Inovação: o verdadeiro elixir da juventude
Inovação: o verdadeiro elixir da juventude
Em seu mais novo artigo, Fabricio Campolina explora como a inovação terá papel preponderante para superar os desafios da saúde
Uma pesquisa recente do DataFolha aponta que a saúde voltou a ser a maior preocupação dos brasileiros, superando, inclusive, as áreas de segurança e educação. Se a situação atual é preocupante, as perspectivas futuras são ainda mais desafiadoras. Em 2035, segundo projeções da McKinsey publicadas em estudo do Instituto Coalizão Saúde, será necessário alocar de 20% a 25% do PIB para atender ao aumento da procura por serviços de saúde. Para referência, em 2019, o setor de saúde representou cerca de 9,6% do PIB no Brasil.
Este aumento da demanda é, em boa parte, reflexo do envelhecimento da população e da maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis. Houve um aumento considerável da expectativa de vida dos indivíduos (lifespan) que, infelizmente, não foi acompanhado simetricamente por uma expectativa de vida saudável das pessoas, conceito chamado de healthspan.
Será que cada vez mais os serviços de saúde ficarão limitados a uma minoria de privilegiados, causando uma disrupção na sociedade?
No século 18, o economista Malthus previu que o mundo sofreria com fome e miséria, pois o crescimento populacional superaria a oferta de alimentos, e esses fatores levariam à desestruturação do tecido social.
Felizmente essa projeção não aconteceu e a capacidade de produção hoje supera a demanda por alimentos. O economista previa que a produção de alimentos cresceria a uma taxa aritmética e, graças a inovação e avanços tecnológicos, ela teve uma progressão geométrica. Assim, graças aos ganhos de produtividade nos campos, existe alimentos para todos, embora a má distribuição faça com que, infelizmente, ainda tenhamos que lidar com a fome.
Como a inovação e a tecnologia podem, mais uma vez, evitar um rompimento social, desta vez motivado por demanda de serviços de saúde muito superior à oferta?
Minha primeira reflexão é a menos óbvia. A população que vai envelhecer cronologicamente de forma acelerada não precisa envelhecer biologicamente no mesmo ritmo. Qual seria o cenário se todo mundo envelhecesse como o jogador Cristiano Ronaldo? Concordo que poucos estão dispostos a seguir sua rotina; e ainda menos pessoas têm acesso à tecnologia utilizada por ele.
Por outro lado, está ao alcance de muitos melhorar seu estilo de vida de modo que possam contribuir para o envelhecimento saudável, como aquelas recomendadas nas diretrizes do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Agora, o que mais me empolga são as perspectivas de novas tecnologias que devem surgir nos próximos anos.
Uma reportagem recente da Forbes destaca que a XPrize Foundation irá premiar, com 101 milhões de dólares, os inovadores que conseguirem desenvolver tratamentos que comprovadamente revertam a degradação do corpo, mente e sistema imunológico devido ao envelhecimento.
A fundação acredita que, com os recentes avanços na inteligência artificial, terapia genética e outras tecnologias, este seria o momento perfeito para lançar o desafio. Segundo a organização sem fins lucrativos que projeta e hospeda competições públicas destinadas a incentivar o desenvolvimento tecnológico em benefício da humanidade, finalmente estamos conseguindo entender como envelhecemos, como retardar este envelhecimento e, potencialmente, até como revertê-lo. O principal objetivo do prêmio não é estender a vida, mas fazer com que ela tenha qualidade até o seu último instante. Ou seja, o foco é em estender a “Healthspan”.
Importante destacar que pesquisas clínicas avaliando sucesso de tratamentos para reduzir a velocidade do envelhecimento biológico têm sido conduzidas utilizando determinados biomarcadores relacionados à idade biológica como desfecho primário. No futuro, a tecnologia poderá ajudar a democratizar o envelhecimento saudável e, dessa forma, reduzir de maneira drástica o aumento de demanda de serviços de saúde por uma população que envelhece mal.
A segunda reflexão é algo já bastante debatido: a necessidade de reduzir desperdícios e fraudes e ao mesmo tempo aumentar a produtividade dos serviços de saúde ofertados.
Acredito que, aqui, a tecnologia também terá um papel fundamental. Atualmente, uma das grandes tendências que vemos no mercado é a da implementação de linhas de cuidado para gestão populacional de doenças crônicas ou para reduzir a variabilidade de resultados em procedimentos de alta complexidade. Essas linhas de cuidado, muitas vezes, dependem de enfermeiras e enfermeiros navegadores que conseguem atender um número limitado de pacientes.
A Inteligência Artificial Generativa pode trabalhar em parceria com esses profissionais e ampliar o alcance deles em até 10 vezes. Nossa experiência mostra que IA focada em processamento natural de linguagem, e que se comunica com pacientes por meio dos aplicativos de mensagens, tem um engajamento altíssimo e conseguem manter contato com os pacientes todos os dias, escalando para uma enfermeira navegadora quando necessário.
Além disso, a Inteligência Artificial tem sido utilizada para detectar fraudes e promover diagnósticos precoces. Tratamentos iniciados em estágios iniciais estão relacionados a melhor prognóstico para o paciente e diminuição de custo para o sistema de saúde. Um bom exemplo é a dificuldade para se diagnosticar precocemente câncer de pulmão em nosso país.
Aproximadamente dois anos separam um câncer em estágio inicial de outro em estágio tardio. Relatos promissores de casos de câncer de pulmão sendo identificados por IA na análise de raio X de rotinas demonstram o potencial dessa tecnologia.
A tecnologia vai estender a expectativa de vida saudável para todos?
Sou otimista que a resposta é sim! Acredito que nas próximas duas décadas teremos avanços enormes no campo da longevidade e iremos ter uma população idosa com saúde de jovem. O grande desafio será garantir que esses avanços cheguem a todos.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.