O envelhecimento e o futuro da saúde
O envelhecimento e o futuro da saúde
O futuro da saúde, com certeza, exige um olhar mais
O futuro da saúde, com certeza, exige um olhar mais atento ao envelhecimento de nossa população, sob diversos aspectos. No início do mês de dezembro, um evento realizado em São Paulo se propôs a debater “Envelhecimento Ativo & Medicina do Futuro”. Tenho o prazer de ser o embaixador deste projeto inovador e relevante. Para falar mais sobre o tema, solicitei a colaboração da CEO da Orentt Medical, Valéria Soares, que escreveu o texto abaixo, em que destaca a importância de estratégias de prevenção e do uso de novas tecnologias para vivermos mais e melhor. Boa leitura!
“Envelhecer é bom, ruim é morrer precocemente”
Como a medicina pode contribuir para o envelhecimento populacional? Muito se fala sobre envelhecer, mas como é possível envelhecer bem, de forma ativa e com qualidade de vida em um mundo como o nosso? E, mais, em um país como o Brasil onde muitos não respeitam os mais velhos, onde não há políticas públicas que assegurem seu bem-estar? É notório que a pandemia deixou sequelas irreversíveis em muitas pessoas, do ponto de vista cognitivo. A população 50+ foi a que mais sofreu.
Por isso, eu e o Dr. Táki Cordás, um dos principais psiquiatras do país, criamos através da Orentt Medical, o projeto Envelhecimento Ativo & Medicina do Futuro. Reunimos no início de dezembro para a primeira edição alguns dos principais especialistas médicos das áreas da cardiologia, neurologia, psiquiatria, geriatria, oncologia, além do ex-diretor da Globo, Boni, e o empresário Abílio Diniz para discutir o tema. A proposta foi falar abertamente sobre prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças associadas aos idosos, aspectos psíquicos, físicos e sociais, gestão em saúde, inovação e tecnologia, vacinação na população adulta, todos relacionados ao processo de envelhecimento.
A proposta do embaixador Dr. Fernando Maluf, oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer, foi abordar as novas táticas para que as pessoas de mais idade cronológica tenham uma vida absolutamente funcional. Falamos das estratégias preventivas e terapêuticas, e de cuidados para uma população que vem sendo cada vez mais frequente não só no mundo, mas no Brasil. Este projeto está focado neste tema que, para mim, é um dos temas mais centrais hoje em saúde no país e no mundo.
Como o envelhecimento ativo se conecta com a inovação e com a medicina do futuro? Um dos precursores do conceito envelhecimento ativo, Dr. Alexandre Kalache, definiu-o como um processo de preparação, ao longo de toda a vida, baseado em quatro pilares: saúde, conhecimento, participação e proteção. Concordo plenamente com ele citando Cícero, ponto alto de sua palestra, quando disse que “envelhecer é bom, ruim é morrer precocemente”. Segundo ele, um grande obstáculo ao envelhecimento ativo é o idadismo, a percepção de que o mundo é para os novos e de que os idosos são um peso. Cabe à sociedade civil um papel fundamental, de monitorar e cobrar ações dos governantes e gestores do momento para combater essa visão de mundo.
E no pós-pandemia, vimos, por meio da fala articulada do Dr. Cordás que os principais fatores de estresse entre os idosos neste período foram o medo da morte pessoal ou de uma pessoa próxima, o medo de adoecer, o medo de perder a autonomia, o temor da falta de remédios e assistência médica, o medo de sentir-se descartável, a menos-valia e o medo da solidão, entre outros. Tudo isso precisa ser levado em conta.
E, quando falamos sobre a sexualidade dos 50+, você sabia que apenas 18% dos médicos fazem perguntas aos seus pacientes referentes a isto? Segundo o estudo MEDIS, apresentado pela geriatra Dra. Naira Hojaij no evento, 60% dos participantes percebiam sua sexualidade como prazerosa e 44% como importante. Ou seja, uma vida sexual prazerosa exibiu (e tem) correlação positiva com a longevidade. Por que não teria, não é mesmo?
Então, pensamos sobre quais os princípios para uma longa vida. Bom, a maioria já sabe que é preciso comer bem, fazer exercícios. O Abílio Diniz, que segue uma vida regrada neste aspecto, disse que considera que o amor é um pilar essencial para a longevidade na sua vida. Verdade. Mas, beber vinho regular e moderadamente, reduzir o ritmo (leia-se ter menos estresse), ter um propósito de vida, viver para aqueles que ama, pertencer a alguma comunidade ligada à fé e participar de grupos sociais, tudo isso colabora para a longevidade? Totalmente!
Outro ponto muito importante que abordamos foi a importância da vacinação na prevenção da população adulta, que precisa e merece ser mais divulgada. É de extrema relevância resgatarmos a confiança na vacinação. Quanto às perspectivas futuras, a Dra. Rosana Richtmann, outra referência médica em nosso evento, reconheceu um salto tecnológico impulsionado pela pandemia. Em relação ao trato respiratório, um ponto particularmente vulnerável nas pessoas mais idosas, é possível termos vacinas anuais contra a Covid, a influenza, o vírus sincicial respiratório e a coqueluche. Existem, segundo ela, estudos de vacina contra a doença de Alzheimer. São realmente boas notícias quando pensamos neste target.
Quando falamos em doenças neurodegenerativas, pensamos logo em quedas. As quedas são uma causa importante de mortalidade em idosos. Sabemos que a maior parte ocorre dentro de casa. Um em cada três idosos em algum momento sofrerá uma queda, segundo o neurologista Dr. Marcelo Calderaro. Dentre as causas não-naturais, representa cerca de 40% da mortalidade. É um número bastante alto para não olharmos com cautela.
Ora, é possível então viver mais de 90 anos com tantos obstáculos? Sim, mas é preciso conhecer os fatores que impactam a vida do idoso com qualidade. A casa em que o idoso vive deve ser pensada para oferecer segurança. E se vivermos tudo isso, todos nós teremos demência? Outra questão levantada no evento pelo Dr. Paulo Caramelli. Diversos estudos com centenários mostram que, embora uma parcela desses indivíduos mantenha um desempenho cognitivo global preservado, a maior parte apresenta alguma forma de demência. Mas, é possível chegar a uma idade muito avançada com desempenho bem acima do esperado até para pessoas mais novas (as chamadas superagers), que vêm despertando muito interesse dos pesquisadores.
A grande questão que se coloca é como viver bem, dita pelo grandioso Dr. Gonzalo Vecina, é qual a proporção do viver bem correspondente às ações individuais e qual a da coletividade? Para podermos viver bem, não existe outra saída: o estado tem que estar presente e ditar políticas públicas que consigam melhorar o acesso e promover o cuidado com qualidade. Doenças cardiovasculares – diagnóstico e tratamento interdisciplinar -, o etarismo e como impulsionar a política de inclusão no mercado de trabalho, a importância dos cuidados nutricioniais, a realidade virtual no ambiente metaverso e os avanços na humanização da tecnologia, além dos avanços na telemedicina, robótica e simulação virtual na medicina do futuro foram outros assuntos discutidos na primeira edição do “Envelhecimento Ativo & Medicina do Futuro”. Agradeço a todos, embaixadores do evento, palestrantes e parceiros – além de todo o time da Orentt Medical – pela oportunidade de tirar do papel um dos principais eventos do país acerca deste tema de forma interdisciplinar e totalmente conectada.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.