Novas ferramentas no combate à infecção pulmonar grave

Novas ferramentas no combate à infecção pulmonar grave

Em seu novo artigo, a infectologista Rosana Richtmann faz um apanhado geral sobre o vírus sincicial respiratório (VSR) e a chegada de novas vacinas

By Published On: 01/05/2024
VSR - Artigo Rosana Richtmann

Foto: Adobe Stock Image

Com o título desse artigo, estamos falando da chegada de duas novas vacinas contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – uma para população 60+ e outra que atinge esse mesmo público, mas agrega também seu uso nas gestantes com a finalidade de proteção do recém-nascido nos 6 primeiros meses de vida.

Mas, afinal, o que é o VSR? O VSR é um vírus transmitido por secreções respiratórias. É uma causa comum de infecção do trato respiratório superior e inferior, especialmente a bronquiolite nas crianças pequenas e pneumonia nos adultos e crianças. Infecções repetidas são comuns ao longo da vida porque a infecção natural não confere imunidade. O VSR cocircula com outros vírus respiratórios, como a Influenza e o Sars-CoV-2.

A carga mais elevada da doença por VSR ocorre entre crianças muito pequenas e idosos. As taxas de hospitalização diminuem com a idade após a primeira infância, aumentando novamente a partir dos 60 anos de idade, sendo mais grave a medida que envelhecemos.

Em adultos, o VSR geralmente causa sintomas de infecção do trato respiratório superior, como tosse, dor de garganta e dor nasal, congestão, semelhante a outros vírus respiratórios.

Outro aspecto importante é que cerca de 30% dos pacientes hospitalizados infectados pelo VSR também apresentam coinfecção bacteriana, aumentado a gravidade e uso de antibióticos.

“Você pode nunca ter visto o VSR, mas certamente ele já te viu…”

Esta é uma frase que costumo utilizar para agentes infecciosos comuns, mas de certa forma desconhecidos.

É um vírus comum e silencioso, transmitido principalmente por meio de gotículas pela tosse/espirro de uma pessoa contaminada ou contato com uma superfície contaminada. Embora cause sintomas leves e semelhantes aos do resfriado, o VSR pode colocar adultos com 60+ sob riscos mais graves, como a pneumonia.

Entre 2020 e 2022, foram notificados mais de 30.000 casos de VSR-SRAG no Brasil. Embora o impacto e a incidência do VSR em crianças sejam bem mais conhecidos, a letalidade em adultos com 60+ (20,7%) pode ser até 19x maior do que em crianças (0,96%).

A gravidade da infecção: quem são os adultos 60+ mais vulneráveis?

Portadores das seguintes condições médicas:

– Doenças cardíacas: doença cardíaca congênita, insuficiência cardíaca congestiva, artéria coronária

– Doenças respiratórias crônicas: doença pulmonar supurativa, bronquiectasia, fibrose cística, crônica doença pulmonar obstrutiva, enfisema crônico, asma grave (exigindo consultas médicas frequentes ou o uso de múltiplas medicações)

– Condição de imunocomprometimento como pacientes vivendo com HIV/aids, malignidade ou câncer, imunocomprometimento devido a doença ou tratamento, asplenia ou disfunção esplênica, transplante de órgãos sólidos, transplante de células-tronco hematopoiéticas, terapia com células CAR-T

– Distúrbio metabólico crônico como o diabetes tipo 1 ou 2

– Doença renal crônica

– Condições neurológicas crônicas: doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso central, convulsões, lesões da medula espinhal, distúrbios neuromusculares, todas estas condições que claramente aumentam o risco de infecção respiratória grave.

Além destas condições acima citadas para os 60+, temos conhecidas doenças e transtornos causados pelo VSR em lactente jovem. Neste cenário, a infecção primária pelo VSR geralmente ocorre até os 2 anos de idade. É uma das principais causas de hospitalização por pneumonia e bronquiolite em bebês abaixo de 6 meses de vida. Embora crianças com certas condições médicas apresentem maior risco de doença grave, a maioria das hospitalizações relacionadas ao VSR ocorre em crianças que estão saudáveis.

Assim, a vacinação da gestante entre 24 e 36 semanas de gestação tem por finalidade a proteção do bebe nos seus primeiros 6 meses de vida.

As vacinas contra VSR

Temos aprovação pela ANVISA de duas vacinas para prevenção do VSR:

Vacina Arexvy (GlaxoSmithKline): é uma vacina recombinante com adjuvante, que quer dizer que não tem componente vivo e é especifica para população 60+. Previsão de dose única, com eficácia de 83% de não apresentar pneumonia pelo VSR e de 94% menos probabilidade de ter infecção grave associada ao VSR (na primeira temporada do VSR, 10 meses). Com acompanhamento até 22 meses após a vacinação, a eficácia da vacina reduz para 67%. A vacina foi bem tolerada, embora mais de 60% dos vacinados apresentem reação local e 30% apresentaram fadiga pós vacinação. Pode ser aplicada concomitante com outras vacinas.

Vacina Abrysvo (Pfizer): é considerada uma vacina bivalente (antígeno para VSR A e B), em dose única e com o objetivo de proteção passiva de bebês (através da imunização materna) e proteção direta de adultos 60+.  A vacina deve ser aplicada nas gestantes durante o segundo ou terceiro trimestre – ela foi licenciada no Brasil para gestantes entre 24 e 36 semanas de gestação e a proteção indireta do lactente se deu por 6 meses. A vacina não é aplicada diretamente nos bebês. A eficácia foi de 86%, semelhante a vacina já descrita, e também apresentou eventos adversos locais e sistêmicos como dor de cabeça e dor muscular.

Teremos acesso a esta nova ferramenta de proteção?

Aqui entra um problema importante… acesso!

Por ser uma vacina de elevado custo, o acesso inicialmente será muito restrito, somente em clínicas privadas. Imagino que com a disponibilidade de mais dados nacionais sobre a circulação e impacto do VSR na população de alto risco, teremos dados para propor acesso gratuito a população específica.

Enquanto isso, não podemos deixar de fazer as outras vacinas já disponíveis e de fácil acesso para outras infecções respiratórias, como a influenza (gripe) e pneumococo.

Fale com seu médico!

Rosana Richtmann

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

About the Author: Rosana Richtmann

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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  • Vivian Lee

    Vivian Kiran Lee é diretora executiva de medical affairs da Takeda. Assumiu a posição no início de maio de 2022 e faz parte do Brazil Leadership Team da Takeda. Sua última experiência foi em Bogotá, na Colômbia, onde atuou como Diretora Médica dos países Andinos e Centro América, para São Paulo. Vivian traz sólida expertise na prática clínica, em assuntos médicos, Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento, Programa de Suporte ao Paciente, Informações Médicas e Code Compliance. Com mais de 25 anos de experiência na indústria farmacêutica, ela passou por empresas como MSD, Novartis, Schering-Plough e Bayer com atuação em diversas áreas terapêuticas como Cardiologia, Pneumologia, Oncologia, Reumatologia, Hematologia, Vacinas, Oftalmologia, Saúde Feminina e Diabetes. Antes de ingressar no mercado farmacêutico, Vivian atuou por sete anos como pediatra e pneumologista pediátrica no Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). A executiva é formada em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestre em Pediatria e Pneumologia Pediátrica pela FMUSP, especialista em Acupuntura Médica pela CEIMEC- Associação Médica Brasileira. Vivian iniciou sua carreira na indústria em Serviços Médicos e posteriormente como Gerente de Produto.

  • Natalia Cuminale

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  • Isabelle Manzini

    Graduada em jornalismo pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Atuou como jornalista na Band, RedeTV!, Portal Drauzio Varella e faz parte do time do Futuro da Saúde desde julho de 2023.

Rosana Richtmann

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha