Ômicron: novas hipóteses sobre a menor gravidade nos pulmões e sua capacidade de transmissão

Ômicron: novas hipóteses sobre a menor gravidade nos pulmões e sua capacidade de transmissão

De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle

By Published On: 25/01/2022

De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), existe de 50% a 60% menos riscos da ômicron acarretar em uma infecção grave ou levar a óbito (quando comparado com outras variantes da Covid-19). Para compreender essa questão, novos estudos laboratoriais sugerem hipóteses quanto à gravidade e transmissibilidade da nova cepa. 

De modo geral, os estudos sugerem que a nova versão do vírus seja menos eficiente em suas infecções. Nos casos graves de Covid-19, é comum que haja infecção e inflamação dos pulmões. Entretanto, as análises realizadas até agora apontam para a possibilidade da variante ômicron ser menos capaz de afetar os pulmões do que a variante delta. 

Junto a isso, os resultados indicam a ômicron como uma variante mais eficiente em infectar vias aéreas superiores, o que facilitaria a contaminação — e explicaria sua alta capacidade de transmissão. Outros fatores apontam ainda para o genoma da ômicron: as observações sugerem que as mais de cinquenta mutações da variante possam ter contribuído para casos menos graves da doença. 

De acordo com os experimentos, realizados em animais e culturas de células, todos estes motivos podem ter contribuído para uma variante de menor gravidade. Além disso, o impacto do avanço das campanhas de vacinação e da soroprevalência (imunidade devido à infecções anteriores), não devem ser fatores desconsiderados. 

Os estudos sobre a gravidade

Ômicron: novas hipóteses sobre a gravidade nos pulmões e transmissibilidade

Na Universidade de Hong Kong, o estudo contou com células pulmonares humanas, que foram cultivadas em laboratório para analisar a capacidade da variante ômicron de infectar os pulmões. Dessa forma, os pesquisadores observaram que a cepa se replicou 70 vezes mais rápido que a delta nos brônquios humanos – tubos que conectam a traquéia aos pulmões. 

Mesmo assim, o processo de replicação da ômicron foi menos eficiente no tecido pulmonar, quando comparado à delta ou em infecções por SARS-CoV-2 de tipo selvagem. Logo, outros grupos de pesquisa optaram por comparar a capacidade da ômicron com outras variantes da Covid-19 em hamsters e camundongos

Em estudos anteriores, os pesquisadores observaram que as demais variantes causaram perda de peso nos animais, após 1 semana. Junto a isso, os níveis do vírus aumentavam no trato respiratório. Já na investigação com a ômicron, não foi detectada perda de peso. 

Entretanto, a infecção pela ômicron gerou uma quantidade mais alta ou semelhante de vírus no trato superior – quando comparada ao SARS-CoV-2 de tipo selvagem e à variante delta no trato respiratório superior. Por outro lado, em comparação com a variante delta, a ômicron apresentou quantidades de vírus mais baixas no trato respiratório inferior (região onde ocorre a inflamação dos pulmões).

Apesar da variante ainda não ter atingido seu pico, as evidências sugerem que os mesmo esteja acontecendo com as pessoas infectadas pela ômicron: há menos suscetibilidade à necessidade de hospitalização, internação em UTI ou de uso de ventilação mecânica.

As evidências sobre a transmissibilidade

Uma série de estudos sugere que a ômicron tenha seu potencial de contaminação potencializado por sua carga viral e o escape a anticorpos neutralizantes (vacinas e infecções anteriores). Entretanto, uma mudança de preferência do vírus também é apontada como hipótese. 

Nos estudos com cultura de células e testes em animais, também foi observado uma mudança na interação do vírus com os receptores ACE2 (proteína que permite acesso às células pulmonares) e o TMPRSS2 (proteína na superfície das células que permite a fusão do vírus com a célula humana). Ambas as proteínas são encontradas nos tratos respiratórios inferiores.

Na ômicron, devido às mutações na proteína Spike, a capacidade de fusão com a enzima TMPRSS2 também foi alterada. Assim, o vírus encontra dificuldades de acesso às vias respiratórias inferiores. A alternativa para a ômicron, é utilizar os recursos disponíveis nas vias superiores: os endossomos, sacos no interior da célula que são ligados à membrana. 

Dessa forma, enquanto a variante delta perde vantagens nas vias superiores e ganha nas vias inferiores, o contrário ocorre com a ômicron. Entretanto, os resultados de pesquisas com cultura de células e animais são apenas os primeiros passos. Novos estudos com humanos são necessários para concluir se as atuações da ômicron são por essas hipóteses.

Redação

Equipe de jornalistas da redação do Futuro da Saúde.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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  • Rosana Richtmann

    Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

  • Isabella Marin Silva
    Isabella Marin

    Jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, passou pela área de Comunicação da Braskem e atuou com Jornalismo de Dados na empresa Lagom Data. Integra o time como repórter do Futuro da Saúde, onde atua desde março de 2024.

  • Rosana Richtmann

    Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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