May-Britt Moser, vencedora do Nobel de Medicina: “Diversidade enriquece o trabalho científico”

May-Britt Moser, vencedora do Nobel de Medicina: “Diversidade enriquece o trabalho científico”

Laureada em 2014 por pesquisas sobre doença de Alzheimer, May-Britt Moser participou de evento e falou sobre o trabalho como cientista.

By Published On: 17/04/2024
May-Britt Moser

Foto: Clément Morin

A descoberta do GPS do cérebro. Foi assim que as manchetes trouxeram a notícia de que a norueguesa May-Britt Moser havia ganhado o Nobel de Medicina em 2014 por sua pesquisa que abriu horizontes na busca pelo entendimento do Alzheimer. Passados dez anos da láurea, muitos avanços foram feitos a partir de seus achados, apesar de ainda não haver um tratamento definitivo para a doença.

Ela está no Brasil para participar de eventos com estudantes com o objetivo de estimular a iniciação científica e inspirar uma nova geração de cientistas. Os debates aconteceram na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e foram promovidos pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel. Ao lado dela estavam o professor francês Serge Haroche, Nobel de Física em 2012, e David MacMillan, com o Nobel de Química em 2021.

“Como laureada, nós somos vistos como um oráculo, alguém que está pronto para trazer as respostas. Será que nós devemos trazer essas respostas ou será que devemos fazer perguntas?”, questionou durante o debate. 

Atualmente, Moser é professora de neurociência na NTNU, no Kavli Institute of Systems Neuroscience, e diretora do Center for Algorithms in the Cortex (CAC). O reconhecimento há dez anos veio pela descoberta de células responsáveis pela codificação do espaço e também para a memória episódica, que estão diretamente relacionadas com as primeiras características que acometem os pacientes com Alzheimer. O achado, feito em conjunto com John O’Keefe e Edvard Moser, abriu novos campos de estudo para possíveis curas. “Isso significa que podemos ir até esta área e ver o que a está causando e, se descobrirmos a causa, saberemos como evitá-lo”, detalha.

Para Moser, a colaboração entre pesquisadores é algo importante, assim como interagir com outras áreas para explorar novas possibilidades dentro de um estudo. Em sua investigação atual, ela comentou que estão sendo realizadas pesquisas junto a físicos e matemáticos para estudar de forma aprofundada o conjunto de células do cérebro humano. A partir do domínio de cada grupo sobre seu campo de conhecimento e com um objetivo em comum, é possível alcançar resultados antes impossíveis, segundo ela.

Inspiração para a futura geração de cientistas

Ao longo do evento, Moser falou aos alunos sobre a vida sendo cientista, sua responsabilidade social, colaboração entre colegas e tratou de questões de diversidade e gênero. “Seja uma cientista. Esqueça qualquer rótulo que você possa carregar, tenha orgulho de ser uma cientista”, afirmou. Em seu instituto, ela conta com pesquisadores de diversas partes do mundo e diferentes etnias. “Precisamos de atitudes, formações diferentes, porque é isso que enriquece o nosso trabalho científico e nos enriquece enquanto pessoas.”

Ela também abordou a questão do propósito e instigou os estudantes a refletirem sobre suas próprias contribuições ao mundo: “Eu acho [importante] definir o que vale a pena. Qual é o meu talento? Como eu posso contribuir para o mundo? Essa é a pergunta que nós precisamos nos fazer todos os dias.”

Mesmo com os desafios quanto ao fomento às pesquisas científicas, que ultrapassam fronteiras e são realidade para diversos cientistas, ela afirmou que as perguntas ainda a serem respondidas estimulam a continuidade das pesquisas. “O slogan de nosso instituto é buscar a excelência na ciência. É difícil obter fomento, mas existem questões que são tão importantes que devem ser abordadas e colocamos todos os recursos”, completou.

A vencedora do Nobel falou ainda sobre o compromisso com a democracia e em como a ciência desempenha um papel sobre ela: “O seu interesse pela ciência os transforma em embaixadores para discutir a ciência. Se todos aqui fizerem isso, contribuiria para a democracia.”

Isabella Marin Silva
Isabella Marin

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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