Marta Diez, presidente da Pfizer Brasil: “É preciso pensar em como trazer inovações e sustentabilidade ao mesmo tempo”
Marta Diez, presidente da Pfizer Brasil: “É preciso pensar em como trazer inovações e sustentabilidade ao mesmo tempo”
Inovação e investimento em pesquisa são temas intrínsecos à indústria
Inovação e investimento em pesquisa são temas intrínsecos à indústria farmacêutica, que aporta bilhões no desenvolvimento de novos tratamentos mundialmente. Mas após todo esse processo e a respectiva introdução de um novo medicamento ou vacina no mercado, vem outro desafio: o acesso da população a essas inovações. Este foi um dos temas abordados por Marta Diez, presidente da Pfizer Brasil, no mais recente episódio de Futuro Talks.
Na visão dela, este é um assunto que permeia quase todos os elos do setor, que busca soluções pelo aumento do diálogo, novos modelos de remuneração – como o compartilhamento de risco – e até mesmo no Complexo Econômico e Industrial da Saúde. Durante a conversa, Diez também compartilhou um pouco da sua visão sobre a pandemia, onde a Pfizer ganhou acabou ganhando destaque mundial principalmente por causa da vacina – a executiva, aliás, assumiu a função de presidente da operação brasileira em fevereiro de 2021, justamente em um dos picos da doença no país. De acordo com ela, o pior momento da pandemia já passou, mas outros debates surgiram, como a baixa cobertura vacinal e o impacto das fake news. Uma das saídas, segundo Diez, seria implantar a vacinação nas escolas, o que poderia facilitar a logística até mesmo para os pais.
Ao longo da entrevista ela também destacou outras áreas de atuação da Pfizer, como oncologia e enxaqueca, e apontou que tem a expectativa de que em breve, em um horizonte de 18 meses, chegue ao mercado uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR): “Estamos trabalhando duas populações. Uma é para idosos. A outra é para bebês, mas de uma forma inovadora, vacinando a mãe para o bebê já nasça com a proteção. Estamos bem animados com isso”.
Confira abaixo a entrevista com Marta Diez no Futuro Talks:
Tem uma pauta que está muito aquecida no ponto de vista nacional, que é o Complexo Industrial da Saúde. Como você vê essa priorização do governo e qual vai ser o papel da indústria?
Marta Diez – Isso não é novo no Brasil. De fato, a legislação sobre o Complexo e as parcerias tecnológicas aqui no Brasil datam de mais de 10 anos. Então já faz bastante tempo que o Brasil vem pensando e trabalhando nessa direção. Esse governo tomou essa pauta de forma prioritária e está falando bastante sobre seu interesse em trazer mais produção nacional para o país, especificamente na saúde. É uma pauta que tem prós e contras, como todas as pautas. A posição da Pfizer nessa discussão é colaborar com o governo. De fato, estamos discutindo com eles sobre vários produtos da Pfizer. Estamos falando de como nós podemos contribuir porque, finalmente, se isso contribui para melhorar o acesso à saúde – que é o nosso objetivo – tal está a nossa pauta também. O que nós queremos ver é como conseguimos fazer isso da forma mais eficiente possível. Porque também as parcerias antigas mostraram algumas falhas.
Tem alguma coisa que você já pode comentar que está dentro dessas conversas com o governo?
Marta Diez – É um pouco incipiente, ainda, mas estamos focados, sobretudo, nas vacinas.
Uma coisa é investir na inovação, conseguir encontrar as terapias e as vacinas que fazem diferença na vida das pessoas, e outra coisa é fazer isso chegar nas pessoas. O que pode ser feito para ampliar essas possibilidades de acesso?
Marta Diez – Esse tema é muito importante. Como companhia, nosso objetivo é mudar a vida dos pacientes com nossa inovação. Nós sempre falamos que fazer inovação é muito difícil, mas ainda mais difícil é fazer com que essa inovação chegue aos nossos pacientes, particularmente em países onde o acesso não é tão fácil, como na América Latina, por exemplo, e outras áreas do mundo. Então, estamos fazendo duas coisas: uma é fomentar o diálogo de como nós conseguimos, por uma parte, trazer essas inovações, mas ao mesmo tempo também trazer sustentabilidade para o sistema. Porque é evidente que essas inovações têm um custo para o sistema de saúde, mas também temos que fazer forma sustentável. A segunda é trazer também acordos inovadores. Tradicionalmente, a inovação traz um custo. Tanto custo por paciente ou tanto custo por tratamento. Talvez nas novas terapias, temos que pensar de forma um pouco diferente. Como colaboramos também assumindo o risco do resultado do tratamento.
Por exemplo, contratos de compartilhamento de risco que a gente tem visto acontecer pontualmente?
Marta Diez – Sim, mas ainda é pouco. E nós temos essa discussão faz bastante tempo no sistema privado. No sistema público ainda é muito pouco.
Por que isso não avançou tanto, pensando que de fato faria diferença para as pessoas?
Marta Diez – Um dos maiores desafios é a falta de dados. Muitas vezes faltam os dados epidemiológicos ou de outro segmento para poder realmente fazer um acordo de risco. Um acordo de risco precisa de dados que as duas partes possam acreditar para tomar decisões depois. Isso é um desafio muito grande porque, infelizmente, não temos dados suficientemente robustos para fazer isso. E há também a questão da legislação ou a interpretação da legislação, que às vezes fica mais fácil falar de descontos e preço do que falar de como fazemos um acordo um pouco mais complexo.
Mas se tivesse dados mais robustos, provavelmente seria mais fácil para o administrador público tomar uma decisão nesse sentido também.
Você já atuou em outros países além do Brasil. Essa é uma questão específica do Brasil ou é uma dificuldade mundial?
Marta Diez – Eu diria que nos Estados Unidos, na Europa, é mais frequente fazer esse tipo de acordo porque os dados são de melhor qualidade. Principalmente na Europa, onde boa parte dos sistemas são públicos. Na América Latina é uma constante, nós temos um desafio em todos os países. Pelo menos, posso falar do Chile, porque eu estava no Chile, antes, tínhamos exatamente o mesmo desafio. Então, não é específico do Brasil, mas o país tem também uma posição de liderança. Tem um sistema público muito grande, muito abrangente e com uma capacidade de inovar. Nesse sentido podemos ser uma referência para o resto da América Latina.
Há muito ouço falar da importância do diálogo entre os vários elos da indústria. Mas e a indústria com a indústria? Existem pautas em comum e que daria para trabalhar de forma mais colaborativa?
Marta Diez – Essa pergunta é bem interessante. Eu acho que todas as pessoas, grupos, todos as instituições que trabalham no mundo da saúde têm o mesmo objetivo, que é melhorar a saúde das pessoas. Não consigo pensar em alguma pessoa ou instituição que trabalhe nesse mundo que não tem essa pauta. Há também uma realidade financeira de cada uma delas, que provavelmente cria algumas tensões e algumas diferentes posições. Mas acho que se nós concordamos que o objetivo final é a saúde das pessoas, isso alinha bastante para trazer a inovação, que seja de custo sustentável, trazer melhores dados. Talvez criar uma série de pautas que estão nesse objetivo. Não é fácil, mas é parte do diálogo também. A pandemia nesse sentido ajudou bastante nesse tópico. Eu vejo isso no Chile, também no Brasil. As conversas eram mais tensas antes. Acho que a pandemia ajudou a alinhar bastante no sentido de “Olha, temos uma crise muito grande de saúde pública, como cada um de nós vamos a contribuir?”. O Ministério, a saúde pública, a saúde privada, as farmacêuticas. Acho que todo mundo se alinhou bastante e foi uma boa prova de que pode funcionar. Acho que conseguimos trazer essas aprendizado para agora, o pós-pandêmico.
Falando de pandemia, pelo menos na minha memória recente, foi a primeira vez que eu vi uma indústria farmacêutica com o nome na boca das pessoas e todo mundo falando sobre isso, entendendo o papel, falando corretamente. Como foi isso? E você chegou aqui num momento até crítico da pandemia.
Marta Diez – A verdade é que eu nem conseguia chegar fisicamente. Mas comecei a trabalhar em um momento bem difícil. Se pensamos em fevereiro de 2021, era um dos piores momentos da pandemia, com 4.000 mortes diárias, ainda poucas vacinas chegando no Brasil. Foi um momento bem difícil.
A gente não tinha vacina da Pfizer ainda, não é?
Marta Diez – Vacina da Pfizer não. Tínhamos uma CPI, eu cheguei com a CPI. A primeira coisa que eu soube do Brasil foi a CPI. Eu acho que foi um momento bem difícil da pandemia e a posição da Pfizer sempre foi bastante clara, não só no Brasil, como em todos os países do mundo: como nós conseguimos contribuir. Sabíamos que tínhamos uma vacina bem promissora. Mas sempre a nossa posição foi oferecer essa vacina a todos os governos do mundo em condições que os governos podiam assumir esse custo. Esse posicionamento tão claro e tão consistente ajudou bastante a nossa reputação, porque a verdade é que foi um momento bem sensível. E mesmo nós falamos “olha, como vamos gerenciar, nós teremos uma coisa que é muito boa, mas que pode reverter em uma coisa bem difícil de gerenciar”. Então, esse posicionamento tão sólido ajudou muito a criar uma reputação e a criar um nome que as pessoas pronunciaram. Lembro, antes da pandemia, que as pessoas falam “Pfizer…é uma empresa americana ou alemã?”. O nome ninguém escrevia bem, agora todos sabem. É uma oportunidade, mas, como você diz, cria situações, por exemplo, de fake news. Mas a reputação ajuda a brigar contra fake news. Particularmente nas vacinas, as notícias falsas foram um tópico bem quente durante a pandemia e infelizmente está continuando.
O trabalho dos jornalistas, das sociedades médicas é bem importante para combater as fake news com a informação certa.
Antes de falar mais sobre fake news, queria te perguntar qual foi o momento mais desafiador para você desde que você chegou aqui no Brasil.
Marta Diez – O mais difícil foi nos primeiros 3 meses até nós conseguirmos assinar o primeiro contrato de vacinas. Porque é um momento bem difícil do ponto de vista da sociedade, também pedindo contas ao governo sobre o que está acontecendo. O Congresso pedindo contas ao governo. Foi bem sensível. Eu cheguei do Chile, para mim era tudo novo, em fevereiro de 2021. Cheguei com a missão de trazer essa vacina. Eu tinha conseguido trazer as vacinas para o Chile, Equador e Peru, então vinha com uma energia muito alta. Mas foram 2 meses ou 3 meses de discussões com o governo, com os times jurídicos, tanto nossos como do governo também. Foram momentos difíceis, mas depois veio um momento muito bom, quando firmamos o primeiro contrato. Conseguimos muito rapidamente uma quantidade de vacinas para o país.
O engajamento no começo da vacinação foi muito bom, mas depois caiu. A cobertura vacinal caiu também para outras vacinas. Qual sua percepção sobre esse cenário?
Marta Diez – O Brasil tem o maior sistema de vacinação do mundo. Acho tem uma realidade e uma cultura muito grande de vacinação. Historicamente tem sido um país com cobertura vacinal de 90% ou mais nas vacinas, o que é muito bom. Na pandemia vimos taxas muito altas.
As pessoas tiravam foto com a carteira do SUS.
Marta Diez – Exatamente. Você via as filas para tomar a vacina. Então a primeira dose foi muito alta. A segundo dose já abaixou um pouquinho, estava também nos 90%, mas já mais baixo. A terceira dose baixou bastante já, estamos falando aí em 75-80%. A quarta dose bem baixa. E quando chegou a vacina pediátrica, ainda pior. Acho que tem duas coisas acontecendo. Uma é que nós nos acostumamos ao coronavírus. A pandemia já passou. Está se convertendo em um vírus, como é a influenza. É um vírus que nós vamos conviver, mas isso não quer dizer que não existe. Você olha ainda as estatísticas, tem 300 mortes semanais de Covid. Então nós nos acostumamos, mas a realidade é que ainda é uma doença que vamos aprender a conviver. A pergunta é: quem tem que se vacinar? Com quanto tempo tem que se vacinar? A outra coisa é que todas as vacinas apresentaram queda, não só a vacina da Covid. O governo está muito focado agora nesse tema, o que acho muito positivo. O presidente sendo vacinado pelo vice-presidente foi uma imagem muito potente, mas ainda tem que convencer os pais e as mães de vacinar as suas crianças.
Por que será que ainda é preciso convencer pais e mães?
Marta Diez – Nós fizemos um estudo que mostra a realidade da vacinação. O que acontece é muitos pais e mães não estão familiarizadas com o calendário vacinal. E o calendário vacinal do Brasil não é simples, tem muita vacina, com diferentes idades. O que é ótimo, mas não é tão fácil de seguir. São muitos nomes complexos, algumas vacinas são 3 doses, algumas são 2, algumas são uma, então é difícil. O que nós vimos é que 6 a cada 10 pais não estão seguindo bem os calendários vacinais, esquecem das vacinas ou simplesmente atrasam porque não sabiam que tinha que fazer.
Um dos debates que estamos abrindo é a importância da escola como uma agente para ajudar na vacinação.
Eu lembro quando eu era menina. Na Espanha, a vacinação se fazia na escola, então eu lembro de fazer uma fila com as minhas amigas para cada um se vacinar para rubéola. Isso criava até um ambiente social. No Chile também tem vacinação na escola. Minha caçula, por exemplo, tinha um pânico terrível para vacinação. Ela não queria nunca se vacinar. Ela começou a se vacinar na escola, quando chegamos no Chile. Na sua primeira vacinação, ela falou que não chorou porque seus amigos estavam lá. Foi a primeira vez que não chorou com a vacina. Para as crianças é mais fácil.
E cria essa consciência coletiva na criança da importância da vacinação.
Marta Diez – Exatamente. As escolas sempre pedem aos pais autorização. Então, há alguns pais que, por ideologia, vão te falar, “não”. E tudo bem, porque são a minoria. A maioria vai achar mais fácil, para não esquecer, do que ir a um centro vacinação, que também tem um custo de tempo e dinheiro. Acho que é um debate que tem que acontecer aqui no Brasil. Se nós queremos aumentar a vacinação, a escola pode ser uma dessas soluções que podem nos ajudar, particularmente para a criança.
O novo governo, assim que assumiu, expressou já uma simpatia por esse caminho. Acha possível acontecer?
Marta Diez – Eu espero. Nós estamos tentando, estamos em contato, trazendo os dados desse estudo que justamente foi feito justamente para trazer um pouco de dados a essa realidade e como isso realmente vai ser importante.
Voltando ao tema das fake news. Em geral, as pessoas não se questionam muito na hora de tomar a vacina da gripe. Elas entendem que têm que tomar e fazem isso todos os anos. Isso não tem acontecido com a Covid. Na sua opinião, as fake news relacionadas à vacina da Covid podem impactar na hesitação vacinal de outras vacinas?
Marta Diez – Acho que sim. Infelizmente vai afetar todas as vacinas. Mesmo se até agora não tem se visto tanto. Talvez se normalize a hesitação vacinal em geral, que tem acontecido em outros países. Temos que lutar contra essa falta de informação. É difícil trazer informação? É difícil, porque também tem que ter um interesse em conhecer essa informação. Por isso trazer na escola é interessante. A escola tem uma reputação, os pais vão acreditar na informação que recebem das escolas. Muitas fake news vêm das redes sociais. Não entendo ainda como as pessoas acreditam. É inacreditável, mas é a realidade.
As pessoas criam um cenário de que parece que aquilo faz sentido. É profissional e criminoso.
Marta Diez – É criminoso. E ainda vem de pessoas bem-educadas. Acho que nossa responsabilidade é trazer informação. Nós tentamos trazer informação e nós fazemos. Mas tem que vir de diferentes fontes, que podem ser percebidas como mais objetivas, a escola, o Ministério, os jornalistas como você. E diferentes fontes podem reforçar essa ideia de que as vacinas salvam vidas.
Agora, encerrando o tópico de vacinas para a gente ir para outros assuntos. Hoje a gente está com a vacina para a nova cepa Ômicron. Há intenção da Pfizer de continuar atualizando essa vacina conforme o vírus vá mudando?
Marta Diez – O que está claro é que vamos conviver com esse vírus, como o da gripe. E que esse vírus vai continuar mudando. Os vírus têm uma capacidade de mutação muito rápida. Então, a ideia é que vai ser um vírus que vai ser também sazonal. A plataforma mRNA foi escolhida por duas vantagens: uma é a eficácia muito alta contra os vírus e a segunda é a capacidade de se adaptar muito rapidamente. No mRNA, entre o desenvolvimento e a produção da vacina, estamos falando de meses. Isso permite uma opção muito rápida para um vírus que se muta muito rapidamente. Mas de novo, uma coisa que aprendemos com a Covid é que não temos toda informação. Essa informação vai se criando à medida que vai passando o tempo. A verdade é que provavelmente vamos precisar de novas vacinas. Hoje temos a bivalente, que está no PNI e o Ministério está dando para as pessoas. No futuro, provavelmente precisaremos de outra, mas ainda é cedo para afirmar.
A Pfizer ficou muito conhecida por causa das vacinas, mas também tem um outro portfólio de medicamentos e tratamentos. Para onde que estão os olhares da companhia além da vacina?
Marta Diez – A Pfizer é uma companhia que tem um portfólio muito grande. Nós temos 150 medicamentos mais ou menos já no portfólio e 100 no pipeline e 6 áreas de atuação mais uma. Eu digo mais uma, porque Covid se converteu em uma área. Mas temos 6: vacinas, medicina interna, oncologia, doença raras, hospitalar e imunologia e inflamação. Então, há muitos medicamentos, desde o paciente que tem um câncer metastático, até o paciente que tem uma depressão, o paciente que sofre de artrite reumatoide. Tem uma abrangência muito grande. A área de vacinas – que historicamente nós já tínhamos várias, tanto no portfólio como no pipeline – se dividiu em dois agora por causa da Covid.
O que está no pipeline, em estudo ainda, que provavelmente vai ter resultados promissores, talvez em fase 2, fase 3. O que você pode compartilhar?
Marta Diez – Vou destacar alguns, porque tem muita coisa. Na área da oncologia, este ano lançamos quatro produtos de diferentes tipos de câncer: metastático de mama, colorretal, melanoma. São vários cânceres com prevalência relativamente grande. Mas como você sabe, muitas vezes os cânceres têm uma origem genética, então a maioria desses produtos são de medicina de precisão. Esse é o futuro da oncologia. Na verdade, eu diria que não é nem futuro, já é o presente da oncologia. Então, teremos vários produtos que vão trazer novas alternativas para esses pacientes, que até agora tinham alternativas, mas precisavam de novas. Na área da medicina interna temos um produto muito promissor de enxaqueca, que é uma doença muito prevalente, com incidência muito alta, não só no país, mas em geral. E infelizmente, quando eu conheço alguém que tem enxaqueca, são pessoas que sofrem bastante e não têm medicamentos muito eficazes. Acreditamos que esse medicamento vai ser bem recebido por causa dessa necessidade. Em inflamação, nós estamos entrando na área de dermatologia. Até agora éramos muito fortes na parte de reumatologia e na parte de gastroenterologia. Estamos entrando na parte derma, que tem muitas doenças que são de origem inflamatória. O primeiro produto que vamos lançar esse ano é para dermatite atópica, uma doença que as pessoas, às vezes, não acreditam que seja uma doença, mas cria, na verdade, problemas psicológicos e físicos para as pessoas. Em vacinas, estamos também na fase 3 de uma vacina contra vírus sincicial respiratório, que é uma doença que afeta bastante os bebês, que são internados com bronquiolite. Nessa vacina estamos trabalhando duas populações: uma para idosos e uma, que é bem inovadora, para bebês, mas vacinando a mãe antes do bebê nascer.
É uma vacinação materna para que o bebê nasça já com a proteção. É bem inovador e há poucas vacinas nesse espaço, então estamos bem animados com isso.
Há previsão para essa vacina do vírus sincicial respiratório?
Marta Diez – Bem iminente, estamos falando dos próximos 18 meses.
A gente não pode deixar de entrar nesse tópico de liderança feminina. Por que as mulheres em cargos de liderança, como você ocupa hoje, importam para essa transformação, para esse futuro mais igualitário?
Marta Diez – Talvez possamos trazer alguns números, porque sempre é melhor falar de número. Se você olha 2006, 13% dos cargos diretivos eram de mulheres, hoje estamos a 39%, na indústria farmacêutica especificamente. Tem melhorado bastante, mas ainda não estamos onde deveríamos estar. 39% ainda é baixo na sociedade, somos 50/50, deveríamos aspirar por 50/50. Talvez até mais, porque no mundo a saúde, se você olha as universidades de medicina, universidade de farmácia, de biologia, são majoritariamente mulheres. Mesmo na Pfizer, uma companhia que vem trabalhando há muito tempo com diversidade, a primeira diretora mulher aqui no Brasil foi 2008- 2009, não muito antes. Hoje nós temos 57% das mulheres na direção, o que nos enche de orgulho. Isso cria primeiro uma legitimidade. Não acontece do nada, tem que ter um plano. E hoje sou a primeira CEO mulher da Pfizer Brasil. E depois tem que criar um pipeline de talento para que crie futuros candidatos mulheres e homens. Quando eu cheguei aqui, na Interfarma, tinha pouca mulher. Hoje muitas farmacêuticas nomearam mulheres. Isso cria um ambiente muito positivo. Mas não é realidade do resto do país. Sendo muito honesta, eu acho que a indústria farmacêutica e a indústria da saúde têm mais mulheres nos seus cargos diretivos. Quando eu vou em câmaras intersetoriais, a maioria são homens. Então, eu insisto bastante nas minhas falas para criar esse sentimento de que é possível. Tem muitas mulheres muito capazes em todos os setores.
Caminhando para o fim, queria saber um pouco mais do futuro da Pfizer. A Pfizer completou 70 anos no Brasil. Como estará a indústria daqui a 70 anos?
Marta Diez – Nós abrimos uma campanha quando fizemos 70 anos. Como você percebe a saúde em 2092? Fizemos várias pesquisas no país. A saúde sempre foi importante, mas será ainda mais com o envelhecimento da população. Um desafio será o de doenças vinculadas à idade. Outro é o de doenças vinculadas à industrialização. Há ainda doenças relacionadas às mudanças climáticas – respiratórias, mais alergias. E as pessoas também aumentam as suas expectativas. Qual é a qualidade de vida que esperamos? Talvez, se você perguntasse nos anos 60 o que as pessoas acreditavam para a saúde, seria muito inferior do que acreditamos hoje. E o último desafio é sobre a sustentabilidade do sistema. Então, essa expectativa vai criar uma pressão importante. E teremos essa discussão sob dois pontos de vista: o da expectativa alta e o da sustentabilidade.
Para fechar, a pergunta que faço para todos os convidados: quais pautas a gente tem que olhar para esse ano e talvez por ano que vem?
Marta Diez – 2023 já é um ano realmente pós pandêmico. Temos que olhar o que aconteceu durante a pandemia e o que aprendemos. Quais são os desafios que nós vimos? Nós vimos uma falta de investimento no sistema de saúde, como nós trazemos esse tema no pós-pandemia? O que aprendemos e como investimos de forma diferente? E todos os desafios que nós tivemos, como atrasos nos diagnósticos de câncer, atrasos nos diagnósticos de doenças raras. E muitas doenças que ficaram um pouco na sombra por causa da Covid. Então, acho que temos que trazer tudo isso a superfície. E o último é vacinação. Como nós recuperamos essa importância da vacinação? A prevenção é a base do sistema de saúde, então temos que trazer realmente a vacinação como fundamental para as pessoas.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.