Já é hora de flexibilizar o uso de máscaras?

Já é hora de flexibilizar o uso de máscaras?

Nesta semana diversas cidades e estados do Brasil começaram a

By Published On: 05/03/2022
Infectologistas divergem sobre a flexibilização da obrigatoriedade do uso de máscaras contra a Covid-19.

Nesta semana diversas cidades e estados do Brasil começaram a se movimentar quanto à obrigatoriedade do uso de máscaras, medida que tem sido adotada amplamente para a prevenção e contenção da Covid-19. Com a redução no número diário de casos e óbitos após a onda da variante ômicron, o avanço da vacinação e a queda no número de internados em UTIs, há uma tendência para que essa mudança seja gradual em todo o país, começando pelos locais abertos e sem aglomeração. Especialistas, porém, divergem sobre se esse é o momento ideal para a flexibilização.

Na próxima semana, o estado de São Paulo deverá acabar com a obrigatoriedade da máscara na rua e em ambientes externos. A população de Belo Horizonte, em Minas Gerais, já não precisa mais utilizar máscaras em locais abertos. O Distrito Federal também anunciou que a partir de segunda (7) também vai adotar a mesma flexibilização. Já o Governo do Estado do Rio de Janeiro definiu que cada município poderá avaliar e definir como proceder sobre o tema. Em Santa Catarina, crianças de 6 a 12 anos não precisam mais utilizar máscaras nas escolas.

Atualmente, a média móvel de mortes nos últimos 7 dias é de 451, número mais baixo desde 28 de janeiro. O país, no entanto, acaba de sair do mês com o maior número de infectados de toda a pandemia, com 3,3 milhões de casos. Com 22 mil óbitos, fevereiro foi também o pior mês desde agosto de 2021 em número de mortes. Além disso, ainda há o receio sobre os efeitos das aglomerações que ocorreram durante o Carnaval — o impacto será visto nos próximos 14 dias, período máximo de incubação do coronavírus.

“Abrir mão do uso de máscara com baixa cobertura vacinal com três doses e baixa cobertura vacinal das crianças, com o retorno delas às escolas, coloca a população em risco, favorece uma maior transmissão da Covid e o surgimento de novas variantes. E, sobre as novas variantes, nós nunca sabemos qual será o comportamento delas”, alerta a infectologista Raquel Stucchi. Para a infectologista, além da vacinação, a prioridade na discussão deveria ser os medicamentos antivirais e a inclusão deles no sistema público de saúde. Outro receio da médica é que, se houver necessidade de retomar o uso, será mais difícil convencer a população a voltar ao patamar anterior.

Apenas 40% da população com mais de 18 anos recebeu a dose de reforço. Pessoas idosas ou imunossuprimidas estão entre as mais vulneráveis para desenvolver casos graves, e necessitam ainda de uma quarta dose para garantir a proteção.  A vacinação infantil é outra questão, segundo Raquel. Crianças menores de 5 anos ainda não possuem uma vacina disponível no Brasil. Já na faixa acima, dos 5 aos 11 anos, em São Paulo, apenas 14,62% das tomaram as duas doses.

A orientação é para aqueles com o esquema vacinal incompleto ou mais vulneráveis para desenvolver quadros graves da doença, sigam utilizando máscaras, mesmo que haja liberação na sua localidade. O ideal é optar por aquelas que tem maior potencial de vedação e filtragem, como as PFF2 e as KN95.

Situação controlada e o afrouxamento das medidas

Para Unaí Tupinambás, infectologista, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 de Belo Horizonte, a taxa de transmissão (rt) do vírus é um dos pontos que permite essa flexibilização seja realizada. Na cidade mineira, essa taxa está em 0,75. Isso significa que a cada 100 pessoas infectadas, elas transmitem para outras 75.

“A ocupação de leitos de enfermaria e CTI está abaixo de 50%. A gente considerou também a cobertura vacinal na cidade, mais de 90% com duas doses, uma boa parcela da população mais vulnerável com a terceira dose e também avançamos na faixa de 5 a 11 anos, com 70% com a primeira dose”, explica o infectologista, que reforça que ainda existe a obrigatoriedade do uso de máscara em locais fechados, como escolas, transporte público e restaurantes, e locais abertos com aglomeração, como shows e estádios de futebol. 

Da mesma forma, caso surjam novas variantes ou uma explosão de casos e internações, a prefeitura da cidade deve revogar a medida. Apesar da retirada da obrigação, Unaí defende que cada pessoa deve julgar a utilização do item, caso se sinta mais confortável ou com mais segurança em relação à prevenção.

O médico ainda reforça que o uso de máscaras nas escolas deve continuar pelo outono e inverno. “Crianças e adolescentes ficam por mais de 4 horas em ambientes fechados, estudando e conversando. Nesse cenário, a recomendação é que a máscara se mantenha”, orienta o professor da UFMG.

Unaí ressalta que as mudanças se limitam aos espaços abertos: “A discussão da liberação de máscaras em espaços fechados nem está na nossa agenda”.

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

About the Author: Rafael Machado

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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  • Renato Kfouri

    Pediatra infectologista, é presidente da Câmara Técnica de Eliminação do Sarampo e da Rubéola, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

  • Fernando Maluf

    Diretor Associado do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é Livre Docente. Possui Doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e especialização no Programa de Treinamento da Medical Oncology/Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em New York.

  • Natalia Cuminale

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