Moderno é envelhecer

Moderno é envelhecer

Em artigo exclusivo para Futuro da Saúde, Maely Coelho, presidente da MedSênior, escreve sobre as mudanças de abordagem para envelhecer de forma saudável

By Published On: 03/09/2024
Moderno é envelhecer - Artigo de Maely Coelho, presidente da MedSênior

Foto: Adobe Stock Image

O cantor, compositor e poeta Arnaldo Antunes, 63 anos, estava prestes a completar 50 quando transformou em música o sentimento que tinha a respeito do envelhecimento. Na gravação de um disco ao vivo, chegou a brincar, dedicando a canção “Envelhecer” a si mesmo e a todos aqueles que “enfrentam e afrontam” o seu medo de envelhecer. A pauta, proposta pelo artista, segue ainda mais atual, como diz a própria letra, na medida em que experimentamos, como sociedade e como país, o processo de envelhecimento populacional.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostram que, em 10 anos, o número de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população. Esse crescimento é impulsionado, em parte, pela redução das taxas de natalidade, resultando em uma transformação significativa na estrutura etária do Brasil. As projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, até 2060, cerca de 32% da população brasileira terá mais de 60 anos.

Para além do nosso contexto, o aumento da população idosa é um fenômeno global. Entre 2015 e 2050, a proporção da população mundial com mais de 60 anos quase dobrará, passando de 12% para 22%. Em 2019, o número de pessoas com 60 anos ou mais era de 1 bilhão, e esse número está projetado para aumentar para 1,4 bilhão até 2030 e 2,1 bilhões até 2050, segundo dados do relatório da World Health Organization (WHO).

Ainda segundo levantamento da entidade global, a expectativa média de vida no mundo aumentou para 72,6 anos em 2019, com as mulheres vivendo em média 5 anos a mais que os homens. Este aumento reflete melhorias nas condições de vida e avanços na medicina, mas também traz desafios relacionados à qualidade de vida na terceira idade. Manter-se ativo e saudável é essencial para aproveitar esses anos com qualidade.

Vale ressaltar que, até 2050, 80% das pessoas idosas estarão vivendo em países de baixa e média renda, enfrentando desafios específicos relacionados ao acesso a cuidados de saúde e suporte social.

Uma mudança demográfica dessa proporção terá profundas implicações — e já vemos demonstrações disso — em várias áreas, da saúde à economia. É um fórum que exige a construção de uma estratégia nova de cuidado populacional, uma pauta abrangente que precisa mobilizar diversos setores da sociedade com impacto prático para além da saúde, nos campos cultural e social, e engajamento de governos e empresas.

Uma nova fase

Se caminhamos rumo ao envelhecimento, tanto como indivíduos quanto como nação, não seria contraditório continuar encarando esse processo com preconceitos e tabus? Se queremos não apenas viver mais, mas também viver melhor, precisamos revisar nossa perspectiva sobre o envelhecimento.

É fundamental entender que envelhecer não precisa ser sinônimo de “aposentar-se” da vida. Pelo contrário, pode ser um período de florescimento, de encontrar novos propósitos, de buscar outros aprendizados e de dedicar tempo ao que se gosta. Para isso, mais do que envelhecer, é preciso “bem envelhecer”. E bem envelhecer é um conceito que vai além da saúde física, apesar de ela ser um ingrediente fundamental. Estudos mostram que a atividade física regular, como caminhadas e exercícios de resistência, pode reduzir o risco de doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida dos idosos.

De forma prática, no dia a dia, o hábito de caminhar diariamente pode ser um excelente ponto de partida para melhorar o condicionamento físico na terceira idade. Estudos indicam que idosos que caminham regularmente têm menor probabilidade de desenvolver problemas de saúde relacionados à idade, como hipertensão e diabetes. Além disso, uma alimentação saudável e equilibrada é essencial para manter a saúde e o bem-estar.

Outra evidência no tema está em um estudo realizado pela Harvard T.H. Chan School of Public Health, que descobriu que adultos que se envolvem em pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana têm uma expectativa de vida significativamente maior em comparação com aqueles que são sedentários. A atividade física regular pode aumentar a longevidade em até 4,5 anos, dependendo da intensidade e frequência do exercício.

Além dos cuidados com a saúde física, as pesquisas têm, cada vez mais, mostrado que é essencial manter uma vida social ativa. O isolamento social é um fator de risco significativo para a saúde mental dos idosos, podendo levar à depressão e outros problemas de saúde. Manter e criar novas conexões sociais, participar de atividades comunitárias e continuar engajado em hobbies e voluntariado são maneiras eficazes de promover um envelhecimento saudável e ativo.

Afinal, como bem disse a música, “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”. E, da minha parte, sou muito feliz de poder hoje, aos 74 anos, me dedicar a um negócio em prol do bem envelhecer, que iniciei quando tinha 60.

E o que desejo é que, como pessoas e como nação, saibamos reconhecer esse privilégio, seja vivendo o envelhecimento de forma plena, seja respeitando e acolhendo quem já envelheceu, seja, principalmente, construindo uma sociedade mais amigável para o envelhecimento.

*Maely Coelho empreende há mais de 40 anos e é presidente da MedSênior. 

Maely Coelho

Maely Coelho empreende há mais de 40 anos e é presidente da MedSênior.

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Maely Coelho empreende há mais de 40 anos e é presidente da MedSênior.

3 Comments

  1. Denise Monteiro 05/09/2024 at 09:18 - Reply

    Perfeito, texto bem reflexivo para nos que já passamos dos 50 e caminhamos para um envelhecimento muito diferente do que vimos em nossos pais .

  2. Victor Hugo 05/09/2024 at 11:42 - Reply

    Estamos trabalhando para mudar o futuro. A J.O.24×7 está a caminho desse entendimento que de tão simples é desacreditado. Envelhecer é estar bem orientado.

  3. Ana Zuccaro 05/09/2024 at 19:44 - Reply

    excelente!

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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