Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação da Unimed do Brasil: “Novas healthtechs ajudarão a construir uma saúde melhor no país”
Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação da Unimed do Brasil: “Novas healthtechs ajudarão a construir uma saúde melhor no país”
Na série de entrevistas gravadas na Convenção Unimed, Maurício Cerri falou das novas healthtechs que prometem aprimorar a inovação tecnológica
Gestão, digitalização e interoperabilidade são alguns dos principais desafios de praticamente todas as empresas e instituições que atuam na saúde. No campo das operadoras, não é diferente. Isso porque as três áreas têm o potencial de aprimorar o serviço prestado aos beneficiários, ao mesmo tempo em que se tornam pilares essenciais do ponto de vista de sustentabilidade do sistema. Foi neste contexto que a Unimed do Brasil anunciou durante sua tradicional convenção deste ano a criação de três novas healthtechs, como detalhou Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação, em episódio especial do Futuro Talks.
A Nexdom terá foco em sistemas de gestão para operadoras de planos de saúde. A Yuni Digital atuará na área de canais digitais. E a Interall nasce para trabalhar com dados e interoperabilidade. Como o Sistema Unimed possui cerca de 20 milhões de beneficiários – 10% da população brasileira –, as healthtechs já nascem com a possibilidade de contar com uma larga base de clientes. O objetivo, segundo Cerri, é promover uma convergência tecnológica para aumentar a eficiência por meio da padronização de aplicativos, prontuários eletrônicos e sistemas de gestão.
Cerri destacou que, além da integração, há um esforço contínuo para garantir que as tecnologias operem em sinergia, beneficiando todo o sistema. Ele projetou um prazo de três a cinco anos para a completa integração e convergência das três novas empresas. Ainda, afirmou que a operadora busca fortalecer a interoperabilidade inclusive entre os sistemas de saúde público e privado, destacando a importância de uma abordagem colaborativa, já que muitos pacientes transitam entre planos de saúde e o SUS.
Confira a entrevista a seguir:
Durante a Convenção Nacional da Unimed, foram anunciadas três novas healthtechs: Nexdom, de gestão para operadoras de planos de saúde, a Yuni Digital, de canais digitais, e a Interall, de dados e interoperabilidade. Qual é a expectativa para essas empresas?
Maurício Cerri – As empresas lançadas foram uma grande novidade para nós, principalmente por representar a entrega de um trabalho que vem sendo construído há três anos. Esse trabalho surgiu a partir de um processo que tivemos em nosso planejamento estratégico. Falando um pouco sobre o Sistema Unimed, como temos administrações independentes pela nossa singularidade e capilaridade nacional, cada Unimed acabou adotando um sistema de gestão específico, na sua maioria. Não necessariamente temos 300 sistemas de gestão, mas cada Unimed seguiu um caminho diferente da padronização, assim como em aplicativos, prontuários eletrônicos e na questão da interoperabilidade. Fizemos um planejamento estratégico no início de 2021, com a proposta de convergência tecnológica para ganhos de eficiência através da padronização.
O projeto nasceu a partir desse planejamento?
Maurício Cerri – A nossa proposição foi, de forma sintética e resumida, como se tivéssemos construído o Sistema Unimed hoje, num formato de franquia, onde entregamos, como Unimed do Brasil, um kit de tecnologia para o sistema, uma padronização. A partir desse entendimento, construímos algumas premissas em relação a esses projetos. Ou seja, as três estruturas são compostas por sócios da Unimed que desenvolveram soluções. A Nexdom, por exemplo, é a nossa empresa especialista em sistema de plano de saúde para a operadora. A composição da Nexdom inclui empresas do sistema Unimed que desenvolveram produtos de operadora para o plano de saúde, que estamos integrando nessa convergência. São cinco soluções, ou seja, cinco Unimeds que construíram soluções e as comercializam para o Sistema Unimed. Essa é a nossa premissa. O sistema também se especializou, não só em saúde, mas em tecnologia. A premissa foi a construção desses projetos, cada um dentro do seu pilar estratégico: a Nexdom, para a operadora de plano de saúde; a Yuni Digital, com aplicativos para clientes e cooperados, portais, bots, no conceito de omnicanalidade; e a Interall, nossa empresa de interoperabilidade de dados clínicos.
O que vem a partir de agora com o lançamento? As Unimeds poderão adotar e implementar esses sistemas em suas praças?
Maurício Cerri – Essas empresas já nascem com uma estrutura de clientes. Ou seja, como são empresas que já comercializam sistemas para o Sistema Unimed, fizemos um processo de fusão, como se fosse um M&A dessas estruturas. A Nexdom, por exemplo, já nasce com 144 Unimeds clientes das cinco soluções; a Yuni Digital já nasce com 90% do sistema Unimed dentro de três soluções; e a Interall já nasce também com mais de 40 Unimeds utilizando as soluções. Qual é o nosso trabalho a partir de agora? É que o sistema, como um todo, utilize essas plataformas, e cada estrutura tem uma estratégia específica. Assim, construímos para o Sistema Unimed um complexo de empresas especializadas para cada área de atuação, e agora nosso papel fundamental será em prol da convergência dessas tecnologias e da adesão das novas Unimeds dentro do projeto.
Qual o desafio de implementar essa estratégia?
Maurício Cerri – Óbvio que, quando estou falando de operadoras e sistemas de plano de saúde, praticamente temos quase 50% do Sistema Unimed dentro da Nexdom, usando as soluções. E agora teremos um compromisso com o Sistema Unimed de integrar essas soluções na estrutura da Unimed do Brasil, que é, hoje, a empresa detentora da marca, que trabalha com a governança e onde estamos montando nosso arcabouço de dados para que tenhamos uma estratégia unificada. Assim, nossa diferença em relação a outras empresas do mercado é que elas estarão totalmente integradas com nossas soluções de intercâmbio, algo que nenhuma outra empresa de mercado conseguirá fazer, pelo fato de a Unimed do Brasil ser sócia dessas estruturas. É aí que teremos nosso ganho de eficiência sistêmica, trabalhando como uma plataforma integrada para todo o sistema Unimed.
Ou seja, traduzindo: em vez de você procurar uma dessas soluções no mercado, já a tem dentro de casa e ela já se comunica com o sistema.
Maurício Cerri – Exatamente. O nosso sonho de consumo é que, em pouco tempo, a Unimed adira à plataforma do sistema de forma muito transparente e tranquila, para gerenciar tanto os clientes quanto a própria operadora e a interoperabilidade de dados clínicos.
E tem uma meta, por exemplo, talvez daqui a X anos a gente vai ter isso já em X% do sistema?
Maurício Cerri – Nós demoramos três anos para fazer um projeto estruturante e consistente. Inclusive, trabalhamos com uma consultoria de mercado, uma das big four; a Deloitte nos ajudou nesse projeto. Justamente pela importância desse trabalho, precisávamos de conteúdo e de sustentação sólidas, pois são projetos estruturantes. Portanto, realizamos um planejamento bem consistente e, agora, a entrega, no meu ponto de vista e com base nas experiências que tivemos, deve ocorrer num prazo de três a cinco anos, quando teremos essa convergência total para as três empresas. Vale lembrar que fizemos o lançamento de três estruturas e já estamos trabalhando em uma quarta, que é a nossa empresa de prontuário eletrônico, com a unificação dos projetos de prontuário. Assim, a resposta seria que, em três a cinco anos, teremos a convergência nacional das Unimeds dentro dessas soluções.
Sendo que uma dessas verticais é a interoperabilidade, qual é a sua expectativa em relação a ela e como você vê a sua implementação dentro da Unimed?
Maurício Cerri – O Sistema Unimed colocou o projeto de interoperabilidade em nível nacional em 2010, quando começamos a falar de registro eletrônico de saúde. Também tivemos uma portaria do Ministério da Saúde utilizando nosso projeto. Na época, nossa tecnologia – e para falarmos um pouco em tecnês – tinha um padrão chamado Open Air, e o Ministério da Saúde lançou uma portaria para começar a construir a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que hoje permite que todos nós, como cidadãos, consultemos, por exemplo, os exames de Covid que fizemos durante a pandemia, além de outros exames disponíveis na plataforma do Conect SUS. Essa é a nossa interoperabilidade com o SUS. O Sistema Unimed lançou essa estrutura, começando pelo Open Air, e agora já estamos falando de uma nova tecnologia, que é um padrão de mercado que estamos, inclusive, implementando na Interall para todo o arcabouço do Sistema Unimed.
E como vai funcionar?
Maurício Cerri – Ora o cliente tem o plano de saúde; ora, ele não tem e está sendo atendido pelo SUS. Temos muito ressarcimento ao SUS. Por exemplo, dentro do estado de São Paulo, temos atendimento em hospitais públicos. Quando sou cliente de uma operadora e vou a um hospital público, a ANS nos cobra o ressarcimento, porque entende que eu tenho o plano de saúde e não precisaria ser atendido no SUS. O problema é que perco essa jornada de dados, pois ora estou no SUS, ora estou na Unimed, ora estou em outro plano de saúde. A ideia que temos nesse processo, inclusive de parceria com o SUS, é a abrangência que o Sistema Unimed possui, de 90% do território nacional. O share que temos em relação à saúde suplementar nos permite afirmar que praticamente o Sistema Unimed representa 10% de toda a população e temos essa abrangência nacional. Assim, acabamos sendo um piloto para o próprio governo, que busca entender essa questão continental que enfrentamos no Brasil, para implementar um projeto de interoperabilidade que considere as particularidades e especificidades de cada região.
Como é esse projeto de interoperabilidade para vocês?
Maurício Cerri – É muito estratégico. Primeiro, porque ele traz para nós a possibilidade de fortalecer o nosso intercâmbio. Hoje, o Sistema Unimed permite que um cliente em Natal, que seja beneficiário do Unimed Campinas, faça o atendimento tranquilamente pelo nosso intercâmbio. E agora, com a Interall e essa questão da interoperabilidade dos dados clínicos, consigo fornecer insumos ao médico para que ele faça um atendimento de maior qualidade, onde ele conhecerá meu histórico. A questão que tenho, como minhas alergias e os atendimentos que fiz, por exemplo: ‘Maurício, você foi ao pronto atendimento mês passado; teve algum problema?’. Ele passa a ter um atendimento de maior qualidade, mais próximo do cliente, mesmo sem ter atendido esse cliente antes. Para fechar essa fala, a questão da telemedicina potencializou esse uso. Como abrimos um projeto de telemedicina, muito por causa da pandemia, o uso da interoperabilidade se tornou mais latente. Ou seja, potencializamos o projeto da Interall, entendendo os ganhos que tivemos e que teremos em relação ao uso digital desse recurso.
Então, a princípio, ela consegue realizar a interoperabilidade em todo o Sistema Unimed e pode ser um primeiro grande passo, inclusive, para auxiliar na interoperabilidade do país.
Maurício Cerri – Com certeza. Inclusive, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou recentemente uma portaria; se não estou enganado, temos um planejamento do governo até 2028 para implementar essa mudança de interoperabilidade. A ANS está agora utilizando, junto com a RNDS, os dados administrativos, algo que não utilizamos em 2010. Costumamos dizer que romantizamos a interoperabilidade, pois estávamos focados em usar dados clínicos – ou seja, aqueles do meu hemograma todo estruturado – e não utilizamos os dados administrativos. O simples fato de saber que o Maurício foi ao hospital, fez um atendimento de pronto-socorro e teve um raio-X e um hemograma. Desprezávamos isso no registro eletrônico de saúde. Tanto o sistema Unimed quanto o governo, através das informações que as operadoras enviam, que é um monitoramento TISS de dados administrativos ou de faturamento, estamos usando isso como um insumo. Isso ajuda, por exemplo, a evitar a repetição de exames ou solicitar exames que já foram feitos. E, para o sistema de saúde, isso é ótimo, pois acabamos otimizando o sistema para não consumi-lo de forma indiscriminada, repetindo exames desnecessariamente; até porque o exame estará lá, e o resultado estará disponível para a consulta do médico.
Gostaria que você falasse sobre o registro clínico, especialmente em relação ao prontuário único e ao gerenciamento da jornada do paciente. Como isso funciona e como será implementado?
Maurício Cerri – O prontuário é um desafio para nós, pois hoje contamos com mais de 118 mil médicos cooperados, e cada um administra sua clínica e consultório de forma individualizada. Algumas ações do Sistema Unimed foram construídas para promover a padronização; se uma Unimed possui 400 ou 500 mil cooperados e consegue padronizar o prontuário, já ganha eficiência, pois não precisa de interoperabilidade com a rede, mas sim com os médicos cooperados. Assim, é possível administrar melhor a relação entre os médicos e a operadora. Nossa proposta para o prontuário único é, novamente, que temos três soluções sistêmicas que oferecem prontuário atualmente para o Sistema Unimed. A ideia é convergir para um único prontuário dentro da estrutura do sistema. E estou me referindo à questão ambulatorial, não hospitalar, que se dá no consultório médico. Por que isso é tão importante para nós? Porque, ao termos esse sistema unificado, não precisaremos mais de interoperabilidade entre os consultórios, uma vez que o sistema já estará integrado.
Como você planeja alimentar essa base de interoperabilidade com informações e quais são suas preocupações em relação à rede credenciada?
Maurício Cerri – Então, eu vou lá no meu laboratório, vou ao meu hospital, mas o meu médico já tem toda essa integração. E é nele que nasce todo o atendimento, que começa numa consulta médica, no consultório, quando não é uma urgência ou emergência. Assim, eu passo a ter também a possibilidade de cuidar um pouco melhor da saúde. É importante mudar esse mindset de doença e começar a focar nas questões de saúde e no acompanhamento do meu paciente. Se realmente ele foi fazer uma consulta, se está consumindo o medicamento que foi receitado, se está realizando as atividades físicas orientadas, se está fazendo acompanhamento psicológico ou nutricional. Enfim, passo a criar uma possibilidade de acompanhamento que eu não tinha, com base nessas informações que teremos a partir dessa integração de prontuário.
Considerando o contexto dos consultórios médicos, o hospital representa um passo adicional?
Maurício Cerri – Nós temos, no Sistema Unimed, para ser bem assertivo, em torno de 170 hospitais próprios. Nós também temos um desafio, e não estou dizendo que surgirá uma sinergia de hospitais aqui, até porque cada hospital tem o seu sistema de gestão hospitalar e seu prontuário, ali dentro do hospital, de internação e de pronto-atendimento. A integração do hospital, hoje, visa a interoperabilidade através da Interall. Então, neste momento, não estamos falando de uma padronização de sistemas hospitalares, mas de integrá-los dentro da Interall para que os dados hospitalares sejam consumidos pelo nosso médico e pelo nosso paciente.
Uma das empresas lançadas na Convenção Nacional, a Nexdom, vai consolidar um sistema integrado de gestão para todas as operadoras. Você pode explicar por que isso é estratégico?
Maurício Cerri – O Sistema Unimed possui um conjunto de ferramentas que inclui o nosso intercâmbio e ferramentas de tecnologia. Atualmente, são 21 sistemas que possibilitam essa troca de informações. Costumo dizer que a Unimed é um nicho dentro de um nicho, que já é o segmento de saúde. As operadoras de mercado utilizam sistemas de operação de plano de saúde para faturamento, pagamento de médicos e gestão da operadora. No entanto, o Sistema Unimed precisa criar um processo de ensino para os fornecedores do mercado, explicando toda a nossa estrutura de intercâmbio, para que possam adaptar seus sistemas e oferecer soluções para nossas singularidades. A partir desse entendimento, onde nosso intercâmbio é o core e nosso produto, e reconhecendo que a informação é uma grande estratégia para mudanças sistêmicas, a Nexdom entra como uma solução importante. Ela se propõe a padronizar a gestão de planos de saúde, integrando nossas ferramentas de intercâmbio e gerando informações valiosas para operar eficientemente uma operadora de plano de saúde conectada a essas ferramentas.
E quais iniciativas vocês estão considerando para melhorar a experiência e o acesso às informações para os beneficiários?
Maurício Cerri – Na linha do que comentei sobre o Conect SUS, o cliente Unimed passa, também pela Yuni Digital, a ter um aplicativo único. Então, hoje, nós temos uma dificuldade em relação ao uso dessas plataformas. Se entrarmos nas lojas, hoje, da Google e da Apple, encontramos uma infinidade de aplicativos com o nome Unimed. Nossa proposta com a Yuni Digital é criar uma padronização para uma plataforma única Unimed, tanto para o nosso cliente quanto para o nosso cooperado, em relação à tecnologia, para facilitar. Até porque o cliente não entende o que é Unimed A, B ou C; ele entende que é Unimed e que tem Unimed nacionalmente, mas não sabe qual aplicativo usar. Então, primeiro, isso facilita o consumo. Segundo, teremos essas ferramentas integradas para que o paciente possa gerenciar a saúde dele. E trago o exemplo da jornada que ele pode passar a consumir com todo esse projeto. Tivemos, recentemente, a aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados, que possibilitou a todos nós, como cidadãos, uma garantia em relação ao nosso dado de saúde no nosso segmento. Com isso, eu tenho, como cidadão, a possibilidade de liberar o meu dado para consumo — para o médico, para uma clínica; enfim, meu dado de saúde.
O que planejam com isso?
Maurício Cerri – A nossa proposição é que todas essas informações fiquem disponíveis para a gestão do cliente, para que ele possa fazer a liberação, permitindo que o médico visualize seu exame e compartilhe esse recurso com uma clínica na qual ele está realizando um tratamento, para que ele cuide de pessoas. Por exemplo, eu tenho um filho de quatro anos, e também terei esse acesso para cuidar dos dados dos meus filhos, podendo, a qualquer momento, ter essas informações na palma da minha mão, independente de qual Unimed eu esteja consumindo o plano de saúde. Estou falando, realmente, de um consumo integrado. Além disso, há a possibilidade da consulta por WhatsApp, que entra na questão da omnicanalidade. Assim, o cliente, independente de qual seja o canal, passa a ter suas informações padronizadas. Se eu entrar no WhatsApp, a Unimed sabe que sou eu, Maurício, que estou entrando; sabe qual é a Unimed, e, portanto, direciona para os mesmos canais, seja no aplicativo, no WhatsApp ou nos portais. Esse é um benefício que o cliente passa a ganhar, além das integrações com outras empresas do sistema. Temos, hoje, uma empresa de pagamento digital chamada Unimed Pay, disponibilizada pelos nossos cooperados. A nossa proposição é que esse complexo empresarial comece a integrar soluções para gerar benefícios tanto para o nosso cooperado quanto para o nosso beneficiário.
Como você mensura a maturidade tecnológica na Unimed, considerando as diferentes realidades no Brasil? Acredita que os novos projetos lançados podem acelerar essa maturidade?
Maurício Cerri – Acredito que sim, até porque a proposição de entregarmos o kit para a Unimed, de certa forma, entra em um padrão que ele vai consumir. Assim, as Unimeds, os beneficiários e os cooperadores passam a consumir um serviço integrado futuramente. Então, sim, os níveis realmente são diferentes e distintos de médicos, de empresas e dos nossos beneficiários nacionalmente. Mas temos algumas ações em relação a esse processo. Por exemplo, nós fizemos, recentemente, a entrega do nosso programa nacional de proteção e privacidade. Então, de novo, o Sistema Unimed, queira ou não, é um sistema. Mesmo tendo administrações independentes, nós somos um sistema. Hoje, eu tenho clientes nacionalmente, com um contrato nacional que é atendido no interior da Bahia e no interior de São Paulo. Portanto, preciso me preocupar com a questão de vazamentos de informações e com a segurança da informação.
Vocês criaram também um projeto para entender a maturidade de tecnologia e governança de todas as estruturas do sistema, não é?
Maurício Cerri – Nosso foco é criar o mínimo de padronização para que tenhamos um alinhamento, inclusive com as leis vigentes, além da LGPD e de segurança da informação, para podermos ter essa padronização. Isso é o escopo institucional. Médicos e nossos colaboradores têm programas de capacitação de inovação. Recentemente, fizemos um programa para todos os nossos médicos e colaboradores de inovação, para transformar nosso sistema em mentores de startups. Também realizamos um programa de aceleração para capacitá-los a criar ideias e empreendedorismo dentro do sistema. Agora, no próximo mês, vamos lançar um processo – um programa, na verdade – de capacitação em inteligência artificial, para médicos e colaboradores, novamente, nacionalmente, a fim de garantir o uso correto dessas tecnologias. Ou seja, nosso escopo é garantir que esses recursos sejam utilizados com um padrão mínimo de governança, para que possamos oferecer as ferramentas corretas a todo o nosso sistema. E tudo isso integrado é onde teremos uma padronização mínima em relação à maturidade de todas essas frentes, tanto as corporativas quanto as dos médicos e nossos colaboradores também.
As três empresas recém-lançadas podem, de alguma forma, ajudar o mercado? Existe a possibilidade de que elas sejam adquiridas por outras empresas que possam ter interesse?
Maurício Cerri – Hoje, elas nasceram com um escopo muito interno. Acho que, como comentamos, elas surgiram de empresas que fazem parte do sistema Unimed, e o nosso segundo passo é, inclusive, oferecer a participação de todas as Unimeds na estrutura societária dessas empresas, até porque entendemos que, de fato, são produtos do Sistema Unimed. Atualmente, temos duas empresas: a própria Interall e a Nexdom, que possuem contratos com empresas fora do sistema Unimed para a venda de serviços. No nosso mapeamento, temos, inclusive, parcerias com empresas externas ao mercado. A Nexdom, para dar um exemplo bem resumido, é uma empresa que realiza a gestão de uma operadora, mas não temos, em nosso produto, a gestão de back-office contábil e financeiro. Então, obviamente, temos parcerias com empresas do mercado para que possamos atuar de forma integrada para o Sistema Unimed, assim como em todas as outras frentes. Temos esse ecossistema de parcerias que apoia toda essa estrutura. Inclusive, contamos com o nosso hub de inovação, o Unimed Lab, que traz um ecossistema de startups, oferecendo um olhar externo. Hoje, temos mais de 130 startups participando desse ecossistema, que estarão conectadas dentro dessa estrutura. Isso é feito, inclusive, para gerar processos que não estão nas estruturas atuais, mas que visam a aceleração, para que possamos integrar questões que as startups estão muito à frente, como entregas rápidas e fáceis, permitindo uma melhor administração de todo o nosso ecossistema. Esse é o nosso olhar externo em relação às parcerias.
Como você vê o futuro do que foi apresentado? Considerando o prazo mencionado para a transformação, você acredita que alcançaremos a interoperabilidade desejada, com a integração e o fluxo de dados como esperamos?
Maurício Cerri – Eu sou entusiasta, né? Então, às vezes, falo mais com amor do que com razão. Acredito que sim. Entendo que é muito diferente quando falamos de interoperabilidade e, normalmente, sempre comparamos automaticamente com o Open Finance. Teremos um Open Health muito próximo do que os bancos fizeram.
É o sonho do Pix.
Maurício Cerri – Exatamente, mas as estruturas são diferentes. O escopo de saúde é complexo e não estou tirando o mérito dos bancos, até porque o segmento financeiro tem muito mais investimento e está há muito mais tempo na vanguarda da tecnologia do que o nosso segmento de saúde. Em relação à tecnologia, estamos atrasados em comparação ao setor financeiro, mas não tenho dúvida de que chegaremos lá. Isso se deve a uma questão de necessidade, talvez pela dor e pelo consumo que temos em relação ao custo da saúde e ao quanto gastamos com saúde nacionalmente. O nosso investimento em saúde, em relação ao PIB, é enorme, e acredito que essa abundância de tecnologias e todo esse processo que estamos construindo ajudarão muito para termos uma saúde melhor no país. Se tudo caminhar bem, em 5 anos, o sistema Unimed poderá ser realmente o mais integrado dentro do sistema, apoiando toda a nossa saúde nacional em parceria com o SUS e todo o segmento de saúde.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.