Jeane Tsutsui, CEO do Fleury: “O aumento da demanda vai exigir mais medicina preventiva”

Jeane Tsutsui, CEO do Fleury: “O aumento da demanda vai exigir mais medicina preventiva”

O aumento da demanda do setor de saúde, fruto do

By Published On: 21/11/2022
Jeane Tsutsui - CEO do Fleury

O aumento da demanda do setor de saúde, fruto do envelhecimento da população, maior incidência de doenças crônicas e do próprio conhecimento da população sobre a saúde, trará uma pressão para uma gestão cada vez mais eficiente do sistema. Esse cenário fará com que as instituições busquem parcerias e a formação de ecossistemas, utilizem tecnologia para ganhar produtividade e busquem a medicina preventiva para melhorar a saúde e evitar custos maiores. Essa é a análise de Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury, em entrevista para o quadro Futuro Talks.

A médica cardiologista, que migrou sua carreira para a área de gestão há mais de uma década, foi a entrevistada no programa de estreia do canal do Futuro da Saúde no YouTube. Ao longo da conversa, Tsutsui contou sua visão sobre os aprendizados desses últimos anos, as principais tendências do setor e a estratégia do grupo para estes próximos passos da saúde, que já avançou em pontos como a inteligência artificial, mas que precisa evoluir mais intensamente na gestão de dados.

Segundo ela, “o aumento da demanda vai exigir mais medicina preventiva, mais medicina integrada. Essa visão de ecossistema envolve não só colaboração entre os diferentes players de saúde, mas também integração de informações para que elas sejam utilizadas de uma maneira estruturada”. Confira a entrevista completa em vídeo e em texto:

Depois desses últimos três anos de muitos desafios e transformações, hoje você acredita que a saúde está mais preparada?

Jeane Tsutsui – Passamos por um período muito difícil na saúde. Toda a pandemia de Covid-19, infelizmente, levou a um número grande de mortes, mas, ao mesmo tempo, olhando para tudo o que aconteceu e como nós estamos hoje, eu vejo uma maior conscientização das pessoas sobre o cuidado com a saúde. Esse é um fator importante. Claro que, durante a pandemia, todos tivemos que nos reinventar. Ou seja, realmente houve maior flexibilidade, um desafio muito grande com a questão da saúde mental, uma maior colaboração entre os diferentes players do setor de saúde. E como nós estamos agora? Sem dúvida nenhuma, com muitos desafios. A saúde, apesar de todos os avanços com relação à área científica da Covid-19, ainda enfrenta muitos desafios com relação ao acesso, lembrando que hoje aproximadamente 23% da população tem acesso à saúde suplementar. O sistema SUS é estruturado, mas tem muitos desafios de demanda. Além disso, nós enfrentamos, do ponto de vista epidemiológico, um envelhecimento da população. Isso vai levar ao aumento de doenças crônicas, maior demanda por saúde e ainda temos um sistema fragmentado. Esses são desafios que todos nós, da área de saúde, temos que enfrentar. E é claro que, olhando para o futuro, cada vez mais a prevenção se torna fundamental para cuidar da saúde. Nós queremos viver mais, mas com qualidade de vida. Eu vejo um posicionamento dos players de saúde falando mais e agindo mais em torno de colaboração, integração e, principalmente, foco no paciente, o que é fundamental para a gente realmente conseguir avançar. Mas, sem dúvida nenhuma, essas mudanças envolvem também o avanço tecnológico, o avanço do conhecimento científico e uma maior interação entre público e privado.

Você acredita que, do ponto de vista individual, as pessoas estão de fato olhando para a própria saúde?

Jeane Tsutsui – Acredito que sim. Claro que tem um processo educacional, mas o fato de falarmos mais sobre a questão de saúde e doença durante a pandemia levou a população, de uma maneira geral, a se conscientizar mais sobre a necessidade de cuidados. Vou dar exemplos práticos. Sobre a questão de doenças crônicas, nós sabemos que os pacientes que têm doenças crônicas acabaram ficando mais suscetíveis durante a Covid-19 e hoje existe uma maior conscientização sobre a necessidade de cuidado de doenças crônicas. O indivíduo passa, cada vez mais, a ser protagonista neste cuidado, então vem a prevenção, mudança de hábitos de vida, maior número ou quantidade de exercícios, uma série de busca de informações de qualidade…. Agora, é claro, também é muito importante a gente pensar na jornada de cuidado. O indivíduo precisa ter acesso a questões de saúde seja no seu dia a dia por meio de tecnologia, ou seja, vários outros canais que se conectam nesse cuidado: questão do sono, do equilíbrio, de saúde mental, de hábitos de vida. Mas eu acredito, sim, que existe uma tendência das pessoas assumirem esse protagonismo. Isso é fundamental para a prevenção.

Você comentou que o sistema de saúde é fragmentado, mas ao mesmo tempo vemos uma tendência de mudança, seja com verticalização, fusão ou com a formação de ecossistemas. Nesse contexto, qual é a estratégia do Fleury?

Jeane Tsutsui – Hoje a saúde tem diferentes modelos dentro de sua complexidade. Claro que a gente sempre olha para a questão do cuidado primário, secundário, terciário e uso adequado dos recursos. A visão de ecossistema é muito importante e esse é o posicionamento do grupo Fleury: se tornar um grande ecossistema de saúde que olha para a jornada de cuidado do paciente. E por que isso é importante? Primeiro, porque um ecossistema, sim, olha muito para a prevenção, mas, a partir do momento que você tem um evento de uma doença crônica que precisa de um cuidado coordenado, o ecossistema permite a integração dos diferentes cuidados, atendendo à necessidade do indivíduo no cuidado da sua saúde. Essa visão de ecossistema tende a contribuir para a sustentabilidade do setor, a melhorar a experiência do paciente e também a melhorar e ajudar o médico a conduzir o caso. Ou seja, nós vemos grandes benefícios para os diferentes players que estão no cuidado da saúde, de uma maneira geral. O ecossistema, é muito importante que a gente enfatize, é um modelo que permite também parcerias, colaborações, ou seja, você não precisa fazer tudo. Basta que você tenha, sim, uma integração com os diferentes players que compõem esse ecossistema. É um modelo muito discutido e nós vemos que, em vários locais hoje onde este modelo de ecossistema é implantado, realmente se tem várias vantagens.

E como funcionariam, por exemplo, as parcerias? Recentemente o próprio Fleury anunciou algumas.

Jeane Tsutsui – O grupo Fleury é uma empresa de 96 anos que, desde a sua história, fez muita inovação baseada em parcerias com centros universitários, centros de pesquisa para trazer avanços na área de medicina diagnóstica. A partir do momento que também avançamos na formação de ecossistemas, atingindo desde a atenção primária com telemedicina, com serviços de consulta, até atenção secundária com outras especialidades como ortopedia, oncologia, oftalmologia, ou mesmo atenção terciária, nós estabelecemos o modelo de parcerias. Temos exemplos como a joint venture com o Einstein para a área de genômica, que é uma área que tem um avanço de medicina de precisão muito grande e, claro, tem todo um investimento em pesquisa e desenvolvimento de testes, assim como o capital intelectual para a produção de conhecimento. Esta é uma parceria em que realmente vemos uma vantagem, com um modelo de negócio onde nós temos a fusão de operações existentes, mas, principalmente, a oportunidade de colaborar do ponto de vista intelectual e de produção de conhecimento. Da mesma forma, nós fizemos a joint venture com a BP e com a Atlântico Hospitais de Bradesco Seguros, em que a gente se propõe a montar um modelo integrado para o cuidado do paciente oncológico, que vai desde a prevenção, o diagnóstico e o tratamento, com esta visão de jornada integrada que nós falamos de ecossistema.

Agora, entrando um pouco na medicina diagnóstica, que sempre foi o carro chefe do Fleury, olhando para o futuro da saúde e pensando na formação de ecossistemas, na experiência do paciente com esse olhar mais para a prevenção, qual será o novo papel? Continua sendo uma fortaleza?

Jeane Tsutsui – Sem dúvida! A medicina diagnóstica, na verdade, dá suporte às decisões médicas. Nós sabemos de alguns estudos que mais ou menos 70% das decisões médicas são baseadas em algum exame diagnóstico. Então, a medicina diagnóstica suporta o médico desde a fase de prevenção. É muito importante lembrarmos que no cuidado da saúde, toda essa visão de prevenção, de exames, de diagnóstico precoce, faz diferença para que a gente evite casos ou desfechos tardios de maior complexidade. Mas a medicina diagnóstica percorre toda a jornada: a parte de prevenção, mas também a parte de atenção secundária nas diferentes especialidades ou mesmo a partir de atenção terciária. Ela sempre vai ter um papel importante na tomada de decisão, dando suporte a todas as fases de cuidado dos indivíduos. Nós sabemos que em outros locais onde você tem um sistema de saúde mais estruturado e mais preventivo, a medicina diagnóstica acaba até tendo um percentual de participação total maior na receita do que quando você olha para sistemas onde esse cuidado preventivo não é tão bem estabelecido. Olhando para o futuro, para os desafios que nós colocamos, nós sabemos que esse envelhecimento da população, esse aumento de doenças crônicas levará a maior demanda de medicina diagnóstica. Por isso que medicina diagnóstica dentro do grupo Fleury continua sendo o nosso ‘core’. Entretanto, é importante lembrar que ela não está isolada. Ela está dentro de um ecossistema que olha para todas as fases de cuidado e, na verdade, o nosso principal objetivo é promover mais qualidade de vida às pessoas, maior cuidado a saúde.

A medicina diagnóstica já passou e ainda vai passar por uma revolução, no sentido de descobrir doenças cada vez mais cedo por causa da tecnologia e ajudar a pautar o melhor tratamento. A gente já está nesse momento? Ainda falta muito para chegar nesse ponto da medicina diagnóstica e transformar mesmo vida do paciente?

Jeane Tsutsui – A evolução da medicina e saúde é fantástica. O conhecimento avança num ritmo muito rápido. Esse mesmo avanço rápido aconteceu na medicina diagnóstica desde a parte de automação, de diagnósticos mais precisos, de aumento de acesso até tendências que hoje já são uma realidade na prática, como a medicina personalizada e medicina de precisão, onde a partir de testes, principalmente na área de genômica, você consegue definir mudanças específicas de um determinado tumor numa pessoa e direcionar o tratamento que é mais adequado para aquele determinado naquela pessoa. Ou seja, a gente consegue avaliar todas as mutações e direcionar o melhor tratamento personalizado. Hoje temos diferentes drogas sendo desenvolvidas com alvos específicos que são detectados por testes de genômica, e isso nós temos exemplos claros, como o próprio Oncotype DX, que é um teste para câncer de mama onde você consegue não só fazer a definição de melhor tratamento, mas principalmente fazer uma análise preditiva, ou seja, qual é o risco de recidiva daquele determinado câncer. Isso é fundamental não só para uma decisão agora, mas também para definir todo o prognóstico do paciente. São avanços que estão disponibilizados e crescendo de uma maneira muito rápida. Quanto ao número de testes, por exemplo, no ano passado tivemos no Fleury um total de 430 novos testes e serviços, a maior parte deles relacionados a avanços como o da medicina de precisão. Então, é muita inovação. O avanço tecnológico, o avanço do conhecimento e, principalmente, o foco em atender a necessidade do paciente e dar suporte para o médico na melhor tomada de decisão são fundamentais. É uma característica do Grupo Fleury e cada vez mais nós avançamos nessa visão, inclusive com a transformação digital.

No contexto de ampliar o acesso para o usuário, hoje no Brasil há uma ampla discussão sobre a possibilidade de exames e testes serem feitos em farmácia, como vimos com a Covid-19. Qual sua visão desse cenário?

Jeane Tsutsui – Cada vez mais a sociedade e nós sabemos do desafio de acesso à saúde, e estamos acompanhando todos esses avanços. Por exemplo, como você citou, a disponibilidade de testes em farmácia, a telemedicina, que são melhorias de uma maneira geral de acesso. Entretanto, a gente tem que considerar um ponto importante na saúde, que é a questão regulatória, de você garantir a precisão de todo este acesso. Quando nós falamos de testes, historicamente, temos uma série de regulamentação para garantir a precisão dos resultados, mas não só isso, para garantir que aquele resultado chegue até um médico e chegue a uma conclusão ou um direcionamento de tratamento, porque você não faz o teste só por fazer. Você faz o teste porque ele dá suporte a uma decisão e essa decisão precisa melhorar a saúde da pessoa. Isso é o uso adequado dos recursos. Então, tem um aspecto regulatório que precisa sim, para qualquer tecnologia, ter a garantia para o cliente final de que aquilo foi feito com todo o rigor e a precisão. Também tem a questão de como aquele determinado ponto está inserido na cadeia para que este recurso seja utilizado da melhor forma possível. Somos favoráveis a todos os aspectos que aumentam o acesso, desde que obedeça a uma questão regulatória adequada e a questão de que aquela decisão seja tomada da melhor forma possível em benefício do cliente. Isso posto, nós vemos e acompanhamos uma série de questões, como testes de point of care, em que inclusive nós também temos esse tipo de oferta, por exemplo, nos hospitais para decisões a beira do leito, para decisões em pronto atendimento.

E o atendimento em casa também.

Jeane Tsutsui – Exatamente. Esta mudança de comportamento do paciente precisa ser acompanhada. Nós temos foco no paciente e nos adaptamos a essa mudança de comportamento, então o atendimento em casa hoje é um negócio que tem um crescimento. Mostramos agora um crescimento de 36% no último trimestre, já corresponde a 9% de toda a nossa receita e é uma tendência que veio para ficar, porque durante a pandemia o cliente experimentou, gostou e hoje quer essa mobilidade, essa facilidade. É essa adaptação que temos que ter para poder atender a necessidade do cliente. Outra questão é a própria telemedicina, que também foi impulsionada durante a pandemia. Houve um pico muito grande, com aumento do número de casos de Covid-19 para atendimento específico, mas hoje a gente vê que tem um papel fundamental também para acompanhamento de doenças crônicas e pela facilidade. São avanços que vêm e fazem com que essa transformação da área de saúde se acentue.

Mas isso tem que estar bem regulado para não prejudicar o paciente?

Jeane Tsutsui – Exato, para garantir não só a proteção dos dados de uma maneira adequada, mas o acesso e a precisão de uma maneira geral. A própria telemedicina tem uma série de regulamentações que precisam ser atendidas para que este seja um avanço que não tenha nenhum tipo de volta. A partir do momento que você faz isso de uma maneira estruturada, com certeza se torna um benefício para o paciente, para a sociedade.

Qual o papel da digitalização na saúde nessa questão de ampliação do acesso? O quanto essa transformação digital realmente vai revolucionar o nosso acesso à saúde?

Jeane Tsutsui – Certamente a transformação digital tem uma série de benefícios. Quanto a telemedicina, por exemplo, nós já fizemos 1,6 milhão de teleconsultas médicas desde o início da regulamentação do Brasil, que foi em 2020. A telemedicina ampliou o acesso a partir do momento que facilita. Imagine a quantidade de consultas que nós pudemos fazer com a telemedicina no momento, por exemplo, de lockdown. Agora mesmo a questão de mobilidade é muito importante ou acesso eventualmente a profissionais especializados que nós não temos em todo o Brasil. Hoje, mais ou menos 40% das nossas teleconsultas médicas são feitas para locais onde não temos unidades físicas. Agora, este é apenas um aspecto da tecnologia e da transformação digital. Há cada vez mais a disponibilidade de wearables ou tecnologias dentro de casa para acompanhar pacientes idosos, para acompanhar pacientes crônicos. Isso deve mudar o patamar de cuidado, onde o paciente estiver. Outro exemplo é a própria inteligência artificial que, quando incorporada a diversos serviços de saúde, pode aumentar a produtividade, permitir que o médico dê mais atenção ao paciente e deixe de fazer atividades repetitivas que podem ser feitas por IA. Hoje nós temos, por exemplo, dispositivos que, a partir de imagens de tomografia, conseguem detectar precocemente um determinado paciente que esteja com condições muito graves, como um acidente vascular cerebral ou um tromboembolismo pulmonar, que são condições realmente de risco a vida… eles detectam esse exame e priorizam com o médico para que eles vejam. O médico olha aquele exame que está sendo feito de uma forma muito rápida e aciona o profissional que solicitou o exame.

Isso tudo pela inteligência artificial?

Jeane Tsutsui – Exatamente. Porque é uma questão de padrão de imagem. A inteligência artificial consegue, uma vez que ela já avaliou uma série de imagens, detectar que aquele padrão é específico e assim avisar que aquele exame tem uma alteração determinada, por exemplo, como um AVC. Isso é o tipo de exemplo prático de uso de tecnologia para salvar vidas, e temos outros muito claros de que esse acionamento muito rápido salva vidas. Há outros exemplos de aumento de produtividade que também são importantes. Produtividade é um aspecto fundamental num país que tem tanto desafio de macroeconomia, um desafio de crescimento, um desafio de acesso. Então hoje nós temos sistemas de automação em vários aspectos do ponto de cadeia da nossa medicina laboratorial que realmente ajudam a ter maior produtividade, maior captura de sinergia e, consequentemente, maior acesso à saúde de uma maneira geral.

Em que ponto que a gente está da transformação digital? Avançamos bem, mas ainda tem muita coisa para vir?

Jeane Tsutsui – Sem dúvida. A pandemia trouxe um avanço, até por necessidade, também na mudança do comportamento do cliente para exigir mais ferramentas digitais. Mesmo no atendimento, na jornada, hoje nós temos tecnologias, por exemplo, para facilitar o agendamento. Nós lançamos recentemente o Campana, que é uma marca onde a gente já tem todo o atendimento feito por totem com tecnologia. Então, ao longo do tempo, nós incorporamos essas tecnologias de uma maneira que pode parecer gradual, mas certamente já é numa velocidade maior do que antes. E isso é uma jornada. Eu diria que temos ainda mais uma etapa que cada vez mais se tornará presente na saúde, que é o uso de dados de uma maneira extremamente responsável, obedecendo a questão de LGPD. Mas o uso de dados também poderá proporcionar uma melhor gestão de saúde por estratificar riscos. Esse ponto de uso de dados nós estamos ainda no começo de uma jornada, enquanto outras jornadas digitais já estão com um avanço maior.

Mudando um pouco o tema, queria abordar a questão da presença de mulheres na saúde. Tenho visto uma mudança, com mais mulheres em cargos de liderança, mas isso ainda está se transformando. Como você enxerga essa questão?

Jeane Tsutsui – Isso é bastante interessante. A saúde, como você falou, realmente tem um número grande de mulheres no cuidado. Se olharmos o Grupo Fleury, 80% de todos os nossos colaboradores, que hoje são mais de 13.000, são mulheres. Nos cargos de liderança no Fleury, se consideramos coordenadores e cargos acima, 67% são mulheres. Mesmo no conselho de administração, temos 20% de mulheres. Mas como você falou, esse é um desafio para toda a sociedade: como ter mais mulheres na liderança? Os dados mostram que avançamos, mas esse avanço ainda é aquém daquilo que desejamos em termos de olhar para a diversidade e inclusão, olhar para o potencial de inovação, para o potencial de que essa diversidade. Estamos falando de gênero, mas podemos falar de todos os aspectos de diversidade que trazem benefício para o crescimento, para inovação e para uma melhor performance das organizações. É preciso incentivar as mulheres a assumirem esse papel, não só no aspecto de levar essa discussão, mas também promover isso dentro de todas as organizações. No Fleury, por exemplo, temos uma série de grupos de afinidade, um grupo de liderança feminina que se constituiu há vários anos e cada vez mais leva esse tema para a discussão. Eu também participo de vários fóruns para discutir um papel maior de mulheres assumindo esse cargo de liderança.

Quais são as maiores “dores” nesses fóruns?

Jeane Tsutsui – As dores são como promover isso nos altos cargos. São ações para você realmente questionar: para essa determinada função, há mulheres para assumir? São ações que, ao longo do tempo, podem ser traduzidas como uma maior conscientização em todos os níveis e, principalmente, da liderança, sobre a importância da diversidade e inclusão em todos os aspectos. No Fleury, temos unidades de São Luís, no Maranhão, até Porto Alegre. Essa diversidade geográfica, cultural, de pensamento geracional traz realmente uma riqueza e uma oportunidade de a empresa ter mais flexibilidade, capacidade de se adaptar ao mundo de incertezas. E é exatamente esse mundo que nós vivemos atualmente.

Hoje as empresas estão olhando mais para isso, para questões do ESG como um todo?

Jeane Tsutsui – Sem dúvida a pauta ESG é estratégia. Temos uma jornada de mais de 20 anos olhando para a sustentabilidade, para aspectos ambientais, para a questão de responsabilidade social. Mas efetivamente sobre a pauta ESG, nós temos desde o ano passado a formação de um comitê ESG que realmente coloca metas estratégicas para toda a organização, desde a liderança – inclusive, os executivos têm parte da remuneração variável atrelada a metas ESG – até toda a organização, porque é uma questão de cultura. No ano passado fizemos a primeira emissão de debêntures na área de saúde atrelada à meta ESG, com metas ambientais de redução de resíduos biológicos e com meta social de ampliação de acesso às classes C, D e E, muito olhando para esse aspecto do impacto da saúde na sociedade. Os aspectos sociais são fundamentais para a pauta ESG, principalmente na área de saúde, acesso que a gente já falou, mas também diversidade, inclusão, que é outro aspecto fundamental. E finalmente temos a questão de governança. No Fleury, temos uma governança muito estruturada. Isso é importante porque diminui riscos, e uma empresa de capital aberto que tem uma avaliação externa também tem uma questão relacionada a ESG. Por exemplo, somos reconhecidos pelo Dow Jones Sustainability Index como uma empresa que tem realmente um foco ESG e, mais recentemente também, tivemos o reconhecimento do Valor Econômico, não só pelo aspecto financeiro, mas também pelo aspecto ESG. Cada vez mais as empresas estão se conscientizando da importância do ESG incorporado na sua estratégia.

Quais são os próximos passos do Grupo Fleury?

Jeane Tsutsui – Primeiro, o Grupo Fleury estabeleceu uma visão muito estratégia em relação ao posicionamento, que olha muito para a medicina preventiva ambulatorial, formando um ecossistema de saúde e contribuindo para a sustentabilidade do setor. A nossa ambição é ser o maior ecossistema de saúde integrado e sustentável do Brasil. Nesse sentido, temos um foco muito grande em crescimento, seja orgânico ou inorgânico. Nos últimos 5 anos, fizemos um total de 17 aquisições, então este crescimento traz valor, porque ampliamos a nossa expansão geográfica, o acesso a outros públicos, nós ampliamos essa força da medicina diagnóstica, onde a gente pode capturar e sinergia. Claro que o crescimento também tem que ser atrelado a resultados financeiros e a gente mostrou o terceiro trimestre consecutivo no ano de 2022 com recorde de receita, mostrando uma consistência de resultados. Além da medicina diagnóstica, temos crescido naquilo que a gente chama de novos elos, que vai desde a atenção primária até especialidades e essas parcerias que falamos anteriormente. E é muito importante falarmos também sobre a plataforma digital, que acaba sendo uma forma de você conduzir e engajar o indivíduo no cuidado da sua saúde.

Essa plataforma digital é um lugar onde tudo está integrado?

Jeane Tsutsui – Exatamente. A plataforma digital está em construção. Temos já exemplos como a Saúde iD que oferece uma série de serviços dentro de um conceito de marketplace, mas ao longo do tempo estamos transformando a organização para fazer com que todos esses serviços estejam integrados. O nosso objetivo é cada vez mais ser uma saúde mais acessível, mais integrada e mais sustentável. É este o rumo que temos e isso é muito importante porque acaba engajando todas as pessoas nesse papel do Grupo Fleury de aumentar o acesso à saúde de qualidade no país. E, por fim, olhando para 2023, temos, sem dúvida nenhuma o desafio da macroeconomia. Todos acompanham o que está acontecendo no mundo e no Brasil, não será um ano fácil, mas certamente o fato de termos uma estratégia clara, um grupo de pessoas muito engajadas com o propósito da organização e uma capacidade de execução com muita disciplina – seja disciplina de acompanhar custos de despesas, disciplina de aumentar a produtividade, a disciplina de olhar para as aquisições olhando o que realmente aquilo agrega de valor –, nós estamos muito confiantes que essa execução vem sendo feita de uma maneira extremamente planejada.

Para terminar, olhando para 2023 e os próximos anos, quais são as pautas que devemos prestar atenção?

Jeane Tsutsui – Com o envelhecimento populacional, o aumento da demanda vai exigir mais medicina preventiva, mais medicina integrada. Essa visão de ecossistema envolve não só colaboração entre os diferentes players de saúde, mas também integração de informações para que elas sejam utilizadas de uma maneira estruturada. A gente falou muito sobre data science, para realmente fazer uso adequado dos recursos por meio de uma estratificação da população, o que se chama de population health management. Outra grande tendência é cada vez mais o uso de tecnologia, inteligência artificial e uma série de outros aspectos de aumentar o acesso e produtividade, que vai ser incorporada no dia a dia da medicina e saúde de uma maneira responsável. Ou seja, o que realmente agrega valor e não só agrega custo no cuidado da saúde? Isso é fundamental. Este equilíbrio da medicina baseada em valor é uma grande tendência que cada vez mais vai aumentar. Por fim, teremos cada vez mais cuidados personalizados, essa tendência de medicina de precisão e a própria genômica. Não só olhando, por exemplo, para doenças oncológicas que, infelizmente, com o envelhecimento da população, tende a crescer naturalmente e nós precisamos cada vez mais ter um desenvolvimento de medicina de precisão para direcionar o tratamento adequado e equilibrar o custo no sistema de saúde. Finalmente, sem dúvida nenhuma, a formação de ecossistemas robustos e integrados vai permitir um maior acesso, maior qualidade de vida às pessoas, que é isso que realmente importa, para que elas possam viver plenamente, ter uma de sociedade que realmente olhe para o futuro, que olhe para a educação, que olhe para o crescimento do país, de uma maneira geral. A saúde é fundamental para dar esse suporte e para que as pessoas vivam realmente bem na sua plenitude.

Natalia Cuminale

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, com as reportagens, na newsletter, com uma curadoria semanal, e nas nossas redes sociais, com conteúdos no YouTube.

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