Colaboração entre instituições e implementação de IA são prioridade para profissionais da saúde, aponta Future Health Index 2023
Colaboração entre instituições e implementação de IA são prioridade para profissionais da saúde, aponta Future Health Index 2023
Encomendada pela Philips, pesquisa Future Health Index 2023 apontou necessidade de colaboração entre empresas e setores para enfrentar desafios
Em um cenário de transformação acelerada e de diversos desafios que o setor da saúde enfrenta, a tecnologia e a gestão de dados despontam como alguns dos pilares mais importantes para superar barreiras. Mas tanto líderes experientes quanto profissionais de saúde mais jovens entendem que não será possível promover mudanças de forma isolada: a colaboração entre instituições e até mesmo com outros setores prometem ser um caminho sem volta. É o que aponta a mais recente edição da pesquisa Future Health Index 2023, encomendada pela Philips – Futuro da Saúde teve acesso ao recorte brasileiro em primeira mão.
A colaboração foi um dos principais pontos apresentados pelo levantamento esse ano, que entrevistou cerca de 3 mil líderes e jovens profissionais de 14 países – incluindo o Brasil. A pesquisa revelou que apenas 14% das lideranças brasileiras afirmam ter capacidade interna necessária para usar os dados disponíveis. Por isso, 35% deles disseram estar priorizando colaborações com fornecedores de TI e dados. Para o futuro, 28% dos líderes de saúde no Brasil planejam expandir suas parcerias com instituições de ensino, 27% com empresas de tecnologia em saúde e 25% com centros médicos de emergência.
Dentre os jovens profissionais no Brasil, o estudo identificou que 48% expressam o desejo de que a gestão de suas instituições estabeleça parcerias fora do setor – número superior à média global, que foi de 36%. Além disso, 57% destes profissionais buscam uma colaboração mais estreita com outras organizações para aprimorar também o atendimento ao paciente, ultrapassando a média global de 43%.
“Não existe forma de uma única empresa ou setor resolver tudo, porque a área da saúde é bastante complexa”, afirma Patricia Frossard, country manager da Philips no Brasil. “É preciso haver uma colaboração entre todos os players, com indústria, fabricante do device, da tecnologia, a rede de hospital, a rede de diagnóstico”. Ela exemplifica que nas próprias tecnologias da Philips, como o prontuário eletrônico, a empresa tem buscado incluir soluções de terceiros que possam contribuir para esse cenário para “tudo funcionar como um grande ecossistema”.
Inteligência artificial avança, mas há desafios
Em meio a tantos desafios, os líderes de saúde no Brasil indicaram a inteligência artificial como ferramenta para impulsionar melhorias na eficiência operacional, integração de diagnósticos e do cuidado em si. A pesquisa revela que 79% dos líderes brasileiros estão investindo em pelo menos uma tecnologia de IA (a média global foi de 59%), posicionando o Brasil entre os quatro principais mercados com foco nessa inovação. Atualmente, 31% investem em IA para otimizar a eficiência operacional, superando a média internacional, que foi de apenas 19%. Na sequência, os investimentos em IA tem como foco os diagnósticos (27%), suporte à decisão clínica (26%) e predição de resultados (25%).
Mas o avanço da tecnologia ainda depende de outros fatores, segundo Frossard: “A inteligência artificial é uma realidade na parte da operação, mas ainda é um desafio na área de diagnóstico e de melhoria da eficiência na tomada de decisão, no apoio à decisão. Isso porque você tem um médico que assina o laudo, e ele precisa acreditar nessa ferramenta. Para ele acreditar, ele tem que fazer parte do desenvolvimento. Então, não é ainda algo extremamente escalável”.
Segundo ela, isso é, sim, o futuro, “mas para chegar lá, há muita coisa a ser feita. Tanto no convencimento do médico, na confiança, quanto na base de dados que precisa ser organizada. Hoje há muitos dados, mas não necessariamente eles estão digitalizados, na nuvem e organizados, de forma que você possa extrair o algoritmo. Tudo isso está sendo trabalhado”, mas eu acho que a gente está de forma muito acelerada olhando para o futuro. O que é bom, porque a gente também consegue trabalhar melhor e pôr uma velocidade necessária para resolver os problemas que já estão se apresentando como bastante críticos hoje”.
Já a nova geração de profissionais de saúde no Brasil demonstra entusiasmo ainda maior em relação à IA: 85% expressam o desejo de ver seus hospitais investindo em tecnologias de IA, enquanto a média global foi de 61%. Mais do que isso: este item começa a sinalizar inclusive um fator para que instituições consigam atrair e reter talentos. Para 64% dos profissionais mais jovens, estar na vanguarda da IA na saúde virou fator de consideração relevante para escolher um hospital ou estabelecimento de saúde para trabalhar, além de representar um ponto para a satisfação no trabalho.
“Eu vejo os profissionais mais jovens, em todos os setores, mais confiantes na tecnologia. Talvez porque ele já seja um nativo digital. Não temos isso em toda a diversidade etária dos profissionais de saúde. Talvez esse seja um ponto a conquistar”, completa Frossard.
Inovação para ampliar acesso e reduzir vazios assistenciais
Os avanços tecnológicos também foram apontados pela pesquisa como ferramenta para ampliar acesso e reduzir o problema de falta de profissionais de saúde – desafio não só do Brasil, mas de outros países também. Segundo o Future Health Index 2023, 53% dos líderes brasileiros estão colaborando com empresas de tecnologia e fornecedores de dados para vencer essa questão, superando a média global de 31%. Tecnologias digitais, como soluções conectadas fora do hospital, como a telemedicina (67%), foi a opção mais apontada para enfrentar a escassez de mão de obra.
“Em algumas regiões, enfrentamos escassez, o que resulta numa concentração significativa de profissionais nos grandes centros urbanos, devidamente preparados tecnicamente. Ao abordar como a tecnologia está contribuindo, destaco a telemedicina”, explica Frossard. “Essa abordagem reduz custos, pois elimina a necessidade de vários profissionais especializados em cada município. A telemedicina possibilita atendimentos especializados, preenchendo uma lacuna nas regiões com forte atenção primária, mas escassa presença de especialistas. Isso resolve, de maneira significativa, os desafios enfrentados pela população, incluindo dificuldades financeiras e logísticas para acessar especialistas”.
O problema da falta de profissionais pelo país deve continuar. A executiva cita uma pesquisa recente, que apontou que apenas 30% dos profissionais em medicina realmente desejam seguir a carreira médica: “Os demais, 70%, almejam empreender, criar tecnologias ou se envolver em gestão. Essa diversificação de interesses, sugere que a escassez de profissionais persistirá, demandando uma abordagem estratégica para utilizar a tecnologia, reduzir custos e ampliar o acesso à saúde, especialmente considerando as preferências dos jovens médicos formados, muitos dos quais desejam explorar campos além do atendimento direto ao paciente”.
Diante desse panorama, mais da metade dos líderes (51%) afirma que já investe em tecnologias de atendimento virtual, abrangendo desde consultas entre profissionais de saúde até interações com pacientes. E 46% planejam aumentar esses investimentos nos próximos três anos – o Brasil supera a média global, de 32%, nesse aspecto.
Embora concordem sobre os benefícios dos novos modelos de atendimento, líderes e jovens profissionais divergem em relação aos fatores-chave para o sucesso. Enquanto os líderes destacam a disposição do paciente em adotar novas tecnologias, os jovens profissionais enfatizam a privacidade e proteção de dados como fatores críticos, além da facilidade para prestar acompanhamento aos pacientes e incentivar a prevenção de certas doenças.
“A questão do investimento em telemedicina também pode estar ligada à prevenção. O foco pode estar mudando para outras áreas inovadoras, como a implementação de tecnologias que ajudam na detecção precoce de doenças, monitoramento remoto de pacientes e intervenções preventivas baseadas em dados. A prevenção é um ponto crucial e multidimensional. A tecnologia pode desempenhar um papel significativo na educação dos pacientes, na otimização dos processos internos dos hospitais e na implementação de soluções inovadoras voltadas para a detecção precoce e a prevenção de doenças”, avalia Frossard.
Future Health Index 2023 também aponta pressão de custos
Essa nova visão com foco na adoção de tecnologia e prevenção também está relacionada aos custos. O setor como um todo enfrenta desafios de sustentabilidade que tendem a aumentar considerando tendências como o envelhecimento da população. Todos os líderes de saúde no Brasil (100%) apontaram que enfrentam pressões financeiras.
Segundo os respondentes, há uma combinação de estratégias financeiras sendo implementadas. Reduzir o tempo de permanência hospitalar sempre que possível (43%) e buscar novos modelos de compra para reduzir os custos (38%) são as duas mais citadas. Por outro lado, apenas 4% dos líderes brasileiros buscam novos métodos de financiamento, diferindo da média global de 19%.
“Eu vejo o fluxo de receita como intrinsecamente ligado à melhoria da eficiência hospitalar. A integração da tecnologia, incluindo a inteligência artificial, desempenha um papel crucial nesse cenário. Por exemplo, ao otimizar o agendamento de pacientes para exames por meio de algoritmos inteligentes, é possível identificar períodos com maior demanda, prevenindo a perda de exames e aumentando a receita. Essa abordagem visa aprimorar o fluxo de trabalho, permitindo que uma sala de cirurgia, utilizada durante uma manhã, seja aproveitada para realizar duas cirurgias, demonstrando a eficácia da inovação tecnológica”, afirma a country manager da Philips no Brasil.
Ela também acredita que outro aspecto crucial para maximizar a receita está na instalação de soluções tecnológicas, que garante que custos, muitas vezes negligenciados, como os materiais utilizados em atendimentos, sejam devidamente registrados, eliminando oportunidades de perda financeira inadvertida:
“A implementação de um prontuário eletrônico com back office organizado é exemplar nesse contexto. Observamos casos em que essa mudança isolada resultou em um aumento significativo de 20% na receita. Essas iniciativas destacam a importância de processos eficientes e da adoção de tecnologias para otimizar a gestão financeira.
Sustentabilidade não é prioridade, pelo menos agora
Embora todos os líderes de saúde estejam implementando iniciativas de sustentabilidade, 40% apontam que estas são prioridades menores em comparação com outros objetivos. Obstáculos comuns para o avanço de ações ambientais incluem a necessidade de padronização no setor (39%), falta de acesso à tecnologia apropriada (38%) e escassez de pessoal (38%).
“O ponto que mais me chamou a atenção foi a ênfase na sustentabilidade ambiental. Tenho notado essa preocupação em diversos setores, mas esperava encontrar a mesma atenção dentro da área da saúde. Talvez tenha sido apenas um aspecto surpreendente em comparação com os demais, pois está muito alinhado com as discussões sobre parcerias, ecossistemas e inteligência artificial, desde a hospitalização até o apoio ao médico para que ele possa se concentrar mais em sua função médica”, avalia Frossard.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.