Evidências mostram que metas realistas e estratégias individualizadas são caminho para o tratamento da obesidade

Evidências mostram que metas realistas e estratégias individualizadas são caminho para o tratamento da obesidade

Por ser uma doença crônica complexa e multifatorial, a obesidade demanda plano de ação que contemple o indivíduo e seu ambiente

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By Published On: 19/02/2024
Metas realistas e individualizadas são chave para perda de peso - Novo Nordisk

Ano novo, vida nova é um mantra que faz parte da tradição popular pelo mundo todo. Muitos aproveitam essa oportunidade como combustível para evoluir em diversos aspectos da vida, como carreira, finanças, estudos e relacionamentos. Mas um deles se destaca: a busca por uma saúde melhor. Um levantamento feito pela Forbes com mil adultos norte-americanos mostrou que quatro das cinco metas mais citadas para 2024 estão relacionadas a uma vida mais saudável – alcançar a boa forma é prioridade para 48% dos entrevistados, seguido por melhorar a saúde mental, perder peso e fazer dieta.

Estabelecer metas claras é um passo importante para mudar hábitos, mas ter força de vontade pode não ser suficiente para mudar comportamentos de longa data. Há alguns anos, inclusive, a plataforma esportiva Strava, que apoia pessoas no acompanhamento de dados de corrida e atividades físicas, estudou os hábitos dos usuários e identificou um padrão de que demorava cerca de três semanas para boa parte desistir dessas metas. A data ficou conhecida como Quitters Day ou Dia da Desistência, em tradução livre.

Para a obesidade, isso tem um caráter ainda mais complexo, uma vez que ela é uma doença crônica e multifatorial que demanda uma abordagem completa do indivíduo. “A obesidade é uma doença que tem um componente biológico e genético muito forte. Fatores hormonais e até mesmo a microbiota, as bactérias presentes no intestino do indivíduo, desempenham um papel na obesidade. Resumir a causa dessa condição à falta de vontade é um engano muito grande”, afirma Tássia Gomide Braga, doutora em endocrinologia e gerente médica para obesidade na Novo Nordisk. “A ciência evoluiu o suficiente para que a gente consiga entender hoje que há uma gama de fatores que influenciam na incidência dessa doença crônica”.

Isso não quer dizer que traçar um propósito não seja uma opção para pessoas com obesidade, pelo contrário. Essa atitude tem um impacto positivo no engajamento para melhorar indicadores de saúde, mas é preciso entender como definir essas metas, traçar estratégias reais e ter uma rede de apoio – especialmente de profissionais – para torná-las realidade.

“A fisiopatologia da própria condição é muito complexa e resistente, por isso muitas vezes escutamos casos em que a pessoa perdeu peso, mas depois ganhou tudo novamente. É porque envolve mecanismos de adaptação metabólica, neurotransmissores, outras coisas que vão se somando”, explica Fabio Trujilho, endocrinologista e vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

Por isso, segundo ele, é necessário mais do que mudar a dieta ou acrescentar atividades físicas na rotina para atingir determinadas metas. E, mais do que isso, é preciso avaliar quais delas fazem sentido para a realidade do indivíduo e, a partir daí, traçar um plano de ação. Até porque, como ressalta Braga, “além da perda de peso, ter esse paciente engajado é importante para o rastreio de outras comorbidades, para avaliar as necessidades de adaptação de rotina de alimentação, atividade física, sono, estresse.”

Foco em metas realistas e na individualidade

Neste contexto, o entendimento do cenário de cada pessoa costuma indicar caminhos importantes para definir uma estratégia realista, efetiva e com potencial maior de engajamento. E muitas vezes esse processo começa com a missão de conhecer informações e evidências para a execução dos planos e derrubada de mitos, como o de que os benefícios só serão sentidos com uma perda de peso muito drástica.

Hoje já há estudos robustos que comprovam que a redução de peso traz ganhos desde os primeiros estágios:

  • Ao reduzir cerca de 5% já há melhora nos indicadores de hipertensão e hiperglicemia;
  • De 5% a 10% há reflexos na prevenção do diabetes tipo 2 e da esteatose hepática;
  • De 10% a 15% há redução dos riscos de desenvolver doenças cardiovasculares, esteatohepatite associada a disfunção metabólica, também conhecida como MASH ou NASH e osteoartrite no joelho;
  • E acima de 15% há até mesmo remissão de diabetes tipo 2, melhora de insuficiência cardíaca e redução de mortalidade por doenças cardiovasculares.

“Às vezes, o paciente está pesando 100 quilos, faz os cálculos e vê que o seu peso ideal seria 60 quilos. Mas ele não precisa perder tudo isso para começar a ter benefícios de saúde. Se ele perder quatro, cinco quilos, já começa a sentir a diferença. Ele vai dormir melhor, vai ter uma melhora da diabetes. É claro que quanto mais peso ele perder, maiores os benefícios, mas é preciso trabalhar com expectativas realistas”, pontua Trujilho.

A participação de um médico nessa jornada pode alavancar os resultados ao contribuir com a avaliação de quais acessos esse paciente possui, como é sua rotina, quais são seus indicadores atuais e quais devem ser as prioridades. Mais do que o médico, uma equipe multidisciplinar formada por endocrinologista, nutricionista, educador físico e psicólogo consegue avaliar com uma visão ampla todos os fatores que interferem no rumo da doença, de forma que haja sintonia no tratamento e que o paciente esteja de fato no centro da abordagem.

Mas, devido às iniquidades de acesso à saúde no país, essa abordagem com vários profissionais nem sempre é possível pelo SUS. O vice-presidente da ABESO orienta que, diante da impossibilidade do acompanhamento transdisciplinar, o primeiro passo é procurar o profissional disponível mais acessível no sistema.

“Comece com o que está mais próximo. Se o profissional tem credibilidade, se está dentro da sua realidade, vá nele. Ele vai desenhar juntamente com o paciente estratégias possíveis naquele contexto, até que essa pessoa consiga ter acesso às demais especialidades. O importante é ter uma boa orientação para iniciar essa mudança de vida”, aconselha Trujilho.

Preparação de profissionais e redução do estigma

Além da disponibilidade, há ainda a necessidade de preparo do profissional de saúde para acolhê-lo e orientá-lo – desafio que, neste caso, vale para todo o sistema, não apenas o público. O ambiente da saúde não é imune ao estigma em torno da obesidade e muitos trabalhadores da área ainda têm dificuldade de acolher estes pacientes da maneira correta. Mais do que a comunicação, a própria abordagem sobre a possibilidade de intervenção deve ser feita de maneira a convidar o indivíduo a refletir sobre a condição e então construir juntos estratégias para atingir os objetivos definidos.

A ideia não é de imposição ou culpabilização, é de parceria, como lembra Braga: “O relacionamento do profissional de saúde com o paciente não pode ser baseado em culpa pela condição ou por deslizes que ocorram ao longo do tratamento. O contexto daquela pessoa de forma geral, como o socioeconômico, quais emoções estão envolvidas ali, como é a rotina desse paciente, tudo isso deve ser considerado. É preciso criar de fato uma relação de troca e de confiança com o paciente e basear o acompanhamento em empatia, valorizando a individualidade dessa pessoa.”

O desafio da sensibilização e do aspecto cultural que ainda impacta o tratamento e a abordagem da obesidade realizada por uma parcela dos profissionais de saúde foi destaque no novo “Manual de atenção às pessoas com sobrepeso e obesidade no âmbito da atenção primária à saúde do sistema de saúde único (SUS)”. O tópico “formação e educação permanente” salienta a importância de os profissionais de saúde desenvolverem e treinarem as habilidades de aconselhamento em intervenções sobre perda de peso – do gestor de unidade a profissionais administrativos e de suporte – “para evitar situações de discriminação e preconceito com os usuários com sobrepeso e obesidade.”

Dentre os instrumentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde estão cursos à distância na plataforma UNASUS e Telessaúde, que discutem o reconhecimento do sobrepeso na Atenção Primária e formas de realizar uma abordagem que não reforce a culpabilização social a qual este paciente já é submetido diariamente em inúmeros espaços sociais.

Esta preparação dos profissionais dá resultado. Uma análise publicada no European Journal of Internal Medicine realizou uma entrevista online com mais de 10 mil pessoas com obesidade, residentes de 11 países. A ideia era avaliar como a relação com os profissionais de saúde envolvidos no tratamento, o estabelecimento de metas e a autoeficácia estavam associados à motivação para perder peso. Dentre os achados, aqueles que foram acompanhados por profissionais que reconheciam uma maior responsabilidade na jornada de peso do paciente e que se sentiam confortáveis em dialogar com os profissionais se declararam mais motivados.

“Por incrível que pareça, o nosso maior desafio ainda é a estigmatização do tratamento da obesidade não só pelo paciente, mas infelizmente também na comunidade médica. A obesidade é entendida como doença não há muito tempo, e combater esses vieses que podem ser até mesmo inconscientes entre os profissionais de saúde é algo que merece a nossa atenção”, finaliza Braga.

Futuro é promissor, mas acesso ainda preocupa

Mesmo com todos os desafios, 2023 foi um ano transformador para o debate sobre obesidade, segundo ela. “A questão do paciente no centro é algo que já falávamos há algum tempo, mas hoje existe um novo conceito que nos coloca nesse lugar de escutar o paciente e entender o que é um desfecho positivo de acordo com as expectativas e realidade dele”, afirma Braga. “A gente tira o foco do médico ou de estudos baseados apenas em perda de peso e, junto com esse paciente, define quais são as metas do tratamento dele. É um conceito que veio no Congresso Europeu de Obesidade e vem se expandindo”.

Além disso, o ano passado marcou ainda a chegada de novos tratamentos para a obesidade. As expectativas são positivas para o futuro do tratamento da condição, mas é preciso discutir o acesso, como destaca Trujilho:

“É algo que tem que vir da sociedade como um todo, essa pressão sobre os nossos governantes de viabilizar o acesso a esses instrumentos que já existem. Uma vez construída essa sensibilização, acredito que vá acontecer o que aconteceu com o diabetes, com o câncer, em que mais pessoas começaram a ser treinadas, outras ferramentas passaram a serem exploradas. Mas não é algo que se resolve com uma bala de prata única. É como no futebol, é preciso montar um bom time para enfrentar o adversário.”

Ao menos o olhar sobre o enfrentamento da obesidade como uma questão de saúde pública já tem extrapolado as fronteiras dos serviços imediatos de saúde. Hoje, o foco da estratégia da linha de cuidado do paciente com sobrepeso e obesidade é na promoção de saúde, de hábitos saudáveis. Em 2021, o Ministério da Saúde lançou o primeiro Guia de Atividade Física para a População Brasileira, que traz um conteúdo educacional sobre os conceitos sobre atividades físicas e exercícios, como encaixar tais práticas no dia a dia de maneira realista e quais instrumentos públicos podem ser utilizados para este fim – como o Programa Academia da Saúde, criado em 2011.

“Se alimentar de maneira saudável e praticar exercícios é algo que todos nós precisamos fazer, desenvolver hábitos que promovam um estilo de vida mais saudável”, ressalta Trujilho.

Neste sentido, ter uma rede de apoio é uma estratégia potente para não se deixar levar pelas frustrações. “O paciente sozinho, cercado de gatilhos, vai ter uma dificuldade muito maior para continuar nessa jornada. Por isso, é importante que familiares e amigos estejam envolvidos nesse processo também, que entendam as causas da doença, as motivações daquele tratamento e saibam sobre as metas realistas estabelecidas, para oferecer apoio ao paciente”, afirma a gerente médica da Novo Nordisk.

E, voltando ao tema do ano novo, ela também reforça que deslizes fazem parte da jornada e é importante não deixar a culpa sabotar o tratamento: “Existe uma chance nesse momento de o paciente ter ou um pequeno reganho de peso, ou estacionar no tratamento dele em relação à perda de peso, e aqueles que têm algumas doenças associadas podem piorar seus marcadores. É importante o paciente entender que isso pode acontecer, mas ter em mente para onde ele deve voltar depois. Os deslizes são uma realidade, não há por que se sentir culpado. É possível voltar para o caminho planejado.”

Este conteúdo faz parte de uma série de reportagens sobre desafios e tendências das doenças crônicas não transmissíveis produzida em conjunto com a Novo Nordisk. Para acessar os demais, acesse a página especial.

BR24NNG00047

Isabelle Manzini

Graduada em jornalismo pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Atuou como jornalista na Band, RedeTV!, Portal Drauzio Varella e faz parte do time do Futuro da Saúde desde julho de 2023.

About the Author: Isabelle Manzini

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One Comment

  1. Nize Braga 19/02/2024 at 20:27 - Reply

    Muito bom o artigo

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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  • Rebeca Kroll
    Rebeca Kroll

    Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

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