Com queda de investimentos no Brasil e nos EUA, 2023 não será fácil para mercado de startups
Com queda de investimentos no Brasil e nos EUA, 2023 não será fácil para mercado de startups
O primeiro trimestre de 2023 registrou uma queda de 86% […]
O primeiro trimestre de 2023 registrou uma queda de 86% nos aportes em startups brasileiras em relação ao mesmo período do ano passado. É o que aponta o Inside Venture Capital Report, relatório da Distrito, plataforma brasileira especializada no mercado de startups. Esse resultado corrobora as expectativas de mercado que já indicavam um momento de mais seletividade por parte de fundos de investimentos – como Futuro da Saúde já reportou – tanto no mundo quanto no Brasil.
Nos primeiros três meses desse ano, o Brasil contabilizou 91 rodadas com movimentação de US$250 milhões. Durante o mesmo intervalo em 2022 foram 306 rodadas, equivalendo a US$ 1,7 bilhões em investimentos. Na área de healthtechs, de acordo com a Distrito, houve uma redução de 63% no volume de capital e de 85,6% no número de aportes com relação ao primeiro trimestre do ano anterior – o setor não figurou no top 3 dentre os que receberam aportes em 2023. Ao todo, o país fechou o ano de 2022 com US$4,4 bilhões.
Todos os setores foram atingidos e a baixa está diretamente relacionada com um contexto econômico e geopolítico desafiador, com alta global dos juros, crédito mais restrito, falência do Silicon Valley Bank (SVB) e a Guerra da Ucrânia – além da base de comparação ser alta, pois 2021 e 2022 foram patamares recordes. Esse panorama tem deixado os investidores mais seletivos ao fazer grandes investimentos e, ao mesmo tempo, tem feito com que as empresas que receberam aportes passem por um momento de integração das operações e cobrança para apresentar retornos, como aponta Eduardo Fuentes, head de research do Distrito:
“Com a elevação das taxas de juros, o custo de capital das empresas naturalmente também aumenta e, como as empresas de tecnologia possuem a maior parte de seu valor na perpetuidade (longo prazo), elas são mais sensíveis a esses aumentos. Diante desse cenário, os fundos ficaram mais criteriosos ao investir em oportunidades que tivessem métricas financeiras e operacionais mais sólidas no curto prazo e, portanto, mais tangíveis e que apresentassem menor risco”.
O executivo ainda destaca que o mercado brasileiro de inovação e tecnologia experimentou um crescimento significativo nos últimos anos, passando de pouco mais de US$ 3,1 bilhões investidos em 2018 para US$ 9,9 bilhões em 2021. Esse movimento foi resultado de uma combinação de fatores, incluindo o cenário macroeconômico favorável, com os juros na mínima histórica que tornou a classe de ativos mais interessante para os investidores e a necessidade de digitalização de produtos e serviços por parte de grandes empresas, por conta da pandemia.
Contudo, ele acredita que seja pouco provável retornar a esses patamares tão cedo: “Embora seja possível retomar esses patamares, é pouco provável que isso ocorra em um curto período. A recuperação, tanto a nível macroeconômico quanto empresarial, demanda tempo tornando improvável que o mercado alcance o mesmo patamar visto em 2021 tão rapidamente”.
Já na variação entre os estágios de investimentos, o seed-stage – o mais inicial – registrou queda de 74,2% no contraste com 2022 e baixa de 19,91% em relação ao mesmo período de 2021. No early-stage, o volume de capital investido em startups apresentou variação negativa de 92,6% em relação ao ano passado e redução de 84,16% no confronto com os números de aportes do primeiro trimestre de 2021. As startups mais maduras, consideradas rodadas de late-stage, por necessitarem de mais capital para crescerem tiveram redução de 99,8% em relação ao ano anterior.
Fuentes acredita que a recuperação do mercado passa dois pontos-chave: “Primeiro, depende da capacidade de empreendedores/startups conseguirem ajustar suas operações para um modelo mais rentável e que apresente métricas operacionais sustentáveis, o que deve trazer maior clareza (menor risco) para os investidores e, consequentemente, aumentar o seu apetite. Da mesma forma, a estabilização do mercado mundial e a redução nas taxas de juros tornarão o investimento em ativos de risco mais atraente e merecedor de mais atenção por parte dos investidores”.
Contexto internacional do mercado de startups
Esse mesmo cenário também é visto globalmente, segundo relatório da Rock Health, consultoria americana especializada na área de tecnologia de saúde, que avalia especificamente os movimentos das startups de saúde nos Estados Unidos. O primeiro trimestre registrou US$ 3,4 bilhões em investimento em 132 negócios, dado que ficou acima do terceiro (US$2,2 bilhões) e quarto trimestres (US$ 2,7 bilhões) de 2022. Contudo, o levantamento alerta que se a média de investimento dos últimos três trimestres se mantiver para os próximos três trimestres, 2023 terminará abaixo de 2019.
O relatório também reitera que a quebra do Silicon Valley Bank quase ocasionou uma crise de liquidez de todo o setor, pois quase todas as startups dos mais variados tamanhos faziam depósitos no SVB. Agora esses investidores precisarão tomar medidas emergenciais, como pegar empréstimos, com o intuito de assegurar capital de giro. Outro impacto da quebra do SVB será um movimento mais conservador no mercado, com investidores escolhendo com mais cuidado seus parceiros e investimentos.
Para agravar ainda mais a situação, as startups americanas enfrentarão mudanças regulatórias iminentes. Órgãos como o FDA já estão planejando endurecimento de políticas de fiscalização. A telemedicina também sofrerá mudanças em sua regulação. Com o fim do estado de emergência pública previsto para maio, ela deixará de ser um benefício de exceção.
Por fim, o relatório conclui que apesar de seu começo difícil, 2023 ainda pode ser um ano próspero para muitas startups de saúde digital. Mas, outras terão que enfrentar períodos conturbados, tendo que possivelmente recorrer à venda de parte ou de toda a empresa ou ainda ao encerramento das suas atividades.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.