Maioria da população global é otimista em relação a uso de IA na saúde e terapias gênicas, mostra pesquisa

Maioria da população global é otimista em relação a uso de IA na saúde e terapias gênicas, mostra pesquisa

Apoio às tecnologias em saúde ganha maior adesão entre populações de países de renda média e baixa e gerações mais jovens

By Published On: 20/01/2025
IA e terapias gênicas: maioria da população global é otimista

Foto: Adobe Stock Image

A IA e as terapias gênicas têm transformado o cuidado à saúde. Seu impacto também se reflete na sua aceitabilidade social. Segundo uma pesquisa global feita pela Leaps by Bayer e Boston Consulting Group, a população global tem uma atitude mais positiva em relação a essas inovações tecnológicas, do campo da saúde, em comparação a outras tecnologias da agricultura. Os dados mostram que 64% das pessoas entrevistadas avaliam os impactos da IA no cuidado à saúde com otimismo. Essa porcentagem de otimismo cresce para 74% quando o assunto é o potencial de terapias celulares e gênicas para a cura de doenças.

A pesquisa mapeou a percepção pública em relação a IA na saúde e na medicina, terapias celulares e gênicas além de novas técnicas genômicas para o campo e carne cultivada, entrevistando mais de 13 mil pessoas em 13 países. Enquanto as aplicações em saúde receberam as maiores pontuações de otimismo, as tecnologias agrícolas são percebidas com mais cautela: 39% avalia como positiva a carne cultivada e 56%, as terapias genômicas para o cultivo de plantações.

Os dados também mostram que a maioria das pessoas é otimista em relação à ciência e tecnologia (72%). O potencial das descobertas científicas para melhorar a sociedade também tem uma percepção positiva da maioria, com foco principal na saúde: 71% das pessoas confiam que elas podem melhorar a saúde, 61% ,que podem fornecer soluções para o acesso a comidas mais nutritivas e saudáveis e 58%, que podem resolver problemas ambientais.

Embora sejam vistos com otimismo pela maioria das pessoas, as terapias celulares e gênicas também trazem desconfiança para uma parcela da população. Quase metade das pessoas respondentes (48%) se preocupa quanto as efeitos colaterais dessas terapias, tendência vista principalmente entre as gerações mais jovens. Ainda assim, para 59%, os novos tratamentos valem o risco.

Segundo a pesquisa, para 59% dos respondentes, o desenvolvimento de uma tecnologia com estudo genético ou celular para cura de doenças vale a pena ainda que apenas algumas pessoas pudessem pagar por ela. “É um dado impressionante, considerando o quanto a discussão sobre preços e acesso, especialmente para tratamentos inovadores, é controversa”, comenta Friedrich Möckel, diretor geral e sócio da BCG. O Zolgensma, por exemplo, é um medicamento feito a partir de terapia gênica para tratar a atrofia muscular espinhal (AME) em crianças pequenas e custa cerca de R$6 milhões. 

Os dados revelados pela pesquisa ajudam a compreender, de forma global, como a sociedade percebe as inovações tecnológicas. Segundo Juergen Eckhardt, EVP Head da Leaps by Bayer, isso é importante porque o impacto trazido por essas inovações depende da sua aceitação social. “Essas tecnologias precisam conquistar a aceitação pública para gerar um impacto positivo. “Ouvir as esperanças e os medos da sociedade é um passo crucial para conquistar essa aceitação pública”, comenta o executivo.

IA e terapias gênicas: otimismo com recorte geracional 

Em relação à IA, o estudo detalha que a maioria das pessoas creem num impacto positivo dessa tecnologia na pesquisa em medicina, em diagnósticos e no acesso à saúde. Assim, 70% acredita que a tecnologia pode levar a novas descobertas para a medicina, 68%, a melhoras em diagnósticos de doenças. Ainda, 59% concordam que seu uso poderia aumentar o acesso a recursos de pouca disponibilidade, como apoio à saúde mental. No escopo do atendimento, 66% dos entrevistados se sentiriam satisfeitos caso o médico utilizasse uma ferramenta para ajudá-lo a tomar decisões médicas.

Os resultados do estudo também revelam que a avaliação positiva de IA no cenário da saúde é maior entre um público mais jovem, nas gerações Z e millennials. Entre os nascidos entre 1997 a 2010, o otimismo com IA alcança os 71%, enquanto chega a 62% na geração X, nascidos entre 60 e 70, e 55% entre os baby boomers, nascidos até 1964. Já as terapias celulares e gênicas apresentam índices altos de aceitação para todas as gerações analisadas, desde baby boomers até geração Z, superior a 70%.

Apoio à tecnologia é maior em países de renda média e baixa  

Um dos destaques da pesquisa é o recorte geográfico de apoio das novas inovações. Nos 13 países estudados, o entusiasmo com relação à inteligência artificial é maior entre a população de países de renda média e baixa — casos da Nigéria, Índia, México e África do Sul. Na Nigéria, por exemplo, chega a 91% a percentagem da população com abertura para que seu médico utilize IA no apoio a decisões clínicas. Na China, segundo da lista, a percentagem é de 85%. No Brasil, o apoio é de 74%. 

“A inteligência artificial e os cuidados médicos apoiados por tecnologia estão realmente em ascensão nesses países de baixa e média renda. Existem razões óbvias para isso. As populações crescem mais rápido do que o fornecimento de alimentos e a disponibilidade de infraestrutura médica, incluindo pessoal médico. Então, a tecnologia desempenha um papel fundamental em superar os grandes gaps de acesso que as comunidades desses países enfrentam hoje”, explica Matthias Berninger, chefe de Relações Públicas, Sustentabilidade e Segurança da Bayer.  

A expectativa é a de que, com o avanço dos estudos, esses vazios assistenciais sejam supridos pelas novas tecnologias. Na visão de Möckel, diretor geral da BCG, os mercados em desenvolvimento e emergentes estão prontos para essas tecnologias. “Elas trazem um aumento na qualidade de vida de bilhões de pessoas, e não acredito que sua adoção seja forçada por alguma corporação ou algo. Na verdade, é bem o oposto, quando você olha os dados. Quanto mais há lacuna nos padrões de vida, mais prontas as pessoas estão para adotar algumas dessas tecnologias”, comenta. 

Tal otimismo, no entanto, aparece de forma menos marcante em países de renda alta. Nos Estados Unidos, por exemplo, 50% dos respondentes confiariam o gerenciamento de seus dados médicos em uma IA, seguida pela Austrália (50%) e França (51%).

Essa tendência observada em países de media e baixa renda, em contraposição a países de alta renda, também se sobressai na avaliação do otimismo em relação à ciência. Enquanto Nigéria (94%) e China (86%), têm taxas altas de otimismo, as populações da França (53%) e Japão (46%) são menos otimistas ou, mesmo, neutras (30%) com relação à C&T.

Segundo o estudo, outro elemento acompanha o otimismo da população em inovações e tecnologias: a confiança em autoridades de saúde. Assim, em países como Nigéria (86%) e China (73%) a população tende a confiar mais nessas autoridades. Isso é importante porque, de acordo com Berninger, a confiança “é um fator crítico para impulsionar inovações no campo da saúde”. Apesar das variações entre países, sua avaliação do contexto mais amplo é bastante positiva.

Do ponto de vista empresarial, esse panorama global sobre o otimismo tecnológico “certamente nos ajudará nas conversas que temos com as partes interessadas nas sociedades ao redor do mundo para avançar com tecnologias”, finaliza Berninger.

Isabella Marin Silva
Isabella Marin

Jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, passou pela área de Comunicação da Braskem e atuou com Jornalismo de Dados na empresa Lagom Data. Integra o time como repórter do Futuro da Saúde, onde atua desde março de 2024.

About the Author: Isabella Marin

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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Jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, passou pela área de Comunicação da Braskem e atuou com Jornalismo de Dados na empresa Lagom Data. Integra o time como repórter do Futuro da Saúde, onde atua desde março de 2024.