Mulheres ocupam 35% dos altos cargos de liderança em empresas no setor farmacêutico, mostra pesquisa
Mulheres ocupam 35% dos altos cargos de liderança em empresas no setor farmacêutico, mostra pesquisa
Levantamento sobre liderança feminina no setor farmacêutico também mostra que 47% dos postos de coordenação ou supervisão e 38% dos postos de gerência são ocupados por mulheres
A discussão sobre diversidade de gênero tem ganhado espaço na atualidade, inclusive, na saúde. A maioria das indústrias farmacêuticas está atenta ao tema, mas a presença feminina nos altos cargos das organizações ainda é baixa. Segundo pesquisa organizada pelo movimento LeaderShe, em parceria com o Sindusfarma, apenas 35% dos altos postos de companhias farmacêuticas no país são ocupados por mulheres, embora elas sejam 51% da força de trabalho desta indústria. Os dados foram divulgados na última sexta-feira, 29, durante o evento SheTalks, que debateu a diversidade dentro de empresas.
O levantamento foi realizado nos meses de junho e julho de 2024 com a participação de 95 empresas da indústria, o que representa 70% do mercado em faturamento.
De acordo com a análise, houve um crescimento de 3% na ocupação de cargos de alta gestão por mulheres neste setor em relação ao estudo do ano anterior. Os dados também revelam que a presença de mulheres nas posições de liderança vai diminuindo conforme sobe o nível do cargo. O nível mais baixo, de coordenação e supervisão, tem a participação de 47% das mulheres que trabalham nas empresas farmacêuticas. Essa percentagem cai para 38% no nível gerencial, intermediário, e para 35% nos níveis mais altos.
Os números mostram, ainda, as áreas da indústria farmacêutica com maior concentração de dirigentes femininas. Na liderança, se destaca a área de Recursos Humanos (73% das lideranças são mulheres), seguida por Compliance (62%), Comunicação (62%), Marketing (59%) e Assuntos Médicos (56%). Por outro lado, as áreas com menor presença de lideranças femininas são as de Tecnologia (25%), Financeiro (26%), Presidência (CEOs, 30%) e Acesso (32%). Segundo os dados, 45% de mulheres foram contratadas ou promovidas nos últimos 12 meses, um crescimento de 3% em relação ao ano anterior. Delas, 45% para coordenação ou supervisão, 41% para gerência e 29% para cargos de alta liderança como diretoria, presidência ou vice-presidência.
A participação feminina na indústria farmacêutica é superior a outras indústrias, comenta Heloísa Simão, chairwoman do LeaderShe. “Isso não significa que nós estamos bem ou, por outro lado, que não temos oportunidades. Acho que vamos estar bem quando tivermos 50-50. Hoje, na indústria farmacêutica, as mulheres estão entrando bastante no primeiro nível gerencial, mas ainda temos oportunidade de crescimento em algumas áreas”, analisa Simão, que também é membra do conselho da Blanver.
Heloísa, que está no setor farmacêutico há algumas décadas, viu a inclusão feminina acontecer aos poucos. O início de sua carreira partiu de um ambiente no qual ela era praticamente a única mulher atuante. “Então, hoje eu vejo muita diferença. Eu vejo que as mulheres estão começando a carreira muito diferente do meu começo, quando eu era a única mulher em muitos ambientes”, relata.
Programas voltados para elas nas empresas
A pesquisa organizada pela LeaderShe também apresenta dados relacionados aos programas e composição de benefícios em prol de assistir e impulsionar as colaboradoras que compõem o time. Das empresas entrevistadas pelo levantamento, 63% dizem possuir benefícios para mulheres. Eles são adicionais à legislação e/ou estabelecidos por convenção coletiva de trabalho e contemplam: salas de amamentação (33%), programa de apoio às gestantes (33%), bem como auxílio-babá (30%) e programas dedicados ao retorno do período de licença-maternidade (21%).
Segundo a pesquisa, 36% das empresas participantes possuem objetivos específicos para a presença de mulheres na organização e o desenvolvimento de lideranças femininas. Uma das formas mais comuns de motivar essa diversidade é garantindo um número mínimo de presença feminina em cargos de liderança — 29% das empresas entrevistadas dizem aplicar essa iniciativa. Outra ação bem cotada entre as empresas é a de garantir um número mínimo para contratações (22%) ou aumentar a representativa feminina num período definido (21%).
“A sociedade está mudando radicalmente e rapidamente. Se você não tiver uma adaptação da cultura e da consciência das empresas de que a diversidade é um fator diferencial porque traz inovação, essas empresas não sobrevivem. Então, elas estão começando a entender que a diversidade é também importante para o negócio, para a lucratividade e começam, assim, a apoiar esse perfil da mulher”, comenta Simão.
A chairwoman da LeaderShe conta que muitas empresas têm bons programas de diversidade, como a Eurofarma, que aderiu recentemente ao movimento de equidade de gênero e raça do Pacto Global da ONU. Outras, no entanto, ficam para trás, por falta de contato com o assunto e presença feminina em lideranças. Simão acredita que a presença de mulheres em certos espaços aumenta a chance do tema ganhar importância: “Enquanto você tiver mulheres lá dentro que começam a se mobilizar, começam a conquistar espaço, essa mudança de mentalidade vai acontecer”.
Além dos programas, também é importante ter formas de medir os avanços da diversidade dentro das empresas, por meio de indicadores, comenta Simão. E aqui há um certo déficit, pois somente 34% das empresas participantes da pesquisa declararam ter métricas bem definidas para fazer essa avaliação. “O pessoal se preocupa ‘vamos fazer workshop, vamos fazer discussão’, mas não tem métrica, não se mede a evolução. Bacana convidar alguém para falar, fazer palestra, mas, efetivamente, o que estamos fazendo para trazer mais mulheres, retê-las e incluí-las na indústria farmacêutica?”, questiona Helena.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.