De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), existe de 50% a 60% menos riscos da ômicron acarretar em uma infecção grave ou levar a óbito (quando comparado com outras variantes da Covid-19). Para compreender essa questão, novos estudos laboratoriais sugerem hipóteses quanto à gravidade e transmissibilidade da nova cepa.
De modo geral, os estudos sugerem que a nova versão do vírus seja menos eficiente em suas infecções. Nos casos graves de Covid-19, é comum que haja infecção e inflamação dos pulmões. Entretanto, as análises realizadas até agora apontam para a possibilidade da variante ômicron ser menos capaz de afetar os pulmões do que a variante delta.
Junto a isso, os resultados indicam a ômicron como uma variante mais eficiente em infectar vias aéreas superiores, o que facilitaria a contaminação — e explicaria sua alta capacidade de transmissão. Outros fatores apontam ainda para o genoma da ômicron: as observações sugerem que as mais de cinquenta mutações da variante possam ter contribuído para casos menos graves da doença.
De acordo com os experimentos, realizados em animais e culturas de células, todos estes motivos podem ter contribuído para uma variante de menor gravidade. Além disso, o impacto do avanço das campanhas de vacinação e da soroprevalência (imunidade devido à infecções anteriores), não devem ser fatores desconsiderados.
Os estudos sobre a gravidade

Na Universidade de Hong Kong, o estudo contou com células pulmonares humanas, que foram cultivadas em laboratório para analisar a capacidade da variante ômicron de infectar os pulmões. Dessa forma, os pesquisadores observaram que a cepa se replicou 70 vezes mais rápido que a delta nos brônquios humanos – tubos que conectam a traquéia aos pulmões.
Mesmo assim, o processo de replicação da ômicron foi menos eficiente no tecido pulmonar, quando comparado à delta ou em infecções por SARS-CoV-2 de tipo selvagem. Logo, outros grupos de pesquisa optaram por comparar a capacidade da ômicron com outras variantes da Covid-19 em hamsters e camundongos.
Em estudos anteriores, os pesquisadores observaram que as demais variantes causaram perda de peso nos animais, após 1 semana. Junto a isso, os níveis do vírus aumentavam no trato respiratório. Já na investigação com a ômicron, não foi detectada perda de peso.
Entretanto, a infecção pela ômicron gerou uma quantidade mais alta ou semelhante de vírus no trato superior – quando comparada ao SARS-CoV-2 de tipo selvagem e à variante delta no trato respiratório superior. Por outro lado, em comparação com a variante delta, a ômicron apresentou quantidades de vírus mais baixas no trato respiratório inferior (região onde ocorre a inflamação dos pulmões).
Apesar da variante ainda não ter atingido seu pico, as evidências sugerem que os mesmo esteja acontecendo com as pessoas infectadas pela ômicron: há menos suscetibilidade à necessidade de hospitalização, internação em UTI ou de uso de ventilação mecânica.
As evidências sobre a transmissibilidade
Uma série de estudos sugere que a ômicron tenha seu potencial de contaminação potencializado por sua carga viral e o escape a anticorpos neutralizantes (vacinas e infecções anteriores). Entretanto, uma mudança de preferência do vírus também é apontada como hipótese.
Nos estudos com cultura de células e testes em animais, também foi observado uma mudança na interação do vírus com os receptores ACE2 (proteína que permite acesso às células pulmonares) e o TMPRSS2 (proteína na superfície das células que permite a fusão do vírus com a célula humana). Ambas as proteínas são encontradas nos tratos respiratórios inferiores.
Na ômicron, devido às mutações na proteína Spike, a capacidade de fusão com a enzima TMPRSS2 também foi alterada. Assim, o vírus encontra dificuldades de acesso às vias respiratórias inferiores. A alternativa para a ômicron, é utilizar os recursos disponíveis nas vias superiores: os endossomos, sacos no interior da célula que são ligados à membrana.
Dessa forma, enquanto a variante delta perde vantagens nas vias superiores e ganha nas vias inferiores, o contrário ocorre com a ômicron. Entretanto, os resultados de pesquisas com cultura de células e animais são apenas os primeiros passos. Novos estudos com humanos são necessários para concluir se as atuações da ômicron são por essas hipóteses.