Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei: “Temos oportunidades para capitalizar e no momento oportuno vamos fazer isso”
Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei: “Temos oportunidades para capitalizar e no momento oportuno vamos fazer isso”
A Rede Mater Dei tem se fortalecido com um dos
A Rede Mater Dei tem se fortalecido com um dos principais grupos de hospitais do Brasil. Ampliando cada vez mais a sua cobertura pelo país, com unidades em Minas Gerais, seu principal mercado, Goiás, Bahia e Pará, com cerca de 1.500 leitos, planeja para 2023 uma integração de suas aquisições, mas não perde de vista as oportunidades de aquisições que possam vir a surgir.
O grupo trouxe em seu balanço de 2022 divulgado recentemente números recordes: aumento de 72% na receita líquida, totalizando R$ 1,763 bilhão, e um lucro líquido ajustado de R$ 216 milhões, 30% a mais que o ano anterior. Os custos representam 64,7% da receita, por conta do aumento nas linhas de prestação de serviços médicos e gastos com pessoas, mas de acordo com o presidente Henrique Salvador, é possível melhorar ainda mais as margens da Rede Mater Dei:
“O crescimento da Rede Mater Dei não ocorreu por acaso. Ocorreu porque houve um foco, direcionamento e uma estruturação para isso. E a estruturação é em todos as frentes: formação de pessoal, investimento em processos, investimento em estrutura hospitalar, investimento em tecnologia e finalmente capitalização, para que a gente tivesse recurso para permitir a expansão”.
Em entrevista ao Futuro da Saúde, Salvador fala sobre as perspectivas da empresa, os diálogos com o mercado e seus investidores, o cenário da saúde e a relação com as operadoras. Confira os principais trechos abaixo:
Como a Rede Mater Dei manteve seu crescimento nesse atual cenário da saúde?
Henrique Salvador – Essa decisão de crescer nos remete à a história do Mater Dei, que sempre se comprometeu com o crescimento. Desde a fundação, 43 anos atrás, saímos de um bloco de um hospital, depois construímos o segundo bloco do primeiro hospital, depois construímos um segundo hospital em Belo Horizonte, depois um terceiro hospital em torno de Belo Horizonte, na região entre Betim e Contagem, depois fomos para Salvador. E aí, nesse momento nós percebemos que dominávamos algumas competências. Nós tínhamos o compromisso com a perenidade do projeto, o compromisso com o crescimento, o interesse de atender mais pessoas dentro de um modelo que a gente acredita nele. Chegamos à conclusão que nós sabemos operar o hospital, porque as nossas margens sempre foram diferenciadas, e a gente sempre está trabalhando dentro de algumas premissas, que são ciência, qualidade e segurança, satisfação do usuário e uma relação muito próxima com as operadoras de plano de saúde. Sempre foram esses os diferenciais do Mater Dei.
Onde a estratégia de aquisições se encaixou nessa história?
Henrique Salvador – Naquele momento a gente achou que dominava os processos de operação, tínhamos pessoas envolvidas dentro da organização do mercado alinhados à estratégia da rede, e a gente precisava de um outro parceiro com recursos financeiros, acabamos de passar por um por um momento de capitalização. Em 2019 nós começamos uma reestruturação da empresa, preparando para esse momento de capitalização, que ocorreu 2 anos atrás. Com esse recurso conseguimos fazer as aquisições. O nosso objetivo, como a nossa história, sempre foi um DNA muito voltado para eficiência, nós estamos em um mercado muito difícil para o prestador do hospital, porque em Belo Horizonte a Unimed é uma operadora bastante hegemônica, então nós acostumamos a ter que trabalhar com custos mais baixos para poder permitir que os nossos parceiros pudessem competir lá na ponta na hora de vender os planos de saúde. Esse sempre foi um dos pilares. E com isso nós fomos para fora, a partir do momento que nós capitalizamos conseguimos fazer o IPO, fomos ao mercado e fizemos as aquisições. Esse movimento tem muito a ver, principalmente, com o desejo de tornar o projeto Mater Dei um projeto perene. Identificamos algumas características conjunturais que nos apoiaram e que também nos ajudaram: a população envelhecendo, o número significativo de pessoas com plano de saúde no país, a relevância do setor suplementar, uma oportunidade de haver outras plataformas consolidadoras do hospital e uma mudança de legislação permitindo que o capital estrangeiro investisse em hospitais.
Com essa tendência da elevação contínua de custos na saúde, é possível melhorar ainda mais a margem de vocês e continuar crescendo?
Henrique Salvador – Alguns fatores explicam esse aumento de custos na saúde. O desperdício entre 20 e 30% de tudo que se gasta na área da saúde, com repetição de exames e processos que poderiam ser melhor estruturados, e muitos estudos têm demonstrado que a frequência também é outra vilã dessa história. Então, a gente acredita hoje que é muito importante que a rede Mater Dei possa ser parceira das operadoras de plano de saúde, apresentando produtos que aumentem a previsibilidade, que possam diminuir a variabilidade da assistência e que a gente seja alternativa para muitas operadoras também para apresentar soluções que integram o sistema e que sejam coordenadas, partindo de uma porta de entrada organizada e estruturar o sistema de tal maneira que as operadoras tenham na Rede Mater Dei uma parceira para poder competir lá na frente no mercado que se coloca.
Qual o papel da tecnologia nesse contexto?
Henrique Salvador – A gente está usando alguns instrumentos para isso e um deles é a tecnologia. Então, nesse movimento do nosso crescimento compramos parte e somos sócios de uma empresa de tecnologia que tem o foco muito voltado para a inteligência artificial e análise de dados, que se chama A3Data. É exatamente para nos ajudar a estruturar produtos que sejam mais competitivos para as operadoras, que permitam estruturar soluções que permitam aumentar a nossa produtividade. Temos um produto que se chama Compartilha, onde compartilhamos horas de profissionais fazendo uma alocação adequada dos recursos nas áreas que precisam daquele recurso. Existe toda uma lógica tecnológica por trás desses movimentos que a Rede Mater Dei está fazendo. Podemos melhorar a margem através dessas ações se posicionar como uma plataforma diferenciada, não apenas na prestação de serviços, entendendo as pessoas da melhor maneira, mas também obtendo margens diferenciadas no setor.
O mercado tende a reagir muito mal às divulgações de balanços de empresas de saúde, não recebem bem as informações. É difícil fazer o mercado entender que a saúde tem um ritmo próprio?
Henrique Salvador – Já foi mais difícil. Hoje os fundos, os investidores individuais e os investidores institucionais que têm interesse na área da saúde já entendem muito mais sobre o setor. Parte da minha agenda de CEO da Rede Mater Dei é me reunir com os fundos permanentemente, também a nossa área de relação com investidores, onde a gente aprofunda temas importante que são de interesse deles. Realmente a área da saúde tem algumas peculiaridades e uma sazonalidade. E principalmente no momento em que a gente está crescendo, que se começa a trazer para dentro da plataforma unidades que estão em momentos diferentes de maturidade e de estruturação, você pode eventualmente ter períodos em que se sofre mais com os resultados financeiros. Mas é muito importante ter análise adequada da tese e do ativo que está sendo adquirido e está vindo para dentro da rede. Se ele tem viabilidade operacional, como se posiciona naquele mercado, se é relevante e como é o corpo clínico dessa instituição. São fundamentos que se a instituição não abrir ninguém faz milagres, precisa ver os fundamentos da operação para ver se ela efetivamente casa bem com a sua estratégia. E outra coisa que nos foi muito importante foi não comprar a esmo pelo Brasil, focando em redes. Temos o hub da Grande Belo Horizonte, o hub da região Norte com o Hospital Porto Dias, o hub do Nordeste como o Mater Dei Salvador e em Feira de Santana com o EMEC, o hub da região Centro-Oeste com 10 hospitais em Uberlândia, 1 centro diagnóstico e mais um hospital em Goiânia. Então, nós setorizamos a nossa expansão de tal maneira que a gente pudesse gerar escala também em nível regional e não apenas nacional.
Pensando nessa reação do mercado, de alguma forma a Rede Mater Dei pretende ter um pouco mais de cautela nesse momento ou recorrer a investidores para fazer caixa, como tem acontecido com outros grupos?
Henrique Salvador – O nosso nível de alavancagem hoje é muito saudável, tivemos o cuidado de estruturar o nosso capital de tal maneira que além do IPO, emitimos debêntures, temos também empréstimos junto a bancos de fomento, o BNDES e BNB, Banco do Nordeste. São compromissos de longo prazo que vão ser amortizados ao longo do tempo. No ano de 2022 geramos 275 milhões de caixa. Temos procurado também manter uma alavancagem alta. Em 2022 encerramos o ano em 1.9x Ebitda de alavancagem, que é muito sadio. Os nossos covenants das debêntures que emitimos são 3.5x Ebitda, está muito longe ainda. Nós temos espaço, inclusive, em tese, em expandir a alavancagem. Mas só vamos fazer isso se realmente a gente tiver oportunidades muito claras de viver um novo ciclo de crescimento na Rede Mater Dei. Estamos de olho nisso. São oportunidades que ainda existem no setor, transformacionais, e vamos viver isso. Hoje a holding controla majoritariamente a Mater Dei, com 72% das ações junto a família, então ainda existem ações disponíveis para financiar esse crescimento. Temos algumas oportunidades e diretrizes para capitalizar e no momento oportuno vamos fazer isso. Mas o grande desafio em 2023 é integrar o que já foi adquirido.
Em entrevista ao Brazil Journal, o senhor fala que as fusões e aquisições de outras companhias afetaram positivamente a Mater Dei. Como foi isso?
Henrique Salvador – Não foi bem isso o que eu falei (risos). A nossa estratégia, que inclusive advogavamos, era o crescimento por hubs e aquisição de ativos relevantes. Na verdade, alguns movimentos que ocorreram no setor nos aproximaram mais de algumas operadoras, fazendo com que estabelecêssemos com elas alguns produtos mais apropriados ao momento que estamos vivendo. Temos a vantagem de ter hoje mais de 130 médicos fazendo residência na Rede Mater Dei, e são aderidos ao modelo de gestão. No momento de crescimento eles nos apoiam e ajudam. Temos dentro da instituição o programa de estagiários destaque nas áreas de apoio e administrativa, que é um outro fórum formador de talentos. Então, temos os mecanismos para crescer na hora certa.
Os planos de saúde têm sido pressionados pelos altos custos. A Rede tem conseguido negociar melhores caminhos com eles?
Henrique Salvador – A discussão sobre os novos modelos de remuneração passam por esse tema. Nós estamos dispostos a discutir com as operadoras produtos que aumentem a previsibilidade e diminua a variabilidade. Mas ao invés de fazer uma construção focada única e exclusivamente em preço, é preciso fazer uma discussão mais racional, voltada por exemplo, através das ferramentas de inteligência artificial, para o histórico de perfil para algumas doenças, como pneumonia comunitária e alguns tipos de procedimentos cirúrgicos que fazemos com frequência. Existem mecanismos para a gente avançar nessa relação com as operadoras, através de recursos tecnológicos.
Quais as perspectivas para 2023?
Henrique Salvador – Esses desafios para lidar com a questão da saúde das pessoas não é um problema só do Brasil, é do mundo inteiro. São dois pontos muito relevantes na agenda de qualquer governante hoje. No Brasil nós temos um sistema público que funciona muito bem que é o SUS, que tem questões relacionadas a acesso mas é muito bem desenhado, e temos um sistema suplementar que irá crescer. Vai crescer porque as pessoas estão ficando mais velhas, a pirâmide está se invertendo, o crescimento populacional está diminuindo e o Brasil ainda lida com questões que os países do primeiro mundo já resolveram, como as questões ligadas à violência urbana, doenças infecciosas e doenças crônicas e degenerativas, que é um problema mais mundial. Tudo isso para poder mencionar que a saúde sempre vai estar na agenda dos países, não vai ter jeito de ser diferente. Por outro lado, você tem uma demanda também das pessoas quase que exigindo das empresas que ofereçam benefícios de saúde. Depois de folha de pagamento, benefício saúde é o mais relevante, demonstrando o quanto as pessoas esperam que o empregador consiga fornecer para os seus colaboradores e para as suas famílias uma saúde de qualidade. Recentemente inauguramos no Mater Dei Santo Agostinho uma estrutura voltada para promover a saúde e estimular as pessoas a cuidar da saúde. Temos o foco em esportes de alta performance, em saúde preventiva, em saúde do sono, medicina hiperbárica, controle da dor, etc. Ou seja, muito focado em um conceito de saúde hoje que tem que ser vista dentro de um foco mais amplo, promovendo, prevenindo, diagnosticando e tratando as doenças, e esse espaço nosso visa exatamente isso. É um momento de dificuldades pelo que o mundo e o Brasil está passando, mas no médio e longo prazo a agenda da saúde sempre vai ser relevante para os países.
E tudo isso reflete em um crescimento da Rede Mater Dei nesse e nos próximos anos?
Henrique Salvador – O crescimento da Rede Mater Dei não ocorreu por acaso. Ocorreu porque houve um foco, direcionamento e uma estruturação para isso. E a estruturação é em todos as frentes: formação de pessoal, investimento em processos, investimento em estrutura hospitalar, investimento em tecnologia e finalmente capitalização, para que a gente tivesse recurso para permitir a expansão.
Devemos continuar vendo uma expansão geográfica por meio das aquisições?
Henrique Salvador – Esse ano é o ano da integração do que já foi adquirido, mas temos algumas oportunidades que foram avaliadas sim.
E São Paulo e Rio de Janeiro continuam no radar?
Henrique Salvador – Sempre. São os principais mercados do Brasil e não teria sentido olhar para o resto do país e não olhar para eles.
Recebar nossa Newsletter

NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.