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Máira Astur, dermatologista: “Pacientes hoje procuram consultórios de dermatologia como um serviço, não como consulta médica”

No mais recente episódio de Futuro Talks, Máira Astur aborda as mudanças na área de dermatologia e como a busca pelos padrões de beleza tem impactado a sociedade

               
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A dermatologista Máira Astur, em entrevista no mais recente episódio de Futuro Talks.

A busca por padrões de beleza inatingíveis se agravou com os avanços da tecnologia. A disseminação das redes sociais e seus filtros de imagem, muitas vezes exagerados, têm o potencial de levar a frustrações, ansiedade e mesmo depressão, principalmente entre os jovens. Este foi um dos principais temas do mais recente episódio de Futuro Talks, quadro de entrevistas do Futuro da Saúde no YouTube, que recebeu a dermatologista Máira Astur, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, mestre em dermatologia e chefe no Ambulatório de Cosmiatria da UNIFESP.

Esse movimento tem mudado uma série de fatores na área de dermatologia. Um deles é a própria relação médico-paciente, que tem se alterado para algo mais próximo de uma prestação de serviço, em que os pacientes chegam ao consultório como um cliente em busca de um tratamento ou creme específico, ao invés de buscar uma consulta médica. Neste sentido, segundo ela, o ideal seria que os profissionais buscassem cada vez mais estabelecer uma relação de confiança para mostrar as reais necessidades para cada pessoa.

Outro ponto crítico levantado por Astur foi a abertura para que profissionais que não sejam especialistas na área de dermatologia passassem a oferecer tratamentos, o que tem levado a complicações para muitos pacientes.

Durante a entrevista, a dermatologista também apontou a importância de que os cuidados com a pele devem começar cedo – ainda mais considerando a tendência de envelhecimento da população. Ela também abordou a importância da dieta e relação do intestino com a pele e as evoluções da área, que incluem novos produtos, diagnósticos mais precisos – inclusive com tecnologia de análise 3D para enxergar camadas além da superfície –, novos equipamentos e até mesmo testes genéticos para definição de melhores tratamentos.

Confira a entrevista a seguir:

Qual sua visão sobre este novo cenário de epidemia de preenchimentos, toxinas, procedimentos estéticos e afins. Você acha que a sociedade está exagerando?

Máira Astur – Com certeza. A medicina evoluiu muito neste sentido e é importante pontuar algumas coisas. Uma é a parte de cosmiatria e outra a de bem-estar. Quando falamos de bem-estar, estamos essencialmente tratando do estado de satisfação em relação ao nosso corpo e à nossa autoimagem. Minha área de atuação principal, a cosmiatria, é uma área da medicina que foca em uma abordagem profissional, ética e consciente no que diz respeito à beleza e à saúde. Quando juntamos as duas, há uma explosão. Houve grandes evoluções. Mas por um lado, estamos evoluindo para uma sociedade doente do ponto de vista mental e emocional, muitos a utilizar métodos de tratamento e diagnóstico para resolver problemas da alma e é aí que as coisas andam para um aspecto ruim. Acredito que, com o tempo, haverá uma autorregulação nesse cenário, pois tanto as pessoas quanto os profissionais estão gradualmente se tornando mais conscientes dos limites e das potencialidades desses recursos.

Agora falando sobre autorregulação e moda, como balancear esses dois? Porque, às vezes, a impressão que dá é que os rostos estão ficando parecidos.

Máira Astur – Isso acontece, em parte, por causa das mídias sociais, com o uso de filtros. A tecnologia, principalmente na época da pandemia, entrou nas nossas vidas de uma forma muito impactante e irreversível. E essas consequências já estamos colhendo agora, mas vamos colher, principalmente, a médio e longo prazo. Em relação ao aspecto da autoimagem, dos filtros de mídia social, como que isso acaba funcionando? As pessoas querem passar para o outro uma imagem de uma pessoa com a pele boa, saudável, porque, na era das selfies, a pele tem um papel muito importante. Ela fica muito em evidência. E existe uma noção de pele associada com o status, atratividade, a melhora das relações sociais. E, por incrível que pareça, tem impacto, inclusive, até nas oportunidades de trabalho. Uma pele mal cuidada remete a uma pessoa que não se cuida, que não está saudável por dentro, porque ela é um reflexo da nossa saúde interna.

Tudo isso fez com que, na hora da selfie, as pessoas usassem filtros para minimizar imperfeições. Mas não só isso. Você consegue fazer alterações estruturais no seu rosto, no seu corpo, muitas vezes passando uma imagem de uma pessoa que não é a realidade.

Mas quem está do outro lado da câmera acha que aquilo é realidade.

Máira Astur – É a venda de um sonho, de uma realidade que não existe. Que, se está na sua mão, ela passa a ser real. Mas de tanto ver, você começa a achar que aquela boca exagerada é bonita. Porque aquela pessoa que você admira tem aquela boca. Ou, então, que aquela bochecha é super estufada. Ou aquele cabelo enorme, cheio, aquele corpo perfeito, sem estrias, sem celulite, sem gordura localizada, tudo aquilo é o normal. Isso acaba levando a um padrão de beleza que não é compatível. E isso é fonte de frustração, de ansiedade, de depressão. Já há estudos mostrando isso. Principalmente a juventude tem sofrido com isso, porque eles estão crescendo achando que isso é normal. Então, esses filtros têm um impacto muito negativo na nossa vida como um todo de sociedade. E as pessoas vão ficando iguais por causa disso.

No passado, os padrões de beleza estavam estampados nas revistas, mas não tanto no dia a dia, o tempo todo. E as pessoas não se viam daquele jeito, não é?

Máira Astur – A gente não tinha a possibilidade de se colocar naquele filtro. Esses padrões de beleza que são muitas vezes inatingíveis, a gente começa a se ver dentro deles e a buscar por isso, muitas vezes.

Você acha possível usar o filtro de maneira saudável? Acredita que as pessoas conseguirão achar um caminho?

Máira Astur – Acho que tudo na vida, com bom senso, é benéfico. Acredito que vai ser um caminho um tanto longo, um tanto tortuoso, mas converso muito com profissionais da indústria, com psicólogos, psiquiatras, outros colegas médicos. E, assim como em outras áreas da medicina, toda vez que surgem tecnologias novas ou tratamentos novos, assim como outras descobertas científicas, muitas vezes elas são usadas para o mal. Apesar de ter um princípio genuíno, uma ideia boa, acaba se distorcendo ao longo do caminho. Depois, com o tempo, isso se autorregula. O que nós temos visto na prática é que, a partir do momento em que os medicamentos puderam ser comprados por outros profissionais de saúde, isso saiu da alçada do médico. O CFM tem um dispositivo que é a lei do ato médico, que define quais são as atribuições dos médicos e o que é a área de atuação exclusiva dele. E os procedimentos invasivos, que envolvam saúde e questões de segurança, deveriam, a princípio, ser a área de atuação do médico. A Sociedade Brasileira de Dermatologia também preconiza isso, focando com que esses tratamentos estivessem na mão de dermatologistas e cirurgiões plásticos, que são os profissionais que têm capacitação para isso. A partir do momento em que a gente encontra um público ávido por esse tipo de tratamento, uma democratização desses conceitos mais atuais de beleza e de rejuvenescimento, e também encontramos uma indústria farmacêutica querendo vender mais produtos, começou a haver grandes choques. Isso está fazendo com que haja, inclusive, muitas complicações. Toda semana no meu consultório há pacientes com complicações das mais diversas possíveis, das mais simples até as mais graves.

E as pessoas não têm conhecimento de que pode haver complicações?

Máira Astur – Exatamente. E aí ela chega com o rosto às vezes deformado, inchado, com nódulos, tendo feito hipercorreções, que muitas vezes pioram ainda mais uma autoestima que já estava abalada. Todo mês há notícias de pessoas que morrem por procedimentos cirúrgicos feitos por profissionais não cirurgiões. Coisas muito graves que às vezes são abafadas pela mídia, pela indústria, nos acordos judiciais, mas que infelizmente acontecem. A Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou ao longo desses anos uma campanha de divulgação para que as pessoas soubessem o que está acontecendo e que esses procedimentos são da alçada de profissionais médicos. Mas é uma força muito pequena frente a toda essa mídia aí. Então, acredito que, ao longo dos anos, essas complicações vão se tornar mais frequentes e o próprio boca a boca vai fazer com que as pessoas voltem para os consultórios médicos.

Dentro de todo esse contexto, existe a possibilidade de autocrítica no modo como os pacientes abordam as transformações desejadas?

Máira Astur – Talvez. Acredito que isso também esteja relacionado com a parte de maturidade. É algo que vamos adquirindo ao longo da vida, essa percepção de que me aceito como sou e, de novo, o bom senso. É possível, sim, minimizarmos nossas imperfeições, corrigirmos o que nos incomoda, desde que isso seja feito com segurança. Porque a pele, cabelo e unha, quando estão saudáveis, proporcionam qualidade de vida. Coceiras, doenças, queda de cabelo podem gerar distúrbios emocionais importantes. Essas pessoas terão mais dificuldade em entrar num processo de autoaceitação maior e são mais vulneráveis aos exageros. Por causa dessa autocrítica depreciativa, você começa a exagerar e, no espelho, você aumenta aquele problema, que às vezes é um defeito pequeno. Isso vai levando a uma sensação de insatisfação, de ansiedade, de depressão, e pode levar a um quadro de transtorno dismórfico corporal, isso é, um diagnóstico psiquiátrico. Quando a pessoa está nesse estado de insatisfação, ela busca pela resolução do problema. Aí vai mexendo e, quando vê, o rosto já está inteiro transformado.

E qual é o papel do médico nessa conversa?

Máira Astur – Quem tem capacitação psra trabalhar nessa área de cosmiatria consegue detectar isso fácil. Num primeiro momento é uma conversa um tanto difícil, porque a pessoa chega pedindo. A relação médico-paciente foi um pouco deturpada.

As pessoas procuram consultório de dermatologia hoje em dia mais como um cliente e não como um paciente. Procuram muito mais para prestação de serviço e já chegam no consultório pedindo determinado procedimento com uma marca ou tratamento com aquela máquina.

Já chegam com o nome do aparelho ou produto na mão, porque ouviu a blogueira falando, viu em tal reportagem, em tal artigo científico. Então, primeiro a gente constrói uma relação de confiança, faz um bom diagnóstico, explica o que a pessoa tem indicação, e começa a ajustar as expectativas. Ajustar as expectativas é o mais importante, porque muitas vezes as pessoas chegam ao consultório com uma noção de que vão sair de lá transformadas. Se não saem, vão procurar outro médico. E vão pulando de consultório em consultório até achar um profissional que combine com o que ela queira. Então, é uma relação que demora anos para construir, uma relação de confiança, e aos poucos conseguimos. Mas o profissional tem que ter esse olhar de carinho, de cuidado, porque o médico, antes de tudo, não pode prejudicar.

Os homens também estão começando a olhar mais para isso?

Máira Astur – Sim. O brasileiro é um povo vaidoso. Isso implica em aumento de consumo de produtos e serviços de beleza e procura por tratamentos. Antigamente o homem ficava só no gel de cabelo, mas agora estão supercuidadosos. Ele vê alguém fazendo um tratamento, começa a ver resultado e não quer ficar para trás. Quando eles percebem que sim, é possível tratar tendo resultados naturais, com o rosto ficando harmônico, segurando a velocidade de envelhecimento, acabam mergulhando no nosso mundo. E é muito gostoso, porque quando o paciente homem começa a frequentar o consultório, eles fazem tudo direitinho. Passam os cremes direito, fazem os procedimentos corretos. Ao mesmo tempo, são pessoas que normalmente não gostam que ninguém saiba que está sendo tratado. Ainda há um certo tabu. Mas isso está mudando, porque eles estão procurando o consultório, e quando a gente fornece técnicas seguras, que não deixam marcas, com pouca dor, é uma combinação que faz sucesso.

Você tocou no assunto de retardar o envelhecimento e queria entrar nesse ponto de prevenção. Como está esse aspecto?

Máira Astur – A expectativa de vida aumentou. Assim como nós cuidamos da saúde do corpo, da mente, da parte espiritual, cuidar da pele é fundamental. Porque ele é o nosso cartão de visita e é o que vai nos acompanhar o resto da vida. Se a gente cuida de tudo e não cuida da pele, a autoestima em algum momento vai cair. Porque a sua autoimagem não fica compatível com o que você sente. Seu corpo vai estar bem, você vai estar disposto, vai estar animado, mas aquela pele vai estar envelhecida. Isso começa a entrar em choque em algum momento. Por outro lado, a ciência tem mostrado de inúmeras formas o quanto é possível a gente entrar num processo de envelhecimento numa velocidade mais lenta e com uma qualidade melhor. Só que para isso acontecer de uma forma bonita, de uma forma com classe, que é o que todo mundo merece, isso precisa ser feito desde o começo. Como exemplo, a exposição à radiação ultravioleta. A maior parte do impacto disso acontece na infância e adolescência, então o cuidado precisa começar desde criança, inclusive com responsabilidade dos pais de cuidar dessa exposição. Quando os primeiros sinais de envelhecimento começam a aparecer, dos 20 aos 30 anos, temos as primeiras intervenções possíveis: caprichar numa linha de skin care adequada ao seu tipo de pele para prevenir ressecamento, com antioxidantes tópicos, com cremes com efeito antirruga. Depois, um pouquinho mais para frente, entramos com os tratamentos, que quanto mais precoce, preciso de poucas aplicações, de pouca quantidade de produto. E o resultado é que você consegue se manter na sua melhor versão pelo máximo de tempo possível.

O que nós queremos, na verdade, é nos manter mais parecidos com nós mesmos na nossa melhor versão. E a ciência hoje em dia consegue fazer isso acontecer.

A dica é começar desde cedo, então?

Máira Astur – Começar desde cedo. E aliado a isso, as interferências dos fatores ambientais também e do estilo de vida, que foge dos consultórios de dermatologia. Dieta, sono adequado, diminuição de estresse, prática de exercícios físicos com moderação, sem exagero. Estudos científicos mostram efeitos da poluição no envelhecimento da pele. Então, há outros fatores. Porque é difícil driblar genética. Se eu não tenho uma genética favorável, se meu pai, minha mãe, minha avó, meu avô tinham uma pele envelhecida, muito flácida, vou ter que driblar essa genética de outras formas.

Você mencionou que as pessoas estão ficando mais bem informadas e exigentes. A indústria tem melhorado e acompanhado isso?

Máira Astur – Tem. Isso tem começado há muito tempo já, principalmente na Europa. E esses conceitos de clean beauty, uso de produtos naturais, orgânicos, de produtos de skin care que usam embalagens que sejam adequadas ao nosso ecossistema, que utilizem mão de obra qualificada, que não danifiquem solo, que não haja teste em animal. Tudo isso é uma preocupação que vem aumentando e as pessoas estão valorizando isso. A indústria está se adaptando. Antigamente se usava muito derivado de petróleo nas formulações, óleo mineral, hoje em dia já são óleos vegetais, os hidratantes com menos silicone, os conservantes agora sem derivados de formol, antioxidantes a partir de frutas, de vegetais, enfim, de coisas naturais. Se eu tenho uma doença ou alguma coisa específica que eu preciso de um medicamento, com certeza nós vamos fazer uso disso, mas eu posso colocar esses medicamentos num produto que tenha um conservante mais leve, que tenha uma essência mais natural, que não tenha corante e que seja mais adequado para essa realidade que nós estamos vivendo. E é bonito ver essa evolução, ver como as pessoas estão conseguindo enxergar a importância disso. Usar um sabonete adequado para a pele, um hidratante, um protetor solar. Faz parte da evolução.

Falando de evolução, tem se estudado cada vez mais a importância do intestino em várias áreas da saúde. Ela também impacta na área da pele?

Máira Astur – Impacta. Hoje falamos sobre o eixo intestino-pele, mas essa ligação com o intestino também é muito estudada na parte neurológica, por exemplo. No quesito pele, como funciona? Nós temos na nossa pele bactérias, vírus, fungos que são normais, que não são patológicos e que vivem de maneira harmoniosa, protegendo e fazendo parte dessa barreira, que é a função da nossa pele. E no intestino isso também acontece. Existem micro-organismos que são benéficos e que fazem parte da nossa proteção. Quando existe alguma quebra de barreira nessa microbiota intestinal, ou seja, me alimentei com muito alimento processado, muita gordura, ou estou muito estressado, bebendo pouca água, isso vai haver com que haja uma alteração do equilíbrio dessa flora intestinal. Isso por si só vai fazer com que mais toxinas e mais derivados, digamos, que não são saudáveis consigam penetrar na nossa corrente sanguínea. Isso vai provocar uma escala maior de inflamação crônica, tanto no intestino quanto em outros órgãos, e, de forma simplificada, pode gerar na pele quebra de colágeno, quebra de fibras de elastina, estímulos de pigmentação, de mancha, ressecamento. São muitos os estudos que estão sendo feitos e publicados em relação a isso. Claro, são necessários mais estudos até sabermos quais probióticos precisamos tomar, quais cepas, em qual quantidade. A medicina ainda está engatinhando nesse sentido. Cada vez mais a gente tem conseguido fazer isso de uma forma melhor, mas sim, é uma evolução com coisas simples como alimentação.

Queria te ouvir mais sobre tendências. Está claro que há uma grande evolução em vários aspectos da saúde, um maior acesso das pessoas aos procedimentos, mas o que está por vir?

Máira Astur – Algumas coisas já estão em prática. Hoje, começamos com os tratamentos in [por via oral], ou seja, os antioxidantes para abrigar toda essa evolução que comentei, além de fazer uso de todas as orientações dos hábitos de vida. Depois, nós vamos fazer um bom diagnóstico. E o que eu quero dizer com um bom diagnóstico? Existem máquinas de análise de pele 3D, que para quem trabalha com cosmiatria já é um sonho como profissional e como paciente.

Isso porque consigo enxergar não só por fora. Consigo enxergar como está a vascularização por dentro, como estão as manchas por dentro, qual é a disseminação dos problemas.

Assim, eu tenho já um diagnóstico mais fechado do que a pessoa tem e com isso eu consigo fazer uma programação de tratamento muito específica. E aí vou evitar todos aqueles exageros que já conversamos. E esse tratamento mais específico, ele vai envolver um skin care adequado e os tratamentos de consultório. No skincare, vou fazer uso de higiene adequada, de hidratação, de uso de fotoprotetores e antirrugas. Em produtos que você goste do cheiro, da textura, da embalagem, na concentração que tua pele tolera, revisando os princípios ativos. E no que diz respeito aos tratamentos estéticos de consultório, temos atuado de forma multinível.

O que significa atuar de forma multinível?

Máira Astur – Quando eu olho para estrutura da pele, uma estrutura superdelicada e complexa, não adianta só aplicar um creme. O creme vai penetrar um milímetro no máximo. E o restante das camadas? Então, a gente começa a tratar tudo, desde o subcutâneo, ajustando os coxins de gordura do rosto. Depois entramos com tratamentos que vão mexer na fáscia e no músculo, que vão fazer aquele efeito de tração e de estímulo de colágeno, fortalecimento muscular, tanto do músculo do rosto quanto do músculo corporal, na derme. Os bioestimuladores vão estimular o corpo a produzir colágeno novo, que passou a ser uma realidade. São opções de tratamentos que a geração dos nossos pais não teve disponibilidade. E, por último, as camadas mais profundas, com tratamentos que vão pegar o músculo, vão preencher as depressões e fissuras da pele, tratar manchas e irregularidades. O importante é a pessoa ter noção do que acontece no rosto dela e não ficar se comparando com os outros. Quando o paciente vê a imagem no 3D, entende o que a pele dele precisa e entende quais os tratamentos disponíveis, ele tem a informação e, a partir disso, começa a ter o livre arbítrio para participar comigo das decisões. Ele vai ficando mais imune a esse ataque de mídia. Com informação, tudo anda melhor.

Quais outras evoluções devem aparecer?

Máira Astur – Há muitas coisas por via oral, como fotoprotetores, que ajudam muito nas queimaduras, manchas e no próprio envelhecimento. Medicamentos para calvície, como os produtos que vão estimular a circulação capilar. Bloqueadores hormonais. Fortalecedores de unhas. Isso entra dentro da questão dos tratamentos in. Em relação aos tratamentos de consultório, a cada mês surgem máquinas e tecnologias novas. É importante ter um pouco de parcimônia, porque existe uma curva de aprendizagem tanto para as indústrias quanto para o próprio médico. Qual potência eu uso? Quantas sessões? Qual profundidade? Então, de repente vale esperar um pouquinho aquela máquina ou aquele produto estar estabilizado no mercado há alguns anos para depois você tentar. E em termos de inovação, estão chegando cremes com bactérias novas, com propostas novas naquela linha de coisas mais naturais e de devolver para nós toda essa flora que a gente está perdendo. Estão chegando também máquinas de diagnósticos cada vez mais avançadas. Muita gente pesquisando cremes que consigam ter uma penetração maior através de nanocápsulas, nanotecnologia. Muita coisa já está disponível. O problema é o custo, o acesso a medicamentos que, às vezes, ainda não chegaram no Brasil. E cada vez mais há foco para brecar a senescência dos fibroblastos.

Pode explicar melhor esse último ponto?

Máira Astur – Vamos lá. O fibroblasto é aquela célula produtora do colágeno. O colágeno é uma proteína que faz parte da sustentação da pele. Quando ele começa a ser degradado – e isso começa a se intensificar a partir dos 30 anos na mulher e dos 40 anos no homem –, a gente vai perdendo a firmeza, a elasticidade e a pele vai ficando envelhecida. A senescência diz respeito ao processo de morte desses fibroblastos. Eles ficam dormentes, como se fossem zumbis. Os estudos mais novos têm sido focados em brecar esse processo. Porque é como se fosse uma contaminação do processo de envelhecimento. Já existem cremes para isso. Nesse último ano saíram alguns cremes bem interessantes de skin care e provavelmente vão vir procedimentos nessa linhagem também. A cada congresso que eu vou fora do Brasil, vejo novidades. Acho que estamos no nosso melhor ponto em relação à ciência e tecnologia. E muita coisa ainda está por vir, com tratamentos mais específicos focados em alterações genéticas específicas. Já existem testes genéticos para ver qualidade do processo de flacidez, de envelhecimento. São coisas que estão sendo muito estudadas.

Qual mensagem final você deixaria para quem acompanha a gente?

Máira Astur – O principal é ter noção de que sim, é importante cuidar da pele. Não é luxo, é necessidade. Faz parte da nossa saúde mesmo, principalmente pensando que nós vamos envelhecer mais. Dois, procurar o auxílio de um profissional qualificado para isso, porque assim como cada área de atuação, pele é da abrangência do dermatologista. Com um profissional adequado, você vai ter todo o direcionamento dos diagnósticos que existem no seu corpo e dos tratamentos que são necessários. E três, não ter medo. Porque cada vez mais a gente fala em positive aging. É aquele envelhecimento com positividade, com benefício, um envelhecimento de melhor qualidade e mais lento. É possível proporcionar isso e caminhar com bom senso. Acho que bom senso é a palavra para tudo.