O que vai acontecer? Ninguém sabe
O que vai acontecer? Ninguém sabe
Ações de reabertura sem uma comunicação clara dos parâmetros e dos contextos deixam as pessoas inseguras
O Brasil segue sem uma diretriz para combate à pandemia. O Brasil continua sem ministro da saúde no meio da pandemia. O Brasil continua com o número de casos crescendo, com número de testes insuficientes e com uma subnotificação de tamanho desconhecido (já vi estimativas de que seria 7 vezes maior, 11 vezes maior, 15 vezes maior). Os números, repetidos à exaustão, tornaram-se centro do debate quando deixaram de ser exibidos. Aquele receio de que nos tornaríamos insensíveis à quantidade de casos e mortos parece estar se concretizando. Estamos com 739 503 casos e 38 406 mortes.
O plano de saída elaborado pelo ex-ministro Nelson Teich nunca foi divulgado, mas alguns municípios ensaiam a reabertura (reabertura, diga-se de um isolamento que nunca foi isolamento direito). Ontem me perguntaram num comentário aqui: como explicar a reabertura se estamos vendo o número de casos aumentar? É difícil ter uma resposta simples para isso e é difícil explicar tudo num post. Mas vou tentar.
O primeiro ponto é a questão do isolamento: o Brasil não adotou uma estratégia de isolamento como os outros países e isso aconteceu por vários motivos (políticos, sociais e econômicos). Outro ponto é que, devido às proporções continentais do país, vamos ver a epidemia acontecendo de um jeito diferente em locais diferentes. Em alguns lugares, a taxa de transmissão parece se estabilizar, enquanto em outros o número de casos está subindo. Por isso, as ações de reabertura serão pontuais e dependerão da situação de cada local. Ou seja, pode ser que a gente veja o número geral de casos subindo, mas mesmo assim veremos a reabertura gradual.
Não é possível saber se vai funcionar e qual a consequência disso porque, como eu disse, o Brasil tem uma situação bem específica, de acesso à saúde, de falta de testes, da adesão ao isolamento… É difícil comparar com França, Nova Zelândia ou Alemanha, países que, além de ter outra situação social, tiveram políticas claras, boa quantidade de testes e comunicação frequente com a população.
O Brasil vai seguir seu próprio rumo. Alguns estados se planejaram melhor e podem sair melhor? É possível. Mas vai depender do que será feito ao longo dessa reabertura, como a capacidade de monitorar o número de novas infecções, a ocupação hospitalar, o respeito aos protocolos de distanciamento.
Acho que ninguém é a favor do isolamento eterno. A ideia de manter tudo fechado até o surgimento da vacina é insustentável (porque pode demorar e não sabemos quanto). Mas ações de reabertura sem uma comunicação clara dos parâmetros e dos contextos deixam as pessoas inseguras também. Talvez, por causa de um enfrentamento diferente do que foi feito até agora, tenhamos que conviver com o vírus muito mais tempo do que se imaginava. Ninguém sabe.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.