O que é canabidiol, como funciona no organismo e quais pacientes podem se beneficiar
O que é canabidiol, como funciona no organismo e quais pacientes podem se beneficiar
Popularmente conhecida como a planta da maconha, a Cannabis tem
Popularmente conhecida como a planta da maconha, a Cannabis tem grande potencial de uso para fins medicinais. E nesse quesito, um componente do vegetal se destaca: o canabidiol (CBD). Mas, afinal, o que é canabidiol? E como ele age no organismo?
Entender o que é canabidiol e como ele atua pode ajudar a explicar por que, mesmo com tanto preconceito envolvendo o tema, o seu uso aumenta no Brasil e no mundo. Desde 2019, a utilização de produtos à base da substância é permitida pela legislação do nosso país mediante prescrição médica.
O que é canabidiol e como ele age no organismo

Então, o que é canabidiol? A Cannabis possui cerca de 400 componentes, sendo uma média de 60 deles substâncias chamadas canabinóides. Os dois fitocanabinóides mais conhecidos da planta são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
E há muitas diferenças entre o que é canabidiol e tetrahidrocanabinol. Enquanto o THC é conhecido por provocar o efeito psicoativo que dá fama à maconha, o CBD é conhecido pelas suas características medicinais. Porém, os dois podem trazer benefícios à saúde, quando ingeridos em quantidades adequadas.
O canabidiol age diretamente no sistema endocanabinoide, que é um sistema regulatório envolvido em quase todos os processos patológicos e fisiológicos do corpo humano. Ele é capaz de regular a temperatura corporal, as emoções, o estresse, o sistema imunológico, a dor, o apetite e até mesmo a coordenação dos movimentos e processos de memória e aprendizagem. Ou seja, contribui para as mais diversas funções do organismo.
Quando há desequilíbrio do sistema endocanabinoide, aumentam as chance de desenvolvimento de doenças. O CBD, por ser um canabinoide, consegue regular o que está desregulado.
De acordo com estudos que vêm sendo realizados desde o fim do século passado, o canabidiol tem potencial anticonvulsivo, antipsicótico, neuroprotetor, antidepressivo, anti-inflamatório, ansiolítico, analgésico, imunossupressor e antiespasmódico. Assim, diversas pesquisas mostram que produtos à base de canabidiol podem ter eficácia no tratamento de doenças como epilepsia refratária, esclerose múltipla, Doença de Alzheimer, esquizofrenia, transtorno do espectro autista, entre outras.
Como é extraído o canabidiol
Os cientistas usam várias técnicas para isolar o canabidiol e outros componentes da Cannabis, além de obter extratos. As principais são:
- Hidrodestilação: muito utilizado em laboratórios, o método usa o Aparelho de Clevenger. Com ele, se coloca água para aquecer em um balão. Em seguida, os vapores da água vão para onde está o material vegetal. As paredes celulares se abrem com o calor do vapor, fazendo com que o óleo que está entre as células também evapore, indo para um condensador e depois para um tubo de resfriamento. O óleo então fica concentrado em cima da água, podendo facilmente ser separado e coletado.
- Destilação a vapor: esta técnica de destilação usa vapor de água em substâncias que não se misturam. Para isso, é necessário usar uma manta aquecedora e uma placa de aquecimento.
- Extração por solvente orgânico: normalmente usa um aparelho denominado Extrator de Soxhlet e etanol ou éter de petróleo como solvente. Uma manta aquecedora também é necessária para concluir o processo.
- Extração com gordura fria: método em que as plantas são colocadas sobre cera em uma placa de vidro. A cera consegue extrair os componentes da planta, que depois serão filtrados e destilados em temperatura baixa.
- Meceração: método que utiliza solvente na planta a seco e pulverizada. O vegetal então começa a se dissolver e libera os princípios ativos.
- Extração por micro-ondas científico: neste método, as células da membrana são quebradas pelas propriedades de aquecimento seletivo das microondas. Isso ocorre sem que as substâncias sejam aquecidas.
- Extração por ultrassom: trata-se da técnica mais rápida, segundo os cientistas. O ultrassom acelera a transferência de massa do vegetal, o que resulta no rompimento das paredes celular e consequente liberação dos compostos desejados.

Quais pacientes podem se beneficiar do uso de canabidiol
Segundo os médicos que prescrevem canabidiol, o uso do produto poderia ser indicado para pessoas que sofrem de doenças como epilepsia, esclerose múltipla, Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, esquizofrenia e autismo, mas que não estejam tendo resultados com os medicamentos tradicionais.
De acordo com resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a prescrição de produtos à base de Cannabis é “restrita aos profissionais médicos legalmente habilitados pelo Conselho Federal de Medicina”. A prescrição é feita em receituário azul, de controle especial.
Legislação para uso do canabidiol no tratamento de doenças no Brasil

Em dezembro de 2019, a Anvisa publicou uma Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 327/2019) em que definia as condições e procedimentos para concessão da Autorização Sanitária para a fabricação e importação de produtos de Cannabis para fins comerciais de uso humano. Também estabelecia requisitos para comercialização, prescrição, dispensação, monitoramento e fiscalização.
A Resolução entrou em vigor em março de 2020. Segundo ela, os produtos podem ser disponibilizados somente em farmácias sem manipulação e em drogarias e serão vendidos mediante receita fornecida exclusivamente por um médico.
Além disso, o tratamento à base de cannabis medicinal deve ter teor de THC de até 0,2%. Acima disso, o uso só poderá ser destinado a cuidados paliativos e prescrito a pacientes terminais que tenham esgotado outros tratamentos.
Foi definido ainda que a entrada no mercado de cada produto só poderá ocorrer mediante autorização da Anvisa, que fornecerá uma autorização sanitária após fazer uma avaliação.
Apenas substâncias de aplicação por vias nasal e oral conseguem a autorização sanitária. Além disso, a resolução proíbe a comercialização da planta em si, além de cosméticos e cigarros à base de Cannabis.
Os produtos derivados não são considerados medicamentos, mas uma categoria específica. Isso porque, de acordo com a Anvisa, “não há dados suficientes para a comprovação da segurança, eficácia e qualidade da maior parte dos produtos obtidos”. Entretanto, a liberação se deu levando em consideração informações sobre o emprego desses elementos em tratamentos em outros países, como Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Israel.
A agência diferencia os produtos e os medicamentos à base de Cannabis. Por sua vez, o uso de medicamentos derivados de Cannabis pode ser solicitado à Anvisa desde 2016. A análise se dá caso a caso e demanda a aquisição de um produto no exterior, já que não podem ser produzidos no Brasil.
Projeto de Lei 399/2015
Por fim, o projeto de Lei 399/2015, que tramita no Congresso, pode mudar o panorama da Cannabis medicinal no Brasil.
O texto sugere a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta Cannabis sativa em sua formulação. Ainda aborda o uso medicinal de Cannabis também para animais e prevê o uso industrial da planta como matéria-prima para fabricar plástico, tecido e papel.
Assim, a tendência para os próximos anos, segundo especialistas, é que cada vez mais pacientes entendam o que é canabidiol e usufruam dele como substância medicinal, ganhando mais qualidade de vida.
Tratamento com canabidiol pelo SUS

Atualmente, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) está analisando incluir o produto canabidiol 200mg/ml da farmacêutica Prati-Donaduzzi na lista do Sistema Único de Saúde como indicação para tratar epilepsias resistentes às terapias convencionais em crianças e adolescentes.
O processo aguarda um parecer final da Conitec após passar por consulta pública. Entretanto, em relatório, conselheiros da comissão não recomendaram a oferta do produto pelo SUS. Eles entendem como questionáveis as evidências sobre benefícios clínicos e consideram que os gastos públicos seriam muito elevados.
De acordo com estimativas da própria Conitec, o custo da incorporação do produto no Sistema Único de Saúde seria de R$ 80 milhões anuais para cada mil pacientes atendidos. E a farmacêutica estima que existem 700 mil pessoas no Brasil elegíveis para o tratamento.
Atualmente, o valor de cada caixa com solução oral de 30ml de canabidiol 200mg/ml é de cerca de R$ 2.300. O produto foi registrado na Anvisa como um fitofármaco à base de Cannabis.
Entretanto, apesar de o produto ainda não ter sido incorporado à lista do SUS, muitas pessoas conseguem na Justiça que o Estado ou o plano de saúde forneça esse tratamento. Para isso, é necessário um relatório de um médico sobre a necessidade do uso de canabidiol para aquele paciente. No caso de comprovação de urgência do tratamento, a liberação do fornecimento pode se dar em 48h por decisão liminar.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.