Ômicron: o que já aprendemos com a nova variante?

Ômicron: o que já aprendemos com a nova variante?

Após pelo menos seis semanas atendendo diariamente um número muito

By Published On: 08/02/2022

Após pelo menos seis semanas atendendo diariamente um número muito grande de pacientes com a Ômicron, já podemos ter algumas afirmações baseadas não apenas na experiência clínica, mas também na literatura. A primeira observação que chama demais a atenção – e dentro da infectologia já tenho pelo menos 30 anos de experiência – é que eu nunca vi nada parecido em termos de transmissibilidade do que a capacidade dessa nova variante.

São inúmeros casos e praticamente todos os contatos destes casos também acabam se infectando, com ou sem sintomas – estima-se que o número de assintomáticos possa chegar entre 30% e 40%. Nos contatos dentro dos domicílios a disseminação é realmente jamais vista anteriormente.

Por outro lado, a notícia que nos deixa mais tranquilos é que, felizmente, do ponto de vista de gravidade, de virulência desta nova variante, especialmente nos vacinados – e aí ressalto que as vacinas estão mostrando seu grande papel no sentido de evitar doenças graves, morte e hospitalização – é que a Ômicron tende a pegar muito mais as vias aéreas superiores, ou seja, os pacientes têm muito mais dor de cabeça, dor atrás dos olhos, tosse, congestão nasal, febre.

Vemos muito pouco acometimento pulmonar, especificamente nos vacinados, como vimos com as outras variantes. Praticamente não vemos alteração tomográfica, de oximetria e nem outras alterações que nos deixavam extremamente preocupados, como a Covid longa e fenômenos tromboembólicos, como infelizmente vivenciamos nas anteriores.

Máscara e vacina contra a Ômicron

Outra coisa que a nova variante mostrou é a necessidade de a gente se proteger com uma boa máscara, com um bom filtro, uma N95, KN95 ou PFF2, muito bem adequada à nossa face. Aquelas máscaras de tecido que muita gente vinha usando – e ainda usa – não é adequada.

A Ômicron se mostra também geneticamente muito diferente do que a gente tinha até então. Com isso, ela requer – e a gente aprendeu – a terceira dose nesse momento, que é algo muito importante e que precisa ser feita.

Já falei anteriormente e volto a falar: quem não está confuso nesta pandemia está mal-informado. Quem está bem-informado, sabe que as certezas não são tão grandes, que vamos construindo-as conforme o tempo vai passando.

Mais uma vez, vemos que o caminho é vacinar, vacinar, vacinar. Exatamente para podermos ter mais anticorpos específicos, uma quantidade melhor de anticorpos neutralizantes para fazer dessa uma doença mais leve. Só que enquanto o mundo inteiro não estiver vacinado, temos risco de novas variantes.

Portanto, se eu tivesse que investir em alguma coisa na saúde pública, investiria na vacinação, em boa qualidade de máscara e testagem. Porque quanto mais conseguirmos frear a disseminação desse vírus, mais conseguiremos evitar a inundação nos nossos hospitais. Apesar de menos virulenta, o número explosivo de casos acaba gerando uma maior quantidade de internação e os pacientes que precisam de hospitalização por outras causas acabam não encontrando leitos.

Outro fato da Ômicron é o tempo de transmissão. A quantidade de pessoas infectadas foi tão grande que aquele tempo mais seguro para retornar ao trabalho, de 10 dias, foi reduzido para sete – os Estados Unidos reduziram para cinco. Desde que sem sintomas e, lógico, usando uma boa máscara, porque a pessoa ainda pode estar infectante, mesmo que em uma menor carga viral. Qual o motivo dessa redução de dias? Porque precisamos das pessoas de volta, principalmente em setores básicos, como segurança, educação e saúde. Caso contrário, entraríamos em colapso.

O que vem pela frente pós-Ômicron?

Por fim, a minha maior curiosidade é: uma vez que temos proteção induzida pela vacina e pela exposição natural ao vírus, teremos alguma tranquilidade pela frente se a gente somar esses dois tipos de proteção? Imagino e espero que tenhamos alguns meses mais tranquilos. Falo isso como infectologista, mas mesmo quem não é profissional da saúde quer isso também. Vamos passar pelo menos um período com uma menor circulação de uma nova variante, porque o vírus não vai encontrar pessoas totalmente suscetíveis.

Por outro lado, seguramente imagino que ainda teremos novas variantes que devem escapar da nossa resposta imune no futuro. Por isso a indústria farmacêutica, em paralelo, está avançando em novas tecnologias e atualização das vacinas. Até que a gente não tenha tudo isso e não saiba qual o cenário futuro, vamos continuar fazendo o que sempre fizemos: vacinar, testar, frequentar ambientes abertos, bem ventilados e não sair de casa se estiver doente, mesmo que não tenha feito o teste ainda.

Rosana Richtmann

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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