Trump escolhe representantes para a área da Saúde; conheça seus perfis
Trump escolhe representantes para a área da Saúde; conheça seus perfis
Indicados incluem nome para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos e órgãos e agências reguladoras, como o FDA e o CDC, e institutos de pesquisa em saúde.
Donald Trump anunciou, nas últimas semanas, os principais nomes para compor o seu governo a partir de janeiro de 2025, entre eles, os da pasta da Saúde. Além de Robert Kennedy Jr para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS), foram anunciados os nomes de Mehmet Oz para comandar o centro que administra os serviços Medicare e Medicaid, de Martin Makary para a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), de Dave Weldon para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e de Jay Bhattacharya para os Institutos Nacionais de Saúde (NIH).
Se confirmados pelo Senado, esse time terá papel central na implementação da agenda do novo governo que prometeu, durante sua campanha, mudanças substanciais na saúde dos Estados Unidos. Conhecer o seu perfil pode dar indicativos da direção que políticas e programas de cuidado à saúde e investimento em pesquisa em saúde tomarão nos próximos anos.
Kennedy Jr. no comando da Secretaria de Saúde
A escolha de Robert F. Kennedy Jr., ou RFK Jr., foi a primeira anunciada pelo governo Trump, em 14 de novembro. O sobrinho do ex-presidente John Kennedy e filho de Robert Francis Kennedy é ex-senador de Nova York e advogado, com uma trajetória ligada ao ambientalismo. Nos últimos anos, ele ficou conhecido pelo seu ativismo antivacina.
Kennedy fundou a organização sem fins lucrativos Children’s Health Defense (Defesa da Saúde das Crianças, em português), que tem como missão principal “acabar com problemas de saúde de crianças, eliminando a exposição a substâncias tóxicas”. Dentre esses fatores de exposição alegados pelo site da organização estão as vacinas, que contém “numerosas substâncias preocupantes, como alumínio, mercúrio, células abortivas e antibióticos”.
Segundo a NBC News, o ex-senador tem um histórico de compartilhamento de desinformação sobre vacinas e outros tópicos. Em falas públicas, já questionou a segurança e eficácia de vacinas de rotina reiterando, em particular, que vacinas infantis contra rubéola e catapora causam autismo — teoria não comprovada pela ciência. Ele também defende publicamente os benefícios da quelação para o tratamento do autismo. A técnica consiste na retirada de metais pesados do sangue e seu uso para essa doença específica não tem comprovação científica. Inclusive, Kennedy editou um livro em 2015 sobre essas teorias, conforme reportagem do Seattle Times.
Durante a pandemia, RFK Jr. chegou a dizer que a vacina da covid-19 era a que mais causava mortes e foi defensor do uso da hidroxicloroquina e ivermectina como tratamento para a doença. Na época, ele também disse que o vírus poderia ser uma arma biológica feita para poupar somente judeus e chineses, segundo o New York Post.
Caso confirmado como secretário de saúde, RFK Jr. deve reformar as agências de saúde, de acordo com Trump. Um dos focos será o FDA. Segundo a agência Reuters, Kennedy Jr. acusa o órgão de ser influenciado por interesses corporativos das indústrias farmacêutica e alimentícia. Em seu perfil na rede social X, ele afirmou que “a guerra do FDA contra a saúde pública está prestes a terminar”. Outro ponto que ele promete avançar é na transparência de informações que ajudem os norte-americanos a tomar decisões sobre sua saúde.
No anúncio de sua nomeação no Truth Social, Donald Trump escreveu que a “segurança e saúde de todos os americanos é o papel mais importante de qualquer administração, e o HHS desempenhará um grande papel em ajudar a garantir que todos sejam protegidos de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para a esmagadora crise de saúde neste país”.
Dr. Oz à frente do Medicare e Medicaid
O escolhido para comandar o Centro para o Medicare e Medicaid (CMS) é uma figura conhecida dos telespectadores norte-americanos. Mehmet Oz, chamado de Dr. Oz, é um médico especializado em cirurgia cardíaca que participou de diversos programas televisivos, entre eles, o “The Oprah Winfrey Show”, tendo, inclusive seu próprio talkshow. Com início em 2009, o “The Dr. Oz Show” teve 13 temporadas.
Graduado pela Universidade de Harvard, Oz chegou a liderar o Centro Médico Presbiteriano de Nova Iorque, à frente de pesquisas voltadas à cirurgia cardíaca, medicina complementar e política de assistência médica. Ele também estabeleceu, em 1994, e dirigiu o Instituto Cardiovascular e Programa de Medicina Integrativa da Universidade de Columbia, também na cidade de Nova Iorque.
Dividido entre cargos em institutos médicos e televisão, nos últimos tempos declarações sem comprovação científica em programas de TV renderam ao Dr. Oz conflitos com a comunidade médica. Segundo relata o site especializado em medicina MedPage Today, em 2015, colegas acadêmicos escreveram uma carta pedindo à Columbia pela expulsão de Oz. O documento alegava que o médico tratava “a ciência e a medicina baseada em evidências com desdém e promovia tratamentos e curas fraudulentos”. Ele, inclusive, foi chamado por um comitê do Senado dos Estados Unidos de Proteção ao Consumidor, Segurança de Produtos e Seguros, em 2014, para testemunhar devido a uma propaganda inverídica sobre as vantagens dos grãos de café verde, divulgada no seu talkshow.
Sua relação com a universidade acabou em 2022, mesmo ano em que o cirurgião se aproxima de Donald Trump. Na ocasião, Oz concorria a uma cadeira no Senado da Pensilvânia e teve sua candidatura endossada por Trump. A candidatura, porém, não teve sucesso.
Se sua nomeação para o novo governo se efetivar, Oz irá liderar a administração dos programas de seguro saúde dos Estados Unidos, o que inclui o Medicare e o Medicaid, o Programa de Seguro Saúde Infantil e seguros saúde regidos pela Lei de Assistência Médica Acessível, o Affordable Care Act. Segundo dados da The Kaiser Family Foundation (KFF), em 2023, cerca de 49 e 69 milhões de pessoas vivendo no país norte-americano usavam o Medicare e o Medicaid.
No FDA, Martin Makary
O médico Martin Makary, professor da Universidade John Hopkins, deve assumir o FDA, órgão regulador de alimentação e medicamentos dos Estados Unidos. Apesar de não ser tão televisivo como o Dr. Oz, Makary ganhou visibilidade pela escrita de livros sobre o sistema de saúde, entre eles, o bestseller do The New York Times de 2019 “The Price We Pay: What Broke American Health Care – and how to fix it” (“O preço que pagamos: o que quebrou o sistema de saúde americano – e como consertar isso”, em português). Ele também é conhecido no meio médico por ter implementado, nos anos 2000, o “The Surgery Checklist”, uma lista a ser seguida antes de uma operação cirúrgica para reduzir erros médicos.
Durante a pandemia, Makary chamou atenção pelo seu posicionamento contra as medidas sanitárias, como o uso de máscaras e o lockdown. Segundo a CBS News, embora não tenha sido contrário à vacinação de covid-19, o médico cirurgião era reticente à aplicação da vacina em crianças. Mais recentemente, ele tem se posicionado contra a prescrição excessiva de drogas, o uso de pesticidas na alimentação e a influência de farmacêuticas em órgãos regulatórios e na comunidade médica.
Se confirmado como chefe do FDA, Makary será responsável por regular alimentos, vacinas e outros medicamentos, dispositivos médicos e produtos de tabaco. Ele também responderia a RFK Jr., que já sinalizou que sua agenda para o FDA pode incluir flexibilização da regulamentação do leite cru, escrutínio extra aos dados de segurança de vacinas e pressão para eliminação das taxas de usuário de empresas de medicamentos e dispositivos que ajudam a financiar a agência.
Dave Weldon para o CDC
A escolha de Trump para chefiar o CDC, centro de controle e prevenção de doenças, é Dave Weldon. O médico tem um histórico na política, tendo representado a Flórida no Congresso por sete mandatos, de 1995 a 2008. Neste período, o congressista trabalhou em matérias legislativas sobre temas como segurança de vacina e aborto. Ele também criou um projeto de lei que propunha realocar as pesquisas sobre vacinas feitas no CDC para um centro independente.
Um tese defendida por ele nos anos em que esteve no Congresso é a de que o timerosol, composto de vacinas, causava autismo. O próprio CDC tem uma publicação no seu site afirmando que o ingrediente não tem relação com o desenvolvimento da condição. Na época, o Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências divulgou um relatório com esclarecimentos sobre essa desinformação. Weldon, no entanto, manteve sua posição e, segundo o The Wall Street Journal, comentou, em resposta, que o “relatório não me impedirá de cumprir meu compromisso de garantir que isso seja totalmente investigado, nem acabará com as preocupações dos pais que acreditam que seus filhos foram prejudicados por vacinas contendo mercúrio ou pela vacina tríplice viral”. Ele também afirmou que o documento era “perigosamente dependente da epidemiologia, baseado em informações preliminares incompletas e poderia, em última instância, ser repudiado”.
Já no campo da saúde reprodutiva feminina, o ex-congressista fez passar no Congresso Federal o Weldon Amendment, uma emenda ativa desde 2005 que barra fundos de financiamento do HHS para programas federais, estaduais ou locais que discriminam planos de saúde, instituições ou profissionais que se recusam a cobrir, fornecer ou encaminhar mulheres para abortos. Entidades em defesa dos direitos reprodutivos, como o Guttmacher Institute, se posicionam contra a emenda, alegando que ela prejudica o acesso a proteções legais e à saúde, além de violar a ética médica de cuidado e facilitar a discriminação de pacientes. Segundo o National Woman’s Law Center, a lei tem sido usada para punir estados norte-americanos pró-aborto, com perda de verbas.
Caso sua indicação seja confirmada pelo Senado, Weldon terá influência sobre políticas de vacinação e outras ações importantes desenvolvidas pelo CDC, como o mapeamento de epidemias de doenças infecciosas. Ao indicá-lo, Trump disse que sua atuação deve restaurar o órgão para seu “verdadeiro propósito” e que o nomeado trabalhará para acabar com a epidemia de doenças crônicas. “A atual saúde dos americanos é crítica, e o CDC irá ter um grande papel em ajudar a garantir que os americanos tenham as ferramentas e recursos que necessitam para entender as causas das doenças e a solução para curá-las. Dave irá priorizar a transparência, competência e altos padrões no CDC”, disse no post de nomeação da rede social.
Jay Bhattacharya para o Institutos Nacionais de Saúde
Para estar à frente dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, Trump indicou o nome do professor da universidade de Stanford Jay Bhattacharya. Com um PhD em economia por Stanford, o estudioso desenvolve pesquisas sobre economia da saúde, com foco na saúde e bem-estar de populações vulneráveis a partir de uma perspectiva de programas governamentais e economia, segundo consta no seu currículo. Ele também tem se debruçado, recentemente, sobre a epidemiologia da pandemia de Covid-19 e avaliação da resposta governo no contexto da crise sanitária.
Em 2020, Bhattacharya foi um dos críticos às políticas de lockdown e ao fechamento de escolas. Ele assinou, junto com outros dois cientistas, a declaração Great Barrington, um manifesto a favor da imunidade de rebanho. Segundo o documento, num momento em que vacinas ainda não estavam disponíveis, a estratégia mais eficiente para combater a epidemia nos Estados Unidos seria a de proteger a população mais vulnerável, enquanto a disseminação do vírus entre os mais jovens fazia crescer a imunidade na população. Na época, o manifesto foi assinado por cerca de 6 mil especialistas, de acordo com a BBC.
Assim como as outras nomeações, a indicação de Bhattacharya espera confirmação do Senado. Caso isso aconteça, ele estará à frente do maior centro global de pesquisa biomédica, que conta com um orçamento anual de US$48 bilhões. Além de possuir 27 unidades de pesquisa em áreas como câncer, genoma, doenças infecciosas e saúde mental, o NIH também financia pesquisas científicas em universidades e instituições espalhadas pelos Estados Unidos.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.