tornado o processo mais rápido. 

O executivo também aponta que apesar da expansão internacional, o Brasil deve seguir como foco principal da companhia. “Provavelmente nós vamos estar em todas as capitais do Brasil até meio do ano que vem, atendendo uma necessidade dos nossos clientes de algumas operadoras de plano de saúde. É quase que um requerimento. Ter uma unidade fora do Brasil tem seus desafios, cultural e até mesmo de idioma, mas isto superado para nós é como se a gente estivesse com uma unidade aqui dentro do país”, observa.

Potencial de crescimento e planos de expansão

“Quando falo de Arábia Saudita falo de 36 milhões de habitantes. Mas quando falamos da região do Golfo, estamos falando de 300 milhões de habitantes. Então, o projeto de crescimento para os próximos anos é naquela região do Golfo. A três horas de distância de Riad ou de Jeddah você terá 300 milhões de pessoas que podem fazer esse intercâmbio de turismo médico”, avalia Ferrari. 

Mesmo o norte da África, que inclui países como Marrocos, Argélia e Egito, pode ser objeto da expansão da Oncoclínicas. Mas para isso, é preciso que a primeira unidade, na Arábia Saudita, se mostre eficiente e traga receita para o Grupo, que quer ampliar os negócios a partir das receitas próprias.

O CEO também observa um potencial de outras empresas brasileiras adentrarem o mercado de saúde do mundo árabe. 

“A gente não tem muito para oferecer para os Estados Unidos, apesar de termos grandes profissionais brasileiros lá. Mas temos muito a oferecer para países que estão semelhantes a nós, em desenvolvimento. A Arábia Saudita estava neste momento. Em termos de medicina, eles têm grandes hospitais lá, mas tinha uma oncologia 15 anos atrasada. A maior parte é feita dentro do hospital ou fora do país. Em cinco anos vamos colocar a oncologia deles no mesmo patamar dos Estados Unidos”, avalia Ferrari.

O trabalho da Oncoclínicas chamou a atenção dos americanos. Em 2023, o Grupo inaugurou, em parceria com o Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Harvard Medical School, um cancer center para fortalecer a integração do cuidado centrado no paciente. Localizado em Belo Horizonte, é a primeira unidade do Dana-Farber fora dos Estados Unidos.

“A Oncoclínicas nasce inspirada em dois dois grandes exemplos: o Oncology Consultants, que era a clínica privada de um dos chefes que eu tive em Houston, e da US Oncology, que foi a maior rede de oncologia. Foram fazendo aquisições de clínicas nos Estados Unidos, mas ficaram focados por lá. A internacionalização do grupo foi uma oportunidade mesmo. Fomos por um convite e nos deparamos com uma grande oportunidade real, que acabou se transformando em uma unidade”, aponta o CEO.