Divulgação de indicadores de saúde ajuda médicos e pacientes a tomarem decisões mais assertivas
Divulgação de indicadores de saúde ajuda médicos e pacientes a tomarem decisões mais assertivas
Transparência dos dados por meio de trabalhos como o Dossiê de Valor do Einstein é passo importante para a medicina baseada na qualidade do serviço prestado e nos resultados em saúde
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O modelo de medicina baseada em valor (VBHC, na sigla em inglês) representa uma profunda mudança na forma de pensar o setor de saúde. Significa alterar a mentalidade e olhar para a qualidade do serviço prestado, não para a quantidade. Esse conceito precisa do empenho de todos, já que envolve desde a gestão até o atendimento por equipes multidisciplinares. Em meio a toda essa transformação, a transparência e atualização de indicadores de saúde se tornam cruciais para mostrar quais rumos o atendimento deve seguir. São essas informações que possibilitam tomadas de decisões mais assertivas tanto para médicos como pacientes, construindo, assim, uma relação baseada em qualidade e segurança.
Informações como taxas de complicações, de reinternação, de infecção e tempo médio de permanência divididos por especialidades são alguns exemplos que compõem esse rol de dados. Mas há muitos outros, como melhora da qualidade de vida, satisfação com o resultado do atendimento, taxas de sobrevida após um transplante, entre outros. Esses indicadores são aliados na gestão inteligente do uso dos recursos, revisão e otimização de processos e foco no cuidado pertinente e considerados fundamentais em um momento em que se discute a integração e sustentabilidade do sistema, seja ele público ou privado.
No Brasil, ainda não é prática comum do setor a publicação desses indicadores, mas esforços nessa direção têm prosperado. É o caso de iniciativas como o Sistema de Indicadores Hospitalares ANAHP (SINHA), da Agência Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), e o Sistema de Indicadores Hospitalares (SIHOSP), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). São painéis de dados que consolidam informações de todo o setor.
Contudo, a análise individualizada por instituição, principalmente do ponto de vista do paciente, é necessária para promover melhorias direcionadas e garantir a qualidade dos serviços de saúde. Foi neste contexto que o Einstein, que já divulga seus dados há mais de 15 anos, lançou a primeira edição do Dossiê de Valor. O documento traz a visão da instituição para o que é saúde baseada em valor, etapas da jornada do paciente e diversos outros indicadores. Agora, em 2024, o projeto deu um novo passo: além de publicar a segunda edição, há uma versão dedicada 100% ao paciente, com o objetivo de promover uma maior clareza e transparência.
“Entrega de valor em saúde é uma equação complexa. Nós a executamos medindo e acompanhando os indicadores de qualidade e segurança da assistência, desfechos clínicos e desfechos reportados pelos pacientes, ou seja, os resultados que importam para eles em termos de saúde e qualidade de vida”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein, na mensagem de abertura do documento. “Esse é um lado da balança. Do outro, está a gestão inteligente do uso dos recursos, buscando sempre a eficiência e pertinência dos cuidados, sem desperdícios e procedimentos desnecessários que inflam os custos.”
Segundo Miguel Cendoroglo, diretor médico do Einstein, um dos maiores desafios, quando pensamos no conceito de valor em saúde é o da superindicação de procedimentos, hipercodificações e outras formas de desperdício. “Nosso programa de Pertinência do Cuidado nos permite intervir na indicação e realização de procedimentos em tempo hábil, evitando procedimentos desnecessários e hipercodificações”, afirma.
Transparência de indicadores de saúde para tomada de decisão
Vanessa Teich, diretora de Economia da Saúde do Einstein e coordenadora do projeto, afirma que o dossiê de valor apresenta os pilares que a organização considera mais relevantes em termos de geração de valor em saúde para os pacientes. “Acreditamos que entregamos valor aos pacientes e ao sistema de saúde se conseguimos demonstrar que realizamos os cuidados pertinentes para os pacientes, sem excesso ou falta, e no momento adequado; se, quando tratados, estes pacientes alcançam os melhores resultados em saúde, de acordo com benchmarks com instituições de referência no tema; se os recursos de saúde utilizados são adequados e as complicações evitáveis são minimizadas de forma contínua, garantindo a segurança do paciente; e se a experiência do paciente com o cuidado é muito boa”, afirma Teich.
Sabrina Bernardez, médica do Escritório de Valor Einstein e que integrou a equipe responsável pela construção do dossiê, explica que, o foco principal do valor em saúde sempre deve ser os melhores resultados que importam ao paciente.
“Quando a gente fala em resultados, estamos falando sobre um aspecto mais global de vida, de qualidade, funcionalidade, aspectos emocionais e sociais daquela doença. Porque se eu tenho um impacto em um desses aspectos, logo os outros também serão afetados. Tudo está interconectado e, por isso, usamos esse prisma para fazer as análises”, detalha.
Enquanto o dossiê completo traz dados mais técnicos e comparação com benchmarks nacionais e internacionais, a versão para pacientes se concentra em cards sobre diferentes condições de saúde, como insuficiência cardíaca, cirurgia bariátrica e câncer de mama. Nele, é possível encontrar relatos pessoais de pacientes, taxa de satisfação e relatos de melhora de condições secundárias – como a melhora da hipertensão entre aqueles que fizeram cirurgia bariátrica, por exemplo.
Bernardez conta que o documento para pacientes foi inspirado no scorecard publicado pelo Hospital Special for Surgery, nos EUA, ranqueado como o melhor hospital de ortopedia do mundo, após uma longa busca na literatura médica que constatou o quanto recursos como esse ainda são pouco utilizados. A elaboração foi feita junto ao time de Experiência do Paciente, com o objetivo de adaptar o documento para uma linguagem mais acessível para o público leigo.
Ela destaca que as informações de resultados a longo prazo são acompanhadas pelo Núcleo de Avaliação de Cuidados em Saúde (NAVS), que integra o departamento de Economia da Saúde. O time é responsável por entrar em contato com o paciente por no mínimo 1 ano após a realização do procedimento. Isso ocorre, segundo ela, porque as complicações e os benefícios às vezes não são apenas imediatos e podem ocorrer tardiamente ou após a recuperação dos pacientes pós procedimentos cirúrgicos. “Tentamos entender quais são os resultados do ponto de vista de qualidade de vida, funcionalidade e sociabilidade bem como a satisfação com o cuidado recebido”, diz.
A decisão de incluir o paciente nessa jornada de transparência partiu da necessidade de empoderar o paciente na melhor tomada de decisão sobre a própria saúde. “Pensamos em como um paciente consegue escolher uma instituição de saúde, salvo as limitações de acesso. Se eu tenho insuficiência cardíaca e preciso me internar, como decido se é melhor ir para o Einstein ou para outro lugar? Eu não tenho nenhuma informação para isso hoje. Para escolher outros tipos de serviços, temos inúmeras formas de avaliação, mas para a saúde isso ainda é escasso. O dossiê, assim, é também uma maneira de a instituição demonstrar o seu valor”, destaca.
Aplicação do aprendizado
Em relação à primeira edição, a versão completa do Dossiê de Valor 2024 incluiu seis novas especialidades, totalizando 16, além de cases de como a instituição tem trabalhado para entregar valor em saúde. Os indicadores são separados em quatro pilares: cuidado apropriado; custos e complicações; sobrevida e desfechos relatados pelos pacientes (PROMs – Patient Reported Outcome Measures, na sigla em inglês); e experiência e satisfação do paciente (PREMs – Patient Reported Experience Measures).
“Quando falamos em custo, queremos mostrar quais são os indicadores que, caso haja uma pior performance, vão resultar em um custo maior para o sistema. É o caso, por exemplo, de reoperações, complicações e maior tempo de permanência hospitalar”, explica Daniel Malheiro, gerente do Escritório de Valor Einstein.
A decisão de criar o dossiê impactou também a cultura interna do hospital. Embora sempre tenha sido valorizado o uso de dados para a tomada de decisões, a construção de um relatório público incentivou uma troca maior entre as equipes de assistência e gestão. Desde 2023, são realizadas reuniões trimestrais para avaliar os indicadores, entender o que tem sido feito e o que pode ser melhorado. O resultado dos esforços se traduz em ações que vão desde a melhoria na qualidade de impressão das pulseiras dos pacientes, com foco na segurança, até a implementação de ferramentas de suporte à decisão para médicos. Para Bernardez, a transparência dos dados, sem dúvida, ajudou nessa melhoria. “Diversas publicações mostram que, quando uma instituição torna seus resultados públicos, há uma melhora nos indicadores de saúde”, afirma.
Além disso, foram aplicados resultados de programas específicos com base nos pontos de melhoria observados na edição anterior. É o caso do programa Gestão de Pertinência do Cuidado (GPC) gerenciado pelo departamento da Prática Médica. “Já temos resultados bem documentados e inclusive publicação em revista de alto impacto”, diz Miguel Cendoroglo.
Um exemplo disso é que o Einstein conseguiu zerar a realização de cirurgias de endometriose consideradas como cuidado de baixo valor, ou seja, quando o benefício ao paciente é mínimo ou inexistente, e por isso, não recomendado. De acordo com o documento, em três anos foram poupados mais de R$ 2,7 milhões. “É apenas o começo. Ainda há muitas oportunidades a serem exploradas na diversificação e expansão deste programa no Einstein. Acreditamos que esta seja uma iniciativa de real geração de valor para o sistema de saúde”, afirma o diretor médico.
Impacto no ecossistema
A publicação da nova edição do dossiê aconteceu durante o 9º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde, realizado em julho pela organização em parceria com o Institute for Healthcare Improvement (IHI). Segundo Daniel Malheiro, o tema tem ganhado força não apenas no sistema privado como também na gestão pública – no âmbito do PROADI-SUS, o Einstein é responsável pelo programa de MBA em Liderança e Gestão Pública na Saúde, que tem a economia em saúde como um dos seus pilares.
“Os profissionais querem ouvir mais sobre esse tema para saber como fazer isso dentro do sistema público. E é possível fazer. Identificar uma agulha que é mais cara e controlar esse uso, identificar quais procedimentos não são necessários, tudo isso já é fazer valor em saúde. São medidas pequenas aplicáveis. Você não precisa necessariamente de um escritório de valor. É o olhar para a pertinência do cuidado”, explica.
A expectativa é de que a publicação do dossiê inspire uma cultura de resultados que ultrapasse os limites do Einstein e que o hábito passe a ser encarado como boa prática no setor. “Depois que publicamos em 2023, vimos que outras instituições divulgaram relatórios de valor também. É lógico que ainda temos muito a caminhar, mas a intenção era justamente essa, construir um ambiente de inspiração e colaboração para que a competição seja saudável e traga benefícios para o ecossistema de saúde como um todo”, conclui Bernardez.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.