Fim da mamografia aos 40? Consulta pública da ANS gera confusão e repercute nas redes sociais
Fim da mamografia aos 40? Consulta pública da ANS gera confusão e repercute nas redes sociais
ANS esclarece que certificação voluntária não impacta o acesso de pacientes à mamografia. Entidades e pacientes se posicionam contra
Uma consulta pública aberta pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre a proposta de criação da Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica (OncoRede) para operadoras de planos de saúde tem gerado repercussão no setor e preocupação de pacientes com câncer, em especial, o ponto sobre o incentivo ao rastreamento de câncer de mama. Isso porque a proposta estabelece como um dos critérios para obtenção do certificado o rastreamento proativo junto aos beneficiários, com a realização de mamografia bianual em mulheres entre 50 e 69 anos, o que abrange 18,9 milhões de pessoas com plano de saúde no país.
Nas redes sociais, entidades e pacientes têm se posicionado contra o texto. Eles temem que haja o diagnóstico tardio da doença, além de redução de acesso ao que está previsto no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. A norma atual permite a mulheres realizar mamografia bilateral, conforme indicação médica, com qualquer idade, e mamografia digital entre 40 a 69 anos. Contudo, a ANS esclarece que o processo de certificação é voluntário e que não altera a cobertura assistencial garantida pelo rol.
Essa busca proativa, de acordo com a minuta, poderia ser realizada por telemonitoramento, consultas para outras finalidades, envio de mensagens por correio eletrônico, ligações telefônicas, aplicativos de mensagens e outros meios de comunicação. Atualmente, não há obrigação das operadoras realizarem busca de pacientes, mas outros programas voluntários de certificação estimulam que planos de saúde o façam.
A agência afirma que se baseia nas indicações do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para estabelecer a faixa etária para o rastreamento dentro da certificação. O texto segue aberto para participação social até 24 de janeiro. “A certificação oncológica tem como objetivo melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes oncológicos. As operadoras certificadas oferecerão um serviço diferenciado, incluindo o rastreamento de mamografias em suas carteiras para identificar precocemente o câncer, ajudando a salvar vidas de mulheres”, argumenta o posicionamento da ANS.
A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) tem se posicionado contra a proposta, considerando-a um retrocesso. A entidade alerta que 40% dos diagnósticos de câncer de mama no Brasil são realizados em mulheres abaixo dos 50 anos. Cerca de 22% das mortes também acontecem neste grupo.
“Usar uma diretriz para certificar a qualidade do serviço e outra diferente para orientar o serviço oferecido pode criar confusão e afetar o acesso das mulheres a exames anuais. Profissionais da saúde também podem se confundir quanto à frequência recomendada para o rastreamento, impactando diretamente as decisões de saúde das pacientes. Essa divergência de diretrizes cria um ambiente de desinformação, que pode diminuir as taxas de detecção precoce do câncer de mama, afetando a sobrevida das mulheres.”, afirma Maira Caleffi, presidente da Femama.
Mesmo seguindo a orientação do Inca, a faixa etária para rastreamento utilizada na certificação da ANS é considerada defasada. Nos Estados Unidos, o United States Preventive Services Taskforce (USPSTF), painel independente e voluntário de especialistas nacionais em prevenção e medicina baseada em evidências, indica que o rastreamento deve começar a partir dos 40 anos, com exames repetidos a cada dois anos.
A Femama aponta que o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a Federação Brasileira de Associações de Ginecologistas e Obstetras (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) também defendem o rastreamento a partir dos 40 anos, mas neste caso, anual.
“Atualmente, a maior parte das operadoras segue a recomendação destas entidades. Nesse sentido, a Femama se posiciona institucionalmente contra a recomendação de rastreamento bienal entre 50 e 69 anos e considera a proposta um retrocesso. O único benefício da alteração é a redução de custos com exames para as operadoras. Vale ressaltar, ainda, que os custos com diagnósticos avançados a longo prazo não estão sendo considerados”, afirma a nota da entidade.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.
Absurdo.
Quando a mulher for fazer já estará em estado avançado
Inaceitável, isso é um absurdo e um descaso com nós mulheres
Sou contra elevar a idade para 50 para rastrear o câncer de mama, 40% das mulheres com diagnóstico positivo tem menos de 50 anos.Fui vítima do câncer de mama e quero registrar minha indignação.
Qdo me mudei para o Rio, em 2003, iniciei um trabalho que nada tinha haver de forma direta com minha profissão. Fui trabalhar no HCIV, unidade que atende a pacientes terminais de câncer. Era um trabalho voluntário. Apesar de amar estar com aqueles pacientes, eu me perguntava pq a vida havia me direcionado para trabalhar com pacientes de câncer. Alguns poucos anos depois, minha mãe recebeu o diagnóstico de CA de mama que, 11 anos depois, tirou sua vida. No momento em ela recebeu a notícia, percebi pq tive a oportunidade de ouro em conhecer a doença tão de perto durante o tempo em que prestei o voluntariado. Conheci a doença bem de perto e pelo fim como ela se apresentava. Muito triste, mas, fundamental para ajudar a minha mãe. Conhecia uma rede de médicos maravilhosos que me fizeram chegar na equipe que cuidou de minha mãezinha.No entanto, começamos uma verdadeira batalha contra a Instituição que deveria ser nossa primeira aliada: O Plano de Saúde! Quem diria! Foram 8 ações judiciais para garantir à minha mãe um tratamento justo, humano. Mas, e quem não tem essa rede de apoio? Fica a esmo. Infelizmente!
Venho acompanhando esse horror sobre o assunto: acima de 50 anos e de 2/2 anos. Isso é o fim. É o Poder Público, por meio da ANS, mostrando sua total conivência com o poder financeiro dos planos de saúde. É uma luta inglória? Não sei. Mas precisamos continuar brigando. Estou aqui para o que a senhora precisar. A Ana Furtado fez um post no Instagran. Achei maravilhoso. Mas nesse país as pessoas querem pão, circo e pix. É de chorar!