Paulo Magnus, CEO da MV: “Temos investido muito para fazer a interoperabilidade nativa”

Paulo Magnus, CEO da MV: “Temos investido muito para fazer a interoperabilidade nativa”

CEO da MV, uma das principais empresas de prontuário eletrônico do mercado, Paulo Magnus fala sobre os negócios e os próximos passos

By Published On: 24/04/2024
CEO da MV, Paulo Magnus fala sobre os caminhos que a empresa de tecnologia de saúde deve seguir.

Em um cenário com poucas aquisições movimentando o setor da saúde, que está com foco controlar os gastos e sinergia das últimas compras, uma empresa de tecnologia vem se destacando. A MV, uma das principais companhias de prontuários eletrônicos do Brasil, comprou ao longo de 2023 ao menos 3 empresas: Dentalis, líder em software de gestão em odontologia, WeCare, de soluções para cuidados em domicílio, e a Maida Health, empresa especialista em softwares para planos de saúde que pertencia a Hapvida NotreDame Intermédica. Em entrevista ao Futuro da Saúde, Paulo Magnus, CEO e fundador da MV, falou sobre as aquisições, os negócios, inteligência artificial e a expansão para o mercado externo.

Ele também abordou o caminho que a empresa trilhou para impulsionar a interoperabilidade no país, dentro do que o CEO chama de “interoperabilidade nativa”. A ideia é que os diferentes players que utilizam o sistema da MV possam compartilhar, com o aval dos pacientes, as informações necessárias para tornar o atendimento mais eficiência do ponto de vista assistencial e de custos. “Queremos acelerar a adoção das tecnologias digitais, porque acreditamos com certeza absoluta que, dentro do cenário onde os planos de saúde estão vivenciando uma enorme dificuldade para sustentar suas operações, temos tecnologia para poder melhorar a performance de todos os atores”, afirma Magnus.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

O que levou a MV a um movimento de aquisição nos últimos anos?

Paulo Magnus – Esse movimento já começou há quase 10 anos. Na década passada a gente teve a entrada do fundo Insight Partners e tivemos o primeiro ciclo. Fomos ajustando o nosso caminho que pretendíamos percorrer. Fomos para o mercado no sentido de desenvolver soluções internas e, dentro dessa esteira, sempre temos 4 ou 5 startups que a gente potencializa, o que aprendemos que leva em torno de 5 anos para que uma startup consiga ser autossuficiente. Criamos uma plataforma chamada Healthcare Alliance, que tem como objetivo ajudar empresas que queiram entrar no mercado de saúde e complementar o nosso portfólio para resolver tecnologia na área de saúde inteira.

Como fazem para avaliar uma aquisição?

Paulo Magnus – Temos muitas ofertas, batem à porta toda hora. Mas sempre olhamos que tem que ser complementar ao nosso ecossistema, tem que trazer um benefício bastante relevante para os nossos clientes e tem que ter uma tecnologia que possa ser sustentada no tempo. Quando nós, porventura, temos uma área com um marketshare menor, aceitamos comprar uma empresa que tenha um marketshare melhor do que o nosso e que possa se integrar com a nossa tecnologia.

“É um movimento de longo prazo que estabelecemos e que estamos executando. Compramos empresas de infraestrutura, de compras, etc.”

Com a compra das empresas ao longo da década, quais as novas áreas que a MV tem atuado?

Paulo Magnus – O nosso ecossistema hoje resolve 100% do mercado de saúde. Não entramos apenas na área de folha de pagamento e toda aquela estrutura que atende a funcionários – e não pretendemos investir nisso porque é um mercado bem resolvido e transversal, que atende todas as áreas com a mesma tecnologia. Em termos de áreas específicas da saúde, a MV hoje teria condições de atender o ecossistema inteiro. Estamos trabalhando em nos fortalecer e poder fornecer alguns serviços que possam estar vinculados a tecnologia. Esse é um ponto que MV ainda precisa evoluir bastante, e a aquisição da Maida veio com esse esse princípio.

Sabemos que o sistema de gestão da MV é um dos mais utilizados no Brasil. É possível expandir ainda mais esse mercado?

Paulo Magnus – Muito mais. Na verdade, é o mais utilizado. A soma de todos os concorrentes não tem a quantidade de usuários que nós temos. Fomos reconhecidos pela sétima vez como melhor prontuário eletrônico da América Latina, com base em uma pesquisa feita junto aos usuários.

É possível ampliar para o serviço público?

Paulo Magnus – Apenas 15% das nossas receitas vem da esfera pública, apesar de ser 75% da saúde. Mas em alguns lugares, mesmo tendo pouca participação somos preponderantes. Em Minas Gerais, estamos concluindo a implantação do projeto da prefeitura de Belo Horizonte, uma tecnologia completamente integrada para todos os estabelecimentos de saúde. No estado, a grande maioria dos hospitais utiliza MV.

Mas vocês têm sido procurados pela esfera pública?

Paulo Magnus – A gente tem sido muito procurado pelo setor público do Brasil. Tem vários lugares que estão pleiteando e buscando ter a MV como fornecedor. Temos muito cuidado em atuar na área pública porque há muitas mazelas e conflitos. Quando ocorre uma troca de governo, existe um princípio que quem presta serviço para pública tem uma série de relacionamentos que a gente entende como não republicanos, e a MV não aceita isso e não vai participar disso.

“Mas temos uma avalanche de oportunidades entre os entes públicos que têm nos procurado para buscar melhorar a assistência usando tecnologia.”

Por onde a MV tem passado ela está nitidamente conseguindo um atendimento melhor, para mais gente, mas com os mesmos recursos. Consegue gerar economias importantes na assistência.

Além do Brasil, vocês atuam em outros países da América Latina. Existem particularidades dos sistemas de saúde que demandam adaptações?

Paulo Magnus – O grande desafio da internacionalização é que temos muitos países na América Latina, mas o tamanho é muito pequeno e todos eles têm uma tropicalização a ser feita. Para atender a esse mercado você tem que investir muito para um, dois ou três clientes. É um desafio equilibrar o que tem que fazer de investimento em personalização versus o que você vai arrecadar neste país, mas a gente tem avançado.

Estamos vendo o avanço da inteligência artificial. Já existe alguma integração com o sistema da MV nesse sentido?

Paulo Magnus – Sim, em mais de uma área, inclusive. Na medicina diagnóstica já usamos há bastante tempo para ajudar na identificação de resultados de tomografias, ressonâncias e raio-x. Também lançamos na Hospitalar do ano passado o nosso prontuário já com interação com ChatGPT, melhorando a assertividade e informando ao médico o que é importante no tratamento. Ele também ajuda a preencher o quantitativo enorme de formulários que os médicos precisam preencher nos atendimentos. No passado, quando começamos a interagir com o mercado de saúde, há mais de 20 anos, com as nossas tecnologias os médicos conseguiram reduzir pela metade o tempo que eles gastavam preenchendo documentos através do prontuário eletrônico. Isso foi muito bom. Com o passar do tempo, os nossos clientes começaram a trabalhar com mecanismos para aumentar a qualidade na assistência. Se passou a criar vários movimentos burocráticos de preencher documentos de qualidade e outros, que roubaram esse tempo que a gente tinha dado para os médicos com a implementação do prontuário eletrônico. Com a vinda da inteligência artificial, fizemos os investimentos para dar de novo ao profissional médico essa redução de tempo preenchendo documentos, e também ajudá-lo na garantia de um melhores diagnósticos e melhores os tratamentos para os pacientes.

E sobre o tema da interoperabilidade, é possível observar movimentação no setor nesse sentido? Alguma demanda chega para a MV?

Paulo Magnus – O prontuário tende a ser bastante interoperável dentro do ecossistema de saúde no Brasil e a MV tem investido muito para fazer o que a gente chama de interoperabilidade nativa. Por onde a nossa tecnologia passa, os dados são encaminhados a um repositório da pessoa, e qualquer serviço de saúde que venha ser atendido pelas nossas tecnologias, a linha da vida do paciente vai estar consolidada com todos os dados de saúde.

“Não é uma integração como acontece com a própria RNDS e com outros players que utilizam uma interoperabilidade externa. A nossa interoperabilidade acontece dentro da workspace de trabalho do profissional de saúde.”

Há exemplos?

Paulo Magnus – Temos uma tecnologia chamada Global Health, que permite nossos clientes criarem em volta de si uma comunidade. Em Porto Alegre, por exemplo, temos o Hospital Mãe de Deus, um dos maiores da capital, que tem uma comunidade chamada Mãe 360, que engloba todo perfil assistencial automatizado, o repositório de dados das pessoas, os consultórios médicos, o monitoramento de crônicos e os parceiros do Mãe de Deus com outras instituições de saúde. Em alguns casos, uma instituição do interior faz o primeiro atendimento e o Hospital faz o último. Tem também o Moinhos de Vento, outro grande hospital de Porto Alegre, com alguns princípios semelhantes ao do Mãe do Deus e outros personalizados. Chama-se Mais Moinhos. Em ambos, são plataformas 100% da MV. No maior player de saúde do Rio Grande do Sul, a Santa Casa de Porto Alegre, com 8 hospitais, que funciona, inclusive, com o operacional de um concorrente nosso, todo o ecossistema de uma comunidade que ela criou se chama Santa Por e é tudo da MV. Se o paciente for em alguma dessas instituições, ou no Hospital da PUC-RS ou da Unimed, e ele voltar a outro hospital diferente, quando o médico abrir o prontuário dele, todos os dados por onde ele passou estarão lá. Isso gera uma economicidade muito grande na assistência que evita duplicidade de exames, rapidez em entender o histórico, e todo o sistema ganha. Todos os nossos 4 mil clientes podem ativar a ida do prontuário para o repositório do paciente. No momento que isso ocorrer, onde o paciente passar ele vai ter benefícios. Hoje, temos mais de 100 instituições que fazem isso e mais de 4 milhões de pessoas que baixaram o aplicativo de dados em saúde, que se chama Personal Health.

O que podemos esperar para 2024?

Paulo Magnus – A MV pretende estar mais próxima dos usuários. Por exemplo, temos mais de 200 mil médicos e mais de 600 mil profissionais, e queremos levar para esses usuários que atendem uma população de 70 milhões de pessoas, uma melhor aproximação com MV. Queremos que os nossos profissionais médicos que atendem dentro das nossas tecnologias, no ambiente hospitalar, por exemplo, possam usar as nossas tecnologias dentro dos consultórios e clínicas que eles utilizam. E aos pacientes, cada vez mais possam estar se apropriando de um direito que é seu, de ter acesso aos seus dados de saúde.

Quais as estratégias para crescer ainda mais? Devemos ver mais aquisições neste ano?

Paulo Magnus – Sempre estamos estudando 3 ou 4 companhias para que a gente possa no futuro trazer elas para dentro de healthcare. Ajudamos e testamos no mercado, para que ela possa ganhar escala, mesmo que isso implique pagar um valor maior depois. Ajudamos as empresas a cresceram para adquirir elas inteiras ou parte delas.

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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